Imagem de Cult of the Lamb
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Cult of the Lamb

Nota do Voxel
73

Cult of the Lamb traz uma combinação inusitada, mas desbalanceada

De tempos em tempos, o mundo dos videogames é atingindo por uma nova tendência que vira o mercado de cabeça para baixo. Determinados gêneros surgem ou ressurgem e atraem centenas de milhares de jogadores, fazendo com que os estúdios e publishers se movimentem para entregar rapidamente títulos que abasteçam essa parcela do público sedenta por novidades.

Após algum tempo em alta, há uma saturação que vai esfriando gradualmente essa onda de calor, exigindo dos desenvolvedores ideias mirabolantes e “fora da caixinha” para se aproveitarem das últimas fagulhas antes da brasa apagar.

Esse foi o caso da Massive Monster, que decidiu misturar um roguelite com administração de cidade para criar um título diferente de quase tudo o que há no mercado, Cult of the Lamb. Mesmo que bem divertido, houve um desequilíbrio entre os gêneros e uma falta de polimento técnico, afetando significativamente o resultado. Mas será que vale a pena? Confira a nossa análise a seguir!

Nada de novo sob o sol

Em Cult of the Lamb, controlamos uma ovelhinha que foi salva da morte por um ser extremamente poderoso chamado Aquele Que Espera. Porém, deve criar um culto quase satanista em seu nome e derrotar seus quatro rivais que o aprisionaram eternamente.

A partir dessa premissa, já fica bem claro que a porradaria e a logística são igualmente importantes de um ponto de vista narrativo e, após poucos minutos de gameplay, há uma dependência mútua para o progresso da jogatina, o que é bem interessante. Ao entrar numa aventura, você coleta itens e recruta seguidores que melhorarão status e facilitarão a próxima run.

Como eu disse anteriormente, ele é diferente de quase tudo do mercado, pois é clara a inspiração dos desenvolvedores no game espanhol Moonlighter, que também trabalha o roguelite com um segundo gênero através de uma dependência mutua. Só que não para por aí, já que os mapas, as salas e a até a ideia de quatro chefões em quatro áreas visualmente diferentes é a mesma.

Contudo, o título traz aspectos comuns a outros títulos do gênero, como a aleatoriedade nas habilidades específicas daquela run, aqui retratadas na forma de cartas de tarô, e a escolha de qual caminho seguir, se aproveitando do que será adquirido por ali.

Ainda que tenha combates muitas vezes frenéticos, dando um frio na espinha quando escapar de um ataque fatal, há uma falta de variedade bem grande em tudo o que envolve o combate. Os quatro tipos de armas se diferenciam somente na velocidade de ataque e no dano, muitos inimigos possuem ataques iguais, é pouco vantajoso criar builds que não foquem no aumento de vida.

Para enfrentar o chefão de uma área, é necessário jogá-la pelo menos quatro vezes, acabando com minibosses no caminho. As runs normalmente são bem curtas, durando entre 8 e 10 minutos, o que é positivo, mas ele não pune de forma apropriada o jogador por seu fracasso, retirando somente uma pequena porcentagem de todos os itens adquiridos no caminho.

De forma direta, toda a parte de roguelite é simples e genérica. Se o game dependesse somente dela, seria um game totalmente passável para qualquer fã do gênero e até para aqueles interessados por títulos de ação. Porém, como já foi dito, Cult of the Lamb é mais que isso.

Se divirta louvando o cramunhão

Criar e administrar seu culto é definitivamente a coisa mais divertida desse game. Começamos pequenos, com um ou dois fiéis que fazem pequenas tarefas, como rezar, cortar madeira e minerar pedra. Só que eles são como crianças, então nada de trabalho de noite, não sabem produzir a própria comida, fazem suas necessidades em qualquer lugar e, muitas vezes, querem a nossa atenção. Cuidando deles e expandindo as operações, novas opções são desbloqueadas, tornando o ambiente muito mais complexo e autônomo.

Como é de se esperar de um culto satânico remoto, no meio do mato, a fé é essencial para o mantimento dessa micro-sociedade. Sermões diários, bençãos particulares, instalação de novas doutrinas e rituais são questões importantíssimas para não haver rebeldia e descrença em sua figura de líder supremo. Focar nesses quesitos também traz um impacto direto na jogatina, com seus seguidores gerando mais fé, permitindo a construção de novas estruturas e gerando melhorias úteis para o combate.

Eu tenho certeza que passei muito mais tempo construindo camas, reeducando fiéis, adubando a plantação, cozinhando pratos com mato, cortando madeira e limpando cocô do chão do que batalhando com inimigos. E eu não vejo isso como algo ruim, eu adorei cada segundo.

Falando de adorar, nossos fieis constantemente pedem nossa ajuda com algo, gerando assim missões secundárias. Elas costumam sem bem simples, como cozinhar algo, recrutar um fiel, resgatar um parente ou executar um ritual de luta em que o perdedor é morto. Como eu disse, bem simples. Caso não sejam cumpridas no tempo específico, elas causam um impacto bem grande no medidor de fé, mas nada que um sermão e uma dança em volta de uma fogueira não resolva.

Conforme o tempo passa, os fiéis vão envelhecendo e viram idosos. Nessa fase, eles não trabalham, mas ainda rezam por nós. Depois de alguns dias, eles falecem e é nossa responsabilidade enterrá-los ou pegar a carne deles (mesmo que não seja exatamente recomendado). Deixar o corpo jogado fará com que nossos seguidores passem mal e até fiquem doentes.

Eu definitivamente não sou fã de jogos de administração de cidade ou fazendinha, mas Cult of the Lamb conseguiu me conquistar fortemente nesse quesito. Fazer a gestão de meu próprio culto satanista, ver a evolução do lugar e sentir o impacto daquilo na hora do combate me despertou ainda mais interesse para tornar aquele lugarzinho o mais autônomo e fofinho possível. Não costumo rejogar um game após finalizá-lo, mas há sempre algo para melhorar naquele lugar.

Outros incríveis lugares para se visitar

Além de nosso querido culto, há outros lugares para visitarmos. A começar pela casa de Ratau, que ocupava a posição de líder religioso antes de nós. Lá, podemos participar de uma partida de Bugalha, um minigame com dados bem empolgante e, até onde sei, original que tomou mais meu tempo do que deveria.

Há também a Passagem dos Peregrinos, um lugar perfeito para coletarmos alimentos já que podemos ali pescar. Mesmo sendo simples, é interessante o suficiente para ficarmos lá por longos minutos tentando pegar todos os peixes que vivem naquela baía.

Ainda há a Gruta dos Esporos, o Santuário dos Contrabandistas e a Caverna de Midas para visitar, cumprir missões e comercializar alguns cosméticos e cartas de tarô. Ou seja, não faltam lugares para ir.

Tudo isso fica ainda melhor quando olhamos para a parte visual do jogo. Cult of the Lamb é completa e absolutamente maravilhoso com seus gráficos cartunescos. Essa ideia de desenho animado sombrio é a típica mistura que casaria perfeitamente com o maravilhoso Adult Swim. É um diferencial dos grandes, para falar o mínimo.

Pane no sistema, alguém está desconfigurado

Depois dessa enxurrada de elogios, hora de falar de algo que assombrou principalmente na reta final do jogo: bugs. É extremamente normal que jogos tenham erros, principalmente sem a atualização de lançamento, mas eu fui bombardeado por uma sequência que me incomodou muito.

Vou citar alguns. Um dos meus fiéis idosos estava pronto para subir de nível, para isso basta eu ir conversar com ele que a ação é executada de forma automática. Quando eu tentava, abria o menu de conversa comum, impedindo ele de upar. Em outro momento, eu não conseguia colocar uma semente em um bloco de plantação vazio. A única forma de resolver foi apagando ele e construindo outro. O mesmo aconteceu quando eu quis melhorar uma estrutura de coleta de madeira, mas o jogo não identificava nenhuma disponível mesmo eu tendo 4 dando sopa.

Tiveram alguns outros menores, como o botão sensível a contexto não deixando eu ajudar na construção de uma estrutura em que diversos fiéis já estavam trabalhando e eu aceitando a missão de um NPC, mas pegando a recompensa com outro. E também tiveram mais graves, como morrer para um inimigo invisível e a tela travar no recrutamento de um seguidor, me fazendo voltar ao menu principal para consertar. Todos esses momentos me incomodaram profundamente e sem a menor sombra de dúvidas incomodarão todos que encontrá-los.

Vale a pena?

Cult of the Lamb é um curioso caso de surpresa e decepção. A mescla de gêneros desequilibrada diverte, mas nunca atinge o ápice de seu potencial e se tratando de uma dependência mutua, o resultado fica bem afetado. A beleza visual e a variedade de opções na parte logística são contrapostas por diversos problemas técnicos e uma experiência roguelite genérica. Ele é um jogo que vai agradar grande parte do público, mas poderia ser muito mais.

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Pontos Positivos
  • Boa mescla de gêneros
  • Cuidar do culto é viciante
  • Diversas opções de rituais para serem usadas
  • Muitas estruturas para se construir
  • Visuais lindos
  • Runs curtinhas, entre 8 a 10 minutos
  • Minigame dos dados e da pescaria são divertidos
Pontos Negativos
  • Mortes não tem impacto
  • Toda a parte de roguelite é genérica
  • Pouca variedade de ataques adversários e armas
  • Melhor build (e praticamente única) com as cartas de tarô é a de vida
  • Quantidade muito grande de bugs