Dreams é a plataforma perfeita para dar asas à imaginação
*A videoanálise de Dreams está em produção e será postada em breve.
Se você gostou de LittleBigPlanet e Tearaway, Dreams é um prato cheio. Só que ao invés de ser um game de plataforma scriptado, um gênero que está no DNA do estúdio britânico Media Molecule, subsidiário da Sony Interactive Entertainment, Dreams oferece um amplo sistema de customização para que o jogador confeccione seus próprios mundos.
Dreams foi apresentado no mesmo ano do PlayStation 4, durante a edição de 2013 do PlayStation Meeting, e ficou mais de sete anos em produção. Trata-se de um game cuja proposta é simples, mas ambiciosa: levar o conceito de criar e compartilhar fases a um novo patamar. Se você, assim como eu, não tem familiaridade alguma com desenvolvimento de jogos, saiba que Dreams é a melhor porta de entrada a quem é inexperiente e não vê a hora de dar asas à imaginação. Confira a nossa análise completa.
Uma campanha exemplar é a forma ideal de aguçar a criatividade
Como um incentivo ao jogador que não sabe por onde começar, a Media Molecule dá uma verdadeira aula e exibe toda a versatilidade tecnológica de Dreams em “O Sonho de Art”. Estamos falando de um modo história totalmente single-player, um convidativo passeio de quase três horas pelos mais diversos gêneros que Dreams é capaz de conceber.
A aventura é protagonizada por Art, um frustrado baixista de jazz que tenta se reconciliar com uma antiga banda por meio de sonhos. É uma fórmula ousada de plataforma 3D e side-scrolling, point and click e puzzles, que se destaca pela inventividade dos desafios. A cereja do bolo são as fases musicais que não devem nada às animações de grandes estúdios do cinema. Tudo muito bem dublado em português brasileiro, aliás.
Confesso que, antes de jogar a campanha, não esperava muito. Afinal, o modo história nem é o ponto central. No entanto, depois de ver os créditos rolarem na tela, a qualidade elevada da experiência, com o tradicional selo da Media Molecule, fomentou a vontade de criar o meu próprio projeto.
Didático e com muitas camadas de complexidade
Em Dreams, o seu companheiro inseparável é o Bichim, um avatar que está sempre disposto a executar suas ações. Você pode optar por controlar o Bichim com o PlayStation Move, com os analógicos do DualShock 4 ou ainda com o sensor de movimento do controle que, cá entre nós, é o meu favorito por trazer uma dinâmica variada ao gameplay.
O Bichim é capaz de navegar pelas fases criadas por outros jogadores, assim como está apto a esculpir qualquer objeto do cenário no modo de criação. Em resumo, ele é a personificação da sua criatividade. Você pode cumprir objetivos específicos da aventura, como criar e jogar um número pré-determinado de fases, por exemplo, para desbloquear novas formas para o seu Bichim, o que é muito legal.
Depois de concluir a etapa introdutória, o Bichim está livre para descobrir estágios criados pela comunidade e se aventurar no sistema de customização do Sonhocosmo. Não se engane: o modo de criar fases é robusto e instrutivo, mas conta com muitas camadas de complexidade. Logo, tenha em mente que você terá que se dedicar por dezenas de horas, em dezenas de tutoriais, para fazer a mágica acontecer.
O modo de criação exige tempo até ser plenamente dominado, mas o caminho até lá, embora seja longo, é agradável e um tanto descomplicado. Enquanto vídeos explicativos rolam no canto inferior da tela, você pode testar todas as ações e combinações em tempo real. E é claro: sempre com a opção de rebobinar as aulas quando necessário.
Não hesito em afirmar que Dreams é um dos criadores mais completos que já vi, uma vez que oferece ferramentas ilimitadas, com objetos e cenários organizados por temas, bem como alternativas para se criar componentes do zero a partir de simples formas geométricas. Se a sua intenção é projetar ambientes e cenas com temática medieval, por exemplo, você pode utilizar a ferramenta de busca para filtrar os objetos que estão relacionados ao tema de forma bastante intuitiva.
Além de ser um criador completo, Dreams não se contenta em ser apenas uma plataforma de criação e se arrisca em uma espécie de serviço alternativo, uma rede social para novos desenvolvedores, já que o catálogo de publicações não se resume somente a jogos. Inclusive, há muitos membros da comunidade que estão produzindo e compartilhando experiências audiovisuais de encher os olhos, que não são jogáveis, concebidas do início ao fim com o Dreams.
Mesmo com tantas explicações sobre seus sistemas, não há dúvidas de que o primeiro fator a desestimular o usuário num jogo de criação de conteúdo é a complexidade do gameplay. Confesso que, à primeira vista, os controles do modo criador pareciam fáceis, visto que a interface é acessível e tudo é bem didático.
O problema, contudo, é que há muitas combinações de botões, então fica meio difícil memorizar e executar todas elas no calor do momento. O L1, por exemplo, é semelhante ao botão Shift, aquele do teclado computador, e realiza diversas outras funções quando combinado com outros botões, o que deixa tudo mais confuso. Até existem dicas para você relembrar sequências de comandos, mas, mesmo com elas, vez ou outra você vai sentir uma certa dificuldade em colocar as ideias em prática.
Infinitas possibilidades
Se criar não é muito a sua praia, saiba que Dreams permite baixar as criações feitas por outros jogadores, ou melhor, outros Sonhonautas, a partir do Sonhonavegar, uma área expositiva em que é possível visualizar e testar todos os games publicados pela comunidade. Pelo fato de ter ficado um longo período em fase beta, o título já está abastecido com centenas de games - e muitos até já estão com início, meio e fim.
Nos moldes de uma rede social, você pode seguir suas criações favoritas para acompanhar cada detalhe dos ciclos de desenvolvimento, assim como seguir os melhores criadores para não perder nenhuma novidade dos novos projetos. Os recursos para registrar o feedback do público são complementos cruciais à experiência, tendo em vista que os mais curtidos e acessados ficarão destacados em uma lista atualizada semanalmente. É uma ótima vitrine e um bom incentivo para quem está empenhado em aflorar suas produções.
Tive experiências incríveis em Dreams e garanto que tem de tudo e para todos os gostos. Entrei na pele de um carismático bicho-preguiça para resolver quebra-cabeças, experimentei uma satisfatória reprodução de P.T., a demo do extinto Silent Hills, e me aventurei por jogos punitivos declaradamente inspirados na fórmula Souls-like.
Também preciso exaltar o conceito do Jam Criativo, um espaço de incentivo à comunidade. Basicamente, você deve criar e publicar mundos inspirados em temas e palavras-chave que são atualizadas pela desenvolvedora. Se a palavra for amor, a tarefa se resume a idealizar algo, seja um game ou produto audiovisual, que se enquadre ao contexto da palavra amor. Os mais votados ficam registramos em um Hall da Fama para todo mundo ver e é realmente muito legal acompanhar as interações.
Outro aspecto interessante é que a Media Molecule está por dentro de todos os projetos que são hospedados na plataforma e procura estreitar sua relação com criadores e jogadores, além de trabalhar em evoluções constantes na plataforma. Atualmente, falar bem sobre o suporte da empresa é chover no molhado, eu só espero que Dreams não fique abandonado com a iminente chegada do PlayStation 5. Será que ele vai entrar na lista de retrocompatíveis?
Veredito
Dreams é uma ótima porta de entrada para quem está engatinhando nesse universo de desenvolvimento de jogos e projetos audiovisuais, além de ser uma robusta plataforma de games que, acima de tudo, promove o engajamento da comunidade de forma única.
O sistema de criação traz ferramentas mais que suficientes para exercitar a criatividade e dar asas à imaginação, embora sua complexidade possa ser uma barreira se você não tiver tempo hábil para aprender e consumir tudo que o jogo tem a oferecer. Resta saber se a Media Molecule pretende apostar no longo prazo para manter Dreams ativo por muitos anos, já que qualidade e potencial ele tem de sobra.
Dreams foi gentilmente enviado pela Media Molecule para a realização desta análise
Fontes
- Sistema de criação completo e sem restrições
- Biblioteca ilimitada de jogos e produções audiovisuais
- Recheado de tutoriais didáticos
- Recursos de interação entre a comunidade são bem-vindos
- Modo história é uma aula de criatividade
- Visual convidativo
- O modo de criação exige muito tempo até ser plenamente compreendido
- Os controles na hora de criar não são lá tão intuitivos assim
Nota do Voxel