Codei Vein é mais do que um Dark Souls de anime e surpreende bastante
A Bandai Namco decidiu em algum momento da geração aproveitar toda a proximidade com a série Dark Souls (que é publicada pela companhia) para se aventurar em um game similar, mas com sua própria identidade. Eis que Code Vein conheceu a luz do dia e, desde então, vem acumulando curiosidades de diferentes públicos-alvos.
Contudo, a jornada não foi fácil. O game passou por inúmeros problemas, ganhou feedback de público e imprensa em 2018, apresentou diversos empecilhos técnicos e, finalmente, foi adiado por mais de um ano para receber um polimento maior. Chegamos finalmente ao lançamento e Code Vein chegou às prateleiras, mas será que o título teve uma melhoria significativa? A Bandai conseguiu criar um jogo que honra o legado da franquia Souls? Confira a nossa análise!
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História surpreendentemente complexa e cativante
De tudo que eu esperava encontrar em Code Vein, uma ótima história era um dos últimos itens na lista. O marketing do game já havia dado o contexto, mas em um primeiro momento pensei que seria apenas um pano de fundo para apresentar o mundo e o combate inspirado em Dark Souls. Me enganei.
A trama traz um mundo pós-apocalíptico em que um grande desastre destruiu a civilização moderna. Como resultado, boa parte da parcela dos humanos se transformou em Aparições ou em Perdidos. As Aparições são uma espécie de vampiro, transformados por um parasita, que precisa de sangue para sobreviver: caso contrário, entra em frenesi e se transforma nos Perdidos, criaturas que perdem o lado humano e viram monstros imortais que vagam os ermos.
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A premissa é um pouco batida, mas tanto os detalhes do enredo quanto o ritmo de acontecimentos da história são muito bons. A cada nova área, detalhes inéditos do mundo e das facções são revelados e adicionam uma nova camada de profundidade à trama complexa, mas completamente digestível.
Por se aproximar de um lado mais “anime”, a narrativa é muito bem-apresentada em cutscenes bonitas e recheadas de diálogos. A parte legal é que Code Vein pode ser jogado tanto com dublagem em inglês quanto em japonês (e pode ficar tranquilo: tem legendas em português para você acompanhar tudo sem se perder).
Code Vein traz uma boa dose de personagens bem carismáticos e bem distintos entre si. Louis, Yakumo, Mia, Io: todos têm motivações diferentes e, principalmente, linhas narrativas únicas que contribuem para suas personalidades e dão a carga dramática para explicar como cada chegou onde chegou.
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Complementando toda a história cheia de reviravoltas e explicações que mudam a percepção do jogador, há memórias que podem ser coletadas para entender ainda mais o passado de cada companheiro. Na maior parte do tempo elas são opcionais, mas são cativantes suficiente para dar uma pausa no fervo das batalhas e no enredo intrigante para entender mais sobre os amigos que compartilham a campanha (que tem cerca de 40 horas de duração).
Combate leve e extremamente diverso
Nas primeiras horas de Code Vein, confesso ter ficado um pouco desapontado com o sistema de combate. Diferentemente de Dark Souls, Bloodborne e outros games dos quais bebe inspiração, o game da Bandai carece de uma cadência maior e peso em cada golpe. À grosso modo, pode parecer mais algo na linha de God Eater do que um jogo do estilo soulslike. No geral, é possível usar ataques leves, fortes, golpes únicos de cada arma (alguns são bem legais), parries (defesa de última hora) e golpes carregados para recuperar pontos de habilidade – e quase todos gastam uma barra de vigor, assim como nos demais títulos do gênero.
Por sorte, essa primeira impressão sumiu no decorrer da campanha. A grande sacada não está no combate corpo a corpo convencional, e sim nas “classes”, chamadas aqui de Códigos de Sangue (ou Code Veins, em inglês). Cada categoria determina os atributos do personagem, como força, destreza, inteligência etc.
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O interessante desse sistema é que abre um leque de possibilidades muito maior ao jogador. Diferente de um Dark Souls, em que moldamos o personagem para um determinado estilo e é preciso seguir isso até o fim, Code Vein oferece a troca de jogabilidade a qualquer instante e sem nenhuma penalidade.
Cada Código de Sangue varia o combate de forma significativa e há sempre novos para encontrar, atendendo o estilo de cada jogador. Além dos atributos, as classes também apresentam habilidades passivas e ativas únicas que realmente condecoram a qualidade única do título.
As magias e golpes especiais são o que realmente separam Code Vein de suas inspirações, criando uma jogabilidade única. Tank, ladino, combate à longa distância, mago: você quem escolhe. E, caso queira usar atributos de um Código de Sangue e habilidades de outro, sem problemas: você pode aprender magias e golpes especiais com o tempo (ou com recursos especiais) e usá-los em qualquer classe.
Para deixar tudo balanceado, é preciso usar um recurso para ativar habilidades, mas eles podem ser recuperados de diversas formas, como itens, ataques furtivos, contra-ataques e muito mais, obrigando o jogador a partir para o “mano a mano” mesmo quando joga em classes como mago ou algo do tipo. De uma forma ou de outra, será necessário lidar com as diversas camadas do combate.
Combinados com elementos já conhecidos, como parries e ataques comuns, as lutas de Code Vein são realmente fantásticas. Contudo, isso não quer dizer que está livre de problemas. De fato, a falta de peso deixa um pouco a desejar e às vezes parece que os golpes são pouco efetivos, já que poucos inimigos têm animações canceladas com ataques do jogador. Além disso, há alguns pequenos bugs e falta de indicadores que atrapalham os ataques especiais realizados por trás do oponente. Entretanto, o pior ponto negativo é, sem dúvidas, a dificuldade.
Um passeio no parque (na maior parte do tempo)
Há muitos elementos que Code Vein pega emprestado de suas inspirações, mas a dificuldade não parece ter sido uma delas. O game tem seus picos de dificuldade aqui e ali, como chefões e certas invasões de inimigos, mas no geral é um jogo desafiador em um nível comum, não aproveitando toda a alcunha de “Dark Souls de anime”.
O tempo todo um companheiro controlado pelo computador o auxilia na jornada e facilita as coisas. É possível jogar sem ele, mas você perderá parte dos diálogos e mais explicações sobre o mundo do título, o que também é algo ruim.
Além disso, é possível invocar jogadores para auxiliar nas partes mais difíceis sem custo algum (ou participar de uma sessão de um amigo ou jogador aleatório). Ao fazer isso, o NPC que o acompanha na jornada não é substituído e se torna um terceiro lutador na arena. Em outras palavras, o multiplayer realmente facilita a jogatina, já que parece não haver um balanceamento para três pessoas.
Code Vein tem picos de dificuldade, mas é um game tranquilo de progredir, principalmente com um jogador ajudando no multiplayer
A parte legal do componente online é que você pode ajudar ou ser ajudado em qualquer momento, incluindo participar de trechos que ainda não visitou, ou seja: você pode chamar um amigo novato para ajudá-lo ou atender ao chamado de alguém que está na sua frente na campanha.
Charmoso e estiloso como um bom anime
Sem dúvidas, Code Vein esbanja glamour. Se você gosta de um bom e velho estilo de anime, mas sem exageros, vai se encantar com o universo de Code Vein, começando pela customização de personagem. Há centenas (talvez milhares) de opções para mudar e criar um avatar com a cara que você queira, desde personagens únicos a cópias de outros ícones dos jogos, como Cloud, Sephiroth, 2B e muito mais. A personalização é muito legal e fica ainda melhor quando você pode alterar a aparência do avatar a qualquer momento.
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Certamente, os gráficos do game são bem estilizados e servem como sustentação para a história e estilo de anime que promove. Parte de os personagens serem marcantes com certeza parte de suas histórias pessoais, mas a caracterização gráfica é tão bem-feita que ajuda a sustentar todo o carisma.
Contudo, há alguns outros elementos que não receberam esse toque de mestre da Bandai. Os cenários são em grande maioria insossos (com exceção da Catedral do Sangue Sagrado, que lembra muito Anor Londo de Dark Souls), recebendo um tratamento bem genérico de um mundo pós-apocalíptico.
Infelizmente, não é só o mundo vazio que deixa um pouco a desejar. Assim como os gráficos, o level design pode ser um tanto simples e sofre da mesma falta de inspiração. Frequentemente os atalhos são mal pensados e há checkpoints (que aqui são ramos, iguais às fogueiras de Dark Souls) mal distribuídas. Os inimigos são melhores, mas acabam se repetindo por todo o mundo de maneiras pouco diversa, com exceção dos chefões.
Por fim, mas não menos importante, a performance é algo um tanto problemático. Nos momentos de pouca ação, a taxa de quadros se aproxima dos 60 fps, mas as quedas são constantes durante batalhas e explorações de locais amplos. O desempenho parece não cair abaixo dos 30 fps (pelo menos no PS4 Pro), mas certamente oscila muito mais do que deveria, dando a impressão de uma instabilidade constante. Felizmente, a perda de performance não é brusca e parece manter uma certa consistência.
Vale a pena?
Posso dizer que Code Vein é, no mínimo, surpreendente. Por ser um jogo inspirado em tantos outros que já alcançaram prestígio, era difícil que a produção de menor escopo atingisse um nível de qualidade à altura. E, considerando os atrasos e problemas de desenvolvimento, tudo ficava ainda mais incerto. Felizmente, o game conquistou seu próprio lugar ao sol com mecânicas e ideias bem diferentes de suas inspirações.
Code Vein está longe de ser perfeito, mas me divertiu tanto quanto um Dark Souls: não por repetir passo a passo da receita de bolo, mas por adicionar suas próprias pitadas de tempero ao produto. Há problemas, como level design fraco, dificuldade abaixo do esperado no gênero e outros empecilhos técnicos, mas a história extremante cativante, combate único e jogabilidade bem variada compensam o investimento. Sem dúvidas, um jogo que pode ser tornar um clássico cult da geração.
Code Vein foi gentilmente cedido pela Bandai Namco para a realização desta análise.
- História cheia de reviravoltas e muito intrigante
- Personagens muito carismáticos e com muitos detalhes para serem descobertos pelo jogador, servindo como uma ótima atividade secundária
- Estilo de anime extremamente bem-feito com gráficos muito lindos
- Sistema de criação de personagens muito detalhado e recheado de possibilidades
- Combate leve, muito variado e cheio de camadas de profundidade para explorar
- Campanha longa e muito divertida
- Multiplayer bacana e com ótimo funcionamento
- Dificuldade abaixo do esperado
- Level design, mundo e inimigos levemente insossos
- Problemas de performance
- Combate sem peso em muitos casos
Nota do Voxel