A perfeita harmonia entre survival horror e ficção científica.

O frio na espinha começa com a lúgubre imagem de Isaac Clarke. Segundo uma definição fisiológica, “espaço morto” é um termo utilizado para designar o ar que é inalado pelo corpo humano mas que não participa das trocas gasosas do organismo. Bem, independentemente de ser ou não possível traçar uma analogia satisfatória entre essa definição científica é o caos tremendamente imersivo que impregna cada canto, cada imagem e cada momento assustador do mais novo ícone do survival horror brilhantemente produzido pela Eletronic Arts, fato é que Dead Space pode facilmente se tornar um ponto de referência para qualquer survival horror lançado daqui para frente.

Tudo bem, você eventualmente já pode ter experimentado uma sensação de terror causada pelo isolamento e pela presença de um mal indizível e misterioso em vários jogos do estilo. De fato, a temática não é totalmente nova. Como uma comparação, provavelmente não seria nem um pouco precipitado traçar um paralelo entre Dead Space e o clássico filme de horror futurista “O Enigma do Horizonte” (Event Horizon, no original), um pouco pela temática e muito pela atmosfera.

Entretanto, os primeiros momentos de jogo deixam bem claro que o que se tem em mãos é verdadeiramente um título único, com uma atmosfera absolutamente envolvente que resulta de uma interação praticamente sem precedentes entre ótimos efeitos visuais e sonoros. A originalidade da história, aliada ainda a eventos e animações surpreendentes, trata de absorvê-lo inexoravelmente para o ambiente perigoso e fantástico de Dead Space.

Além disso, um jogador mais atento pode ainda perceber que a escolha do nome do protagonista, Isaac Clarke, trata-se na realidade de uma singela homenagem a dois dos maiores escritores de ficção científica que já pisaram a face da terra: Isaac Asimov e Arthur C. Clarke, ambos já falecidos. E, quer saber? Uma comparação de estilos entre o jogo a as obras dos renomados escritores não seria nem de longe pretensiosa.

Algo aconteceu à USG Ishimura...

Após perder o contato com a espaçonave mineradora USG Ishimura, o engenheiro da “Concordance Extractioni Corporation”, Isaac Clarke, e a tripulação da USG Kellion partem rumo à órbita do planeta Aegis-7, esperando apenas encontrar uma nave com problemas técnicos. O protagonista ainda tem um interesse particular na missão: a bordo da Ishimura encontra-se a sua namorada, a médica especialista Nicole Brennan, da qual lhe resta apenas uma estranha transmissão pedindo ajuda.
USG Ishimura. Um pouco além de uma pane do sistema...

Todavia, ao chegar ao local, fica bastante evidente que o problema da enorme espaçonave vai muito além de uma simples pane mecânica. Algo realmente terrível parece ter acontecido à nave e à sua imensa tripulação — posto que ninguém pode ser encontrado imediatamente. A situação se torna ainda mais grave pelo pouso forçado da Kellion, que acaba causando sérias avarias que, por fim, garantem uma estadia prolongada nas inóspitas instalações de um enorme túmulo espacial.

Desde os primeiros momentos da trama já se pode ter uma idéia da capacidade visual — garantida pela ótima engine do jogo The Godfather — e da criatividade dos ambientes de Dead Space. Isso por conta já da primeira animação do jogo, que termina com a abordagem da Ishimura. Trata-se de uma bela animação semi-interativa (você poderá olhar para os lados) na qual se tem uma vista panorâmica da enorme espaçonave e também do planeta Aegis-7.

Horror e isolamento

Logo no início do jogo, uma inoportuna proteção da nave destinada a colocar a sua tripulação em quarentena separa o engenheiro e o seu medonho traje do restante do grupo. Bem, até aí tudo bem, já que isso o impede de — ainda sem nenhuma arma à mão — sofrer o destino cáustico da maioria dos seus companheiros, que acabam dizimados durante a primeiras aparição dos Necromophs, remanescentes “ligeiramente” alterados da tripulação original da Ishimura.Quem teria feito isso? Onde foi parar a tripulação?

Daí pra frente o que se experimenta é um clima de isolamento quase total, com uma ou outra mensagem dos membros restantes da sua equipe servindo para direcionar as suas missões e, conseqüentemente, o rumo da história. E, sabe? Isso é realmente ótimo, na medida em que cada novo corredor e cada nova sala hermeticamente fechada da excelente arquitetura do jogo pode trazer algo surpreendente, terrível e totalmente envolvente.

Levando-se ainda em conta que os sons do ambiente serão uma mescla entre fundo musical de filme de suspense, barulhos de criaturas perambulando por dutos de ar e a pesada respiração do protagonista (cujo visual é um dos elementos incômodos do jogo), o que se tem é uma experiência realmente autêntica que somente uma coexistência de ficção científica e terror sobrenatural poderia produzir.

Tudo muito bem contextualizado

Um dos fatores mais impressionantes de Dead Space é a capacidade do jogo em trazer para dentro da trama características e informações que vários ótimos títulos anteriores deixavam meio sem explicação  (ou exibiam apenas como informações para o jogador). O melhor exemplo disso vem da forma como são exibidas as informações para o jogador.
Abaixo a HUD!

Desde a quantidade restante de munição na sua primeira e oportuna arma — que é na realidade uma solda de plasma —, a energia restante no estranho traje do protagonista até o mapa e o inventário: tudo é colocado dentro do jogo, de forma totalmente contextualizada. Quer dizer, você não vai encontrar nenhuma informação “na tela” do jogo.

Isso porque tudo é exibido na forma de hologramas para o personagem, e não para o jogador diretamente. Os hologramas contendo mapas e demais informações são exibidos diante de Isaac proporcionando não só um belo visual como também aumentando a urgência de e uma consulta rápida, posto que o tempo de jogo não para. Já a energia restante — e isso é realmente brilhante — é exibida no que seria a coluna vertebral do traje.


Resumindo, o tradicional HUD (Head Up Display), que durante anos foi utilizado para inteirar o jogador de informações vitais, foi completamente excluído do jogo. Isso além de dar ao jogo um ambiente muito mais limpo, torna as interações mais realistas e, de forma geral, o clima de terror muito mais intenso.

Nada de headshots dessa vez

Uma mensagem ensangüentada em um quadro de avisos logo no início do jogo vai colocá-lo a par da maior particularidade dos necromorphs: “Corte os seus membros”. Pois é, dessa vez um belo headshot não será suficiente para despachar monstruosas abominações.
Acerte os membros! Bem, na medida do possível.

A fim de conseguir o melhor resultado nos ataques e também economizar a munição não exatamente abundante do jogo, deve-se atirar não no tórax (se é que se pode chamar assim...) ou na cabeça dos monstros, mas nos seus braços e pernas. É claro que uma eventual decapitação também pode facilitar as coisas. Enfim, algo que acrescenta um estilo estratégico sem precedentes a Dead Space.

Entretanto, essa não é a única particularidade dos inconvenientes habitantes da Ishimura. Quer dizer, embora cortar fora os membros dos necromorphs seja a idéia básica, cada monstro diferente vai demandar uma abordagem distinta. Entretanto, uma coisa é certa: caso você falhe ao atingir um monstro a tempo, pode esperar ver uma criatura com apenas alguns membros voando na sua direção com uma gana assassina. Realmente é melhor matar sem perder tempo.Pelos dutos de ar ou se fingindo de mortos. Nada de inimigos descerebrados aqui.

O que torna os necromorphs inimigos ainda mais interessantes é o fato de que eles parecem realmente raciocinar. Portanto, não espere encontrar zumbis descerebrados aqui. As terríveis criaturas humanóides vão tentar emboscá-lo, vão vagar pelos dutos de ar a fim de surpreendê-lo e, quando tudo mais falhar, eles podem até mesmo se fingir de mortos — é isso mesmo. Antes de se aproximar despreocupadamente de um inimigo caído, tenha antes certeza de que se trata realmente de uma carcaça sem vida.

Armado até os dentes

Dead Space realmente não traz o arsenal clássico de jogos de tiro. A bem da verdade, nem sequer traz o arsenal de jogos futuristas de tiro. Além da sua primeiras arma improvisada que, conforme já mencionada, trata-se na realidade de uma solda de plasma, o jogo ainda trará toda sorte de aparato destruidor e original.

Entretanto, vale aqui ressaltar duas geringonças que vão ajudá-lo não só nas batalhas como para resolver uma porção de puzzles no jogo: a “stasis” e a “knesis”, que causam, respectivamente, paralisia e movimento. “Stasis” não só vai servir para segurar temporariamente portas descontroladas como ainda pode conter os avanços de um necromorph particularmente obstinado em lhe cortar a cabeça.
Algumas armas são convencionais. Outras nem tanto assim.

Já o aparato “knesis” (que lhe é entregue em um momento sem dúvida singular do jogo) servirá não só para erguer objetos pesados que porventura estejam bloqueando o caminho, como também para arremessar vários projéteis improvisados contra os inimigos. Como um auxílio nos puzzles, vale ressaltar que a sua utilização não será necessariamente óbvia — o que é ótimo, claro.

É claro que o jogo não pretende que você passe todo o tempo destruindo monstros enormes apenas com um aparelho de solda. Aí surge outro bom exemplo de contextualização em Dead Space: como os inimigos encontrados são na realidade a tripulação original da Ishimura, nada mais natural do que encontrar vez ou outra coisas como itens médicos ou mesmo dinheiro (na forma de créditos).
De artilharia pesada até um novo traje eletromagnético.

Tendo então algum dinheiro à mão, basta dirigir o personagem até a loja de armas, munições e afins mais próxima para melhorar um pouco a sua situação. Além de adquirir novas armas, também estarão disponíveis upgrades para o traje do personagem e demais itens úteis. Além disso, você ainda poderá vender sobras e até mesmo alguma peça mais valiosa encontrada na nave. O mercado ainda vai servir como o clássico baú de Resident Evil, onde será possível guardar itens para um futuro próximo a fim de liberar espaço no seu inventário.

Realizando upgrades

Um dos itens que normalmente são deixados para trás pelos monstros do jogo são os “power nodes”. Estes pequenos itens vão servir para melhorar não só as suas armas, como também elevarão as qualidades do traje assim como da stasis e da knesis (citadas acima). Os upgrades podem ser feitos em máquinas próprias, sendo que se deve encaixar os “power nodes” em várias lacunas de uma espécie de circuito integrado exclusivo de cada estrutura.

Garantia de frio na espinha

Desde os primeiros vislumbre da USG Ishimura e do planete Aegis-7, Dead Space traz texturas ricas, variadas e extremamente envolventes. Acrescente-se ainda uma eventual chuva de meteoros e o vislumbre do citado planeta em uma parte exterior à nave. São belas imagens sempre equilibradas pela idéia do terror iminente que produzem uma atmosfera realmente única.
Depois de dúzias de monstros, que tal uma realista chuva de meteoros?

Um aparte ainda pode ser feito para o som: trata-se realmente da pedra angular que provavelmente fará com que você olhe para todos os cantos e jogue sentado na ponta do sofá. Por quê? Some um total isolamento em uma remota parte do espaço à presença de verdadeiras abominações da natureza acrescentando, por fim, sons de batidas se tornando mais altos e gritos distantes. Tudo isso embalado por músicas que por si só já seriam capazes de tirar o sono.

E o que é melhor: tudo isso tendo menus contextuais, uma jogabilidade intuitiva e ambientes que mudam, sem prévio aviso, de uma sala ensangüentada para o espaço aberto e uma realística experiência em “gravidade zero”.
To infinity and beyond!

Realmente, Dead Space é um expoente inegável não só em relação ao survival horror como também aos jogos de ficção científica de forma geral — em parte pelo tratamento coerente do jogo para os vários fatores físicos que envolvem o hyperespaço. Enfim, seja você um fã de ficção científica, de survival horro ou simplesmente de bons jogos de videogame, fica a dica: realmente vale a pena dar uma olhada com bastante calma em Dead Space.
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