FIFA 20: Por que faz isso, EA?
Se nos últimos anos a lógica da EA Sports para os FIFA parece ter sido a do “não se mexe em time que está ganhando”, FIFA 20 veio para fugir da regra e mostrar que mudança nem sempre é sinônimo de melhoria.
Quem jogou FIFA 19 deve ter se acostumado a uma jogabilidade mais cadenciada do que em anos anteriores, mas a nova versão da franquia traz um ritmo de jogo ainda mais lento, exigindo um novo período de adaptação para os jogadores.
O grande lado positivo do FIFA 20 fica com o FIFA Ultimate Team (FUT), a galinha dos ovos de ouro que representou 28% da receita da EA em 2018. Já a notícia ruim é para quem curte os modos offline, que ainda tem apelo para muitos jogadores, especialmente no modo carreira.
VOLTA Football não é o FIFA Street. (Fonte: Douglas Ciriaco/Reprodução)
Rola a bola
Visualmente, tudo está impecável, com o game apresentando movimentos mais realistas e novas animações de domínio — nada revolucionário, entretanto, na comparação com o FIFA 19.
As novidades de jogabilidade acabam favorecendo um número maior de erros de passe e precisam conviver com atitudes bizarras dos goleiros, que por vezes rebatem bolas defensáveis que chegam pelo ar em cruzamentos.
FIFA 20 peca excessivamente nos modos offline. (Fonte: Douglas Ciriaco/Reprodução)
Esse ponto me irritou algumas vezes enquanto eu jogava e a expectativa é de haja alguma correção. Outro ponto problemático fica pela ausência dos jogadores de clubes brasileiros e nenhum estádio real sul-americano presente no game — no sentido de localização, PES ainda continua anos-luz adiante.
Em relação à tática, o game parece exigir ainda mais do jogador. Desajustes nesse ponto podem deixar seu time exposto aos contra-ataques ou a investidas pelas laterais, demandando um cuidado maior ao montar o esquema defensivo para não deixar a zaga desguarnecida.
FUT: ajustes precisos e mais sucesso à vista
Para manter as metáforas futebolísticas, o FUT no FIFA 20 parece um bom time que vinha demonstrando problemas táticos e passou por mudanças pontuais e capazes de dar um novo fôlego à equipe.
O FUT está recheado de novidades que o tornam mais dinâmico (como o Squad Battle ilimitado e os novos objetivos de temporada), organizado (novas telas e atalhos para gerenciamento de elenco) e personalizável (agora é possível usar novos escudos e enfeitar estádio).
Outra novidade bem legal é a possibilidade de enfrentar amigos em amistosos sem que isso custe contratos ou preparo físico de atletas. E o melhor é que vocês podem disputar partidas com nos modos de jogo especiais que ano passado estavam restritos às partidas rápidas locais com times e seleções comuns.
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A parte ruim do FUT, porém, já é conhecida: a boa e velha “nerfada” que algumas cartas sofrem, com jogadores jovens tendo o seu índice de ritmo reduzidos de maneira drástica e inexplicável, por exemplo.
Além disso, ainda é cedo para saber se a EA não “presenteará” os gamers com cartas especiais e um tanto sem sentido, como as versões do futuro de promessas da atualidade no FUT do FIFA 19. O saldo, contudo, é amplamente positivo e deve agradar a quem gasta horas e horas diante da TV (e quem sabe até dinheiro de verdade) para montar um bom time no Ultimate Team.
Saudade do FIFA Street?
Quem jogava e curtia FIFA Street (o que não era o meu caso) provavelmente está ansioso por colocar as mãos sobre o alardeado Volta Football. A experiência com ele, porém, pode ser um pouco frustrante, pois as firulas típicas de futebol de rua não rendem pontos extras para os clubes nesse tipo de disputa e a semelhança com o finado FIFA Street fica só na casca.
Além disso, os jogadores disputam as partidas usando os uniformes típicos de seus times mesmo quando o embate se dá em uma quadra de favela ou em um galpão. Pode parecer um detalhe besta, mas essa descaracterização tira todo o charme de uma boa e velha disputa de rua.
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Vale mencionar, também, que o Volta Football substitui o modo A Jornada, presente nas três últimas versões de FIFA. Ele tem um modo história que vale apenas pelos jogos disputados, porque a narrativa é absolutamente genérica e não tem nem um pouco do encanto da história de Alex Hunter.
Em suma, o Volta Football não é um desastre, pois resgata até mesmo o futebol indoor que fez sucesso em algumas das primeiras edições de FIFA, mas está longe de ser algo memorável e a minha aposta é que ele deve cair nas graças da maioria dos jogadores.
O desastre do modo carreira
O modo carreira de FIFA sempre pecou por ser excessivamente genérico e não conseguir alcançar a mesma profundidade da já longe Liga Master, de PES. Lógico que nenhuma das duas modalidades chega aos pés de Football Manager nesse aspecto, mas a opção oferecida pela EA neste ano parece estar pior do que nunca.
Como se não bastassem as negociações um tanto chatas e genéricas, as coletivas de imprensa e os diálogos com os atletas agora também entram nesse bolo e se tornam mais um fardo com o qual o jogador precisa lidar. A EA também não encontrou um jeito de melhorar o sistema de treinamento de atletas e ele continua um porre no FIFA 20.
Você imagina Liverpool e City brigando contra o rebaixamento na Premier League deste ano? (Fonte: Douglas Ciriaco/Reprodução)
Mas tudo isso poderia ser ignorado se o modo carreira funcionasse bem naquilo que importa de fato: a disputa em um certame. Porém, desde o lançamento do game, em 27 de setembro, a hashtag #FixCareerMode (Conserte o Modo Carreira) vem sendo largamente usada no Twitter para descrever bugs e bizarrices estruturais do jogo.
Os problemas incluem times grandes não usando seus principais jogadores sem qualquer razão aparente e indo parar na zona de rebaixamento, diálogos truncados e contraditórios com atletas e uma variação da média geral dos jogadores totalmente fora da realidade — por exemplo, nomes como Messi e Cristiano Ronaldo tendo sua média geral derrubada drasticamente com o passar de dois anos dentro do jogo.
Você ainda precisará gastar tempo treinando manualmente os jogadores que deseja evoluir. (Fonte: Douglas Ciriaco/Reprodução)
A expectativa é que a EA ouça o clamor popular e olhe um pouco para quem não se aventura no FUT, corrigindo tudo o quanto antes. De qualquer forma, são situações graves para um jogo não exatamente barato.
Vale a pena?
O gameplay mais cadenciado e alguns problemas de física que tornam o jogo um pouco mais aleatório tiram um pouco da diversão. Eu voltei a jogar FIFA de vez com o FIFA 17, passando a deixar o PES de lado. Desde então, o FIFA 20 foi a primeira versão que fez eu reconsiderar a mudança e pensar em voltar a dar mais chances ao título da Konami.
Lógico que FIFA 20 ainda é divertido e plenamente jogável, mas peca por mudar excessivamente algo que não estava ruim e por negligenciar de forma bastante preocupante modos de jogos que não continuam rendendo dinheiro para a empresa após a venda do game em si.
A impressão geral é de que o game tende a focar cada vez mais no FUT e tornar as demais modalidades um apêndice dispensável que recebe poucos cuidados. Se comercialmente isso parece fazer sentido para a EA, não faz muito sentido em relação ao produto como um todo e deve encontrar resistência entre os jogadores.
O veredito, então, é o seguinte: se você pretende jogar o FUT, FIFA 20 pode oferecer uma experiência geral até mais legal do que nos últimos anos; já se a sua vibe é jogar sozinho os modos offline, esta deve ser uma das experiências mais frustrantes da franquia — o porque o multiplayer local continua legal e variado, vale destacar.
FIFA 20 foi gentilmente cedido pela EA Games para a realização desta análise.
- FUT ganhou novidades interessantes
- Jogar com a galera continua divertido
- Disputas online continuam fluindo bem
- Times brasileiros com jogadores genéricos
- Nenhum estádio sul-americano licenciado
- Modo Carreira repleto de problemas
Nota do Voxel