UFC 4 se abstém do Ultimate Team em prol de lapidar mecânicas e modos
Apesar de ter um intervalo de dois anos entre seus jogos, UFC não foge à regra. Assim como em qualquer game anual de esporte, a maior franquia de MMA traz, a cada título inédito, aquela sensação de “déjà vu” – às vezes, em doses exageradas. Na realidade, o grande desafio do gênero é justamente esse: desvencilhar-se de seus predecessores para que o jogador se sinta convencido, ano após ano, a investir em novas entradas. E por ser um jogo de luta complexo, com regras estritas, a barreira de se reinventar é ainda maior.
Publicado pela EA e disponível apenas nos consoles (leia-se PS4 e Xbox One), UFC 4 mantém a fundação assentada no título anterior, mas toma corajosas decisões ao tentar reconstruir alguns de seus sistemas e modos. O tradicional Ultimate Team, presente desde UFC 2, foi deixado de lado, enquanto o modo carreira ganhou uma narrativa para tornar a experiência mais pessoal. Afinal de contas, foram escolhas assertivas? Bom, depois de jogar uma porção generosa de UFC 4, eu posso adiantar aqui que ele acerta muito mais do que erra. Vamos aos detalhes.
Fonte: Voxel
Um passo mais perto da realidade
Seria injusto começar a análise de UFC 4 sem enaltecer seu visual. O game cumpre com êxito o objetivo de retratar as lutas dos eventos com o máximo de realismo, seja na fisionomia dos lutadores ou na composição das arenas. O trabalho de transpor a aparência dos atletas de verdade às contendas virtuais é primoroso.
Não apenas os rostos dos personagens foram recriados de forma fidedigna como também todas as suas tatuagens, fibras musculares e cortes de cabelo. O cuidado da produtora EA Vancouver em reproduzir as particularidades de cada lutador profissional demonstrou o quanto ela estava empenhada em transformar UFC 4 no simulador definitivo da atual geração, pelo menos no quesito gráfico.
Mesmo com tantos elogios ao visual dos atletas, há ressalvas em relação à movimentação. Houve, de fato, progresso se compararmos a parte técnica de UFC 4 com UFC 3, mas muitos dos golpes e execuções ainda não estão à altura de suas versões reais. As animações das quedas, incluindo as transições no chão, ganharam melhorias substanciais, só que certas ações ainda são meio truncadas e não apresentam a fluidez prometida. Isso sem contar os bugs ocasionais que resultam em sequências surreais de golpes.
Fonte: Voxel
Jogabilidade aperfeiçoada, mas não perfeita
Os elementos de jogabilidade em lutas agarradas e no chão foram os pontos focais da reformulação. Como mencionei acima, a movimentação não é perfeita, mas os ajustes na tecnologia Real Play Motion, conhecida por quem está familiarizado com o game anterior, contribuíram para melhorar as ações nas quedas e no clinche, tornando-as mais orgânicas.
As transições entre finalizar, levantar e ir para o ground & pound continuam dependendo de precisão e posicionamento, porém estão um pouco mais fáceis de lidar. Na verdade, os comandos parecem responder melhor às ações do jogador, tanto na luta agarrada quanto nas disputas de finalização por meio de minigames.
Cabe ressaltar que, mesmo com facilitadores, os combates no chão caracterizam-se pela combinação de sorte e técnica, até por dependerem muito mais de timing do que qualquer outra coisa. As mecânicas foram simplificadas, só que você ainda vai se sentir vulnerável em desafios maiores, isto é, ao confrontar oponentes reais ou controlados pelo computador em níveis avançados. Gerenciar a barra de vigor sem que o desempenho no octógono seja afetado também é um obstáculo e tanto.
Fonte: Voxel
Não se engane: a complexidade característica do gameplay permanece intacta. O jogo faz um excelente trabalho em apresentar as minúcias de seus sistemas, inclusive com lembretes ocasionais sobre o que deve ser feito em determinado momento do combate, mas existem muitas (com ênfase em muitas) combinações de ataques, defesas e esquivas, o que pode causar uma certa confusão na hora da trocação. Tenha em mente que memorizar e dominar a arte do octógono requer paciência e treino à exaustão, a não ser que você queira jogar de modo despretensioso em dificuldades mais baixas.
A cada escolha, uma renúncia
Na humilde opinião deste redator que vos escreve, a omissão do Ultimate Team em prol da evolução de outros modos é benéfica. Convenhamos: MMA é esporte de contato, sempre aquele um contra um. Se você parar para pensar, o conceito de montar e gerenciar times não se enquadra no perfil de um esporte em que os competidores disputam de forma individual.
Para não deixar os fãs sem um incentivo para jogar, o sistema de progressão passou a ser vinculado ao perfil do usuário. Em resumo, tudo aquilo que você faz dentro do game concede pontos de experiência. À medida que sobe de nível, novos itens cosméticos podem ser adquiridos para incrementar o visual de lutadores personalizados e do seu cartão de visita online. Recompensar o jogador por lutar, independentemente do modo, perdendo ou ganhando, é uma ótima maneira de mantê-lo entretido e empenhado por dezenas de horas.
Fonte: Voxel
O modo carreira, por sua vez, rouba os holofotes e atua como protagonista em UFC 4. Nele, você assume o papel de um atleta amador, moldado por você a partir de um robusto sistema de criação, no caminho rumo ao cinturão do UFC. A história, aliás, inclui cutscenes caprichadas, com boas atuações que nos remetem vagamente aos tempos áureos de Fight Night Champion, ainda que a experiência esteja longe de ter o mesmo dinamismo do cultuado game de boxe.
O ciclo da carreira se resume a aceitar contratos, treinar, aumentar a expectativa dos fãs para os eventos e lutar. Antes de cada confronto, o personagem terá de quatro a seis semanas de preparação, mas cabe a você organizar a agenda dele de maneira inteligente. É possível gastar os pontos semanais com publicações em redes sociais, com o intuito de amplificar o hype do público (o que rende mais dinheiro e xp), treinar ao lado de lutadores famosos e praticar no ginásio a fim de concluir desafios, adquirir pontos de evolução e aprimorar o condicionamento físico.
A meu ver, o grande diferencial da campanha de UFC 4 é a quantidade de coisas a serem feitas entre os intervalos dos confrontos. Com o tempo, o “loop” se torna um tanto repetitivo, e você se sentirá instigado a simular as semanas sem precisar definir todas as ações do atleta, porém isso só acontece depois de algumas boas horas, assim que o personagem estiver confortável para defender a administrar títulos – e você mais preguiçoso nas tarefas de gerenciamento.
Fonte: Voxel
Além de permitir mexer em toda a parte estética, o game concede autonomia ao jogador para que ele possa especializar seu atleta em diferentes modalidades, incluindo boxe, muay thai, wrestling e jiu-jitsu. Ao acumular pontos de evolução, você pode distribuí-los para melhorar vitalidade e liberar habilidades em pé e na luta agarrada. Descrevendo assim, com tantos detalhes, pode até parecer que a carreira está abarrotada de mecânicas complexas, mas não é bem isso. Existem, sim, muitos sistemas em torno do personagem. Entretanto, tudo é esclarecido por meio de tutoriais acessíveis ao alcance de um único botão.
Se esse for o seu primeiro contato com um game do gênero, recomendo começar pela carreira, uma vez que ela oferece ensinamentos para todos os níveis de habilidade, desde explicações sobre noções básicas de movimentação até novos recursos de jogabilidade. Sem contar que você pode ajustar o nível de dificuldade a qualquer momento para ter uma experiência mais arcade ou realista. O modo carreira é o principal motivo para revisitar UFC 4 de tempos em tempos até a chegada iminente de um quinto título. Mesmo tendo conquistado o cinturão em diferentes categorias e terminado todos os objetivos, confesso que eu continuei interessado em retornar à história para manter meu lutador progredindo.
Fonte: Voxel
Para todos os gostos
Apesar de ter reutilizado muitos aspectos do título anterior, uma coisa é certa: você estará bem servido em termos de conteúdo. Há muitos modos, tanto online quanto offline, disponíveis a quem busca uma jogatina descompromissada. Você pode gastar seu tempo em:
- Modos clássicos com as mesmas regras e limitações da competição oficial;
- Embates sem luta agarrada, no chão ou finalizações;
- Desafios nocaute, rápidos e violentos, em que apenas socos e chutes são permitidos;
- Campeonatos personalizados com ajustes definidos por você;
- Treinamentos;
- Torneios clássicos, com o dano levado de uma luta para outra;
- Eventos personalizados nos quais é possível montar uma noite de UFC do zero, selecionando personagens em cada card.
Fonte: Voxel
Os novos recursos online oferecidos em UFC 4 dão um novo vigor ao componente multiplayer que conhecemos. O modo Batalha de Blitz, meu favorito, coloca o jogador em lutas curtas, de um minuto, com regras que se renovam sempre. Já nos Campeonatos Mundiais Online, você é convidado a participar de competições oficiais, por temporada, que valem nada menos que cinturões.
Além de modos inéditos, você pode sair na porrada em novos locais, como em um quintal baseado nos vídeos de Kimbo Slice, lenda das brigas de rua, e um estágio intitulado de Kumite, inspirado no filme O Grande Dragão Branco, protagonizado por Jean-Claude Van Damme. Ambas as fases são ótimas adições às arenas existentes.
Posso dizer que todos os modos, sem exceção, prezam por diversão e enriquecem o pacote com opções casuais e competitivas, capazes de agradar a qualquer perfil de jogador. No entanto, há um problema no matchmaking que permeia o game desde os primeiros dias de nosso acesso antecipado até o momento em que esta análise foi redigida. Em síntese, a instabilidade faz com que o sistema nem sempre consiga encontrar jogadores online. Também era comum cair sempre com o mesmo usuário depois de minutos de espera nos menus. Felizmente, estamos falando de uma falha contornável por meio de atualização.
Fonte: Voxel
Veredito
Construído com esmero, UFC 4 corresponde às expectativas em mais uma ótima entrada, embora parte de seu conteúdo já não seja novidade (como é de praxe no gênero de esporte). A coragem de se abster da onda do Ultimate Team, em favor de lapidar modos e mecânicas, fez com que o modo carreira, o grande chamariz, adquirisse profundidade e realismo.
Ainda que o combate tenha problemas, especialmente no chão, o gameplay é competente o bastante para arrebatar a imensa base de fãs e atrair jogadores que nunca tiveram coragem de desbravar a complexidade de um simulador de MMA. UFC 4 é aquele tipo de game que você não vai passar horas consecutivas jogando, mas é bom tê-lo na prateleira para descarregar, eventualmente, as frustrações da rotina dentro de um octógono virtual.
EA SPORTS UFC 4 foi gentilmente cedido pela EA Games para a realização desta análise.
Categorias
- Modo carreira reformulado, agora mais voltado à simulação
- Muitos modos de jogo online e offline
- Sistema de progressão vinculado ao perfil do usuário recompensa o jogador o tempo todo
- Robusto criador de personagens
- Animações melhores e mais realistas
- Mecânicas de lutas agarradas e no chão foram aperfeiçoadas, embora haja espaço para melhorias
- Gráficos de encher os olhos
- Ocasionalmente há ressalvas em relação à movimentação dos atletas
- Bugs chatos e problemas de matchmaking
- Conteúdo reciclado de jogos anteriores
Nota do Voxel