Um flerte que poderia ter se desenvolvido em algo mais
Desde que os video games contaram anos suficientes para clamar por uma cultura própria, não faltaram desenvolvedoras e produtoras que resolveram abandonar um pouco a futurologia e as tecnologias de ponta para dar uma olhada em como as coisas eram feitas há 10, 20 ou mesmo 30 anos.
De fato, o que antes era uma espécie de “prerrogativa” da indústria de jogos indie hoje é explorada até por peixes grandes — os quais, vale dizer, nem sempre resgatam o estilo de se fazer as coisas de outros tempos com um coração terno de lembranças. Quer dizer, alguém tem que garantir o “leitinho das crianças”, certo?
Dessa forma, é realmente reconfortante encontrar algo com a inspiração e o envolvimento genuíno de Evoland. E a ideia aqui é relativamente original: transitar entre as diferentes gerações de video games celebrando cada uma das conquistas que culminaram no espetáculo gráfico que é disponibilizado hoje — e que, não obstante, ainda deixa muitas pessoas com saudades dos “velhos tempos”.
Entretanto, ao flertar com inúmeros estilos/clichês de clássicos consagrados — sobretudo The Legend of Zelda e Final Fantasy —, a motivada Shiro Games acaba escorregando no próprio conhecimento extensivo que tem sobre jogos de aventura e RPGs. Evoland evoca diversos elementos mas, por vezes, acaba com um pouco de dificuldade em mostrar uma identidade. Vale a pena olhar mais de perto.
Talvez o que mais chame a atenção em Evoland seja certo “feeling”. Um sentimento muito particular de paixão e envolvimento que normalmente é mais claramente percebido em um jogo independente.
Trata-se daquela noção, daquele momento em que se percebe que algo foi efetivamente feito por alguém que conhece até as menores nuances dos clássicos que forjaram uma parte da história dos games — e também da infância de muito jogador. É algo que dificilmente é conseguido por uma aposta exclusivamente “mercantilista”.
Mas, a despeito dos seus genes, Evoland é também um jogo divertido. De fato, atravessar um mundo de elementos cambiantes — razoavelmente bem costurados à trama e de menções a jogos antigos e modernos certamente vale as horas gastas.
A grande derrapada? Evoland tenta abraçar um mundo de experiências, conhecimentos e referências sem, contudo, chegar a andar totalmente com as próprias pernas. Inúmeros elementos são insinuados, mas poucos acabam realmente conduzindo a uma experiência divertida e bem desenvolvida.
Talvez, no fim das contas, Evoland seja mais uma boa viagem histórica do que um bom jogo de video game — embora isso provavelmente dependa do tamanho da sua própria bagagem.
Nota do Voxel