Na busca pela inovação, Dissidia NT tira o brilho que havia na série
Em meio a várias gemas esquecidas que o PSP nos trouxe, a série Dissidia: Final Fantasy é uma das mais belas – uma joia bruta, mas cheia de potencial com um pouquinho de polimento.
Infelizmente, foram precisos alguns bons anos para que o primeiro game da série recebesse uma verdadeira sequência (afinal, Duodecim adicionou pouquíssimo à experiência do título original), e mesmo essa foi apenas para os arcades japoneses. Só agora, quase dez anos depois do surgimento da franquia, Dissidia: Final Fantasy NT chegou aos consoles com a promessa de melhorar tudo o que vimos em seus antecessores.
Para começar, vão-se as batalhas de 1x1 e entram os embates entre times de 3x3, com direito a disputas multiplayer em que cada herói e vilão pode ser controlado por um jogador. Junto disso, Dissidia NT também simplifica toda a construção de personagens para oferecer uma personalização mais rápida – algo bem-vindo para um game pensado originalmente para arcades. Mas será que tudo isso se sustenta nos consoles? Infelizmente, não é o caso.
Como não fazer um Battle Royale
Antes de tudo, é bom deixar claro que, ao menos na apresentação, Dissidia NT faz um trabalho de qualidade. Os gráficos, apesar de inferiores aos de títulos que encontramos atualmente, não são os piores que você vai encontrar nessa geração. Já a trilha sonora do game é um show à parte, seja pelos arranjos de temas clássicos de todos os FFs ou pelas músicas do próprio game.
Dito isso, quando chega o combate... Bem, podemos começar dizendo que o game definitivamente não poupou esforços em trazer golpes espalhafatosos como nos próprios FFs: os poderes e efeitos são tão exagerados que frequentemente atrapalham a compreensão do que aparece na tela. Ao mesmo tempo, porém, os ataques não parecem ter muito peso, sem passar todo aquele poder que você esperaria de um Limit Break de Cloud, por exemplo.
Boa sorte tentando entender, em um instante, tudo o que está acontecendo em uma cena como essas
Outro ponto que deixa a desejar são as fases de Dissidia. Além de poucas, elas são tão grandes que vão contra o objetivo de promover uma jogatina em time, com ataques em combo e outras estratégias. Na maior parte do tempo, seus personagens acabam espalhados pelo cenário, quase como se você estivesse ainda em uma briga de 1 contra 1 – o que é até bom, já que colocar todos os personagens juntos é uma confusão de ataques.
Antes mesmo de chegar a isso, porém, espere se frustrar absurdamente com os controles do game. Sabe aqueles comandos simples do Dissidia original? Pois eles conseguiram colocar um nível de complexidade impar em NT. Basta dizer, por exemplo, que o tipo de alvo que você trava sua mira muda de acordo com qual combinação de gatilhos você está pressionando e se o comando foi rápido ou devagar. Agora tente imaginar como é ter que lidar com isso em cada movimento e ação desempenhado dentro da partida.
O resultado disso rapidamente fica claro: cada partida de Dissidia NT é uma mistura de frustração com os controles combinada a momentos tediosos enquanto você se desloca até um alvo. E essa pouca variedade rapidamente deixa a experiência cansativa e incrivelmente repetitiva.
Cadê o RPG?
Está bem, os combates do game deram um passo para frente e dois para trás. Mas ao menos a personalização de heróis compensa todo o resto, trazendo aqueles elementos de RPG que tanto gostamos... Não é? Se você pensou isso, então talvez eu tenha falhado em explicar que é melhor não ter esperanças por aqui.
Em resumo, pode dar adeus aos itens, equipamentos, habilidades extras como múltiplos pulos e bônus de dano... Enfim, praticamente tudo o que havia de interessante e que nos fazia passar horas testando e preparando para a próxima partida, nos deixando apenas com combinações pouco variadas dos ataques de cada lutador.
Pode dar adeus aos itens, equipamentos, habilidades extras e quase toda a personalização que dava charme às batalhas
O que temos agora? Apenas a possibilidade de selecionar um novo poder para seu único HP Attack (sim, você só tem um deles para usar agora) ou um par de magias diferentes. E isso se você tiver a paciência de evoluir um personagem até liberar isso.
Vale notar que, em uma tentativa de compensar isso, cada personagem traz alguma mecânica única em suas habilidades. No entanto, a maioria tem efeito mínimo no gameplay, como aumentar o dano por alguns instantes em situações específicas. E como o próprio game faz um péssimo trabalho em explicar sobre isso, muitos jogadores nem mesmo vão saber de sua existência para tirar proveito dessas vantagens.
Uma campanha a lá Final Fantasy, ao menos
Em meio a tudo isso, algo que quase consegue se salvar em Dissidia NT é sua campanha principal. Apesar de ainda seguir boa parte dos moldes do resto do game e não ser nada a se esperar tão avidamente, a história chama a atenção positivamente por, para variar, colocar os heróis e vilões da série trabalhando juntos contra um inimigo maior. Além disso, é nela que temos alguns poucos momentos de novidade graças às batalhas contra os Summons e outros chefões.
Uma pena, no entanto, que cada pequeno passo das mais de 50 cenas e batalhas que formam essa campanha são bloqueadas pelo sistema mais estúpido, chato e tedioso que já vi. Basicamente, se quiser ver uma nova CG que seja, você vai ter que participar de uma dúzia de batalhas para, com sorte, subir o nível de um personagem – o que é a única maneira de conseguir o item que desbloqueia um novo capítulo. E lembra como falamos que as partidas em Dissidia se tornam rapidamente repetitivas? Pois é. Boa sorte na tortuosa jornada de desbloquear tudo isso.
Para piorar, isso é praticamente tudo que Dissidia NT tem para oferecer: um modo campanha, dois tipos de batalhas multiplayer, algumas opções estéticas para liberar... E só.
Nem tudo que é bom nos arcades fica bem nos consoles
Dados todos esses pontos, preciso dar o braço a torcer ao dizer que este Dissidia NT, em sua versão para arcades, provavelmente foi uma adaptação digna da franquia. Afinal, ninguém iria querer gastar meia hora em um fliperama decidindo entre a infinidade de equipamentos e poderes disponíveis nos dois primeiros títulos; da mesma forma, os sistemas de tesouros, capítulos desbloqueáveis e batalhas em trio incentivam jogatinas rápidas nesses ambientes.
Já nos consoles, tudo isso tem o efeito contrário. O fato de praticamente tudo ser bloqueado pelo evoluir de nível dos personagens, por exemplo, só ajuda a cansar o jogador com um número excessivo de batalhas. A falta de recompensas que realmente valham a pena, por sua vez, tira ainda mais o incentivo de tentar novas batalhas, e a ridícula personalização tira o interesse de tentar outras estratégias com os personagens.
Se Dissidia NT é um game terrível? Nem de longe. Mas ele está tão aquém aos seus antecessores que, no fim das contas, não posso classifica-lo como nada além de “esquecível”.
Por culpa disso, não hesitaria em largar este título pelo primeiro Dissidia, ainda no PSP. Por mais que ele tivesse muito mais falhas, o título ao menos tinha uma ousadia completamente ausente em NT, que consegue ser apenas mais um jogo de luta sem sal capaz apenas de agradar quem já é fã.
Categorias
- Recheado de conteúdo para agradar fãs de Final Fantasy
- Trilha do game é uma homenagem digna aos jogos da série
- Trama da campanha é surpreendentemente interessante de acompanhar
- Combates visualmente poluídos deixam as partidas confusas
- Nunca comandos básicos de um game foram tão complicados
- Personalização de personagens se tornou absurdamente limitada
- Enormes partes do conteúdo bloqueadas por lootboxes e pelo level up dos personagens
- Traz poucos heróis novos
Nota do Voxel