A vingança é plena, não mata a alma, está em 60 fps e com textos em PT-BR
Ah, Kratos... Como é se sentir um mascote da Sony? Como é, em linhas abertas, ser aquilo que Mario representa para a Nintendo e Sonic um dia foi para a SEGA? Ou imaginar o que se passa na cabeça de Master Chief para erguer a bandeira da Microsoft? Ser o protagonista de uma marca é algo que requer carinho, polimento e muito, muito planejamento de uma empresa que carece de um “herói” oficial para representar seu produto.
No caso da família PlayStation, personagens assim não faltam. Ratchet & Clank, Jak and Daxter, Sly Cooper, Nathan Drake, Cole MacGrath (dos dois primeiros inFamous), Delsin Rowe (de Second Son) e tantos outros cobiçam, numa disputa amistosa, o posto de “mascote oficial” da divisão da Sony. Mas é justamente um anti-herói vingativo, sem escrúpulos e grosseirão como Kratos que, sem querer querendo, ocupa esse cargo – ou ao menos ocupou durante muito tempo.
God of War nasceu há exatos 10 anos, em 2005, para PS2, numa época em que “hack’n’slash” eram palavras novas em nosso vocabulário gamer, consagradas talvez por Devil May Cry e pelo Fantasma de Esparta. A título de curiosidade, os termos foram amplamente utilizados em RPGs de papel e caneta, como Dungeons & Dragons. Em 2007, foi a vez de God of War 2 dar as caras e deixar a história em aberto para que God of War 3, em 2010, pudesse fechar no PS3 a épica saga de vingança de Kratos, um ex-general espartano vítima de sua própria ambição e traído pelos deuses.
A série teve ainda dois games para PSP: Chains of Olympus e Ghost of Sparta, que mostraram eventos que ocorreram além das tramas dos jogos canônicos. Até mesmo uma versão para telefones foi lançada: God of War Betrayal, um side-scroller em 2D. Por fim, depois de tudo isso, veio God of War: Ascension no PS3, só que sem o mesmo respaldo que os outros.
Mas nada apaga a chama do Olimpo ou acalma a fúria do Deus da Guerra. A Sony tratou de botar as equipes dos estúdios Santa Monica a todo vapor para quatro jogos em alta definição: os dois títulos do PS2 e os spin-offs do PSP. Os games chegaram em coletâneas para o PS3, com direito a porte dos dois primeiros ao PS Vita. O PS4, portanto, ainda é um console “órfão” de um God of War. Ou melhor, era. God of War 3 Remastered marca a estreia de Kratos no console de nova geração da Sony.
Apelo aos novos e argumentos aos velhos
Em 2010, God of War 3 representou o quinto título da franquia e foi um dos maiores exclusivos do PS3 porque mostrou o desfecho que todos queriam ver da história de vingança de Kratos. O jogo já era lindo, muito acima da média dos padrões gráficos do aparelho. Deixar tudo aquilo ainda mais bonito no PS4 foi um desafio para a desenvolvedora.
As preces foram atendidas: God of War 3 Remastered chegou ao console de nova geração da Sony com argumentos para seduzir novos jogadores e chamar a atenção dos veteranos, pois sim, a experiência está mais estável, mais bonita e, desta vez, com textos em português, além de um inédito Modo Foto.
O apelo a uma nova geração de gamers está visível aqui, ainda mais com o crescimento da indústria em países emergentes nos últimos anos, especialmente o Brasil. Por aqui, o mercado de games anda na contramão da crise econômica que o país enfrenta e só cresce.
1080p e 60 fps: colírio para os olhos
Aos olhos da Sony e dos estúdios Santa Monica, um mero upgrade gráfico não seria suficiente. Agora, tudo roda em 60 quadros por segundo, contra 30 da versão para PS3. Combinada à resolução de 1080p, a experiência é capaz de agradar àqueles que ainda não jogaram God of War 3 ou aos que já terminaram porque a diferença nos detalhes é sutil, mas significante.
Isso se traduz numa fluidez absurda em comparação com o título original (que rodava em 720p no PS3). God of War é um hack’n’slash que segue a cartilha do gênero e, portanto, a ação sempre traz uma quantidade enorme de elementos na tela. A diferença que os 60 quadros por segundo trazem é notável desde o primeiro momento em que você controla Kratos nas costas de Gaia. Não existe um gargalo no desempenho. Os 1080p com 60 fps funcionam em plena sincronia e apresentam total estabilidade.
Faça um teste: jogue meia hora de God of War 3 Remastered e depois ligue o game no PS3 para jogar por outra meia. A diferença no desempenho é brutal, e não estou necessariamente me referindo ao quesito visual, que tem suas melhorias em texturas mais polidas, iluminação mais complexa e silhuetas mais delineadas. Estou falando em fluidez de jogo, em rapidez de movimentação dos pixels na tela – e isso, num hack’n’slash, faz uma tremenda diferença. Já dizia Albert Einstein: a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.
Modo Foto: efeito temporário, mas divertido
A equipe de desenvolvimento não ocupou seu tempo somente aplicando melhorias gráficas e otimizando o desempenho de God of War 3. Agora, o game conta com um inédito Modo Foto, parecido com aquele que vimos em inFamous: Second Son. Basicamente, você pode pausar a ação a qualquer momento com um toque no lado esquerdo do TouchPad e editar a imagem com uma série de filtros, quadros e outros efeitos.
É possível aplicar molduras, aumentar ou diminuir o brilho, a intensidade e depois salvar a imagem editada para compartilhar onde você quiser. O legal é que a ação pode ser pausada a qualquer momento, até mesmo nos QTEs de inimigos e chefes. Todo o sangue fica na tela do jeito que está, estático, bem como os movimentos de Kratos, então é possível brincar de várias formas diferentes com os recursos à disposição. Se braços, pernas e cabeças estiverem rolando, tudo vai ser pausado no ar. É uma mecânica que costuma funcionar muito bem em Hollywood.
O Modo Foto é divertido, mas jogadores hardcore – como este redator que vos escreve ou praticamente qualquer outro aqui do TecMundo Games – tendem a enjoar rapidinho do recurso. Ele funciona como brincadeira temporária; a opção pode ser interessante para desafogar Kratos da sanguinolência na qual o anti-herói se embrenha ou simplesmente para deslumbrar todos aqueles elementos estáticos na tela, como se estivessem pincelados num quadro. Compartilhe, ganhe algumas curtidas e elogios e só, a coisa não se estende além disso e tampouco faria você comprar o jogo – seja para jogar God of War 3 novamente ou pela primeira vez.
Textos em português brasileiro, aê!
Outra diferença em relação ao God of War 3 original é que a versão remasterizada está com textos em português, o que inclui menus, legendas em cinemáticas, diálogos e cartas que Kratos encontra ao longo da aventura.
Conforme mencionado, esse é mais um reflexo do crescimento de nosso mercado em escala internacional. O Brasil é o quarto país mais ligado em video games no cenário global. Dos mercados emergentes, somos os mais proeminentes.
Também existe uma opção de dublagem em português desta vez, mas não se iluda: as vozes foram gravadas no idioma de Portugal. Os textos estão em português brasileiro e muito bem traduzidos.
Dois públicos: os que jogaram e os que não jogaram. Vale a pena?
Assim como quaisquer outras remasterizações, God of War 3 Remastered é visto como uma faca de dois gumes: existe a ala de jogadores que vai xingar, dizer que se trata de um produto caça-níqueis e que a indústria é reciclada, e existe a ala aberta à ideia de uma repaginação daquilo que já saiu, seja para alcançar novos jogadores ou para agradar aos que preconizam gráficos mais polidos e melhorias em desempenho.
God of War 3 Remastered traz texturas e iluminação melhoradas consideravelmente em vários trechos. Em alguns momentos, você só vai reparar nas diferenças se pausar a ação e observar cuidadosamente os detalhes. O Modo Foto e os textos em português enumeram argumentos, mas, dependendo da interpretação e do gosto de cada um, podem não ser capazes de sustentar uma nova aquisição.
Enquanto God of War 3, a experiência é digna de algo entre 95 e 100 mesmo. Eu acho que até martelaria um 97, nota dada à análise do título para PS3 aqui no TecMundo Games. Enquanto God of War 3 Remastered, e conforme mencionado acima, a interpretação é dúbia, pois quem nunca jogou vai encontrar um game nota 100 (ou quase isso), e quem já conhece o desfecho da vingança de Kratos pode se contentar com 1080p, 60 fps, Modo Foto e textos em português. O resto continua ali, com a mesma brutalidade, mas sem o mesmo impacto – sem o ar da novidade, naturalmente. Até porque o hack’n’slash de 2010 está mais engessado do que o hack’n’slash de 2015. Isso, é claro, me referindo ao gênero.
Muitas diferenças podem passar batidas a quem não tem um olhar clínico porque são sutis, uma vez que o game do PS3 já é muito bonito. A fluidez dos 60 quadros por segundo, o Modo Foto e os textos em português são os maiores diferenciais de God of War 3 Remastered. O jogo é capaz de se sustentar pela bela trama, que traz o desfecho da vingança de Kratos, os novos recursos e um visual que sempre foi acima da média.
God of War 3 Remastered sai mais barato do que o preço padrão de um lançamento e custa 149 reais no Brasil (ou US$ 39 lá fora). Quem ainda não jogou o original tem agora uma oportunidade de ouro, e quem já terminou tem a chance de revisitar um clássico que está refinado e ainda vai demorar muito para envelhecer. Tudo continua absolutamente brutal e visceral, e a vingança de Kratos não poderia ser mais doce.
Você pretende comprar a versão remasterizada de God of War 3? Comente no Fórum do TecMundo Games.
Categorias
- Estreia de Kratos no PS4
- É lindo ver sangue jorrando na tela em 1080p e 60 fps
- Dá pra brincar bastante com o Modo Foto
- Textos em português, aê!
- Hack'n'slash que está envelhecendo bem
- Melhorias gráficas pontuais, sem grande impacto a quem já jogou
Nota do Voxel