Prepare seu Pip-boy: o apocalipse nunca foi tão bom
Por mais que você nunca tenha jogado Fallout, nos últimos meses foi impossível não ouvir falar da franquia. O game da Bethesda começou a ser assunto durante a E3 deste ano e desde então se tornou um dos maiores hypes da atual geração.
Muito se dizia e nada se confirmava. Mas, finalmente, no último dia 10, o fenômeno foi lançado. Agora, Fallout 4 é uma realidade! Jogadores do mundo inteiro já podem ficar felizes, pois, mais uma vez, temos a oportunidade de visitar a Wasteland ou, como podemos chamar agora: os Ermos.
Sim, podemos chamar assim pois, pela primeira vez, a produtora resolveu abrir os olhos para o Brasil e o game está com legendas e menus em português. O melhor de tudo? O jogo está gigantesco e com muitas novidades, desde melhorias no sistema de tiro até no loot.
Então, sem mais delongas, vamos à análise de Fallout 4.
Onde o passado e o futuro se encontram
A obra se passa na cidade de Boston, nos EUA. O mundo de Fallout é extremamente interessante muito por conta da quase mágica e inquietante mistura do passado (com TVs em preto e branco e roupas da década de 40 e 50) com o futuro (com mordomos-robôs e tecnologias bem avançadas). Essa combinação, apesar de parecer estranha, casou muito bem e depois de um tempo jogando se torna bem normal.
Primeiramente, vamos apresentar o protagonista. Nosso herói ou heroína (vai de acordo com a escolha do jogador) pode ser como quisermos. A primeira mecânica do game apresentada é a de construção do personagem — e é de impressionar.
A quantidade de detalhes e alterações que podemos fazer é gigantesca. Como já vimos aqui mesmo no TecMundo Games, é possível até criar personagem parecidos com celebridades. Essa liberdade também será mostrada em outros pontos da obra, o que torna o título algo como um "faça você mesmo".
Depois de passar alguns minutos construindo o personagem (ou horas, no meu caso) é que a coisa começa a pegar fogo, literalmente. A vida que todos conhecem muda completamente quando a TV anuncia ataques nucleares em diversos locais do mundo, e Boston será um dos próximos alvos.
É aí que, para se salvar de uma explosão iminente, o protagonista parte às pressas, junto com a sua família, para a Vault 111.
Admirável mundo novo
Após uma série de desventuras, nosso herói acorda 210 anos depois em um mundo completamente diferente do que estava acostumado. Aí temos o ponto mais divertido do game: conhecer, junto com o protagonista, as nuances dessa nova realidade. Para quem não jogou os títulos anteriores, essa experiência se torna ainda mais intensa. Para quem jogou, o sentimento de finalmente estar de volta ali é incomparável.
Fallout é diferente de outros títulos pós-apocalipticos em uma questão: ele não pensa apenas no destino do protagonista. É claro que ele tem sua história e é nela que o game se foca, mas a obra não deixa de ponderar todo aquele ecossistema que foi construído. Aqui, não temos que pensar só em nós, pois também devemos nos preocupar com a reestruturação do planeta – e é quando esse sentimento bate que paramos por um momento e pensamos: mãos à obra, pois temos muito o que fazer.
Esse “muito o que fazer” engloba ajudar os habitantes com pequenas missões, montar assentamentos onde as pessoas possam viver, descobrir o que aconteceu no mundo enquanto você dormia por 210 anos, enfim, é realmente “MUITO O QUE FAZER”.
É um shooter? É um RPG? Agora, é tudo isso
Uma das maiores reclamações dos fãs da franquia era em relação ao sistema de shooter. Em Fallout 3, era sofrível derrotar os inimigos sem usar o sistema VATS, e a câmera em terceira pessoa também não ajudava em nada na tarefa. Entretanto, para alegria geral, esses foram pontos corrigidos na obra atual.
Claro que não dá para comparar com jogos essencialmente FPS, mas a evolução é muito notável. Além disso, a transição de visualização de primeira para terceira pessoa acontece de maneira muito mais natural, tornando possível a jogatina sem usar o VATS — mas, quem é que vai querer isso?
Quer mais do que um sistema de tiro melhorado? Ok, que tal uma imensidão de armas e modificações? Pois é, o titulo conta com uma porrada de armas, e a personalização delas torna as coisas muito interessantes.
É possível fazer uma pistola que dê disparos incendiários em rajadas ou uma que cause mais dano de impacto com uma cadência menor. É claro que essas alterações também são representadas visualmente, ou seja, cada mudança deixa a arma com uma aparência diferente.
Essas modificações podem ser feitas também nas peças de proteção corporal e até mesmo na Power Armor — aquela armadurona sinistra que podemos usar quando o bicho pega. Aqui, o céu é o limite... ou melhor, a quantidade de sucata é o limite, já que você vai precisar de muito desse recurso para dar uma de senhor das armas.
Fallout Shelter 2.0
Lembra quando dissemos que iríamos reerguer o mundo em Fallout 4? Pois é, temos que agir como verdadeiros líderes e montar uma (ou várias) comunidade próspera. Portanto, arregace as mangas e pode começar a construir. Sim, você leu certo: CONSTRUIR.
É hora de colaborar com a sociedade não só completando uma missãozinha aqui ou outra ali, mas também juntando tudo o que é tranqueira para fazer habitações, móveis, geradores, defesas, enfim, tudo o que uma cidade precisa.
O modo de construção é extremamente vasto e quem curtiu o Fallout Shelter vai se sentir em casa, pois tem um pouquinho dele aqui. Quanto mais gente na sua cidade, de mais recursos ela vai precisar. Fazer plantações, construir poços de água, arrumar as defesas, tudo isso, além de designar o papel de cada morador, será tarefa sua, oh, destemido líder! Portanto, nada de ficar parado.
Com o tempo, vemos vários tipos de habitantes surgirem e usarem suas habilidades para tornar aquele seu cantinho um lugar bem aconchegante para viver. Então, não basta só vestir sua Power Armor e sair por aí dando uma de John Rambo. A obra da Bethesda nos oferece uma experiência de comunidade. É claro que queremos saber todas as surpresas da história, mas a exploração e esse negócio de reerguer o mundo se torna uma prioridade muito divertida (evidentemente isso vai depender muito do jogador).
Esse recurso dá uma vida extra ao jogo (como se precisasse, né?). Sair por aí cuidando dos acampamentos, resolvendo os problemas e administrando os recursos é realmente gratificante e nos dá aquele gostinho de dever cumprido, e é obvio que pode render uma ajudinha na hora de enfrentar uns supermutantes.
Loot para deixar Skyrim no chinelo
Sabe quando você pega os itens dos inimigos caídos e pensa: “Para que raios vou usar isso? ” e acaba jogando aquilo fora? Melhor pensar duas vezes. Em Fallout 4, tudo, absolutamente TUDO, pode ser aproveitado. Mesmo que não usemos aquela arma que coletamos, é possível quebrá-la para aproveitar suas peças em outros itens.
Vamos supor que estamos andando e encontramos uma bola de baseboll. Apesar de parecer algo besta, é possível montar uma bomba com ela ou usá-la como cortiça, quando algum item que fizermos necessitar desse material.
Missões diferentes e muita coisa para fazer
Ok, jogos longos não são novidade, temos vários exemplos por aí. O problema é que em alguns deles as missões se tornam repetitivas demais: levar algo do ponto A ao ponto B, conversar com tal pessoa depois voltar, enfim, não diverge muito disso.
É claro que Fallout também conta com esse tipo de tarefa, mas com algo que as tornam menos maçantes: no caminho, muita coisa pode acontecer. Não se assuste se você for surpreendido por criaturas que não parecem ser da Terra ou se seu rádio de repente começar a receber sinais estranhos. Investigar esses acontecimentos serve exatamente para quebrar o ritmo do jogo e nos manter interessados.
Além de tudo, após pouco mais de 30 horas de jogo as missões que tivemos nem foram tão repetitivas. Entre ajudar os Minuteman a se reerguerem, dar uma forcinha para a Irmandade do Aço e salvar gatinhos em cima de árvores, muita coisa aconteceu. Enfim, o mundo, por mais ferrado que esteja, é o seu playground em Fallout 4.
Amizades, NPCs e tomadas de decisões
Conversar com alguns personagens nos faz perceber o quão carismáticos eles são. Mesmo aqueles chatos, como Rhys, membro da Irmandade do Aço, têm uma personalidade forte que permite ao jogador se lembrar dele. O detetive Valente e a jornalista Piper também são bons exemplos de personagens marcantes.
Já que citamos Piper, vale lembrar de mais um recurso de volta em Fallout 4: os companions. Dependendo de como atuamos, podemos recrutar algumas pessoas para nos acompanhar na exploração desse vasto mundo louco.
A jornalista supracitada é uma delas. Ter um parceiro de viagens garante algumas vantagens, como dividir o peso das quinquilharias que conseguimos, contar com uma forcinha na hora de atirar nos inimigos e até chamar atenção para que possamos passar despercebidos por hordas de necróticos.
Contudo, ninguém é mais confiável do que o melhor amigo do homem. Se você curte cachorros, Dogmeat é o companheiro ideal. Nosso cúmplice canino pode não saber atirar, mas consegue derrubar os inimigos e segurá-los por um bom tempo para que terminemos o trabalho. Ele também é capaz de encontrar itens escondidos pelo mapa e trazê-los para nós... "bom garoto"!
O sistema de companions em todo título nos faz criar aquele carinho extra pelos personagens. A Bethesda conseguiu fazer isso muito bem em Fallout 4 – algo que já havia tentado em Skyrim, mas não de uma forma tão aprofundada. Mesmo sabendo que eles não podem morrer (diferente da versão anterior do game), nos sentimos preocupados quando Dogmeat sai correndo na frente e acaba apanhando de vários necróticos, por exemplo. Esse tipo de fator agrega valor à experiência do game, deixando-o ainda melhor.
Ok, mas nem tudo são flores, afinal estamos em uma realidade em que não é estranho ir ao banheiro e ver uma barata voadora do tamanho de uma capivara indo para cima de você. O protagonista também vai passar por muitos problemas e terá que tomar decisões difíceis que afetam os acontecimentos de várias formas.
Portanto, prepare-se para ficar entre a cruz e a espada em vários momentos e lembre-se: suas escolhas afetam diretamente aqueles que estão com você.
Apesar disso, o sistema de carma, famoso na versão anterior do game, foi removido. Entretanto, sua reputação ainda chegará aos ouvidos de todos os habitantes de Boston em algum momento.
Problemas? É claro que tem
É obvio que o Fallout esbarra em algumas questõezinhas técnicas. Apesar de estar analisando o jogo com uma visão voltada para a experiência e diversão, não tem como não citar algumas coisas.
Os modelos 3D dos personagens não são lá muito bonitos e ficam bem destoantes— apesar da quantidade de detalhes que podemos modificar no protagonista — em comparação com o belíssimo ambiente e os efeitos de luz e transição de dia e noite. Salvo o personagem principal e alguns outros poucos, o visual dos NPCs não parece ter recebido uma atenção tão grande.
Outro probleminha é que, vez ou outra, o game sofre com alguns bugs, como inimigos que aparecem do nada dentro de locais fechados, ou quando você tenta acertar um adversário que se encontra bem na sua frente com um ataque corpo-a-corpo e esse ataque atravessa o inimigo. Enfim, não é nada que torne a experiência ruim, mas pode atrapalhar um pouco.
Até aqui, só existiu um defeito que realmente incomodou: o lipsync e a sincronia da dublagem com as legendas. Em algumas conversas, o personagem já terminou a fala e o outro já está fazendo um monólogo gigantesco enquanto a legenda na tela ainda não mudou e, às vezes, até pula direto para o fim do papo, fazendo o jogador pensar: "Ué, mas quem está falando agora? De onde veio essa frase?". Esse problema não é raro e fica bem chato quando tentamos realmente dar uma atenção especial aos diálogos.
Vale a pena?
Fallout 4 não é tecnicamente perfeito. Tem queda de frame rate? Sim.Tem alguns bugs? Sim. Entretanto, o que ele tem de bom se sobrepõe a boa parte dos problemas. O título não é nota 100 pois tem sim seus defeitos, mas dá ao jogador algo que poucos games oferecem: o sentimento de pertencer àquele mundo e querer fazer mais por ele por muito tempo.
Isso tudo é feito de uma forma extremamente divertida e com uma trilha sonora absolutamente sensacional, que traz de volta algumas canções de Fallout 3 e adiciona novas. É isso o que devemos priorizar: o quanto uma obra oferece de diversão e o quanto ela atinge ou ultrapassa aquilo que esperamos.
Nada como passear com o seu dog escutando clássicos dos anos 50, explodindo algumas cabeças e tomando uma deliciosa Nuka-Cola. O TecMundo Games fica feliz em dizer: Fallout 4 é aquilo que esperávamos e vai ser difícil alguém se decepcionar.
- Um mundo repleto de missões e atividades sensacionais para fazer
- Personagens carismáticos e com histórias interessantes
- Loot que realmente serve para alguma coisa
- Extremamente divertido
- A sincronização das legendas com as falas deixa muito a desejar
- O modelo dos personagens secundários não foi tão bem trabalhado
Nota do Voxel