FIFA 18 é um game que mostra uma série ciente de suas forças e que, em vez de trabalhar em grandes mudanças, está mais focada em lapidar alguns pontos falhos e ampliar o que oferece de bom. Isso não significa que o game é uma “mera atualização de times” (como muitos gostam de dizer), mas sim que a maioria dos ajustes feitos aqui não é revolucionário — algo que, convenhamos, não é exatamente uma necessidade para a franquia.

Lançado oficialmente na última sexta-feira (29), o jogo da EA Sports continua oferecendo uma experiência de jogo autêntica tanto dentro quanto fora de campo. Optando por um estilo de jogo somente ligeiramente mais devagar do que no ano passado, o game traz como principais novidades os ajustes mecânicas em quesitos como a cobrança de pênaltis e alterações que fazem as defesas serem um pouco menos eficientes quando deixadas sob o controle da IA.

A desenvolvedora também realizou melhorias no sistema Ultimate Team (que agora conta com mais jogadores lendários) e ampliou bastante o modo Jornada, a campanha single player que segue os passos de Alex Hunter. Para completar, a versão Switch traz o melhor jogo de futebol portátil de todos os tempos, o que não impede que ele tenha alguns problemas.

Igual, mas diferente

Mecanicamente, FIFA 18 traz uma jogabilidade bastante “conservadora” em relação a FIFA 17. O ritmo de jogo padrão está um pouco mais lento, mas não o suficiente para que você sinta que tudo está em “marcha lenta”. Isso contribui para diminuir o ritmo das partidas, mas, em contrapartida, faz com que você sinta que tem ainda mais controle sobre as suas jogadas.

Contribui para essa sensação as novas animações dos jogadores, que agora dominam e passam a bola de maneiras ainda mais variadas. No entanto, permanece a sensação de que certos comandos — especialmente os passes — poderiam ser um pouco mais responsivos e é necessário “decorar” o timing de cada um deles para ter a melhor experiência possível.

Outras mudanças surgem na maneira como os defensores controlados pela inteligência artificial se comportam. Se antes muitas vezes a melhor opção era deixar que eles tomassem conta do recado, agora você vai ter que assumir o controle deles para assegurar que seus adversários não vão simplesmente driblá-los ou fazer um lançamento que vai deixá-los na cara do gol.

FIFA 18 também realizou ajustes nos goleiros, algo que sempre é um ponto controverso

FIFA 18 também realizou ajustes nos goleiros, algo que sempre é um ponto controverso em todos os jogos de futebol. Agora eles estão “aceitando” mais chutes de fora da área, o que não significa que eles estão ruins, pois esses atletas ainda conseguem fazer defesas bastante impressionantes dependendo de seus status.

Para não dizer que tudo está uma maravilha (e já que mencionei os status), o novo capítulo continua fazendo com que usar um bom time contra uma equipe mediana faça com que pareça haver um “abismo” de habilidade entre eles. Em outras palavras, não é uma boa ideia escolher alguma equipe de meio de tabela para enfrentar “medalhões” como o Barcelona e o PSG caso você queira ter alguma chance contra um oponente que joga no mesmo nível.

FIFA 18 também ganhou alguns ajustes em seu sistema de cruzamentos, que agora facilita mandar bolas na área em direção aos seus atacantes (novamente, a efetividade depende de qual atleta é usado). Outras mudanças ocorrem na hora de bater pênaltis, cuja mecânica voltou a ser mais parecida com a de capítulos anteriores ao do ano passado, o que contribui para evitar cobranças erradas feitas por acidente.

Um modo Jornada ainda melhor

Um dos principais diferenciais da série desde 2016, o modo Jornada está ainda melhor na versão atual do game. Isso, em grande parte, decorre do fato de que a Electronic Arts não precisa mais gastar tempo estabelecendo os principais personagens que surgem durante a história, podendo explorá-los com maior profundidade.

Sem entrar em detalhes, FIFA 18 torna mais fácil o processo de gostar do protagonista Alex Hunter, colocando ele em situações interessantes tanto dentro quanto fora de campo. Este ano a desenvolvedora conseguiu até mesmo inserir partidas de futebol feminino dentro da trama, sabendo explorar melhor alguns modos de jogo que nem sempre são explorados pelos jogadores.

No que parece uma resposta às críticas feitas em anos anteriores, a empresa finalmente deu um propósito ao número de seguidores e ao dinheiro que você ganha após o fim de cada partida. Eles são usados para destravar personalizações estéticas para Hunter, em uma lista que inclui tatuagens, cortes de cabelo, chuteiras, munhequeiras de diferentes cores e roupas, entre outros itens.

 a empresa finalmente deu um propósito ao número de seguidores e ao dinheiro que você ganha

O que incomoda é o fato de que as aparições de figuras como Cristiano Ronaldo e Thierry Henry soam forçadas, especialmente quando a dublagem brasileira é usada. Esses jogadores sempre aparecem falando em inglês durante a história, gerando uma grande sensação de estranhamento quando seu personagem interage com eles falando em português.

O resultado das mudanças é uma história que, se não é exatamente digna de ganhar prêmios, envolve e diverte muito mais do que a versão anterior. Caso a EA Sports continue seguindo esse rumo, a história do jogador inglês tem tudo para permanecer como um dos principais motivos para continuar acompanhando a série FIFA nos próximos anos.

Ultimate Team e apresentação

Usando a filosofia de “não se mexe (muito) em time que está ganhando”, FIFA 18 realiza somente pequenos ajustes no viciante modo Ultimate Team que, se não mudam a maneira como você joga, dão mais estímulos para continuar sua busca pelo time perfeito. A principal novidade este ano são as cartas de Ídolos, que trazem atletas emblemáticos em diferentes formas de sua carreira.

Também houve a adição das “Squad Battles”, nas quais você enfrenta uma série de partidas contra times controlados pela IA e por outros jogadores, incluindo profissionais dos eSports e celebridades. As competições são especialmente desafiadoras (especialmente as travadas online), justificando a possibilidade de adquirir recompensas que nem sempre surgem nos modos mais convencionais.

FIFA 18 também se destaca por permanecer o jogo mais completo no que diz respeito a licenças de times, incluindo todos os uniformes e jogadores das principais ligas internacionais. No entanto, é triste ver a baixa atenção dada às equipes brasileiras, cujos elencos continuam surgindo com nomes e modelos genéricos, e não há qualquer estádio nacional na seleção oferecida pelo título.

Em compensação, quesitos como gramados e torcidas estão ainda mais detalhados do que no passado, bem como os efeitos visuais usados para identificar as diferentes ligas e competições licenciadas pela Electronic Arts. Já os modelos dos jogadores continuam aquela velha história de alternar entre o assustadoramente realista e o ridículo, algo com que os fãs do futebol virtual acabaram já se acostumando a ter que lidar.

Já a narração é aquela história: pessoalmente não me incomodo com as piadinhas de Tiago Leifert e Caio Ribeiro, mas entendo quem não suporto com a maneira como eles narram as partidas. Este ano, a desenvolvedora adicionou ainda mais falas e comentários a cada um deles mas, depois de certo tempo, ainda é difícil escapar de ouvir as mesmas frases sendo repetidas diversas vezes em um curto espaço de tempo.

E o Switch?

Um dos motivos pelos quais decidi atrasar um pouco esta análise foi para conferir a versão de FIFA 18 no Switch, que quebra um longo período sem lançamentos da série em plataformas da Nintendo. O resultado geral da adaptação é bastante positivo, mas é preciso levar em consideração que estamos lidando com um jogo com uma proposta diferente daquele que chegou ao PC, PlayStation 4 e Xbox One.

Para começar, essa versão não conta com o modo Jornada e possui gráficos que são assumidamente mais fracos do que os vistos nas demais plataformas. No Switch, o game parece usar uma versão ligeiramente aprimorada da velha engine Ignite, que era usada pela EA Sports até o ano de 2015.

No Switch, o game parece usar uma versão ligeiramente aprimorada da velha engine Ignite

O resultado é um jogo que fica bonito no modo portátil, mas que revela seus defeitos quando colocado na tela grande. Felizmente, independentemente da maneira como você joga, o desempenho permanece travado nos 60 quadros por segundo, algo muito importante para um game da categoria.

O ritmo das partidas é ligeiramente mais rápido do que o visto nas demais versões, mas quem está acostumado com elas não vai sentir problemas ao fazer a transição. No entanto, faz falta o novo sistema de substituições rápidas (que evitam ter que ficar abrindo os menus de configuração), bem como das Squad Battles do Ultimate Team.

Em geral, o resultado é bastante positivo e espero que a desenvolvedora tenha motivos o suficiente para fazer uma equiparação maior com as versões de PS4 e Xbox One em possíveis lançamentos futuros. FIFA 18 no Switch é sem dúvida o melhor jogo de futebol portátil já lançado até hoje, mesmo não competindo necessariamente no mesmo nível do lançamento mais completo.

O pacote mais completo do gênero

Confesso que cheguei a FIFA 18 com um “pé atrás”. Ao experimentar o game na E3 deste ano e em sua demonstração gratuita, pensei que ele estava lento e pesado demais para o meu gosto e que, este ano, era melhor “deixar passar” o jogo. No entanto, algumas horas com a versão completa foram suficientes para entender a proposta da EA Sports e decidir deixar para trás a edição lançada em 2016.

Oferecendo um pacote completo para os fãs do gênero, o novo game aprimora as bases sólidas da versão anterior e traz novidades o suficiente para justificar a atualização. Muitas mudanças surgem de forma sutil, contribuindo para a ideia de que “nada mudou”, mas quem acompanha a série vai perceber rapidamente os ajustes realizados pela equipe de desenvolvimento.

O que decepciona mesmo é a falta de atenção aos times brasileiros, que permanecem algo secundária na franquia. Caso você faça questão de jogar com as equipes nacionais, ainda é uma melhor ideia apostar no rival Pro Evolution Soccer caso não queira ter que lidar com um conjunto de atletas genéricos que em nada lembram suas contrapartes reais.

Oferecendo um pacote completo dentro e fora de campo, FIFA 18 continua a trajetória de sucesso da EA Sports no esporte bretão. Não espere encontrar aqui nada revolucionária, mas sim uma experiência bem construída que traz estímulos o suficiente para você jogar constantemente até que a próxima edição chegue às lojas em 2018.