Alma dos Soldados queima o seu cosmo e, por pouco, alcança o 7º sentido
Saint Seiya é, junto de alguns outros animes, um dos desenhos mais queridos e nostálgicos para o público brasileiro. O Dia das Crianças chegou antes para os amantes de Cavaleiros do Zodíaco com o lançamento de Alma dos Soldados, que saiu para PS3, PS4 e PC.
Após vários jogos de Dragon Ball, Naruto e One Piece, a Bandai finalmente deu atenção aos defensores de Athena. Bravos Soldados, o seu predecessor, deu uns tropeços e foi mais um fanservice do que um bom game de luta. Será que Alma dos Soldados conseguiu superar os problemas do seu antecessor? Confira a nossa análise completa.
O melhor jogo da série até hoje
Sem sombra de dúvidas, a Bandai escutou o feedback dos fãs para melhorar a jogabilidade do novo título da franquia. Bravos Soldados tinha sérios problemas de mecânicas, principalmente nas de desvios, quando o jogador apertava R1 para aparecer atrás do oponente, e nas de combos. Era simplesmente impossível completar uma sequência de golpes antes que o oponente desviasse.
Grande parte desses erros foi resolvido, e a desenvolvedora criou uma experiência muito mais sólida e dinâmica. O medidor de cosmo está balanceado, os teletransportes são bem mais escassos e punitivos, e os golpes Bing Bang, ou seja, os especiais mais poderosos, são limitados por uma nova barra de sétimo sentido, no maior estilo de Street Fighter IV, em que não podemos ficar metralhando as habilidades finais.
Há mais personagens, cenários e desafios para serem completados. Uma das grandes novidades é a adição das Armaduras Divinas dos 12 Cavaleiros de Ouro. Todos os 12 Cavaleiros do Santuário e os 5 de Bronze têm versões da armadura aprimoradas, retiradas do novo anime, Soul of Gold, e do final da saga de Hades.
Infelizmente, a Bandai decidiu substituir a história da nova temporada por um modo de batalha exclusivo do título, que cria novos diálogos em situações que nunca aconteceram nas telonas. Se você queria acompanhar a narrativa, jogar com os novos Guerreiros Deuses de Asgard ou batalhar com o Aiolia vestindo a armadura dourada de Odin, vai ficar só na vontade mesmo.
Novo modo "Batalha de Ouro"
O game ainda deixa a desejar em relação aos concorrentes
Por mais legal que seja passar um tempinho revivendo as melhores memórias dos anos 90, fica evidente depois uma longa jogatina que ainda se trata de uma versão repaginada de Bravos Soldados. Se o compararmos com os irmãos mais experientes, como a série Naruto Storm, fica bem claro que Alma dos Soldados é extremamente simplificado e pouco variado.
As lutas continuam sem muita estratégia e seguem o mesmo ritmo. Corra para cima do personagem, jogue ele no ar, continue o combo e termine com uma habilidade especial. Vale ressaltar que, apesar de ser a mesma fórmula do game anterior, ela melhorou bastante e finalmente se chegou perto de algo jogável e minimamente balanceado.
Não há itens, orbes espalhados no cenário para restaurar o medidor de cosmo ou personagens que o auxiliam durante a batalha. Contudo, os principais problemas começam a aparecer quando você decide enfrentar oponentes humanos. Ao batalhar contra amigos, tanto no modo versus local quanto no multiplayer online, o desbalanceamento fica claro.
Shaka, por exemplo, é um personagem quase impossível de se jogar, enquanto Shun é um dos mais apelões do game. A diferença é gritante em vários casos e acaba dispensando 85% dos personagens no modo online. Quer ganhar? Então você deve escolher um dos melhores guerreiros para ter alguma chance. Isso acaba estragando parte da diversão de jogar com aquele Cavaleiro predileto, mas que não é bom o bastante para competir no multiplayer. Afinal, qual é a vantagem de ter um elenco enorme, mas não poder brincar com grande parte dele?
Outro problema que incomodou bastante foram as falhas de tradução. Alguns poderes especiais estão com nomes errados, o personagem Shaka está com os golpes de Aiolia, e há frases estranhas, como “Grande Mestre Arles” – sim, com “L” mesmo. Além disso, os personagens se confundem de vez em quando nas falas e trocam os nomes.
Grande Mestre "Arles"? O Mestre Ares era o Saga de Gêmeos e o Áries era o antigo Grande Mestre Shion de Áries, mas esse aí é só um erro de tradução mesmo
Melhorando pouco a pouco
Apesar de ter alguns problemas, Alma dos Soldados certamente aprendeu uma coisa ou outra com os demais títulos do gênero. Câmeras dinâmicas e ângulos mais cinematográficos foram introduzidos, e alguns combos ficaram bem mais elaborados. Se você é fã de Cavaleiros do Zodíaco, terá muitos momentos divertidos ao zerar a campanha, que agora tem cutscenes em 3D, e liberar todos os personagens e cenários, que vêm bloqueados desde o começo.
Os novos modos de jogo são bem divertidos, principalmente o “Sobrevivência”, que o coloca contra diversos inimigos e não o deixa recuperar totalmente os pontos de vida para a próxima batalha. É possível ganhar muitas moedas aqui para desbloquear o conteúdo extra, como personagens, roupas, cenários e Frases de Ajuda, que são power ups temporários para um determinado tipo de luta. Resumidamente, são sistemas que prolongam a vida do game e incentivam o jogador a destrinchá-lo.
Outro grande aprimoramento foi a retirada dos personagens “clones”. Em Bravos Soldados, existiam diversos Cavaleiros idênticos, mas com armaduras diferentes. É o caso de Saga, Shura, Afrodite e outros guerreiros que ganharam Surprices – armaduras sombrias – na saga de Hades. Apesar de ainda ter alguns lutadores iguais, a Bandai enxugou parte desse conteúdo e o centralizou em um só lugar, onde é possível alterar a aparência e as habilidades antes de a luta começar.
Resgatando a nostalgia
Cavaleiros do Zodíaco: Alma dos Soldados é uma verdadeira homenagem aos fãs da série. O game é recheado de conteúdo, modos de batalha, modo história com todos os arcos do anime – com exceção do novo Soul of Gold –, e um elenco que não deixa a desejar em quase nada.
Por motivos que nem o Imperador Hades sabe explicar, alguns personagens importantes foram deixados de lado, como Thetis de Sereia. Se você tem esperanças que ela surja em algum DLC, é melhor não se animar, pois a mesma coisa ocorreu em Bravos Soldados.
É estranho que a Bandai Namco a tenha trocado por Cavaleiros pouco importantes para a saga, como Jabu de Unicórnio e Ichi de Hidra, que só lutaram uma vez no começo do anime. É uma pena, pois havia espaço para personagens muito mais interessantes, como Algol de Perseus, June de Camaleão, Dante de Cérbero com suas correntes e até mesmo alguns espectros, como Lune de Balrong, Myu de Papillon e Faraó de Esfinge.
Contudo, para compensar, todos os Guerreiros Deuses da Saga de Asgard estão presentes, desde o gigantesco Thor até o enigmático Siegfried, algo que foi muito requisitado pelos fãs do jogo anterior.
Os gráficos poderiam ser melhores, não?
Infelizmente, não é só no quesito jogabilidade que Alma dos Soldados parece uma repaginada da versão antiga de PS3. O novo título de luta do Cavaleiros do Zodíaco mantém quase o mesmo estilo estético da geração passada, mas com 60 frames por segundo e resolução em 1080p.
Certamente, os aprimoramentos gráficos são bem-vindos no PS4, mas passam longe de tornar o game um exemplo de nova geração. As animações do modo história são um pouco sem sal, o limpsync é um tanto desajeitado, e há diversos elementos visuais que poderiam ter um capricho maior.
As sombras, por exemplo, são completamente duras e serrilhadas. Praticamente não há um bom efeito de partículas que ressalte a potência dos golpes especiais. Não seria ótimo ver um lindíssimo “Ave Fênix” com faíscas, fumaça e outros pequenos detalhes rechearem a tela? E, se você também esperava que as armaduras quebrassem durante as lutas, vai se desapontar.
As sombras do game são "duras" e pixeladas
Apesar de apresentar gráficos muito simples para os padrões atuais, o frame rate da experiência é bem sólido na versão de PS4 e praticamente não há quedas de quadros, algo que deixa as batalhas mais fluidas e agradáveis. Infelizmente, não é dessa vez que a franquia tem a estética refeita para a nova geração.
Uma das melhores (e mais nostálgicas) dublagens em um jogo
Sem sombra de dúvidas, um grande destaque de Almas dos Soldados é a tão esperada versão em português. A direção de áudio é soberba e conta com a maioria dos dubladores originais da série. Apenas alguns poucos personagens, como Camus, Mu, Radamanthys e Shina, ficaram sem as vozes do anime.
Parte das mudanças é compreensível, pois alguns dos atores que emprestavam a voz aos Cavaleiros faleceram. Entretanto, os substitutos fazem um ótimo trabalho e se encaixam perfeitamente com os famosos Hermes e Gilberto Baroli, Ulisses e Wendel Bezerra e muitos outros.
Porém, nem tudo são flores. Vez ou outra, as falas são pausadas demais para sincronizar o tempo de fala, alguns golpes foram mal traduzidos, e falta empolgação em certos momentos. Felizmente, essas partes são raras, e a excelente e nostálgica dublagem compensa os contratempos.
Vale a pena?
Em termos de conteúdo, Cavaleiros do Zodíaco: Alma dos Soldados é uma verdadeira homenagem aos fãs da série. O game é recheado de novidades, mais modos de batalha, uma campanha com todos os arcos do anime, e um elenco que não decepciona em quase nada. Porém, é uma opção duvidosa para quem se interessou apenas por ser um jogo de luta. A nostalgia é forte, e há muita coisa para empolgar os otakus, mas as mecânicas simples e repetitivas deixam um pouco a desejar.
No final das contas, o título ainda precisa de muito arroz e feijão pela frente para alcançar um bom nível competitivo. Se você gosta do anime, os golpes especiais e a dublagem impecável tornam Alma dos Soldados uma compra certa. Sem dúvidas, a franquia ainda tem muito espaço para melhorar e pode ser uma importante franquia no futuro.
Categorias
- O melhor jogo da série até o momento
- Elenco de personagens muito grande
- Diversas mecânicas de jogo foram corrigidas
- Todos os arcos do anime, com exceção de Soul of Gold, estão presentes
- Dublagem em português extremamente bem-feita
- Na maioria das vezes, desbalanceado
- Faltaram alguns personagens importantes, como Thetis
- Pequenos problemas de tradução e dublagem
- Gráficos datados
- Sistema de combate ainda é raso
Nota do Voxel