Call of Cthulhu é Lovecraft em essência, mas peca em visual
Eu comecei a me interessar pelos contos do H. P. Lovecraft alguns meses antes de saber da existência de Call of Cthulhu: The Official Video Game, desenvolvido pela francesa Cyanide, que tinha sido anunciado em 2014, mas só recebeu seu primeiro trailer em 2016. As promessas eram bem altas e a distribuidora, Focus Home Interactive, estava depositando bastante confiança no título. Por ter conhecimento da obra original, fui designado a fazer a análise do game.
O que posso garantir de antemão é que essa foi a primeira vez que vi um conto do autor americano ser adaptado para outra mídia de forma bem feita, que realmente assustasse do jeito que ele gostava: mexendo e remoendo sua mente com o desconhecido. O grande problema é que a beleza fica para a narrativa, já que os gráficos decepcionam bastante. Depois desta breve introdução, hora de falar um pouco mais de Call of Cthulhu.
História lovecraftiana de primeira
É bem difícil adaptar adaptar a obra de Howard Phillip Lovecraft, já que seu estilo trabalha muito a imaginação do leitor em um jogo de terror psicológico você não sabe muito bem o que está lhe assustando, já que as descrições não são exatas. O game tenta e consegue passar essa ideia de duas formas diferentes: a narrativa intrigante e a ambientação tenebrosa.
Jogamos na pele de Edward Pierce, ex-soldado da Primeira Guerra Mundial que trabalha como detetive particular. O problema de Pierce, além de ser um viciado em remédios para dormir e um alcoólatra não assumido, é que ele não costuma aceitar muitos casos, até que um senhor chega ao seu escritório com um quadro assustador e pede para ele reabrir o caso da morte de sua filha, genro e neto, que a polícia da pequena ilha de Darkwater concluiu como um acidente doméstico, mas ele acredita que foi criminoso.
Darkwater é um lugar aterrorizante
O clima começa relativamente tranquilo, com uma investigação normal em um ilhéu deveras assustador que antes sobrevivia pela pesca de baleias, prática já abandonada na região, e vai caminhando para uma história sombria, sobrenatural e cheia de reviravoltas.
A narrativa é bem linear, mas isso ajuda a contar a trama de forma mais eficiente. Além disso, os personagens são, de certa forma, carismáticos, principalmente o protagonista, interpretado pelo ator britânico Anthony Howell.
Visuais aterrorizantes, no mal sentido
O que pode atrapalhar muito, tanto na conexão dos jogadores com os personagens quanto em um maior agrado por parte do grande público, é o visual. A primeira vez que vi, pensei estar jogando um game do começo da geração passada, mas depois percebi que era um leve exagero meu dizer isso.
Ainda assim, a única coisa que se salva é a ambientação, mas isso se você jogar mais distante. Além de texturas estranhas, com pouco cuidado, os personagens também são uma decepção, em contrapartida da boa dublagem; a animação deles durante conversas é assustadora de tão feia. Parece que a pele está sendo puxada para trás, principalmente a do protagonista Edward Pierce.
Isso não atrapalha a jogabilidade nem a experiência num geral, mas vai desagradar muita gente que se apega a um visual mais trabalhado.
Jogabilidade simples, mas eficiente
Se não é bonito, pelo menos é funcional. A jogabilidade é bem simples e, em sua maioria, gira em torno de investigação, diálogos (muitos diálogos, na verdade) e algumas poucas partes de stealth, no qual é necessário ser furtivo. Alguns pequenos puzzles e itens escondidos também estão presentes, mas nada que mereça um destaque. Em uma determinada parte, o jogo tenta puxar mais pra ação e falha miseravelmente, mas felizmente não dura muito tempo. Excluindo isso, tudo que o game se propõe a fazer consegue de forma bem satisfatória.
A única coisa que me incomodou um pouco foi durante as partes de stealth, em que a IA se mostrou basicamente idiota, não me vendo a 5 metros de distância na frente deles. Ainda assim, isso é compensado pela atenção a alguns barulhos que fazemos como quando corremos.
Habilidades que irão salvar sua sanidade
Os desenvolvedores fizeram questão de deixar claro que isso era um RPG e que o sistema de insanidade iria impactar na jogabilidade. Ficar louco é inevitável, e algumas das suas decisões mudam os traumas mentais que você irá enfrentar. É provável que Edward veja coisas que, durante minha aventura, não me deparei.
Sobre a árvore de skills, devo dizer que ela me impressionou, não por ser gigantesca, mas por ser diferente e funcional. São 5 habilidades que podem ser melhoradas através de pontos ganhos durante a aventura e duas, ocultismo e medicina, que só vão subir com itens, como livros e remédios, encontrados pelo cenário.
Essas habilidades liberam ou bloqueiam falas durante os diálogos ou te permitem pegar um caminho mais fácil para enfrentar menos inimigos e achar itens escondidos.
Vale a pena?
Nem tudo são flores, mas a aventura vale a pena. Se você é fã de games de investigação, terror e gosta ou tem interesse nas obras do imortal H. P. Lovecraft, é uma ótima pedida para respirar novos ares e testar uma história com características diferentes. A única coisa que eu recomendaria seria esperar uma promoção pois, mesmo o jogo sendo muito bom, pagar o preço cheio é um pouco demais.
Categorias
- História intrigante cheia de plot twists
- Variedade na jogabilidade
- Ambientação assustadora
- Árvore de habilidade funcional e diferente
- Gráficos muito fracos
- A parte de ação é muito fraca
Nota do Voxel