For Honor honra a sua premissa, mas peca em criar variedade de conteúdo
A Ubisoft tem franquias animais e que empolgam todo mundo quando são reveladas. For Honor foi mais uma dessas, mas será que vinga? Poxa, tem ideia mais legal que samurai, viking e cavaleiro trocando porrada? Confesso: a proposta do game me empolgou bastante. Sou viciado em Chivalry e adoro títulos com essa temática.
O maior problema de subir as expectativas é que, quanto mais altas, mais difíceis de atendê-las. Cuidado com a água fria. A verdade é que, mesmo com a faca e o queijo na mão, o novo game de combate e porradaria fica abaixo das expectativas e, por mais que a ideia seja boa, ela é mal-executada no plano geral. Para entender melhor, veja a nossa análise completa:
Narrativa boa, mas estrutura mal-executada
Primeiramente, vamos começar pela campanha, que até agora era a parte mais misteriosa de For Honor. Muita gente ficou com receio de que o modo história fosse similar ao do primeiro Titanfall ou até dos primeiros Star Wars Battlefront, ou seja, aquela partida multiplayer disfarçada com um enredo, só para tapar buraco.
Felizmente, não é a situação aqui. Basicamente, você deve progredir por capítulos que começam com os cavaleiros, vão para os vikings e terminam nos samurais, ou seja, é uma história certinha em sequência, com personagens, vilões (a antagonista, Apollyon, é bem interessante e desenvolvida) e muito mais. Fórmula clássica. Cada capítulo tem diversas cutscenes, vários personagens com motivações diferentes e, no geral, a progressão é legal e intrigante.
A campanha é intrigante e bem segmentada
O maior problema da estrutura do enredo é que falta uma apresentação melhor para o mundo de For Honor. Claramente é um universo fictício, mas a gente começa meio largado e sem saber direito o que está rolando. Mas tudo bem, detalhes apenas. Contudo, mesmo com boa dublagem, efeitos cinematográficos legais e qualidade acima da esperada, o maior problema é a própria jogabilidade. Quando você luta contra inimigos no multiplayer é uma coisa, mas na campanha esse processo é extremamente repetitivo.
A história é intrigante e bem melhor que o esperado, mas a estrutura de gameplay é muito repetitiva
Mate dois oponentes fracos, um forte e chegue a um ponto de captura. Mate mais três adversários, enfrente um cara mais poderoso e avance mais um pouco. Mate minions. Mate mais uns inimigos. Repita isso até acabar a fase, e você tem a fórmula do modo história. Há alguns trechos diferentes, como proteger um aríete ou jogar uma sequência montado em um cavalo, mas eles são raros.
Há uma progressão de atributos e habilidades para usar, mas eles não fazem tanta diferença. No final, a maior vantagem de jogar o modo história é ter um tutorial detalhado e uma familiaridade grande com diversos heróis que você usa no competitivo online, uma mão na roda para já começar mandando bem e não passar vergonha.
A estrutura não foge muito do que vemos no multiplayer
Combate: a alma e o triunfo de For Honor
Tudo isso nos leva ao coração do game: o próprio multiplayer. A gente sabe desde o começo que essa seria a proposta de For Honor. Um modo online competitivo que foca em um sistema de luta complexo, mas relativamente fácil de entender. E sinceramente? O combate é fenomenal mesmo, não tem do que reclamar.
As instâncias de defesa para direita, para esquerda e para cima são uma boa maneira de criar batalhas muito balanceadas, independente de você estar com um brutamontes, como o Justiceiro, ou com uma classe leve, como a Pacificadora. Na hora do aperto, os dois têm boas chances, e há estratégias e combos perfeitos para cada situação.
Todos os personagens são interessantes e bem únicos
Há um botão para quebrar a defesa que tem hora certa para ser usado, algo que cria uma dinâmica bem interessante para quebrar a unanimidade do joquempô de defesas. Dessa forma, é possível chutar e empurrar os inimigos. Toda essa variedade possibilita combos únicos para cada personagem e que causam efeitos especiais, como quebra de defesa e sangramento.
Está difícil de superar um inimigo rápido? Defender constantemente aumenta a sua barra de Vingança, um estado de raiva que reduz drasticamente o consumo de stamina e pode mudar o rumo da batalha. E por falar da energia dos golpes, há algo que não me agradou: a punição para jogadores que esgotarem a barra é baixa demais. Chivalry e Nioh, por exemplo, deixam o personagem em estado stagger. Em diversos títulos, defender consome essa barra, algo que não acontece aqui. De uma forma geral, a postura defensiva é muito recompensada, e isso incomoda em algumas situações.
A dinâmica de combate funciona bem e é o maior triunfo do jogo, mas alguns conceitos poderiam ter sido mais bem explorados
Cada personagem é bem único, tem suas próprias particularidades. Não demora muito para dominar e entender a jogabilidade de cada um, mas há 12 deles para desbloquear, algo que garante uma longevidade relativamente boa. E fique tranquilo: você ganha moedas para comprar heróis relativamente rápido, algo que dá uma boa progressão de jogo.
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Personalização bacana
Uma das apostas de For Honor é a personalização com mudança de atributos aos moldes do que promete Injustice 2. Cada partida multiplayer garante alguns itens extras, como cabos de lanças, novas lâminas, armaduras e muito mais. O interessante é que cada um deles muda os atributos dos personagens, oferecendo uma maleabilidade maior para moldar o estilo de jogo de um lutador.
Visualmente, esses equipamentos são bem bacanas também. Tanto os itens que alteram os atributos quanto a customização puramente visual do personagem são bem-feitos e oferecem uma variedade interessante para cada um criar um herói que corresponda ao seu gosto e agrado.
Customização é interessante
Visuais espetaculares
Outro trunfo grande de For Honor é a qualidade visual. Relaxa, dessa vez não teve downgrade, e tudo é simplesmente animal. Texturas incríveis, ambientação soberba e caracterização fenomenal de cada personagem. Os gráficos são realmente muito bons e tudo roda cravado em 30 fps nos consoles, tirando qualquer problema técnico que possa atrapalhar na hora da porradaria. Todas as animações de golpes são espetaculares, as execuções são empolgantes e bem executadas, e as tomadas cinematográficas são excelentes.
Cada herói é cuidadosamente diferenciado entre si para não causar confusão no campo de batalha. O design deles é caprichado, mesmo com algumas inconsistências históricas (afinal, vikings também usavam armaduras e não seguiam o visual estereotipado do game), mas estamos falando de um universo fictício, e isso não impacta em nada a jogatina. Não podemos nos esquecer que licença poética faz parte.
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Repetitivo, cheio de problemas e com bugs
Mas e aí? O combate e os gráficos são bons, mas e o resto? É aí que os problemas começam a aparecer. For Honor se resguarda demais nesses fortes pontos positivos e usa o sistema de luta como principal alicerce, deixando de lado muitos outros aspectos. É a clássica ideia boa, mas mal-executada. O game tem vários bugs, problemas de conexão constantes, quedas frequentes nas partidas e muito mais. Com sorte, isso será resolvido em breve.
Durante as horas de jogatina, foram frequentes as vezes nas quais joguei com bots na equipe, pois o matchaming não fazia um bom trabalho em juntar jogadores (mesmo que o status do servidor acuse atividade alta por ali). Vira e mexe, o jogo travava durante a sala de espera, as partidas eram pausadas por problemas de conexão e muito mais. No geral, muitas situações frustrantes. Por mais incrível que pareça, a versão final teve mais obstáculos técnicos que o Beta.
De 10 partidas, é capaz que você encontre problemas de conexões ou bugs em 6 delas, um número muito alto
Mas o principal problema é outro. For Honor não vai nem um passo além da boa mecânica de lutas. Os duelos X1 e X2 são legais, mas logo cansam, enquanto o modo Domínio, que coloca 4 contra 4 em uma arena maior e com minions, é simples demais, deixando a fórmula batida rapidamente. Cadê aqueles mapas com defesa de pontos móveis da campanha? Cadê as abordagens e os objetivos variados dentro de um mapa maior?
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Falta tremenda de variedade de jogo
Diferente de outros bons jogos competitivos, como Overwatch ou até mesmo um mais simples, como Chivalry, a porradaria rola em um ambiente bem pequeno e que só tem o intuito de dominar pontos. Esqueça missões de escoltar objetivos, invadir fortalezas ou mapas grandes segmentados em várias etapas. O limite se resume a enfrentar outros jogadores da mesma maneira que você faz nos duelos, mas com alguns poderes extras, como chuva de flechas e itens de cura.
Modos de jogo
Mesmo personalizando os seus chars com os espólios de vitória, não há nada que mude significativamente além dos atributos e da aparência. Não há combos novos ou novidades que mudem a sua experiência. E quando você dominar todos os heróis, o que será de For Honor? As partidas não oferecem variedade e não sabemos até quando os personagens serão lançados gratuitamente, igual ao que ocorre em Overwatch, pois há um passe de temporada.
Chivalry e Overwatch garantem partidas mais extensas, com mapas segmentados e mais objetivos; For Honor oferece um bom combate, mas muita repetição
Os minions até dão certo dinamismo, como pontos extras no modo de dominação, parede de escudos e entrave na luta, mas eles só aparecem em uma das rotas e não oferecem o potencial que poderiam ter para dar mais pimenta ao game. Certamente isso pode ser reconhecido e alterado, mas a impressão que dá é de que For Honor é uma ideia principal que pré-desenvolvida, mas com pouca coisa criada em volta disso.
Chivalry, um jogo indie e bem mais barato, traz batalhas de 24 contra 24 jogadores, mapas grandes, NPCs, uma progressão de partida muito mais variada e diversos outros elementos. For Honor tem a proposta de tornar o combate mais pessoal e competitivo, mas o ciclo de realizar as mesmas coisas em uma quantidade pequena de mapas não é necessário para suprir a demanda por conteúdo e divertir por períodos prolongados.
Defender um ponto é um dos únicos objetivos do multiplayer de For Honor
Vale a pena?
Em geral, parece que For Honor tem uma ideia boa, mas mal-executada. Isso quer dizer que o game é ruim? De forma alguma, mas o futuro dele dependerá da desenvolvedora. A história é bacana, os gráficos são bons e o combate é animal, mas são pouco aproveitados em um multiplayer cheio de problemas e que enjoa rápido.
Os menus no começo assustam e prometem muito conteúdo, mas rapidamente esse material se mostra mais do mesmo, e isso cansa com a mesma velocidade das partidas. Para quem entrar de cabeça na competição das batalhas, o jogo faz muito sentido, mas não dá para saber até quando ele vai te manter jogando e interessado.
Agora, vamos depender da Ubisoft fazer com For Honor o mesmo que ela fez com Rainbow Six: Siege e The Division: aprimorar, oferecer conteúdo gratuito, trazer longevidade e fazer com que o jogo melhore com o tempo porque, no seu estado de lançamento, ele é uma ótima ideia, com grandes promessas e poucas entregas.
Lembrete: atribuir um valor numérico a uma experiência tão particular é bem complicado e, em For Honor, isso é ainda mais capcioso: a produtora vai corrigir os erros? Os bugs vão sair? O suporte será contínuo? Será que ele se tornará cada vez mais competitivo e próximo da modalidade de eSports? Pode ser que sim e pode ser que não. Tal como está agora, ele tem muitos problemas e se mostra um tanto vazio. Para alguns, a dinâmica atual pode suprir toda a expectativa, enquanto para outros faltará conteúdo. Portanto, vamos promover o debate educado nos comentários.
- Narrativa surpreendente e bem intrigante
- O combate de For Honor é um dos mais bem-feitos e acessíveis já feitos
- As lutas PvP são muito divertidas e balanceadas
- Cada personagem é bem distinto e oferece uma ótima jogabilidade
- Gráficos impressionantes
- História boa, mas estrutura de gameplay repetitivo
- Faltam modos variados no multiplayer
- Diversos problemas de conexão, quedas de partida e bugs
- Diversos conceitos poderiam ser explorados mais a fundo
- Muitas ideias legais da campanha não são aproveitadas no modo online
Nota do Voxel