Choros não tão distantes são ouvidos com a continuação de Far Cry.

O primeiro Far Cry causou um estrago profundo no mundo dos jogos de tiro em perspectiva de primeira pessoa (FPS) devido à sua proposta ousada de embarcar os jogadores em ambientes naturais esplêndidos, maravilhosos. Dessa forma, muita expectativa foi gerada em torno da continuação do game, levando em conta que a tendência é sempre melhorar, pelo menos graficamente.

Então, depois de muito alarde, Far Cry 2 desponta nas lojas como um dos melhores FPSs já lançados. Então, os jogadores afoitos adquirem o título e... Epa. Tem alguma coisa errada. Será que foi realmente Far Cry 2 que eu comprei? Será que, mesmo com os vídeos, imagens e anúncios liberados anteriormente, o game é este mesmo que estou jogando?


O TecMundo Games lamenta informar que sim, Far Cry 2 foi uma decepção. O jogo não é inteiramente ruim, mas bate de frente com a balbúrdia positiva realizada antes do lançamento do título. Desmontando todos os esperançosos fãs do primeiro game, a continuação não atingiu o objetivo proposto e mostrou que, além dos visuais completamente decepcionantes, é um jogo cansativo e banal.

De imersão a superficialidade

Tudo bem, Far Cry 2 não contém nenhum vídeo de abertura. Essa pequena decepção logo é superada pela grande logo do game envolta em um fogo devastador. Após acessar o completo menu do jogo, é praticamente inevitável escolher o Story Mode e partir para a pancadaria. A história começa com um longo passeio de jipe. Mais longo que o esperado.

O cessar-fogo toma conta de algumas bases.

Depois de um certo tempo, um item crucial surge e indica um dos motivos pelo qual o personagem principal de Far Cry 2 não é como os outros. É a malária, doença que incomoda fortemente o protagonista (e o jogador) durante todo o enredo. A corrida por remédios é realizada ocasionalmente através de conexões com Underground, o único grupo de pessoas que possui ligações com recursos médicos.

Aprendendo pouco a pouco sobre a trama, o gamer logo descobre que há um lado "Diamantes de Sangue" (longa-metragem com o ator Leonardo DiCaprio) no jogo. Há alguns críticos e jogadores que arriscam afirmar que também há fortes características da série Grand Theft Auto na continuação de Far Cry, visto que o personagem atua na maior parte do tempo como um mercenário e é capaz de provocar destruições monstruosas.

O fogo é um pilar na ação. Aparentemente, Far Cry 2 é destinado àqueles que preferem pancadaria desenfreada ao invés de um enredo bem estruturado. Não se pode negar que a liberdade é um dos atrativos do título desenvolvido pela Ubisoft Montreal. Queimar, destruir e matar são três dos muitos pilares que o jogo oferece no que diz respeito à ação em perspectiva de primeira pessoa.

Infelizmente, o game é só isso. Como as missões são clichês, a trama é fraca e há uma quantidade inacreditável de problemas gráficos, não dá para classificar Far Cry 2 como um jogo conquistador. Pode-se dizer que há uma série de inovações na dinâmica do título (exibidas a seguir), mas o potencial é explorado de forma precária, para o infortúnio dos fãs.

Feio? Como assim?

Em meio aos embates travados entre mercenários e vários grupos de combatentes (principalmente a UFLL e a APR), os bugs nos visuais do jogo saltam aos olhos dos jogadores. Bordas serrilhadas formam o menor dos males ao lado de modelagens pobres e texturas igualmente estarrecedoras. A partir do momento em que é possível perceber que a cabeça careca do motorista do jipe inicial é mais poligonal do que oval, as coisas pioram.

Não se iluda, nada é tão belo quanto este Molotov. É horrível visualizar superfícies e objetos definidos inicialmente de uma forma e, a poucos metros de distância, modificados completamente. O pior é que essa mudança entre modelagens de um mesmo objeto ocorre constantemente durante toda a experiência com Far Cry 2. Com isso, é possível constatar que o jogo foi planejado para rodar de uma maneira, e, infelizmente, é executado de forma inteiramente diferente.

Esperava-se que fantásticas paisagens africanas despontassem de forma impactante tanto na versão para PlayStation 3 e Xbox 360 quanto no título do PC. Por que tanta espera? Apenas pelo fato de que os fenômenos visuais que a tecnologia Dunia supostamente seria capaz de exibir fossem o maior diferencial do game em relação aos demais FPSs. Decepção? Sem sombra de dúvida.

Bem, sem sombra não, mas com uma sombra disforme e irreal. Além das sombras terrivelmente mal elaboradas, o céu não é nada parecido com aquilo que foi anunciado anteriormente. O mesmo vale para as luzes e relação entre vegetação e demais objetos. Esse último item realmente deixa a desejar, considerando que a grama e certos tipos de mato saem do chão como se fossem polígonos geométricos lançados de uma superfície simples e crua diretamente para os olhos desesperados do observador.


Explodir uma caixa de armamentos pode provocar o disparo de projéteis de forma interessante. A maneira com que fogo se alastra pela vegetação provoca um efeito curioso. Mas o fogo em si — tanto como a água — não é nenhuma maravilha da natureza virtual. O formato de alguns corpos de animais e pessoas é intrigante a um primeiro contato, mas a interação com eles é enraivecedora.

A equipe TecMundo Games, após explodir um tanque de combustível perto de alguns animais, pôde perceber que espasmos tomavam conta do corpo inerte. Até aí, tudo bem, pensava-se que era um efeito interessante. No entanto, após equipar o lança-mísseis e disparar contra o animal morto, o TecMundo Games teve o desprazer de observar que o míssil ricocheteou (não, você não entendeu errado: ricocheteou) no corpo e foi parar em uma árvore qualquer. O animal curiosamente continuou em seu espasmo infinito (um bug, na realidade).

Várias tentativas em inovar

Sem o sucesso esperado, a Ubisoft lançou Far Cry 2 com algumas mudanças radicais na estrutura da jogabilidade e na dinâmica dos acontecimentos. Está saindo fumaça do carro? Desça e conserte o problema (embora seja estranho apertar um parafuso e tudo ficar bem quando milhares de tiros foram disparados contra o veículo). Vigas de madeira no caminho? Arrebente-as (o que também é estranho, pois algumas portas e casas são completamente indestrutíveis).

Nem tudo é destrutível.

A procura por diamantes é vital para que o jogador possa desfrutar de vários recursos bélicos que Far Cry 2 oferece. Portando uma espécie de sinalizador (tanto a pé quanto dentro de um veículo), o gamer deve sempre ficar atento à luz verde do aparelho, que indica a proximidade e a direção de diamantes nas redondezas. As recompensas das missões também são intrigantes, como as próprias pílulas que combatem a malária.

Mas qual o motivo da existência das pedras preciosas? Pouca coisa é de graça no mundo, especialmente no que diz respeito à criação e às melhorias de equipamentos bélicos. Em Far Cry 2, há a possibilidade de adquirir armas de vários tipos, bem como de criar armas e aumentar a quantidade de munição carregada. Basta apenas fazer uma parada em qualquer um dos postos de troca.

Esta ruína pode conter uma mala com diamantes.

Diferentemente de outros FPSs modernos, Far Cry 2 conta com uma barra de vida como parte da interface. Mesmo no nível de dificuldade padrão do jogo, é difícil enfrentar os furiosos mercenários sem ter um mínimo de habilidade com armas de fogo. A recuperação da energia perdida é feita através de injeções e, se o gamer morrer uma vez, um dos amigos aparece rapidamente para salvá-lo.

O sistema de amigos também é interessante, embora a "ressuscitação" realizada por um dos companheiros do jogador é meio forçada e apelativa. O personagem principal, ao longo da trama, é capaz de criar até 12 fortes relacionamentos que exercem grande influência no desenrolar das missões e na experiência como um todo.

Nenhum destaque nos demais quesitos

Far Cry 2 conta com um modo multiplayer sólido, mas um tanto inacessível. Até 16 jogadores podem embarcar em combates frenéticos pelos mais variados cenários do jogo, mas o surgimento do editor de mapas complicou um pouco o desenrolar dos combates online. No momento em que esta análise foi escrita, havia poucos gamers em disputas online, mas a dificuldade em entrar nas partidas foi igual em vários momentos distintos.

Chamas também no modo multiplayer.

O editor de mapas do jogo é robusto, mas, como a aparência e a interação do personagem com o ambiente não são nada perfeitas, os mapas criados acabam gerando ainda mais decepção. Além de enfrentar um tempo considerável baixando os cenários personalizados para o sistema local, o jogador contempla ambientes muitas vezes feios e disformes.

Com exceção dos mapas criados por gamers, o modo multiplayer é bom e pode entreter vários jogadores por horas e horas de pancadaria. Mais uma vez, as armas aparecem como ponto forte e são fundamentais para a liberdade nos tiroteios. Online, é primordial que o gamer acione seus instintos e tenha uma mira aperfeiçoada. Caso contrário, é morte, principalmente nos modos tradicionais como Deathmatch e Team Deathmatch.

Sonoramente, o jogo é bom, pois os sons interagem perfeitamente com o cenário africano como um todo. O trabalho de vozes, no entanto, deixa um pouco a desejar, levando em conta que há pouca emoção e pouco sentimento nas falas dos protagonistas, que, em boa parte das ocasiões, proferem palavras mais rapidamente que o movimento de suas bocas.


Com isso, Far Cry 2 é um jogo razoável, pois a quantidade de problemas técnicos é irritante e atrapalha consideravelmente a jogabilidade, já que os visuais deveriam ser o ápice do game. Há poucas diferenças entre as versões dos consoles e a do PC, mas o TecMundo Games garante que Far Cry 2 não é um título que condiz fielmente com seus anúncios.
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