Sanguinário e impiedoso... Mas com uma boa dose de humor involuntário.
Hora de voltar no tempo. Mais precisamente, até o dia 20 de julho de 2005, data em que a Koei resolveu também tentar a sorte com a prolífica temática: gladiadores na Roma antiga. Afim de cobrir um hiato considerável, o Baixaki Jogos analisa agora um dos mais comentados e controversos jogos já lançados para o PS2: Colosseum: Road to Freedom.
Embora seja interessante rever um pouco do que construiu o estilo idiossincrático de jogabilidade do PS2, é fácil perceber que muitas das mancadas cometidas por jogos mais atuais vem sendo repetidas ao longo dos anos, como “glitches” gráficos, bugs e uma I.A. (inteligência artificial) beirando o patético. Bem, mas primeiro, vamos à ideia central do jogo.
Compre a sua liberdade
A história por trás de Colosseum não é ruim. Realmente. Você assume o controle de um escravo que, ao ser vendido para o dono de uma espécie de academia de gladiadores, descobre que poderá conseguir a tão sonhada liberdade. Isso, é claro, desde que possa pagar o seu próprio preço. Adivinhe agora de que forma ele poderá juntar o montante?
Embora abrir uma boutique de artigos feitos de metal pareça uma ideia viável, a única forma de juntar uma boa quantia em dinheiro aqui é se digladiando através de teatrais, sanguinárias e — infelizmente — repetitivas batalhas de gladiador versus gladiador, ou gladiador vs. besta-fera.
No total, você terá 50 dias para levantar o montante que deve ser pago a Magerius (o seu proprietário) pela sua soltura. Caso você não consiga, bem, espere por um final frustrante ao fim de cerca de 8 horas de jogo.
Sim, o começo é interessante, na medida em que a história de um escravo tentando comprar a própria liberdade tem um quê de lírico (embora não totalmente original). E, certamente, caso você atinja um dos finais “bons” do jogo, a coisa toda quase parece ter valido a pena. O problema é o interlúdio que aparece entre essas duas partes.
Basicamente, Colosseum vai jogá-lo em dezenas de batalhas quase idênticas. Embora cada uma traga estilos e regras distintas, como “o último homem em pé” ou mesmo caçadas contra bestas, a coisa tende a ficar muito, mas muito repetitiva mesmo à partir de um certo momento.
Além disso, cada vez que o seu malfadado protagonista chutar o balde durante um confronto, terá que pagar uma boa quantia para ser revivido. Isso quando não tem que deixar parte dos proventos no curandeiro local, a fim de se remendar para a próxima luta.
Juntando moedas para a liberdade
Todos os combates acontecem de forma bastante semelhante, isso em um total de apenas duas arenas. Magerius levará você e outros aspirantes a gladiadores até as arenas, onde então escolherá quem irá lutar. É claro, sem maiores surpresas, você será sempre o escolhido em detrimentos dos figurantes que o acompanham para todo o lugar.
Ao lado da entrada de cada arena, existe um guarda. Ao “conversar” com ele, será exibida uma lista dos desafios disponíveis, com detalhes como regras, tempo de duração, ranking necessário para a participação e o prêmio. A melhor ideia aqui é começar pelo início das listas, já que se você resolver partir logo para o desafio final, não poderá encarar os primeiros durante um mesmo dia — algo francamente sem lógica.
A fim de guardar as armas coletadas durante um embate, você ainda poderá contar com um baú, onde os itens serão agrupados e catalogados. A lado deste, é exibido um quadro, onde se pode organizar as habilidades adquiridas durante as batalhas — habilidades que vem na forma de placas de pedra.
Por fim, vença as batalhas, colete itens, e faça o possível para sair da arena minimamente conservado, a fim de não perder até as calças para um curandeiro oportunista que fica comodamente instalado também na frente da arena. Faça isso dezenas e mais dezenas de vezes, e eventualmente compre o seu passe para a liberdade.
Seus inimigos tombarão... vitimas da própria idiotice!
É chegada então a hora de entrar na arena. A primeira coisa que realmente chama a atenção é: embora o jogo traga um sistema de combate consideravelmente variado, realmente não é necessário ter muito método nos seus ataques. Isso porque o nível de inteligência dos seus adversários de fato beira o cômico.
Um exemplo: o jogo traz um ataque estilo “charge”, em que você deve segurar o botão “triângulo” por algum tempo, para então liberar um forte ataque ótimo para botar abaixo a defesa de inimigos acuados. Entretanto, é possível acabar com dezenas de inimigos utilizando apenas esse único golpe!
É realmente impressionante, mas não existe aqui nenhuma espécie de mecanismo “anti-apelação”, na medida em que os pobres infelizes continuam tomando a mesma seqüência lenta de golpes até que as suas barras de energia se esgotem. Para completar a comicidade da cena, os demais algozes ficam apenas andando atrás de você enquanto veem o comparsa apanhando copiosamente.
Entretanto, o ponto alto de morbidez da I.A. acontece mesmo quando se resolve utilizar as traiçoeiras estruturas que fazem parte do cenário nas arenas, como os enormes pilares dotados de espinhos.
Bem, em uma cena digna de um episódio de Tom & Jerry, você pode correr em volta da coluna, fazendo com que o seu infeliz inimigo se jogue alegremente contra as estruturas pontiagudas. Isso uma, duas, três... quantas vezes forem necessárias. Complementando o quadro, os seus algozes ainda repetirão milhares de vezes os mesmos trechos de falas, carimbando definitivamente os inimigos do jogo como autômatos descerebrados.
Apesar de tudo, um sistema de combate criativo
Não obstante o caráter cômico e autômato que trespassa boa parte de Colosseum, o jogo consegue algo criativo, embora não muito bem aproveitado. Trata-se do sistema de combate, e também da ampla variedade de itens que podem ser coletados durante ou após as batalhas — certamente o suficiente para escrever um tratado sobre armas brancas da antiguidade.
Os quatro botões da frente do controle do PS2 são utilizados aqui para designar as diferentes partes do corpo do gladiador. Esse sistema aparece tanto para pegar os itens do chão, quanto para gerenciá-los depois disso — como para trocar uma arma de mãos. Cada botão também traz um ataque exclusivo, que é disparado de forma diferente caso se esteja parado ou em movimento.
Por parte dos itens, espere encontrar coisas como espadas, lanças, correntes e armas de contusão, como massas e tacapes. Após a luta, você decide se mantém o seu novo arsenal coletado, ou vende para ficar algumas moedas mais próximo da liberdade.
O seu gladiador ainda pode apresentar estilos diferentes de combate, atacando com uma única arma, duas armas ou mesmo com as mãos nuas. Com base no estilo de luta escolhido, você vai evoluir e ganhar novas habilidades específicas.
Um Clássico controverso do PS2
Embora realmente não seja nenhum primor, Colosseum: Road to Freedom acabou ganhando através dos anos certo status “cult”; um status que ninguém sabe exatamente onde começou, já que muitos jogadores fazem graça com os erros presentes nas batalhas, e o título realmente nunca chegou a cair nas boas graças da mídia especializada.
De qualquer forma, a temática aqui é inegavelmente interessante, bem como a ideia central por traz da trama do jogo. O que, entretanto, acaba condenando Colosseum a uma matiz um tanto cinza dos jogos para PS2 é o fato de ele ser tremendamente... exaustivamente repetitivo, fato que ainda é complementado pela péssima inteligência das suas contrapartes nas arenas.
Isso acaba obscurecendo consideravelmente um bom, embora mal aproveitado, sistema de luta. Também o transcorrer da trama acaba não convencendo muito, sempre pulando de uma animação simplista para a outra — o que ainda sofre um bocado com uma ação de câmera bem ruim.
Mas, enfim. Trata-se de um clássico. Embora certamente existem jogos melhores relacionados a temática — como o decente Shadow of Rome, por exemplo —, não parece ser totalmente reprovável gastar algumas horas com Colosseum: Road to Freedom, a fim de experimentar um pouco da época em que a sexta geração de consoles ainda dava as cartas.
Ademais, ainda se pode recomendá-lo da mesma forma como se recomendaria um filme do iconoclasta diretor de cinema Ed Wood: como uma boa dose de humor involuntário.
Embora seja interessante rever um pouco do que construiu o estilo idiossincrático de jogabilidade do PS2, é fácil perceber que muitas das mancadas cometidas por jogos mais atuais vem sendo repetidas ao longo dos anos, como “glitches” gráficos, bugs e uma I.A. (inteligência artificial) beirando o patético. Bem, mas primeiro, vamos à ideia central do jogo.
Compre a sua liberdade
A história por trás de Colosseum não é ruim. Realmente. Você assume o controle de um escravo que, ao ser vendido para o dono de uma espécie de academia de gladiadores, descobre que poderá conseguir a tão sonhada liberdade. Isso, é claro, desde que possa pagar o seu próprio preço. Adivinhe agora de que forma ele poderá juntar o montante?
Embora abrir uma boutique de artigos feitos de metal pareça uma ideia viável, a única forma de juntar uma boa quantia em dinheiro aqui é se digladiando através de teatrais, sanguinárias e — infelizmente — repetitivas batalhas de gladiador versus gladiador, ou gladiador vs. besta-fera.
No total, você terá 50 dias para levantar o montante que deve ser pago a Magerius (o seu proprietário) pela sua soltura. Caso você não consiga, bem, espere por um final frustrante ao fim de cerca de 8 horas de jogo.
Sim, o começo é interessante, na medida em que a história de um escravo tentando comprar a própria liberdade tem um quê de lírico (embora não totalmente original). E, certamente, caso você atinja um dos finais “bons” do jogo, a coisa toda quase parece ter valido a pena. O problema é o interlúdio que aparece entre essas duas partes.
Basicamente, Colosseum vai jogá-lo em dezenas de batalhas quase idênticas. Embora cada uma traga estilos e regras distintas, como “o último homem em pé” ou mesmo caçadas contra bestas, a coisa tende a ficar muito, mas muito repetitiva mesmo à partir de um certo momento.
Além disso, cada vez que o seu malfadado protagonista chutar o balde durante um confronto, terá que pagar uma boa quantia para ser revivido. Isso quando não tem que deixar parte dos proventos no curandeiro local, a fim de se remendar para a próxima luta.
Juntando moedas para a liberdade
Todos os combates acontecem de forma bastante semelhante, isso em um total de apenas duas arenas. Magerius levará você e outros aspirantes a gladiadores até as arenas, onde então escolherá quem irá lutar. É claro, sem maiores surpresas, você será sempre o escolhido em detrimentos dos figurantes que o acompanham para todo o lugar.
Ao lado da entrada de cada arena, existe um guarda. Ao “conversar” com ele, será exibida uma lista dos desafios disponíveis, com detalhes como regras, tempo de duração, ranking necessário para a participação e o prêmio. A melhor ideia aqui é começar pelo início das listas, já que se você resolver partir logo para o desafio final, não poderá encarar os primeiros durante um mesmo dia — algo francamente sem lógica.
A fim de guardar as armas coletadas durante um embate, você ainda poderá contar com um baú, onde os itens serão agrupados e catalogados. A lado deste, é exibido um quadro, onde se pode organizar as habilidades adquiridas durante as batalhas — habilidades que vem na forma de placas de pedra.
Por fim, vença as batalhas, colete itens, e faça o possível para sair da arena minimamente conservado, a fim de não perder até as calças para um curandeiro oportunista que fica comodamente instalado também na frente da arena. Faça isso dezenas e mais dezenas de vezes, e eventualmente compre o seu passe para a liberdade.
Seus inimigos tombarão... vitimas da própria idiotice!
É chegada então a hora de entrar na arena. A primeira coisa que realmente chama a atenção é: embora o jogo traga um sistema de combate consideravelmente variado, realmente não é necessário ter muito método nos seus ataques. Isso porque o nível de inteligência dos seus adversários de fato beira o cômico.
Um exemplo: o jogo traz um ataque estilo “charge”, em que você deve segurar o botão “triângulo” por algum tempo, para então liberar um forte ataque ótimo para botar abaixo a defesa de inimigos acuados. Entretanto, é possível acabar com dezenas de inimigos utilizando apenas esse único golpe!
É realmente impressionante, mas não existe aqui nenhuma espécie de mecanismo “anti-apelação”, na medida em que os pobres infelizes continuam tomando a mesma seqüência lenta de golpes até que as suas barras de energia se esgotem. Para completar a comicidade da cena, os demais algozes ficam apenas andando atrás de você enquanto veem o comparsa apanhando copiosamente.
Entretanto, o ponto alto de morbidez da I.A. acontece mesmo quando se resolve utilizar as traiçoeiras estruturas que fazem parte do cenário nas arenas, como os enormes pilares dotados de espinhos.
Bem, em uma cena digna de um episódio de Tom & Jerry, você pode correr em volta da coluna, fazendo com que o seu infeliz inimigo se jogue alegremente contra as estruturas pontiagudas. Isso uma, duas, três... quantas vezes forem necessárias. Complementando o quadro, os seus algozes ainda repetirão milhares de vezes os mesmos trechos de falas, carimbando definitivamente os inimigos do jogo como autômatos descerebrados.
Apesar de tudo, um sistema de combate criativo
Não obstante o caráter cômico e autômato que trespassa boa parte de Colosseum, o jogo consegue algo criativo, embora não muito bem aproveitado. Trata-se do sistema de combate, e também da ampla variedade de itens que podem ser coletados durante ou após as batalhas — certamente o suficiente para escrever um tratado sobre armas brancas da antiguidade.
Os quatro botões da frente do controle do PS2 são utilizados aqui para designar as diferentes partes do corpo do gladiador. Esse sistema aparece tanto para pegar os itens do chão, quanto para gerenciá-los depois disso — como para trocar uma arma de mãos. Cada botão também traz um ataque exclusivo, que é disparado de forma diferente caso se esteja parado ou em movimento.
Por parte dos itens, espere encontrar coisas como espadas, lanças, correntes e armas de contusão, como massas e tacapes. Após a luta, você decide se mantém o seu novo arsenal coletado, ou vende para ficar algumas moedas mais próximo da liberdade.
O seu gladiador ainda pode apresentar estilos diferentes de combate, atacando com uma única arma, duas armas ou mesmo com as mãos nuas. Com base no estilo de luta escolhido, você vai evoluir e ganhar novas habilidades específicas.
Um Clássico controverso do PS2
Embora realmente não seja nenhum primor, Colosseum: Road to Freedom acabou ganhando através dos anos certo status “cult”; um status que ninguém sabe exatamente onde começou, já que muitos jogadores fazem graça com os erros presentes nas batalhas, e o título realmente nunca chegou a cair nas boas graças da mídia especializada.
De qualquer forma, a temática aqui é inegavelmente interessante, bem como a ideia central por traz da trama do jogo. O que, entretanto, acaba condenando Colosseum a uma matiz um tanto cinza dos jogos para PS2 é o fato de ele ser tremendamente... exaustivamente repetitivo, fato que ainda é complementado pela péssima inteligência das suas contrapartes nas arenas.
Isso acaba obscurecendo consideravelmente um bom, embora mal aproveitado, sistema de luta. Também o transcorrer da trama acaba não convencendo muito, sempre pulando de uma animação simplista para a outra — o que ainda sofre um bocado com uma ação de câmera bem ruim.
Mas, enfim. Trata-se de um clássico. Embora certamente existem jogos melhores relacionados a temática — como o decente Shadow of Rome, por exemplo —, não parece ser totalmente reprovável gastar algumas horas com Colosseum: Road to Freedom, a fim de experimentar um pouco da época em que a sexta geração de consoles ainda dava as cartas.
Ademais, ainda se pode recomendá-lo da mesma forma como se recomendaria um filme do iconoclasta diretor de cinema Ed Wood: como uma boa dose de humor involuntário.
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