Luzes e trevas em 16 bits
Shooters verticais representam um daqueles títulos tradicionalmente amados e odiados — normalmente em igual medida. Há quem não veja muito sentido, ache tudo muito rápido e se pergunte constantemente sobre a história que motiva todo aquele frenesi.
Mas há quem se apegue ao ritmo frenético, às luzes permanentemente piscando e a uma sensação de recompensa muito particular sempre que uma fase particularmente espinhosa é deixada para trás — o que se torna ainda mais intenso caso o nível escolhido seja o difícil. Normalmente é um público que cresceu (ou não) jogando clássicos dos 16 bits e que sente um aperto no coração sempre que vê um bullet hell na frente.
Bem, se esse é o seu caso, então Ikaruga definitivamente deve ser o seu jogo. Este clássico absoluto dos arcades e do finado Dreamcast vai fazê-lo viajar instantaneamente no tempo — lá para o período em que o dinheiro do lanche virava algumas fichas de fliperama, garantindo diversão por tanto tempo quanto você conseguisse se manter vivo.
O jogo que agora é disponibilizado aos PCs movidos a Windows é, verdade seja dita, basicamente o mesmo que foi lançado via Xbox LIVE. Há aqui a mesma mistura afinada entre elementos retrô, belos gráficos estilo ficção científica e um dos esquemas de jogabilidade mais criativos e funcionais da história do gênero.
Luzes e trevas
Mesmo o maior fã de shooters verticais acaba visualmente entediado quando a coisa toda se resume a inúmeros projéteis rodopiando por todo lado — fazendo a coisa descambar em um simples “mantenha-se vivo até o próximo power up!”. Bem, é aí que surge a melhor sacada da desenvolvedora Treasure para Ikaruga.
Fundamentalmente, a jogabilidade aqui se divide entre “luzes” e “trevas”, desde o início do jogo. Caso esteja na cor branca, a sua nave passará a se abastecer de energia dos disparos brancos e a sofrer danos apenas dos disparos escuros. Naturalmente, o mesmo vale para uma nave tornada escura. E, para deixar tudo isso ainda mais insano, experimente dividir a tela com um bom amigo no modo cooperativo — a experiência não é facilmente esquecida.
Parece simples?
O esquema “claro” e “escuro” lhe parece simples? Bem, é justamente por isso que funciona. Ocorre que, para trocar os estados da nave, basta apertar um botão. Isso revela toda uma tática praticamente inédita ao estilo, sobretudo porque o jogo sabe utilizar muito bem a alternância de inimigos — o que torna absolutamente necessário um bom tempo de treino.
Ao ganhar alguma experiência, entretanto, o senso de recompensa obtido por uma fase bem concluída é impagável. Na verdade, todo o seu esforço provavelmente acabará direcionado a um controle mental básico: “Busque a mesma cor da nave, evite a oposta”. Além disso, há apenas um míssil direcional carregado com a energia absorvida — sem qualquer power up ou perfumaria adicional. Simples e incrivelmente funcional.
Não é o jogo para descontrair
Ikaruga vai recompensá-lo pelo treinamento árduo, conforme você vai, aos poucos, aprendendo a lidar com a dinâmica de luz e trevas. Entretanto, se a sua ideia é buscar um jogo para se distrair enquanto bate um papo... Esqueça.
Ikaruga é tenso, absorvendo toda a sua atenção e se tornando tão mais dramático conforme se avançam por suas cinco fases — o que deixa a pergunta: por que apenas cinco fases? Poderia ser pelo menos o dobro, hein? A campanha relativamente curta foi algo apontado pela crítica especializada já no início da década passada e, bem, ainda se mantém.
Treino e recompensa
Ikaruga, assim como todo o gênero shooter vertical, é fruto de uma época em que um jogo precisava ser aprendido, dominado, e isso normalmente a duras penas. Nada aqui vem sem alguns calos nos dedos e algumas horas de treino. Em suma: é um jogo difícil. Dessa forma, se a sua ideia de diversão envolve algo em que a falta de cobrança é contrabalançada por história ou dúzias de efeitos visuais... É melhor jogar outra coisa.
Entretanto, se títulos como Gradius e Aeroblasters despertam lembranças ternas — e também algum arrepio na espinha —, então certamente vale a pena aproveitar o retorno desta bela criação da desenvolvedora Treasure.
Isso porque aqui há tudo o que agrada a um fã do gênero, desde o ritmo constante até os desafios frenéticos e os chefes antropomórficos colossais. Adicionalmente, há ainda belíssimos visuais e um dos esquemas de jogabilidade mais originais do estilo. Enfim, é hora de jogar alguma luz (e também algumas trevas) sobre a era dourada dos arcades e consoles de 16 bits.
- Boa dinâmica de luzes e trevas
- Belos visuais retrô
- Um pouco do desafio de arrancar os cabelos dos arcades
- Apenas cinco fases
- Dificuldade punitiva para iniciantes
Nota do Voxel