Ghosts 'n Goblins Resurrection é uma deliciosa viagem ao passado
Quando o primeiro jogo da franquia Ghosts 'n Goblins foi lançado para fliperamas em 1985, a realidade dos videogames era muito diferente do que vemos no mercado atual. Afinal, os principais jogos da época apresentavam campanhas relativamente curtas e um nível de dificuldade absurdamente alto a fim de motivar os jogadores a gastarem muitas horas com um mesmo título.
Com o passar das gerações, a relação entre duração total e dificuldade praticamente se inverteu e, atualmente, a maioria dos lançamentos apresentam campanhas muito fáceis e tramas bem extensas, de forma que o jogador possa ficar em um mesmo mundinho por dezenas de horas sem precisar se preocupar com não conseguir passar de fase ou ter de repetir a mesma área diversas vezes seguidas.
É por essas e por outras que tanta gente acaba caindo na tentação de comparar quaisquer jogos que oferecem algum nível mínimo de desafio a Dark Souls, uma das poucas séries triple A modernas que ainda se mostram dispostas a oferecer um ciclo de gameplay pautado pela tentativa, erro, aprendizado e repetição. Mas como Ghosts 'N Goblins se sai no mercado moderno, mais de 30 anos após o seu surgimento? Descubra na nossa análise completa a seguir!
Verdadeiramente hardcore!
Se você já jogou alguma das inúmeras edições da série lançadas através das gerações, vai gostar de saber que a sua essência foi perfeitamente preservada em Ghosts 'n Goblins Resurrection, exclusivo do Nintendo Switch. Em grande parte, isso se deve ao retorno de Tokuro "Professor F" Fujiwara à direção do jogo, repetindo o papel que já tinha exercido em 1985.
Mas se esta é a sua primeira vez na franquia, é uma boa ideia já começar a jogar plenamente ciente de que trata-se de uma das séries mais desafiadoras da história, aquele tipo de jogo que a maioria dos pobres mortais nunca consegue chegar ao fim sem precisar apelar a macetes ou save states para não recomeçar as fases do início a cada vida perdida.
Mesmo com diversas formas de tornar o novo jogo um pouco mais acessível para o público moderno, não há dúvidas de que este é um dos desafios mais hardcore que você pode experimentar na atual geração, e provavelmente será preciso morrer algumas centenas de vezes antes de chegar aos créditos finais!
Agora há quatro níveis de dificuldade para selecionar logo de cara, e elas fazem uma diferença gritante em como os desafios irão se desenrolar. Ainda que os padrões de ataque e surgimento dos inimigos mude em cada nível, o que você mais sente na pele é a quantidade de hits que o protagonista Sir Arthur aguenta antes de perder uma vida.
Os mais puristas podem gostar de começar diretamente no nível mais alto, no qual Arthur começa vestido com sua icônica armadura e só aguenta um único contato com projéteis ou lacaios inimigos antes de ficar desprotegido, munido apenas de suas cuecas. Em todas as dificuldades, esse estado seminu significa que a sua vida está por um fio.
Conforme você reduz o nível de dificuldade, Arthur vai suportando cada vez mais hits, progressivamente de acordo com a facilidade escolhida. A sua armadura para de ser desmontada de uma só vez, e é possível que você perca só o peitoral, ou apenas o capacete, conferindo ao jogador uma tolerância maior para erros.
Se você morrer demais em uma mesma área, o jogo vai recomendar que você reduza o nível de desafio antes de prosseguir rumo à sua próxima tentativa, o que muitas vezes pode ser uma boa ideia, já que boa parte da dificuldade é superada uma vez que você consiga decorar onde e como surgem os inimigos que o jogo teima em colocar no seu caminho.
Resurrection também apresenta uma nova muleta para superar as partes mais complicadas: os banners de renascimento, bandeiras que você encontra ao longo de cada fase e pode utilizar como ponto de retorno caso você morra e não queira rejogar a área inteira do começo ao fim. Sem eles, os checkpoints são bem distantes entre si, então é normal abusar deles ao longo da sua primeira campanha.
O greatest hits da série
Em uma geração tomada por reboots, remakes, ports e remasterizações, é complicado encontrar a nomenclatura mais correta para Ghosts 'n Goblins Resurrection. Talvez o mais justo seja considerá-lo uma sequência da série, já que praticamente todos os seus níveis são... "novos".
As aspas são necessárias porque, na prática, você vai passar a maior parte do tempo da campanha revisitando cenários muito familiares, em uma espécie de remix com todos os principais chefões, lacaios, armadilhas, músicas e ambientes que você já viu em Ghosts 'n Goblins e Ghouls 'n Ghosts.
Mas nada acontece exatamente do jeito que você estava esperando, já que mesmo os elementos mais familiares das fases foram arrumados de forma a oferecer situações inéditas. Dos cemitérios aos moinhos e palácios congelados, o novo jogo frequentemente desperta uma nostalgia gostosa do tipo "ei, eu me lembro dessa parte do original", mas então subverte completamente a sua expectativa com alguma pegadinha.
É estranho reclamar disso, mas curiosamente as melhores partes do jogo são justamente as que mais misturam nostalgia com novidades. Nas áreas em que Resurrection realmente está tentando fazer algo 100% inédito, parece que o level design não é tão cativante e divertido quanto nos níveis mais nostálgicos.
Os melhores momentos acontecem enquanto Arthur se movimenta livremente pelo cenário, calculando as rotas para tentar escapar do mar de inimigos e projéteis voando pela tela. Mas da metade da campanha em diante, é comum encontrar áreas com progresso artificialmente cadenciado, onde você é obrigado a acompanhar o lento scroll horizontal até que o jogo lhe permita correr novamente.
Mesmo esses segmentos ainda apresentam algumas boas ideias, como áreas onde você acaba apagando a iluminação local caso acerte um tiro nas velas e tochas do cenário. Isso dificulta ver as plataformas ao seu redor e garante algum frescor ao longo de toda a campanha. Ainda assim, fica a sensação de que as primeiras e mais nostálgicas fases são as mais legais.
Fator replay nas alturas
Quem jogou os jogos antigos sabe que, para completar 100% a difícil aventura, não basta apenas marchar até o chefe final e derrotá-lo. Sem entregar maiores spoilers, Resurrection também apronta uma gracinha legal depois que você chega ao seu "final" pela primeira vez, revelando ainda mais coisas para você fazer depois.
Mesmo antes disso, fica evidente na tela de seleção de fases que cada um dos níveis possui colecionáveis para você coletar, um ótimo motivador não apenas para complecionistas, mas também para quem gostaria de ficar ainda mais forte. Afinal, é preciso coletar as pequenas fadas que ficam voando aqui e ali, e então trocá-las por magias no menu principal.
Você começa a campanha sem poderes extra além das diferentes armas que coleciona pelo caminho, mas essas fadas podem ser trocadas por vários poderes ativos e passivos muito legais, desde uma magia que manda raios ou transforma Arthur em uma pedra rolante, até um atributo de sorte que pode lhe garantir um ponto de energia a mais ou maior dano nos seus disparos.
Se levarmos em conta a empolgante trilha sonora repleta de ótimas releituras de faixas clássicas, e os gráficos muito bonitos que abusam de uma direção de arte que mais parece pintada à mão em cada um dos detalhes, explorar cada cantinho dos níveis em busca de colecionáveis acaba esticando bem o que, de outra forma, seria uma campanha bem curta, que pode ser zerada em quatro ou cinco horas caso você seja habilidoso o bastante.
Vale a pena?
Ghosts 'n Goblins Resurrection é uma carta de amor aos primeiros jogos da franquia e, por que não, a tempos que não voltam mais. Do primeiro lacaio ao chefão final, encarar essa aventura é ser levado de volta aos anos 1980, quando os videogames ofereciam verdadeiros desafios que poucos eram capazes de superar. Sabiamente, o novo jogo oferece ferramentas o bastante para que diversos perfis de jogadores consigam chegar ao final dessa vez, mas ainda assim não o torna algo que novatos no gênero plataforma devam experimentar. Se você é um jogador hardcore, o maior problema é a campanha curta que vai deixar aquele gostinho de quero mais...
Ghosts 'n Goblins Resurrection foi gentilmente cedido pela Capcom para a realização desta análise.
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- Lindos gráficos que remetem a pinturas feitas à mão
- Trilha sonora repleta de hits remixados
- Boas formas de calibrar a dificuldade
- É divertido caçar colecionáveis
- Gameplay eletrizante e frenético
- Bom equilíbrio entre nostalgia e novidade
- Campanha bem curta
- As fases mais lentas não empolgam
Nota do Voxel