Em tempos de games sem sal, Bioshock Collection é um tempero nostálgico
A franquia Bioshock conseguiu algo que poucas conquistaram no universo dos jogos: ter diversas obras marcantes e consideradas algumas das melhores da história. Quando o rumor de uma coletânea remaster surgiu na internet, foi até difícil ser contra uma combinação de games tão incríveis para a nova geração. Quando Bioshock: The Collection foi anunciado, a empolgação voltou.
Em um oceano de remasterizações feitas de qualquer jeito, temos uma boa notícia: Bioshock Collection é um porto seguro que traz um excelente conteúdo com um ótimo desempenho aos novos consoles. Essa é uma ótima chance de revisitar os dois primeiros títulos da série em uma qualidade superior à versão de PC em combinação com Bioshock Infinite, e uma oportunidade ainda maior para quem nunca experimentou a franquia. Porém, não é o port perfeito. Confira a análise completa.
Nostalgia com ar de nova geração
Se você tentou jogar o Bioshock original recentemente, mesmo que seja no PC com as configurações gráficas máximas, é perceptível que se trata de uma experiência datada. Por ora, vamos nos abster da narrativa e impacto para época e focar na jogatina nos dias atuais: é um jogo que envelheceu relativamente mal.
OS gráficos foram revitalizados para trazer um suspiro à nova geração
Para quem acompanhou a obra em 2007, certamente ainda vale jogar novamente, mas há incômodos que não passam batido. Dessa forma, um remaster foi muito bem-vindo. Só para dar uma ideia vaga das mudanças: o game original pesa 3,7 GB, enquanto o remaster pula para 21 GB. São muitos bytes com novas texturas e efeitos para repaginar Rapture.
Bioshock 2 também entra nessa onda, mas vemos diferenças menores aqui, pois é algo mais moderno e com mais recursos que o primeiro título da série. Em contrapartida, Bioshock Infinite é o que menos notamos alterações, mas há um motivo: trata-se apenas do port da versão de PC, sem nenhuma mudança.
O que mais importa nesta coletânea é suprido majestosamente: ter a sensação de jogar alguns dos games mais incríveis da história, mas sem a sensação de ser algo datado (ou, pelo menos, ter essa sensação atenuada). O ponto crucial é que, diferente da maioria das remasterizações, não é apenas um port de resolução maior e 60 fps – algo que nem sempre ocorre. De fato, houve um empenho grande em melhorar a experiência para os veteranos e novatos da série, revitalizando o combo e trazendo um novo suspiro à atual geração.
As texturas receberam um bom upgrade e contam com uma alta resolução
Compre um, leve três
Um grande ponto positivo de Bioshock: The Collection é, justamente, ser uma coleção, e não um remaster único. Vamos pegar os ports de Resident Evil 4, 5 e 6, por exemplo. Todos foram lançados individualmente por um preço que, aqui no Brasil, está muito acima da média. Contando que são apenas ports com baixo desempenho em alguns momentos, fica evidente a qualidade do combo dos games de Rapture.
O título conta com os três jogos da franquia e todas as DLCs já lançadas, incluindo alguns bônus de equipamentos in-game. Em suma, trata-se de uma coletânea extremamente completa, com tudo já oferecido até hoje pela série. Para adicionar ainda mais, há bônus com vídeos de comentários dos produtores e um modo "Museu", no qual você pode olhar as artes conceituais das obras.
Há três games no combo de Bioshock: The Collection
Bioshock Collection conta com o preço padrão de um produto AAA para os donos de console, mas há uma boa surpresa para quem gosta mais de jogar com teclado e mouse no PC: caso você já tenha o Bioshock 1 e Bioshock 2, o “upgrade” para a versão remasterizado é gratuito (comprar a coleção em uma antiga promoção da Steam nunca foi tão bom, hein?).
Um combo de algumas das melhores narrativas já vistas
O grande chefe por trás da franquia Bioshock (com exceção do segundo título) é Ken Levine, famoso por criar roteiros incríveis e ter muitas ideias incríveis em atmosfera e forma de contar histórias. Deixando o lado “remasterização” de escanteio por um momento, vamos falar sobre as obras agregadas nesta coleção.
Se analisarmos os próprios jogos, há muitos elementos geniais que os tornam umas das mais bem avaliadas obras da história. A narrativa de Bioshock é incrível, os poderes especiais de Plasmid e Vigors são muito divertidos, há muitos elementos imersivos e uma atmosfera extremamente bem construída.
Bioshock tem uma das melhores narrativas de todos os tempos
Jogar e terminar qualquer um deles é algo único e sem comparações. É como terminar um livro muito marcante que jamais sairá da sua cabeça. Se você nunca zerou um Bioshock, pode ter certeza: você terá um apreço enorme no fim de cada aventura, com plot twists que vão explodir a sua cabeça. Os dois primeiros se passam em Rapture, a cidade submarina no meio do Oceano Atlântico construída para ser uma utopia idealizada por Andrew Ryan.
A narrativa de todos os Bioshock são inesquecíveis, com diversos elementos marcantes e originais: Little Sisters, Big Daddys, sistema de moral, viajar pelo fundo do mar, explorar os céus de Columbia e muito mais. Bioshock Infinite é o que apresenta a narrativa mais madura e bem conduzida, com mais cutscenes e direcionamento de história. Entretanto, nem de roteiro vive um jogo.
Se você tem problemas em se adaptar a jogabilidades mais antigas, talvez Bioshock Collection não seja a sua experiência ideal – com exceção de Bioshock Infinite, que é um pouco mais “moderno”. Apesar de se manter bem nos padrões atuais, as mecânicas de vida não-regenerativa, mira um pouco travada, progressão relativamente lenta e muitos outros elementos podem ser um aspecto negativo.
Há muitos elementos marcantes na atmosfera de Bioshock
Performance e tratamento de imagem acima da média
Vamos ao que interessa: Bioshock Collection realmente aprimora o visual do game? A modernização realmente é bem-feita? Primeiros, vamos dar uma definição geral: certamente, não há a sensação de jogar algo lançado em 2016, ou seja, não parece algo feito para a geração atual, mas também passa muito longe de uma jogatina de 2007.
De certa forma, é como se o trabalho da desenvolvedora fosse diminuindo a cada jogo. Bioshock 1 é o mais afetado pelas mudanças, Bioshock 2 ganha um leve retrabalho e, por fim, Infinite é apenas um port de PC com uma resolução boa e qualidade gráfica no alto.
A parte mais impressionante é o retrabalho na obra original. Todas as texturas foram desenvolvidas novamente do zero, a iluminação foi revista e até mesmo modelos 3D foram refeitos. Outra parte interessante é que as animações com Física foram reformuladas: antes, elas rodavam a 15/20 fps, mas agora são executadas em 60 fps. Há efeitos de tecido em bandeiras, a vegetação se movimenta e há muitos outros elementos tradados para trazer uma jogatina melhor.
Os gráficos, mesmo datados de anos atrás, ainda caem como uma luva na nova geração
Todos os jogos rodam a 60 quadros por segundo, mas isso nem sempre é constante. Os dois primeiros títulos conseguem manter a performance fixa quase em tempo integral, pois apenas em Bioshock 2 que notei uma queda leve na performance quando muitos inimigos e explosões apareciam na tela. Já em Infinite, a variação é de 45 a 60 fps dependendo do momento.
Dava para ser melhor? Sim
Em suma, Bioshock Collection traz uma remasterização de qualidade e muito melhor do que diversas outras existentes no mercado: três jogos excelentes com muito empenho de os deixarem ainda refinados. Certamente, é algo fora da curva e digno de ser admirado. Contudo, apesar de ter muitos pontos positivos, nem tudo é perfeito aqui.
Vamos começar pelos problemas que não são técnicos: por algum motivo bizarro (limitação de arquitetura ou algum outro obstáculo), a coleção não é aglomerada em um único “app” nos consoles. Há dois ícones que dividem Bioshock 1 e 2 de Bioshock Infinite, e trocar entre eles não é fácil: apenas abrindo e fechando o utilitário pelo sistema do video game. Além disso, os controles podem ser meio estranho para algumas pessoas (como mirar com “iron sights” no R3) e não há como alterá-los de forma alguma.
Nem tudo é perfeito e há problemas de desempenho
Ainda nos consoles, percebemos que o último jogo da trilogia é o que mais sofre para manter o padrão de qualidade. A taxa de frames cai em muitas vezes, as texturas nem sempre são iguais às configurações máxima do PC, como filtro de texturas de alta qualidade e sombras em DirectX 11, e há bugs que se repetem mais uma vez aqui. Em outras palavras, a atenção dada a ele não foi a mesma, apesar de ser um port de alta qualidade.
Para os jogadores de computador, há más notícias. As versões remasterizadas não contam com um menu completo para alterar os visuais do game. Em outras palavras, a predefinição gráfica é única, sem a possibilidade de diminuí-la para aumentar o desempenho. Além disso, resolução Ultrawide não é suportada (apenas Infinite tem esse bônus).
Vale ressaltar também que todos os títulos rodam na mesma engine original, apesar do retrabalho gráfico. O que isso significa? Muitos problemas visuais e técnicos vieram juntos, como a demora de carregar texturas, por exemplo. Esses obstáculos são raros, mas vale mencionar que eles existem. Outro problema que é frequente de remasterizações aparece de novo aqui: todas as legendas e textos são em inglês. Por mais estranho que pareça, os troféus de Infinite são em português. Não é um ponto negativo digno de descontar nota, mas fica evidente que nem tudo foi modernizado para os dias atuais.
Em áreas mais abertas de Bioshock Infinite, a taxa de frames costuma cair mais vezes
Vale a pena?
Sem sombra de dúvidas, Bioshock: The Collection é uma remasterização muito melhor que 90% das que vemos por aí, como as de Resident Evil (as modernas do 4, 5 e 6, não a do Remake ou do Zero), Darksiders e outros títulos. O pacote conta com três games inteiros, todas as DLCs, retrabalho gráfico, resolução de 1080p e, na maior parte do tempo, 60 frames por segundo.
Só de pensar nessa combinação, já é possível justificar o preço, algo que muitos remasters já não conseguem mais. Entretanto, vale lembrar que são jogos mais antigos e que talvez não agradem a gregos e troianos por contas de mecânicas que, de certa forma, são relativamente datadas dependendo dos olhos de quem joga.
Porém, por contar um pacote com games tão incríveis, é difícil não recomendar Bioshock: The Collection. De uma forma resumida, o retrabalho é tão bom que moderniza as três obras o suficiente para a agradar à nova geração e para atrair os veteranos da franquia a terminarem tudo de novo. Sem sombra de dúvida, uma excelente aquisição para qualquer um. O título está disponível para Xbox One e PlayStation 4 por R$ 249 e na Steam por R$ 119.
Categorias
- Gráficos remasterizados em altíssima qualidade
- Coletânea com três jogos completos e todos os seus DLCs
- Conteúdo adicional, como entrevistas e vídeos dos desenvolvedores
- Todos os games rodam em 1080p e até 60 fps
- Um combo com um dos melhores jogos da sétima geração
- Uma ótima porta de entrada para novatos e um grande incentivo para o retorno dos veteranos
- Apesar de ter um bom trabalho de remaster, nem todos os jogos têm a mesma atenção
- Bioshock Infinite tem algumas quedas de frame
- Bugs antigos (da época de lançamento) ainda persistem
- Controles e mecânicas levemente datados
- Totalmente em inglês
Nota do Voxel