Exoprimal sufoca suas qualidades com estrutura bem questionável (análise)
Se o Dr. Ian Malcolm tivesse visitado os estúdios da Capcom durante o desenvolvimento de Exoprimal, ele provavelmente teria dito algo como "sim, sim, mas os seus cientistas estavam tão preocupados com o que eles podiam fazer que não pararam para pensar se DEVIAM fazer”.
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Nesse novo e assustador parque dos dinossauros da Capcom, o time certamente tentou fazer várias coisas ao mesmo tempo: Exoprimal é um título de preço cheio que também está no Gamepass; um jogo como serviço ao vivo com passes de temporada, skins e microtransações, mas que também oferece uma narrativa com começo, meio e fim; uma experiência PvE, mas também PvP…
É tanta coisa que fica até difícil escolher um ângulo para começar a falar sobre o jogo. Ainda nas comparações com Jurassic Park, é como se o circo de pulgas do John Hammond ainda incluísse nessa mesma atração joaninhas, gafanhotos e mosquitos… tudo isso enquanto as atrações estão pegando fogo e os animais correm em desespero.
E o mais assustador é que, por baixo desse caos, de alguma forma, a vida acha um meio e, com boa vontade, até é possível tirar um pouco de diversão. Vamos discutir isso melhor no nosso review completo a seguir!
Superando o ceticismo
Se você usa bastante as redes sociais, já deve ter notado que Exoprimal não goza de muita boa fé por parte da galera em geral. E pensando um pouco, fica até fácil entender os motivos: enquanto muitos fãs da Capcom clamam há anos pelo retorno da cultuada franquia Dino Crisis, ter um novo jogo tão estranho repleto de dinossauros acaba soando um pouco como um tapa na cara, e esse tipo de birra é muito difícil de ser superado.
Assim, já seria uma tarefa complicada avaliar Exoprimal por seus próprios méritos mesmo que ele fosse um jogo melhor estruturado. Mas quem acompanha as lives aqui do Voxel talvez lembre que eu já tinha me mostrado otimista com o jogo em algumas ocasiões, como no vídeo acima. Quer dizer, eu sou um cara simples: se você coloca um monte de robôs gigantes e me pede para usá-los a fim de explodir hordas de dinossauros, não tem como eu não ficar animado!
E não se engane, essa é justamente a parte que funciona melhor no jogo! Há uma variedade decente de dinossauros de médio e grande porte para você explodir com os seus poderes, e o gunplay é no mínimo competente, ou até mesmo bem gratificante aqui e ali, dependendo de qual armadura e classe você vestir, já que cada uma delas tem o seu próprio papel e poderes.
Entre no robô!
O grosso do combate gira ao redor de varrer do mapa um monte de raptores, mas também há alguns pteranodontes para ocupar a sua mira no ar, sem falar nas aparições de pesos pesados como triceratops e tiranossauros. Como a apresentação gráfica em geral é caprichadinha, nos melhores momentos de Exoprimal, dá até gosto levar os dinossauros de volta à extinção, e na primeira hora de jogo, quando você ainda está descobrindo tudo, chega a empolgar:
Você pode fazer isso com trajes de dano, tanque ou suporte, bem na linha dos MOBA que a gente vê por aí. Todas as partidas são jogadas em times, mas não é obrigatório completar o seu esquadrão com a classe A ou B, sendo possível até mesmo mudar de classe e traje no meio da ação. Eu me diverti mais jogando de tanque e suporte, porque a meu ver o DPS não chega a compensar a sua fragilidade com um dano tão mais alto, e me pareceu mais importante não morrer do que matar na parte competitiva das partidas.
Esse é até um bom gancho para explicar como funcionam as disputas. Lembra que eu falei da mistura de PvE e PvP? Pois é. Na primeira metade do gameplay você joga ao lado dos seus companheiros cooperativamente tentando chegar o mais rápido possível ao final do mapa, o que basicamente consiste em derrotar hordas ou proteger pontos de interesse por um determinado tempo.
Você vai querer fazer isso o mais rápido possível porque o time rival também estará ocupado com as mesmas atividades, e quem completá-las primeiro terá uma clara vantagem para a segunda metade da disputa, quando o jogo vira PvP e, aí sim, os dois times passam a poder interagir um contra o outro diretamente em busca de abates. Depois de algumas dezenas de horas, também há raids surpreendentes contra chefes em comum, mas elas são raras e não impactam tanto assim.
Quando Exoprimal funciona, ele pode render um clímax bem legal e tenso, mas na maior parte do tempo os jogos são meio desequilibrados, desistentes trocam de lugar com bots, ou simplesmente falta coordenação entre os times. Mas o maior dos inimigos é mesmo a falta de variedade, já que demora bastante para as partidas evoluírem para mais mapas e objetivos, o que torna as primeiras cinco a 10 horas extremamente repetitivas, e olha que as coisas não melhoram muito depois não!
O fardo da repetição
Entre todos os problemas de Exoprimal, talvez nenhum seja mais grave do que essa sensação de repetição que permeia a jornada. É difícil justificar um investimento de longo prazo pensando só no loop de gameplay, então a esperança fica mais nos elementos de jogo como serviço, como a possibilidade de habilitar novas skins, poderes e opções de customização, mas ainda é muito pouco no saldo geral.
Estranhamente, há uma história no game, mas você tem pouca agência no seu desenrolar: basta ir jogando mais e mais que naturalmente novos arquivos de informação são liberados, então você precisa ir assistindo ao slideshow e ouvindo arquivos de áudio até completar todas as peças. Por ser um processo tão passivo, acaba não instigando muito também, mas você pode ver um pouco desse loop por aqui:
Outros dois problemas digno de nota não podem ser ignorados pois são bem grandes: primeiro, o matchmaking e especialmente o loading antes de entrar nas partidas são muito demorados, e é chato demais, em pleno 2023, ter que esperar mais de dois minutos entre achar uma partida e entrar em ação. Além disso, a localização do jogo é simplesmente bizarra, já que só um personagem, uma IA, foi dublada, enquanto o resto todo dos personagens ficam falando em inglês, dando um verdadeiro nó nos ouvidos.
Vale a pena jogar Exoprimal?
Ao olhar para a versão final de Exoprimal, é difícil não sentir uma certa confusão tanto ao redor de seus sistemas como no próprio contexto de lançamento. Experimentar com novas ideias é algo que eu sempre vou apoiar, mas em um ano repleto de grandes lançamentos da Capcom como Street Fighter 6, Resident Evil 4, Ghost Trick e Mega Man Battle Network Legacy Collection, será que valia mesmo a pena investir tanto em uma ideia tão caótica como a de Exoprimal?
Eu só consigo imaginar que a Capcom adoraria ter uma fonte de renda fixa com um bom jogo como serviço trazendo receita e suporte continuado por anos a fios. Mas a julgar pelo estado do produto no seu mês de lançamento, fica difícil imaginar que esse vá ser o caso. Há bons elementos aqui e ali, mas se Exoprimal quiser ter um futuro, muita coisa precisa ser revista através de atualizações. Caso contrário, o jogo terá o mesmo destino que os dinossauros rapidinho.
Nota Voxel: 73
"Exoprimal até tem elementos divertidos, mas eles são sufocados por uma estrutura bagunçada e bizarra"
Pontos positivos
- Visual polido;
- Boa variedade de trajes e poderes;
- Dinossauros sempre são legais.
Pontos negativos
- Loading excessivamente demorado;
- Apenas um personagem foi dublado;
- Repetitivo ao máximo;
- Sistemas não dialogam bem entre si.
Nota do Voxel