Uma visão diferenciada de um universo em guerra
Lançado em 2009 para o Xbox 360, o primeiro Halo Wars tinha uma missão ao mesmo tempo ousada e bastante difícil. A intenção da Microsoft era que o game fizesse pelo gênero RTS o mesmo que o Halo original fez pelos FPS nos consoles: provar que um estilo de jogo normalmente associado aos PCs também funcionava em uma plataforma de mesa.
Embora ele tenha cumprido sua promessa de provar que o gênero era viável em consoles, o impacto esperado nunca chegou a acontecer. Isso porque, já naquela época, games de estratégia em tempo real estavam perdendo popularidade no cenário triplo A — hoje em dia, eles existem essencialmente na forma de MOBAs, de StarCraft e de lançamentos independentes com impacto limitado.
Nesse cenário, o lançamento de Halo Wars 2 é uma notícia muito bem-vinda. Dando sequência à história da nave Spirit of Fire, o game com versões para Xbox One e Windows 10 oferece uma visão diferente do universo de Halo e oferece uma experiência multiplayer viciante — no entanto, alguns problemas de roteiro impedem que a aventura seja realmente completa.
Do sono para a batalha
O game se inicia 28 anos após os eventos do Halo Wars original, quando os integrantes da Spirit of Fire acordam de seu sono de hibernação. O universo que eles encontram é totalmente diferente daquele que deixaram: se antes a ameaça do Covenant havia acabado de ser descoberta, agora ela já foi derrotada e o universo está com uma cara totalmente diferente.
No entanto, o jogo não perde tempo explorando tudo o que aconteceu nem se preocupa em habituar os personagens a esse novo contexto. Próxima à Ark, a tripulação logo se depara com uma mensagem de socorro e, ao investigar o planeta, se depara com uma nova ameaça conhecida simplesmente como “Banidos”.
Comandado pelo Brute Atriox, esse grupo se rebelou contra o Covenant e conseguiu derrotar qualquer tentativa de retomar o controle feita por seus antigos mestres. Cabe a você reunir sua tripulação e encontrar meios de derrotar essa ameaça antes que ela espalhe destruição pelo resto da galáxia.
A campanha de Halo Wars 2 alterna entre fases mais tradicionais, que envolvem o esquema clássico “construa sua base, crie unidades e parta para a batalha”, com outras mais variadas. Há desde missões nas quais é preciso sobreviver a ondas de ataque usando somente um grupo limitado até outras que apostam para fórmulas consagradas por muitos jogos “Tower Defense”.
a campanha tem ideias variadas e consegue se manter divertida durante toda a sua duração
Muitas dessas ideias já foram aplicadas em outros jogos — como o já citado StarCraft 2 —, mas você provavelmente não vai se incomodar com isso (até porque a roupagem de Halo ajuda a dar características próprias ao título). Com doze missões no total — o que garante entre 6 a 9 horas de jogatina na dificuldade normal —, a campanha tem ideias variadas e consegue se manter divertida durante toda a sua duração.
A principal qualidade da trama é conseguir mostrar o universo criado pela Bungie (agora sob a guarda da 343 Industries) sob uma perspectiva diferente. Longe da obrigação de “salvar o universo”e tirando o foco exclusivo em um herói, a Creative Assembly (sim, aquela da série Total War) consegue mostrar como os feitos de Master Chief são somente uma peça importante dentro de um conflito muito mais amplo.
No entanto, decepciona muito a maneira como a trama termina. Sem entrar em spoilers, parece que os desenvolvedores decidiram encerrar a aventura momentos antes de ela entrar no que deveria ser a sua etapa final. A decisão pode até dar brecha para uma sequência, mas é difícil não se frustrar com o fato de que o conflito prometido desde o início do jogo vai “ficar para o futuro”.
Multiplayer: a alma de Halo Wars
A campanha pode até não terminar da maneira esperada, mas o multiplayer oferece uma experiência bem “redondinha” para os fãs da jogatina online. Durante nossos testes testemunhamos alguns lags e pequenos problemas de conexão, mas nada suficiente para tornar os modos oferecidos inacessíveis.
O game oferece modos clássicos que incluem os famosos “mata-mata”, partidas cooperativas contra a AI e a modalidade de domínio de bases (entre outras), mas apostamos que você vai passar a maior parte do tempo na opção “Blitz”. Assim como em Gears of War 4 e em Halo 5, a Microsoft volta a apostar em um sistema baseado em cartas, mas nunca antes eles funcionaram tão bem quanto no RTS.
Essa modalidade oferece uma série de mapas nos quais há três pontos de controle: ao dominar dois deles, você começa a pontuar — a equipe que chegar primeiro a 200 pontos vence. O que torna isso especialmente interessante é o fato de que você não tem exércitos ou recursos tradicionais: todas as suas ações dependem das cartas que estão em seu baralho.
Cada uma delas exige uma quantidade específica de energia para ser invocada, recurso que é carregado de forma automática. Para acelerar esse processo você pode capturar cápsulas de energia que caem nos cenários de vez em quando — o que geralmente obriga você a bater de frente com seus oponentes.
Além de ter que escolher entre uma grande variedade de cartas, você também tem que escolher entre um comandante específico na hora de jogar — cada um deles priorizando aspectos diferentes como defesa, ataque ou poderes especiais. Para completar, suas cartas evoluem de nível conforme elas surgem de maneira repetida.
Dessa forma, o segredo para a vitória muitas vezes consiste em saber equilibrar as qualidades e necessidades energéticas das cartas que formam seu baralho. Também é preciso levar em consideração as forças e fraquezas de seus aliados e adversários, o que resulta em um modo bastante rico de estratégias que não deixa de lado a velocidade — em geral, as partidas sequer ultrapassam os 10 minutos de duração.
Para Xbox One e Windows 10
a desenvolvedora teve que simplificar quesitos como a coleta de recursos
Criar um game capaz de funcionar tanto em um console de mesa quando no PC é um desafio e tanto. Felizmente, o pessoal da Creative Assembly acertou em cheio e criou uma experiência boa de controlar tanto no controle do Xbox One quanto no mouse e teclado — embora algumas diferenças entre esses meios ainda permaneçam.
Para tornar isso possível, a desenvolvedora teve que simplificar quesitos como a coleta de recursos, que acontecem diretamente em estruturas anexas à sua base. Da mesma forma, a construção de bases ficou restrita a locais específicos do mapa, o que facilita lidar com suas diferentes estruturas usando um direcional analógico.
Isso não quer dizer que o game não exige uma visão estratégica, mas sim que ele não é tão complexo nem exige tanto microgerenciamento quanto um StarCraft. Cada unidade tem forças e fraquezas únicas e cabe a você saber combiná-las — ou investir mais em um soldado específico — para destruir seus adversários.
Além de seus soldados, warthogs e naves, você também conta com habilidades de líder que são desbloqueadas usando pontos de comandante. Elas incluem desde redomas de cura até invocações de unidades ODST, lançamentos de mísseis e bombardeios aéreos, entre outros. Embora o uso desses poderes não seja obrigatório para vencer, eles são bastante úteis e têm poder suficiente para mudar o rumo de qualquer batalha.
No geral, os controles no PC funcionam um pouco melhor do que nos consoles, mas nada muito radical. O mouse e o teclado garantem mais facilidade na hora de selecionar unidades específicas e a navegação pelo mapa se torna um pouco mais rápida — algo que diminui um pouco o nível de dificuldade das batalhas. No entanto, não dá para dizer que aqueles que optarem pelo controle do Xbox One vão necessariamente sair perdendo na comparação.
Apresentação de luxo
Em matéria de gráficos, as duas versões de Halo Wars 2 são bastante semelhantes entre si. Os modelos de personagens não são especialmente detalhados, mas suas animações são muito bem feitas — o que ajuda a diferenciar entre unidades assim que você bate os olhos nelas. A principal diferença é que, no PC, explosões têm uma quantidade um pouco maior de detalhes e partículas (o que você só vai realmente notar em uma comparação lado a lado).
A Microsoft acertou em cheio no campo sonoro. Mais uma vez a empresa aposta em uma dublagem em português de alta qualidade e que usa atores consagrados para entregar uma adaptação muito bem feita. Você pode até não gostar de uma ou outra escolha de voz, mas não dá para dizer que a empresa mandou mal nesse quesito.
Para completar, Halo Wars 2 tem algumas das cenas de animação mais bonitas que você pode ver em um video game da geração atual. Tudo bem, isso já é uma espécie de tradição da franquia, mas ainda assim é preciso dar aos créditos devidos ao departamento de CG responsável pelos vídeos.
Vale a pena?
Halo Wars 2 é uma ótima prova de que ainda há espaço no mundo dos games para títulos RTS com uma pegada mais tradicional. Combinando uma campanha interessante a um multiplayer repleto de modos e com qualidade suficiente para viciar, o game faz o que muitos duvidavam ser possível: funciona muito bem tanto no PC quanto no Xbox One.
O principal pecado do jogo é apostar em uma história que termina de forma simplesmente broxante — não há palavra melhor para definir o encerramento. Quando você acha que as coisas finalmente vão se encaminhar para a direção prometida desde o começo, os créditos começam a rolar, deixando a sensação de que os roteiristas estão tirando uma com nossa cara.
O jogo compensa isso com mecânicas muito legais — que alguns podem julgar muito simplificadas — e um ótimo modo multiplayer. Mesmo com alguns probleminhas, Halo Wars 2 é sem dúvida um game que merece a sua atenção. Seja você um jogador do PC ou dono de um Xbox One, vale a pena assumir mais uma vez o controle da Spirit of Fire nesse novo capítulo da franquia.
Categorias
- Controles que funcionam bem no Xbox One e no PC
- CGs de altíssima qualidade
- Uma ótima apresentação
- Multiplayer viciante com modos variados
- Mecânicas gostosas de usar
- A história termina de forma broxante
- O lag pode ser insuportável em algumas partidas
Nota do Voxel