Dragon Ball: The Breakers inova mas falta poder de luta
Dragon Ball é uma das IPs mais famosas e amadas do mundo, logo não é de se surpreender que o universo criado por Akira Toriyama seja figurinha carimbada na indústria de videogames. Com jogos de ação como a lendária franquia Budokai Tenkaichi, games de luta como o recente e incrível Fighterz até alguns RPGs como Kakarot, tudo indicava que Goku e os guerreiros Z já tinham dado as caras em todos os gêneros possíveis.
Eis que toda a comunidade é pega de surpresa com o anúncio de Dragon Ball: The Breakers, um título multiplayer assimétrico, gênero consolidado por jogos como Dead by Daylight, que nos coloca na pele de sobreviventes que lutam por sua vida contra os vilões mais clássicos da franquia. Com uma premissa completamente diferente de tudo que já vimos para a IP, será que Dragon Ball: The Breakers consegue juntar ki o suficiente para entregar um jogo a altura?
Um por todos e todos por um
A premissa do novo título é simples: enquanto um jogador controla um dos grandes vilões da franquia Dragon Ball (Cell, Freeza ou Buu) em suas fases iniciais, buscando se tornar mais forte e evoluir, os outros seis jogadores tomam o papel de sobreviventes, que tentarão fugir do raider, termo usado pelo game, enquanto tentam achar uma saída definitiva desse pesadelo.
A história para explicar essa situação é diretamente ligada à patrulha do tempo comandada por Trunks, introduzida em Dragon Ball Xenoverse. Fendas temporais passam a se abrir no mundo em diferentes linhas do tempo, fazendo com que algumas pessoas normais sejam sugadas para fora de suas realidades. Então, a patrulha encontra esses sobreviventes e os orienta em como construir uma máquina do tempo capaz de fazê-los voltar para casa. O problema é que essas mesmas fendas também trazem consigo os grandes vilões que não hesitarão em matar quem for preciso para se fortalecer.
Sobreviventes irão precisar trabalhar juntos para fugirFonte: Bandai Namco/Divulgação
Aqui eu preciso admitir que mordi a língua. Logo que foi anunciado, e junto com seus primeiros trailers, eu fui um crítico ferrenho de Dragon Ball: The Breakers, pois achava que essa experiência de multiplayer assimétrico não combinava com o universo criado por Toriyama. Entretanto, após algumas horas, pude perceber que os pontos ápices de tensão, quando estamos escondidos enquanto o raider passa perto de nós, remete muito a alguns momentos da própria obra, como quando Cell destrói uma cidade inteira ainda em sua forma de larva, ou quando Majin Buu destruiu boa parte das cidades da terra enquanto Trunks e Goten treinavam na câmara do tempo.
Reúna seu Ki… ou sua carteira
Para realizar seu objetivo, cada uma das duas metades da partida dispõe de ferramentas únicas que lhe ajudarão. O vilão conta com um diferente arsenal de habilidades inatas (que vão mudando à medida que vai evoluindo sua forma) que lhe permite detectar sobreviventes ou atordoá-los (com golpes famosos como kamehameha de Cell). Além disso, cada vez que evoluir, o raider terá a possibilidade de destruir uma das subáreas do mapa, enforcando o espaço dos sobreviventes e obrigando-os a jogar ainda melhor juntos. Existe também a possibilidade de, enquanto absorve outros jogadores, buscar as esferas do dragão para, tal qual o anime, conceder um desejo (como aumentar seu nível ou recuperar seu HP).
Já os sobreviventes contam com uma gama de artefatos construídos pela operação cápsula que permite desde movimentar-se melhor pelo mapa até ganhar alguns preciosos segundos imobilizando o vilão. Esses equipamentos são adquiridos e melhorados com recursos disponíveis dentro do próprio jogo, ganhando desde mais metros de escape até alguns milissegundos de tempo de recarga a menos, sendo fundamentais para a vitória, adquirida ao reunir as chaves de poder e restaurar a máquina do tempo, ou a “semi-vitória” quando apenas alguns sobreviventes conseguem fugir com Trunks. Assim como o raider, os sobreviventes também podem tentar reunir as esferas do dragão para realizar um pedido, que pode ir de reviver colegas abatidos até aumentar sua barra de energia, usada para se transformar.
É bom se esconder direito ou Buu irá comer vocêFonte: Bandai Namco/Divulgação
Você não leu errado, em Dragon Ball: The Breakers os sobreviventes têm como trunfo a capacidade de, momentaneamente, se transformarem em heróis clássicos da franquia, podendo enfrentar o raider e, se atacarem de maneira ordenada, até mesmo derrotá-lo. Esse talvez seja o pior sistema do jogo na minha opinião já que acaba invertendo em muitos momentos a lógica do jogo, e acabamos tendo o vilão fugindo dos sobreviventes, algo que não acontece em outros jogos do gênero. Você pode até se perguntar o motivo da Bandai ter adicionado isso. Simples: aqui é em que boa parte da monetização e microtransações (além do battle pass) do jogo entra, já que para adquirir essas transformações os jogadores terão que abrir loot boxes assim como em um Gacha.
Para mim, fica claro que a adição dessa mecânica está no jogo apenas para promover o sistema e incentivar a compra de recursos com dinheiro real. Afinal, aumentar a força dos aparatos da corporação cápsula seria uma solução mais natural e condizente com o gênero multiplayer assimétrico. Mesmo o jogo não custando o valor cheio de games AAA, (100 reais na PSN) é muito desagradável ver mais uma vez um jogo trazendo microtransações em pontos que afetam diretamente a gameplay do título. Não bastasse tudo isso, o sistema inteiro ainda é completamente confuso e difícil de interpretar. Algumas vezes acabei tirando unidades ditas “raras” pelo jogo, por exemplo, mas sem nenhuma noção do motivo delas serem mais fortes ou melhores do que as que eu já possuía antes.
O famoso fazendeiro com uma espingarda é uma das skins do passe de batalhaFonte: Bandai Namco/Divulgação
Mais para um Yamcha que um Goku
É claro que não é só o horrível sistema de transformação que estraga a experiência de Dragon Ball: The Breakers. Os visuais, por exemplo, que sempre foram fortemente criticados desde as primeiras exibições do game, continuam péssimos, mesmo claramente reutilizando alguns assets de Xenoverse 2. Além disso, o sistema de colisão e impacto do jogo é muito ruim, sendo que muitas vezes, se você estiver transformado como sobrevivente, vai ter dificuldade de interpretar se seus ataques estão realmente acertando no raider e vice-versa.
A falta de conteúdo também é um grande problema, visto que a próxima temporada do título já foi anunciada, mas só virá daqui a três meses. Até lá teremos que nos contentar com apenas 3 mapas e 3 opções de raiders, algo que torna o jogo bem repetitivo de forma rápida. Aqui cabe uma observação, que após algumas horas jogando o título, eu ainda não vi o personagem Freeza, seja usando-o ou sendo usado contra mim, algo muito estranho e até agora sem explicação aparente. Isso até poderia não ser um problema muito grande se a gameplay do título fosse excelente, o que não é o caso aqui em especial se compararmos com outros multiplayers assimétricos como Dead by Daylight ou Evil Dead.
Infelizmente jogar com Super Buu é menos divertido do que pareceFonte: Bandai Namco/Reprodução
O resultado disso tudo? Mesmo com o bom sistema de matchmaking (que dá uma ordem de prioridade baseado no número de vezes que você jogou com a outra opção de escolha entre raider e sobrevivente) temos filas grandes que podem levar mais de dez minutos, superando facilmente a previsão de 2 minutos apresentada pelo título, mostrando que o público também não parece ter uma opinião positiva do jogo.
Vale a pena?
A verdade é que Dragon Ball: The Breakers deveria ter sido um título free to play. Não só por aumentar o número de jogadores, algo essencial visto que o game não tem crossplay, mas porque sua monetização é claramente baseada em jogos gratuitos. Enquanto isso não acontecer, é muito difícil recomendar a nova entrada de Dragon Ball nos videogames, mesmo que você, assim como eu, seja um fã de carteirinha da obra de Akira Toriyama.
Por enquanto o melhor é fazer como os sobreviventes do jogo, e continuar se escondendo de adquirir Dragon Ball the Breakers
Dragon Ball: The Breakers foi gentilmente cedido pela Bandai Namco para a realização desta análise.
Categorias
- Boa performance nos consoles de nova geração
- Conceito interessante e bem aplicado
- Dragon Ball Z
- Monetização estilo Gacha
- Gameplay truncada e repetitiva
- Falta de conteúdo
- Visuais simples
Nota do Voxel