Muita porrada, magias, armas e sangue. Empolgação e diversão dominam em boa parte do jogo, mas a monotonia e repetição prevalecem no final.
O grande universo de Might & Magic, constituído de grandes séries, como Heroes of Might & Magic e Might and Magic, pertencia à 3DO, mas foi comprada em 2003, pela Ubisoft, por meros 1.3 milhões de dólares. Com essa compra, foi decidido adotar algumas mudanças, sendo uma delas a de não continuar as séries antigas. Elas não serão jogadas no lixo, mas serão reiniciadas ao invés de continuadas, deixando de lado qualquer relação anterior. Um desses novos títulos é Dark Messiah of Might & Magic.
Dark Messiah apresenta um bom conjunto de elementos, tanto gráficos como eventos de ação e físicos. O combate corpo-a-corpo e a interação com os diversos tipos de cenários marcam o jogo e são seus principais pontos fortes. Mesmo possuindo essas batalhas emocionantes e chefes interessantes, algumas frustrações, como constantes travamentos do jogo, são o suficiente para perder o interesse. O lado RPG é bem fraco e, com certeza, não serve de motivação para ninguém.
É fato que, para os interessados em um jogo de RPG diferente, não encontrarão nada muito satisfatório aqui, mas no quesito ação, o jogo inverte os fatos, sendo uma boa pedida. Para quem não ficar contente com o modesto single-player, há o multiplayer, que merece igual destaque e traz modos de batalhas diferentes, suportando até 32 jogadores.
Que venha o Messias Negro!
Tudo começa com uma cena de abertura realmente interessante (caprichada mas curta), mostrando uma série de eventos e algo semelhante a um ritual negro. Após isso, o jogador encontra-se no papel do protagonista, Sareth, aprendiz de um poderoso mago, Phenrig.
Depois de um curto tutorial, o qual ensina quase todo o combate essencial, Sareth é mandado para a cidade de Stonehelm, junto com a sua nova amiga e tutora mental, Xana (isso mesmo, ela não está presente com você fisicamente). O objetivo de Sareth é ajudar um associado de Phenrig, chamado Menelag.
Ao chegar aos portões de Stonehelm, percebe-se que a população está em pânico, com pessoas deixando a cidade e outras apavoradas. Ao mostrar sua identificação para o guarda, uma pedra flamejante acerta em cheio as lindas paredes de Stonehelm, o que acaba assustando o cavalo de Sareth. No susto, o protagonista cai no chão e um dos guardas o salva, levando-o para dentro dos portões do castelo, onde imediatamente começa uma invasão à cidade e é, também, o início da história do game.
Sareth e suas companheiras
Ao longo de sua jornada (que leva umas 15 horas), Sareth terá uma boa presença feminina ao seu lado. A primeira a se aproximar, já no início, é Xana, apresentada por Pherig. Xana é um tipo de mulher bem sedutora e sabe como usar tal artifício para conquistar seus ideais. Como ela fica boa parte do tempo em sua mente, dando dicas e falando objetivos, ela será sua companheira em grande parte da história. Com o passar dos acontecimentos, percebe-se sua real natureza diabólica (e que diabinha!). Além disso tudo, Xana é sempre sarcástica em quase todos os acontecimentos, exibindo um excessivo ciúmes por Sareth, ao mesmo tempo que demonstra querer algo a mais além de ser sua amiga ou conselheira, apelando para provocações a todo momento.
Por outro lado, há Leanna, sobrinha de Menelag, e mulher por quem Sareth aparenta ter uma certa “quedinha”. Leanna é uma pessoa mais séria e comportada, que acaba entrando na história principal para descobrir algumas verdades sobre os fatos que estão acontecendo. A principal relação entre essas mulheres serão as decisões dramáticas que as aguardam, cabendo ao jogador os seus destinos. Cada decisão tomada em relação a elas irá interferir no final do jogo, somando um total de quatro possibilidades.
O fraquíssimo sistema RPG
Sareth, mesmo parecendo ser a pessoa mais inocente que se possa imaginar, eventualmente percebe que há algo diferente — ele é a própria lenda que procurava, o Messias Negro. Com isso, ele percebe o real motivo desses estranhos fatos acontecerem e a razão pela qual as pessoas estão interagindo de forma diferente, principalmente as mais próximas.
Como Sareth é um ser diferente e poderoso, é óbvio que ele precisa possuir poderes fortíssimos. Aqui que entra o sistema RPG do jogo, que oferece somente uma árvore de habilidades para aprender. Não existe sequer um acompanhamento dos atributos do personagem, como força e velocidade, deixando Dark Messiah com um aspecto superficial nesse quesito. Mesmo com todas essas habilidades, divididas em várias classes, como guerreiro, mago, arqueiro e até assassino, elas mal satisfazem um nível básico de RPG.
Por exemplo, se o jogador optar por ser um guerreiro (warrior), é possível aprender certos benefícios, como ficar mais forte fisicamente, resistência mágica, melhorar poder de defesa e alguns ataques físicos. Já como mago (mage), pode-se aprender flecha de fogo, bola de fogo, esfera de raio, escudo mágico e outras habilidades características de um mago. Mesmo tendo uma boa variedade delas, todas elas possuem um só nível (a maioria) ou no máximo 3 níveis de evolução, valendo para as demais classes também.
Em todo RPG mais aprofundado, sempre há a opção de evoluir, por exemplo, sua bola de fogo ou suas magias de raio, ou se for um guerreiro, evoluir seus variados tipos de ataques e bônus. Por esse motivo, Dark Messiah é classificado como sendo mais um jogo de ação do que RPG, não chegando nem estar definido como uma boa mistura entre esses dois gêneros.
O lado compensador desse sistema adotado é o fato de não haver nenhuma restrição ao se fazer um personagem multi-class (várias classes). A opção alternar habilidades de classes diferentes é aberta e não requer nenhum tipo de sacrifício. Basta ter à disposição os pontos necessários para aprender as habilidades desejadas. Entretanto, para conseguir tais pontos, não é necessário matar monstros, como na quase totalidade dos RPGs. Esses pontos são ganhos através de objetivos completados e missões realizadas ao longo da campanha.
Ao construir um personagem multi-class, você não fica menos favorecido ou menos poderoso do que se tivesse adotado somente uma classe. O jogador só não pode esquecer de duas coisas: primeiro, não é possível ter tudo de todas as classes e segundo, se o número de habilidades diferentes for muito grande, seu personagem corre o risco de não ser bom em nada. Se isso acontecer, tudo pode ficar bem complicado e difícil, isso se não ficar praticamente impossível.
Messias Negro com defeito
Dark Messiah tem algumas falhas graves, principalmente na parte técnica. Uma delas é o constante travamento ou fechamento do jogo por alguma razão desconhecida. É recomendado salvar constantemente seus avanços, pois não há partes específicas para esse problema. Além disso, existem salas no jogo em que a morte é certa, como quando pisa-se em lugares errados e alguma armadilha fatal acaba sendo ativada, ou seja, seu próximo passo será recarregar um ponto salvo.
Outra falha ocorre ao tentar matar aranhas com uma espada ou faca. Ao desferir um golpe contra elas, ele chega a acertar o chão ou a parede, mas não a infligir dano nas aranhas. É necessário erguer um pouco a visão antes de usar esse tipo de arma para matá-las.
Na parte sonora, a qual já não apresenta músicas muito atraentes, toda vez que se realiza um ataque especial, não é possível ouvir nada além do ataque em si, principalmente quando um inimigo está sendo cortado ao meio. Isso faz com que, ao matar alguém, ele pareça feito de papel, pois não há sons de ossos quebrando nem nada assim. Entretanto, ao menos é possível ouvir alguns detalhes, como quando o sangue está fluindo de um oponente.
Os inimigos são praticamente os mesmos pela campanha toda, ou seja, as vozes e gritos dos monstros também serão repetitivas, mas não deixam de ser menos engraçadas em momentos crucias, como quando empurra-se um orc de um desfiladeiro e ele fica gritando até se esborrachar. Aliás, o maior destaque na parte sonora fica justamente para as vozes e sons ambientes, que estão de bom grado e podem proporcionar ótimos momentos, mesmo que não tenham muita variabilidade.
Já graficamente, Dark Messiah está de parabéns, pois o visual dos cenários, as texturas e iluminação estão ótimos, afinal, foram desenvolvidas por uma variação da mesma engine que criou Half-Life 2, a Source Engine. O diferencial de Dark Messiah, que não existe em outros jogos em primeira pessoa, é conseguir ver seu corpo ao olhar para baixo, mostrando pernas, braços e até os pés.
É muito mais fácil saber o quão perto você se encontra de um precipício apenas olhando para seus pés. Já para desferir ataques e magias, é como em The Elder Scrolls IV: Oblivion, mostrando, conforme as ações realizadas, suas mãos e ataques
Combates: armas, chutes e magias
O combate corpo-a-corpo em Dark Messiah é, sem dúvidas, seu ponto forte. Mesmo com um grande número de armas para aniquilar seu inimigos, comum em vários jogos, a diversão da luta aqui é diferente. Conforme mais golpes você conseguir realizar, mais a sua barra de especial vai enchendo, e, uma vez cheia, é possível realizar um ataque aniquilador, causando morte instantânea, normalmente despedaçando seu inimigo. Esses ataques variam de acordo com a arma utilizada e o local onde se aplica o golpe.
Por exemplo, ao usar uma faca no golpe especial, Sareth arremessa-a bem na cabeça do oponente, ou quando usa-se uma espada, Sareth executa um golpe tão forte, que irá corta qualquer parte do inimigo aonde a lâmina passar, dividindo-o em pedaços. Se esse especial for realizado com magia, uma congelante, por exemplo, o alvo fica totalmente congelado e pode ser quebrado em milhares de pedaços com apenas um chute.
Com a constante evolução do protagonista, algumas diferenças começam a ser notadas. A mais fácil de perceber é a força de combate, que é notada com todas as armas que se é especializado. É possível fazer coisas como acertar um golpe normal, mas que literalmente desloca seu inimigo a metros de distância, tamanha a força aplicada, ou acertar uma flechada tao forte, que o inimigo é carregado junto com a flecha, ficando pregado na parede mais próxima, igualzinho a um objeto de decoração.
Mas além dessas armas convencionais, encontradas ao longo da história, há inúmeros jeitos de matar um inimigo. Pode-se usar o chute, que é perfeito para empurrar os monstrengos precipício abaixo ou em armadilhas, como uma parede de espinhos. Há, também, objetos que podem ser carregados e arremessados, como um barril, que pode ser jogado em alguém, derrubando-o da mesma forma.
A última maneira de matar sem usar armas é utilizando o próprio cenário a seu favor, por exemplo, cortando as cordas que seguram uma ponte, derrubando quem estiver nela ou acionando as armadilhas que deixaram para você nos próprios monstros que estão por perto. Além disso, há coisas bem interessantes para aprontar com seus oponentes, como derrubar estantes, paredes e outros objetos pesados em cima deles.
Por fim, as magias. As magias são elementos que agradam muitas pessoas, e certamente não poderiam faltar em nenhum jogo Might & Magic. Há um bom número delas, com diferentes finalidades. Por exemplo, as magias de fogo são para combate direto de dano, mas existe uma que congela o alvo na hora, ou partes do cenário, como o chão. Ao congelar um alvo, ele fica paralisado por um tempo, suficiente para matá-lo. Já ao congelar o chão, o oponente que passar por ali irá escorregar, podendo cair direto em uma armadilha (idéias criativas e divertidas podem ser feitas). Ainda há outros tipos de magias, como as de raio, outras de fogo, de proteção, e até uma que permite levitar vários objetos, até mesmo os monstros.
Chefes: assustadores somente no primeiro encontro!
A história principal de Dark Messiah é bem clichê. É fácil deduzir os próximos fatos da maioria dos acontecimentos e o que será necessário fazer logo adiante. Apesar disso, ela se comporta de maneira agradável e é o suficiente para completar o clima do jogo, mas os desenvolvedores poderiam ter melhorado itens, como o problema da repetição de monstros que devem ser únicos, como os chefes.
Os chefes estão bem texturizados e com uma aparência aterrorizante. Possuem ataques fortes, alguns com certa interatividade com o jogador, como quando um ciclops te segura, dá um gritão bem na sua cara, e depois te joga longe, arrancando boa parte da sua barra de vida. Para matá-los, necessita-se de um certo raciocínio lógico até descobrir o esquema. Em suma, quase sempre envolve algum método diferente de um ataque suicida e direto.
Até aproximadamente a metade da história, as constantes novidades e surpresas são atrativos, apesar da repetição constante dos monstros normais. A coisa começa a ficar feia quando os chefes começam a se repetir, após uma certa altura dos fatos, abalando muito o elemento surpresa. Acaba sendo decepcionante, porque o jogador já terá mais que a noção, terá a solução, de como derrotar novamente aquele mesmo tipo de monstro.
Essa falta de criatividade na variação de chefes e a repetição de muitas outras coisas e monstros constituem o principal problema do jogo, fora os problemas técnicos, que é a falta de originalidade. Mas para os que não se importam em ver um orc do seu lado, um la em cima da montanha e outro escondido em algum buraco, não sentirão muito esses problemas.
Multiplayer arrasador
Apesar de uma campanha single-player relativamente boa, o multiplayer merece o mesmo destaque, senão maior. Primeiro, pelo fato de que foi desenvolvida por outra produtora, a Kuju Enterteinment (não desmerecendo em nada a Arkane), que não possui nenhuma relação com qualquer outra parte ou fase do jogo. Segundo, porque há um equilíbrio entre as classes, onde nenhuma é super poderosa e o time que possuir melhor entrosamento e equilíbrio entre si vai sair como vencedor. Terceiro e último, pelo fato de apresentar modos novos e diferentes para jogar online, praticamente transformando o multiplayer em um novo jogo.
Há o modo Warfare, onde dois times têm como objetivo, cercar e dominar o castelo inimigo. Cada time pode ter até 16 jogadores e o vencedor é decidido através do número de tickets (ingressos) que restam para cada time. O time que zerar esse número primeiro, perde. Esse modo é muito similar com o modo Conquest, da série Battlefield.
Tem o modo Crusade, que se assemelha a uma campanha, só que online, e os jogadores têm por objetivo, avançar pelos mapas inimigos, acumulando pontos de habilidades, ficando cada vez mais forte, até chegar ao encontro definitivo entre os times. O fato de chegar forte, evoluído e cheio de habilidades é o que torna esse modo o mais interessante e diferente deles.
E por fim, o modo Colosseum, que como o nome sugere, é um coliseu, uma arena fechada, onde os jogadores lutam entre si, um a um, em frente a um público, que é composto de outros jogadores, que por sua vez, podem apostar em quem vai ganhar, dando experiência ao vencedor.
O problema do multiplayer é o mesmo que o do single-player. Como travamentos são comuns durante toda a campanha, eles continuam persistentes. Isso pode modificar algumas coisas e acabar trazendo certa frustração para alguns, pois imagine-se no final de um modo Crusade, com seu time ganhando, e o jogo fecha sozinho...
Definitivamente, Dark Messiah of Might & Magic não é um jogo para os mais aficionados por um RPG, e sim para quem gosta de jogos de ação, em primeira pessoa ou de tiro. Há certos elementos que fazem parte do mundo dos RPGs, como a evolução do personagem principal, mas esses elementos se encontram em um nível realmente superficial, que só ajuda a fortalecer a ação e os combates na história do game.
A história situa-se em um nível agradável, mas possui um enredo fraco, finais que deixam a desejar e algumas falhas técnicas. Ainda bem que existem os patchs de atualização, bastante comuns hoje em dia para qualquer jogo e que, normalmente, corrigem falhas graves como essa.
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