A forma correta de se homenagear um clássico
Quem viveu a época de ouro dos consoles 16 bits certamente deve se lembrar de EarthBound. Lançado em 1995 nos Estados Unidos, o game de RPG para Super Nintendo chegou trazendo uma pegada diferente da vista em muitos outros games, a começar por uma história que continha, além de uma boa dose de humor, alienígenas, pessoas possuídas e outros elementos que acabaram transformando o título em um clássico para o video game.
O tempo passou, mas o game continua firme e forte no coração e na memória de muitas pessoas. É verdade que a Big N, detentora dos direitos da série, não trabalhou em continuações para o jogo em anos mais recentes, mas isso não impediu que ideias vistas no título fossem aproveitadas em outras bandas - e Citizens of Earth é um desses exemplos.
Citizens of Earth traz algumas coisas que foram vistas em EarthBound, mas engana-se quem acha que o título não tem a sua pitada de originalidade: ele possui força para atrair a atenção tanto daqueles que investiram horas e mais horas no jogo lançado na década de 90 quanto daqueles que são fãs de um bom RPG.
O (quase) responsável pelo mundo
Em Citizens of Earth o jogador controla um personagem que ocupa o cargo de vice-presidente do mundo. Toda a história começa numa bela manhã após o protagonista levantar de sua cama e, para o seu desespero, ver que um grupo começou um protesto contra a sua posse como o quase responsável pela Terra.
Enquanto avança pela cidade ao lado da mãe e do irmão mais novo do protagonista (os primeiros aliados da jornada) derrotando qualquer um que resolva se mostrar forte o bastante para ficar no caminho, você acaba descobrindo que, como em qualquer outro RPG, os problemas são maiores. Muito maiores.
A primeira prova vem quando o grupo precisa investigar os depósitos de um estabelecimento conhecido como Moonbucks. Após alguns passeios para conseguir a chave que dá acesso ao local, há a revelação de que lá embaixo funciona um lugar que guarda diversos robôs e outras bizarrices. Não demora muito para que o vice-presidente do mundo perceba que isso é apenas o começo de uma jornada que vai desafiá-lo a enfrentar criaturas que ele sequer imaginava que existiam.
Recorrendo ao eleitorado
Já nos primeiros minutos você vai perceber que o mundo de Citizens of Earth é grande e bem detalhado. Os ambientes visitados pelo vice-presidente do mundo vão de florestas a cidades, e é ao passar por esses locais que ele entra em contato com a população - ou, caso queira, aqueles que realmente vão colocar a mão na massa nas batalhas.
Como em uma família, seus primeiros parceiros serão a mãe e o irmão do personagem, mas é possível recrutar mais pessoas após cumprir determinados desafios. As opções são bem variadas e incluem uma mulher do tempo, uma cientista, um chefe de escoteiros, um padeiro, um farmacêutico e até mesmo alguns tipos pouco comuns, como uma amante de gatos, um vendedor de carros e uma colecionadora de figurinhas.
Cada um deles possui movimentos e talentos específicos que são desbloqueados conforme encara batalhas e evolui. Os confrontos aqui seguem o clássico esquema de turnos, numa espécie de Final Fantasy encontra Pokémon: há todo o tradicionalismo dos confrontos desse tipo, com os personagens seguindo uma ordem lógica para atacar e a presença de forças e fraquezas que devem ser exploradas.
Mais que respeitar os turnos, é preciso ficar de olho em um outro detalhe: os movimentos utilizados. Abaixo do medidor de vida de cada personagem há esferas que são preenchidas conforme usa golpes mais fracos, e esvaziam ao recorrer a movimentos mais fortes (algo parecido com o que foi visto em Final Fantasy: The 4 Heroes of Light). Isso adiciona um pouco mais de estratégia aos combates, bem como o sistema de força de fraqueza de cada um dos aliados.
Por falar em combates, os inimigos que você vai enfrentar aqui não são nem um pouco normais. Da mesma forma que em EarthBound, há tipos pouco convencionais vagando pelo mundo de Citizens of Earth, como pilhas de feno possuídas, corredores alucinados, máquinas de café à beira de um curto circuito e outras criaturas que ajudam a tornar os combates do game um dos aspectos mais divertidos dele.
Buscando referências
Conforme mencionamos acima, Citizens of Earth possui diversas referências em seu pacote, seja a Earthbound ou a outros assuntos.
Já no início do jogo, antes de sair da primeira cidade, o vice-presidente acaba se encrencando e deve prestar esclarecimentos à polícia. Porém, isso acaba gerando uma sequência de batalhas contra policiais da mesma forma que a vista no jogo da Nintendo (antes de Ness deixar a cidade de Onett, caso precise de uma ajuda com a memória).
Também há um momento no qual o seu grupo precisa da ajuda de um monstro marinho para atravessar um rio (quem jogou EarthBound vai sacar a referência), e até mesmo uma menção clara a um garoto que está tocando o terror por aí com o seu taco de beisebol.
Fechando esse pacote também há outros exemplos, como o Moonbucks, uma rede especializada em bebidas que utiliza café em seus produtos - e, aqui, qualquer semelhança com o Starbucks é mera coincidência.
Onde o protesto vale a pena
Tudo bem, recrutar novas pessoas para o seu time é uma tarefa grata por conta dos vários desafios que você precisa cumprir (eles vão de vencer uma corrida de carros a pressionar rapidamente um botão para mandar copos de bebida goela abaixo), mas é exatamente aqui que encontramos um problema.
Na tentativa de diversificar os aliados, a produtora acabou incluindo dezenas de personagens que você pode adicionar ao grupo. Porém, é muito fácil definir quais são os seus favoritos depois de um tempo, fazendo com que muitos outros acabem sendo esquecidos na lista de reserva (ainda que seja necessário fazer um rodízio entre eles, uma vez que cada um concede um bônus de atributo diferente aos parceiros quando estes evoluem).
Para aqueles que curtem mapas e sistemas que ajudem na navegação, não há nada que possa auxiliar nesse sentido em Citizens of Earth. São poucas as marcações que você pode ver no mapa localizado no canto da tela, e o fato de ter que encontrar muitas coisas na base da sorte pode irritar alguns.
Outro ponto que vale ser mencionado é que o humor visto aqui muitas vezes é um pouco forçado. Durante as partidas para a realização desta análise, foram poucos os diálogos ou situações que realmente acabaram divertindo - o que é uma pena, tendo em vista o potencial que o game tinha para explorar.
Vale a pena?
Como você percebeu até aqui, Citizens of Earth apresenta alguns pontos positivos, como a presença de um elenco bem variado, combates divertidos e um conjunto capaz de agradar aos fãs de um bom RPG.
Claro, o game não está livre de alguns detalhes que poderiam ser melhores, como a possibilidade de carregar menos no humor para que determinadas situações não soassem tão forçadas e até mesmo a inclusão de menos personagens para compor o grupo, dando tempo de criar algum tipo de laço com todos eles.
De forma geral, Citizens of Earth cumpre bem a sua proposta de fugir um pouco da temática de RPGs medievais e futuristas para apostar em algo mais atual. Se levarmos em conta que o seu preço não é tão alto, veremos que esta é, realmente, uma boa aquisição para a sua biblioteca de jogos, especialmente se você é fã de EarthBound.
Categorias
- Vários mini games para recrutar cada um dos cidadãos que compõem o seu grupo
- Diversas referências a EarthBound estão espalhadas pelo game
- O sistema de batalha, com ideias de Pokémon e Final Fantasy: The 4 Heroes of Light, realmente é um dos pontos fortes deste título
- Ter muitos aliados para recrutar não permite criar laços com eles
- Algumas piadas muitas vezes soam forçadas demais
- A falta de um sistema de navegação mais decente pode assustar algumas pessoas
Nota do Voxel