Vamos conquistar as esferas do dragão
“Oi, eu sou o Goku!”. Qual é o fã que não sente um arrepio na espinha ao escutar essas palavras? A icônica frase do Sayajin mais querido do mundo não está presente em Dragon Ball Xenoverse, game que mistura os gêneros luta e MMO, mas a Bandai Namco fez questão de agradar aos adoradores do anime de outras maneiras.
Como criar algo a partir da história do aclamado anime Dragon Ball sem causar a ira de milhões de fãs enfurecidos e, ainda mais importante, sem desvirtuar as aventuras do carismático sayajin Goku? Essa é uma complicadíssima tarefa e coube aos desenvolvedores do game cumprir tal missão.
A Bandai Namco encontrou uma forma de tornar as aventuras dos guerreiros Z algo jamais visto. Afinal, quem nunca pensou: o que aconteceria se Frieza tivesse impedido Goku de fazer a Genki-Dama? Essa é a proposta de Xenoverse: colocar o jogador em situações diferentes das mostradas no anime de Akira Toriyama. Você vai dar vida ao seu próprio personagem e enfrentar um vilão diferente dos que conhecemos: o terrível Demigra.
As inevitáveis comparações com Budokai Tenkaichi 3
Além de tentar driblar a dificuldade de contar uma história nova, Xenoverse veio com um outro peso: comparações com Budokai Tenkaichi 3, game que até hoje detém (para a maioria dos fãs) o título de melhor game de luta baseado em Dragon Ball. A verdade é que o jogo para o Playstation 2 agradou muito porque trazia 161 personagens jogáveis, e até o pai de Frieza, King Cold, aparecia na brincadeira.
Talvez essa seja a maior fraqueza de Xenoverse. Existem “apenas” 49 opções de lutadores. Claro que existem variações de um mesmo personagem, como Goku — que tem mais de 10 versões diferentes —, entretanto, algumas escolhas de guerreiros podem ser no mínimo questionáveis, como os dois soldados aleatórios de Frieza. Eles tomam o lugar do que poderiam ser outros combatentes muito mais importantes na própria saga do vilão, como Zarbon e Dodoria.
Outra questão relacionada aos personagens é o fato de o game simplesmente “pular” duas formas de Frieza e as iniciais do bio-androide Cell. Além desse deslize, as formas finais desses dois contam como personagens diferentes e não como outras versões do mesmo. Mais uma vez, “ocupando” os lugares que poderiam ser, por exemplo, dos androides 19 e 20.
Visual bom, mas não sensacional
Assim como seu antecessor, Dragon Ball Xenoverse retrata as lutas através de um sistema de câmeras que se posiciona atrás do personagem e movimenta-se dinamicamente. Apesar de ser uma forma interessante de dar destaque ao jogador, é necessário um certo tempo de prática para se acostumar com sua movimentação.
Contudo, esse modo de câmera é o ideal para explorar os enormes cenários do game. Localidades icônicas estão disponíveis, como a Cidade do Oeste, a Corporação Cápsula, a sala do tempo e o planeta Namekusei. A exploração se faz necessária, já que durante as missões é possível encontrar vários itens no mapa com a ajuda da opção buscar.
Não há muitas partes destrutíveis nos cenários, salvo algumas rochas ou casas. Porém, os mapas são fiéis aos mostrados no anime. Como destaques podemos citar o planeta Namekusei destruído e a órbita do planeta Vegeta, com a nave de Frieza parada ao fundo. Esses dois cenários são realmente muito legais de ver, e quem já viu o filme ou os primeiros episódios de Dragon Ball Kai em que o pai de Goku, Bardock, aparece vai notar a fidelidade com a qual o local foi criado.
Porém, um ponto deve ficar claro. Por mais que alguns cenários sejam bonitos, gráfico não é o ponto mais forte do game. Apesar de os traços dos personagens estarem muito bem-feitos, alguns serrilhados nas fases são perceptíveis, problema que não dá para deixar passar em um game da atual geração.
Você na história
Se você viveu parte das duas últimas décadas em outro planeta e não conhece Dragon Ball, não se assuste se não compreender bem a história logo de início. O game foi obviamente desenvolvido para os fãs da série que queriam ver Goku e sua turma nos consoles da nova geração.
Tudo começa quando alguém muda os acontecimentos históricos da série, dando mais poder para os vilões, o que os salva da derrota iminente. Vendo que as coisas estão saindo do controle, Trunks do futuro pede ao dragão Shenglong que envie um superguerreiro que possa ajudá-lo a consertar a linha temporal e garantir que tudo ocorra da forma correta.
Essa é uma das novidades colocadas no game: em vez de controlar um dos personagens conhecidos da série, o jogador vai criar um totalmente novo, que será esse superguerreiro enviado pelo dragão. Você fará parte de uma equipe criada por Trunks e pela Kaioshin do Tempo para proteger a linha histórica correta e impedir que mais danos sejam causados pelos vilões.
Brincando de The Sims, mas com Kamehame-has
É possível escolher entre cinco raças: humano, sayajin, nemekuseijin, majin ou do Frieza. Cada uma delas tem suas peculiaridades, forças e fraquezas, e o desenvolvimento do personagem vai depender do estilo de luta do jogador. O guerreiro pode ser um daqueles brutamontes que preferem sair na porrada ou um lutador que prefere o uso de Ki e mandar Kamehame-has pra tudo que é lado para vencer suas batalhas.
Após personalizar seu lutador, escolhendo entre as centenas de possibilidades, Trunks explica tudo o que está acontecendo e te apresenta à cidade TokiToki, lar dos patrulheiros do tempo, que, assim como você, ajudam o rapaz a derrotar vilões que causam problemas em diversos mundos e épocas. Aqui, além de ser seu novo lar, é onde você pode fazer um social com a galera e comprar técnicas, itens e até roupas para mudar o figurino do seu char.
Seu guerreiro começa no nível um. Para elevar seu status entre os patrulheiros, você deve treinar muito a ponto de poder bater de frente com inimigos poderosos, como Cell e Boo. Para desenvolver seu personagem, outra escolha deverá ser feita: como distribuir os pontos entre suas características? Para cada nível ganho, três pontos de habilidade serão dados. Será que é melhor ter mais vida ou mais Ki? Aumentar o dano dos ataques físicos ou mágicos? Xenoverse oferece essa liberdade para decidir como lutar.
A campanha é curta, mas o game é maior que isso
Apesar de curta, a campanha principal em certos momentos exige que seu guerreiro esteja mais desenvolvido para continuar, até porque você não vai querer levar um sarrafo dos Saibamen, não é? Para upar, seu personagem pode fazer missões paralelas. Além de garantir experiência, elas dão Zennies pra você comprar equipamentos e itens. As missões também podem dar outros recursos, como técnicas ou até mesmo uma esfera do dragão.
Além das MPs (missões paralelas) que você pega com os robozinhos na cidade, em certos momentos alguns personagens vão pedir ajuda para completar tarefas. Esses eventos garantem uma boa experiência e muitos zennies, mas são bem difíceis, já que não é possível chamar um amigo para ajudar na hora que briga começa.
Ao mestre com carinho
O game conta com um divertido sistema de aprendizagem de técnicas: os mestres. Você pode escolher um personagem para ser o professor do seu char, ele vai ensinar suas técnicas a você e à medida que as usar, uma barra de amizade vai aumentando e missões são desbloqueadas. São doze mentores para escolher e após aprender tudo que um tem para ensinar, basta escolher outro.
Para melhorar ainda mais sua "amizade" com os mestres, você deve escolhê-los como suporte em missões paralelas e usar os ataques que eles ensinam, além, é claro, de fazer as missões que eles exigem de vez em quando. Se você fizer tudo direitinho, seu mentor pode aparecer no meio de suas lutas para te ajudar, e esse recurso é conhecido no game como "Assistência Z".
Os problemas e o peso da promessa de um MMO
A maior mancada do game fica por conta de uma promessa de MMO que ainda não foi cumprida. Os servidores do game ainda estão instáveis, o que atrapalha muito na experiência online. Não é possível encontrar o personagem de um colega no meio da cidade, como estamos acostumados nos MMOs.
Esse fato não nos permite avaliar como é fazer uma party com seus amigos no game e curtir as missões paralelas. Para jogar com alguém, por enquanto, é necessário criar uma sessão sua diretamente no jogo usando os robozinhos recepcionistas que ficam na cidade de TokiToki e convidar seus amigos pela PSN.
O que fica no ar é que parece que os servidores do game não estavam preparados para receber tantos jogadores de uma vez só e nunca consegue se manter estável. Apesar de esse fato não interferir diretamente na diversão, seria muito melhor poder fazer um grupo com seus amigos, ou até mesmo desconhecidos, e partir para as missões, além de interagir com a galera na cidade.
Outro problema, que pode ser sério para os fãs mais exigentes, é a tradução. O que mais dói no coração é ver que o nome do Cell, o bio-android verde, foi traduzido para Célula. Repare quando você anda pela cidade no nome acima do personagem:
As habilidades de alguns heróis também foram traduzidas ou mudaram de nome. O "Kieizan" do Kuririn virou "Disco Destruidor", o Resplendor Final de Vegeta virou "Lampejo Final", mas, "graças a Toriyama", eles não traduziram os icônicos Kamehame-ha e Masenko.
Vale a pena?
Aproveitar o carisma e a personalidade dos personagens do anime e colocar o jogador nesse meio foi uma grande ideia da Bandai Namco. A imersão que o game oferece vai agradar muito aos fãs, que vão mesmo se sentir no meio de uma trama maligna digna dos planos perversos do mago Babidi. É seguro dizer que esse é o melhor título da franquia desde Budokai Tenkaichi 3.
Comparações com o ótimo título de PS2 são inevitáveis, até mesmo pela quantidade de personagens que ele oferecia. Nesse quesito Xenoverse peca, não só por decidir não colocar personagens secundários como Rei Vegeta ou Cooler, mas por resolver “pular” as primeiras formas de Frieza e Cell, por exemplo.
Se a intenção de Dragon Ball Xenoverse é agradar aos fãs do anime, a missão foi cumprida. Modificar a história sem profanar a essência das sagas escritas pelo mestre Akira Toriyama não é fácil, mas o game faz isso com muito sucesso, pois tudo foi cuidadosamente planejado para encaixar na obra original.
Mesmo ainda não sendo possível usar o potencial de MMO do game, o jogo diverte bastante com suas batalhas para até seis jogadores 3 vs 3. O sistema de câmeras atrapalha um pouco na hora da pancadaria em grupo, mas esse é um problema que se alivia com tempo de jogo e se torna mais natural. Dragon Ball Xenoverse é uma bela dose de nostalgia misturada com uma ação que, mesmo sendo um pouco bagunçada, vale muito a pena conferir.
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- A história do game se encaixa perfeitamente com acontecimentos do anime, sem desvirtuar a obra original
- Lutas extremamente divertidas com mais de 200 técnicas diferentes
- O desenho dos personagens está muito bem-feito
- Muitas opções de personalização de personagem
- O servidor do game está offline, o que impossibilita o recurso de MMO que o game prometeu
- Em alguns momentos a câmera atrapalha a batalha
- Alguns cenários mereciam mais capricho
Nota do Voxel