Hell's Highway traz muita violência em um jogo quase inovador.
Inovar em um jogo baseado na Segunda Guerra Mundial não é um trabalho muito simples. Isso se deve à imensa gama de títulos focados em tal período, os quais, gradualmente, se tornaram banais. Call of Duty e Medal of Honor são, com toda certeza, um dos melhores exemplos quando o assunto é a segunda grande guerra. Ambos cobriram os eventos com muita ação, fornecendo também muita diversão aos seus recrutas.
A posição de ambos no mundo dos videogames é equivalente à de um general nas tropas aliadas. Contudo, um título à altura chegava em 2005 para conflitar frente a frente com os demais soldados. Trata-se de Brothers in Arms, que debutou no PC, e logo obteve uma recepção tão boa quanto seus concorrentes, gerando então uma excelente franquia.
A guerra de Brothers in Arms também estourou nos consoles, incluindo versões para portáteis, como Brothers in Arms D-Day. A série conquistou uma legião de fãs, que, conseqüentemente, se viram ansiosos para uma nova versão nas plataformas de última geração. Para a alegria destes sedentos soldados, a Gearbox Software — juntamente com a distribuidora Ubisoft — desenvolveu um jogo que demonstra a guerra como ela realmente é: trágica, brutal e nem sempre com gloriosas vitórias.
Intitulado Brothers in Arms: Hell’s Highway, a mais nova entrada na série destaca-se pela sua extrema violência, algo que nunca foi retratado com tamanha fidelidade nos videogames. Além disso, o jogo também apresenta um novo sistema de cobertura, o qual cai como uma luva nos momentos intensos da guerra, e uma série de outros novos atributos. Mas será que Hell’s Highway é bom o suficiente para inovar em um contexto exaustivamente explorado?
A guerra como ela é
Em suma, Hell’s Highway coloca você, quase que literalmente, no próprio inferno. O percurso proposto para o jogador envolve os fracassos mais colossais dos Aliados. Ou seja, você está na pele de soldados que provavelmente não sairão com vida do conflito, e certamente terão de passar pelos piores momentos da guerra.
Até aí, tudo aparenta estar engatilhado para ser disparado como uma boa trama. O problema é que o jogo faz diversas citações diretas, através de CGs envolvendo personagens dos jogos anteriores, aos seus antecessores. É bem provável que, caso não esteja familiarizado com a franquia, o jogador fique perdido nos primeiros momentos do título, mas posteriormente as coisas tendem a melhorar. O protagonista focado em jogo, o introspectivo Sgt. Baker, também já é famoso pelos jogos anteriores de Brothers in Arms, nos quais manteve relacionamentos com soldados não tão sortudos como ele.
Marcas do passado
Às suas ordens!
Ao posicionar seus companheiros nos locais desejados eles também podem agir por livre arbítrio, atacando inimigos e se escondendo dos oponentes. Além disso, também é possível controlar diversas equipes ao mesmo tempo, cada uma com sua característica.
Existem esquadrões especializados em explosivos, assalto e supressão, e são responsáveis por realizar ações exclusivas utilizando granadas, bazucas e rifles para atacar os inimigos. Também é possível ordenar que seus companheiros o sigam — o que pode ocasionar alguns bugs — para reforçar suas invasões. Mas nem sempre seus companheiros se demonstram como soldados bem treinados.
Atitudes não muito inteligentes
Algumas vezes a inteligência artificial acaba não contribuindo com o jogador, o que ocasiona momentos frustrantes. Seus parceiros podem se tornar confusos — sem nenhuma razão aparente — e freqüêntemente não cumprem seus comandos. Além disso, a simples tarefa de disparar contra um inimigo pode se tornar extremamente difícil graças à inteligência artificial, que faz com que seus soldados disparem de maneira contínua contra paredes indestrutíveis.
O mesmo acontece com os inimigos, que realizam ações absurdas e totalmente inesperadas. Frequentemente você irá presenciar soldados alemães que simplesmente advinham onde Baker está e também alguns que parecem estar com a cabeça em outro mundo — talvez sejam as saudades de casa? Há também momentos extremamente difíceis em que os soldados se tornam exímios combatentes e não colaboram nem um pouco para a diversão.
Contudo, seus companheiros merecem respeito e preservá-los pode facilitar sua vida. Caso algum deles morra em campo, o jogador terá de cumprir o objetivo sozinho até o próximo checkpoint, quando todos são revividos. É interessante interagir com outros personagens em um jogo de FPS, mas a experiência nem sempre traz bons resultados e acaba, novamente, deixando-nos pela própria conta.
Sem saída
Não se espante caso note que está sozinho contra dezenas de soldados alemães. Isso pode acontecer, e exigirá muito das habilidades do jogador. Felizmente, em combate contra os inimigos, você conta com um sistema de cobertura similar a Gears of War, mas nem tão eficiente como o título da Epic Games. Basta acionar o comando e o soldado automaticamente toma cobertura atrás de um objeto. Mas cuidado, pois alguns dos obstáculos, como cercas e barris, são destrutíveis e deixarão o jogador completamente exposto.
Felizmente, você também pode se aproveitar de algumas das maravilhas da física do game. Os inimigos também utilizam os meios de cobertura destrutíveis com freqüência, dando uma bela chance ao jogador. Ao destroçar os objetos utilizados como cobertura pelos inimigos, os soldados irão tentar escapar rapidamente, correndo pelo campo aberto e clamando por alguns tiros.
Mas o sistema de cobertura se torna um disparo pela culatra quando o jogador resolve simplesmente atacar enquanto se esconde. Os comandos utilizados para se mover e mirar estão mapeados no mesmo direcional e causam muita confusão ao jogador. Movimentar-se ou atirar pode ser um problema, pois as ações desejadas não respondem com devida precisão, ocasionando um combate contra controles e não contra soldados.
Como se não bastasse, Brothers in Arms: Hell’s Highway também fornece ao jogador a possibilidade de saltar sobre alguns obstáculos. Isso pode ser realmente útil em uma fuga, por exemplo, mas normalmente só atrapalha e faz com que o Baker salte em direção à morte. O mesmo ocorre quando o jogador dá ordens aos seus companheiros, que simplesmente pulam os obstáculos e ficam cara-a-cara com o inimigo ou acabam tomando cobertura em locais abertos e sem nexo.
Os horrores da guerra
Fora estes momentos, o jogo também coloca você em situações nas quais não é possível contar com seus companheiros, fazendo com que o jogador seja obrigado a abusar de todos os recursos disponíveis. Há seções — que são forçadas em relação à realidade, mas não deixam de ser bem elaboradas — em que Baker tem de percorrer sozinho pelos campos inimigos, realizando a supressão e finalizando os nazistas por conta própria. Hell’s Highway também consegue atrair a atenção do jogador com alguns momentos de tirar o fôlego — e também os membros dos inimigos.
Ao acertar um tiro na cabeça de um soldado oponente ou explodir esquadrões utilizando granadas, a câmera automaticamente se foca na vítima, e é possível ver o estrago causado pelo jogador. Braços, pernas e cabeças são brutalmente eliminados dos corpos e podem ser encontrados espalhados pelo campo de batalha. Nada como uma dose extra de violência gratuita. Um disparo certeiro na cabeça do oponente rende alguns momentos únicos no game, algo que contribui significativamente na diversão do jogo.
Feridas de um combate
O que não impressiona é um dos quesitos mais enfatizados nos jogos da atualidade, os gráficos. Algumas texturas são realmente pobres e demoram a serem carregadas. Até mesmo os personagens deixam de contar com belas modelagens e um cuidado especial, denegrindo significativamente a experiência em jogo. Nem mesmo as expressões faciais foram enfatizadas, tirando um pouco da emoção proposta pelo título.
Existem alguns detalhes que se destacam por sua beleza, como a fumaça saindo das armas e efeitos de partícula — sem contar, é claro, com a visão cinematográfica dos momentos “headshot”. Contudo, isto é ofuscado por diversos outros elementos, como a representação do fogo e a adição de filtros esquisitos que acabam poluindo ainda mais a imagem. Nas CGs, o brotamento de texturas é freqüente, assim como a queda significativa na taxa de quadros por segundo.
Alguns bugs também são realmente chatos, e conseguem fazer com que o jogador se irrite. Atravessar corpos é só um dos exemplos dos diversos problemas que ocorrem em Hell’s Highway — e talvez um dos mais amenos. Outro bug que merece ser citado, presenciado pela equipe do Baixaki Jogos em um dos capítulos do jogo, foi realmente frustrante.
Em um dos momentos, estávamos correndo pelo campo à procura do último soldado inimigo. Inexplicavelmente, nosso personagem era atingido e só podíamos ouvir disparos inimigos seguidos por nossa tela se tornando vermelha, indicando que sofremos dano. Após perambular o local, visualizamos uma torre, local em que um franco-atirador estava posicionado. Até aí, tudo bem, mancada nossa. Mas o que nos espantou é que seu rifle apontava para uma direção completamente diferente de onde nos encontrávamos e, mesmo assim, éramos atingidos pelos seus disparos curvilíneos. Isso também ocorreu em nossas tropas, quando companheiros miravam sua bazuca para o norte e seus projeteis iam a direção do noroeste. Interessante, não?
Na guerra não existem vitoriosos
Um recurso que, supostamente, seria um dos pontos fortes do game não colaborou com a guerra. A modalidade para multiplayer é simples, decepcionante e não cumpre seu papel. O único modo disponível nesta opção tem como objetivo adquirir bandeiras em dois locais de cada mapa ou eliminar o esquadrão inimigo. E o pior: a qualidade visual parece ter sido diminuída para comportar o máximo de 20 jogadores na modalidade.
Se tudo que deseja é violência com um plano de fundo excelente, Brothers in Arms Hell’s Highway pode ser uma boa escolha. Contudo, seus diversos bugs e a terrível qualidade gráfica podem denegrir, e muito, a proposta do jogo. Alguns dos problemas que já apareciam nos títulos anteriores, como o controle tático dos esquadrões, surgem novamente e a inteligência artificial volta a ser questionada. O contraste entre o sistema de cobertura ruim e a bela física dos objetos se destroçando define Hell’s Highway como um jogo bom, mas longe de ser inovador.
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Nota do Voxel