Prefiro a Feira da Fruta: segundo episódio de Batman é bom, mas não empolga
A Telltale sempre foi uma desenvolvedora querida para mim. Jogos como The Walking Dead foram um verdadeiro marco para a narrativa interativa. Se há alguém que sabe como explodir cabeças com plot twists absurdos, com certeza é a Telltale. Batman era uma ideia promissora e começou relativamente bem no capítulo um, apesar dos eventuais tropeços e uma história mais morna.
Confiando no trabalho da produtora, logo pensei: mesmo com um começo um pouco fraco, certamente foi só um preparo de terreno e, em breve, o game deve melhorar bastante. Infelizmente, não é bem o que acontece nessa sequência, pois o que era para ficar melhor, entra em certo declínio de empolgação da trama. Confira a análise completa.
Batman Telltale Episódio 2 não se sai tão bem quanto o primeiro
História promissora? Ainda estamos na espera
O primeiro capítulo apresentou alguns pontos que seriam abordados na trama principal e, apesar de não definir bem qual será o foco do game, tivemos um leque relativamente bom para explorar e imaginar. A relação com a Mulher Gato, a amizade com Gordon, o passado da família Wayne, a guerra à máfia e até mesmo a candidatura de Harvey Dent: todos foram interessantes . Contudo, Children of Arkham, o episódio dois, pouco utiliza o que já foi apresentado.
Tenha isso claro: focar em uma parte da narrativa está longe de ser algo ruim. Porém, o segundo capítulo parece patinar por muito tempo no mesmo lugar e não passa uma grande sensação de progressão. Por conta disso, parece que se os primeiros episódios fossem mais bem trabalhados, poderiam ser uma coisa só, bem mais completa e aprofundada.
Com exceção de algumas cenas marcantes, pouco das duas horas de campanha acrescentam à narrativa em geral. A parte legal é que algumas referências (ou pistas, depende do desenrolar da história) aparecem aqui, como a policial Renee Montoya, que é a Questão no universo DC. Todavia, mesmo com um vilão icônico aparecendo (Pinguim), a segunda parte do game ainda não definiu bem qual será o rumo traçado. Mais uma vez, ficamos na promessa de ver o circo pegar fogo e a narrativa se desenrolar de vez.
Renee Montoya é uma das personagens que aparecem na trama
Cadê a exploração?
Sem sombra de dúvidas, o ponto negativo que mais me incomodou é a mudança do foco da jogabilidade. A Telltale explora o gênero point and click de aventuras, mas está longe de ser um mero filme interativo. Walking Dead oferecia um acampamento para explorar, cômodos para descobrir, diversas conversas opcionais para imergir o jogador no universo do game e muitos personagens para interagir e aprofundar a relação com o protagonista. The Wolf Among Us foi ainda mais além e trouxe uma quantidade enorme de personagens da HQ "Fábulas" ao game, tudo muito bem-feito.
Esqueça tudo isso. Batman traz algumas pequenas cenas nas quais é possível andar e – pasmem – interagir apenas com dois ou no máximo três elementos do cenário, todos obrigatórios para seguir a narrativa. É com pesar que tenho que criticar o trabalho da Telltale que, dessa vez, é preguiçoso. Interação apenas por interação é algo que não acrescenta à jogatina. Tanto faz se o herói faz isso em uma cutscene ou se o jogador deve mirar e apertar um botão para olhar algo, é a mesma coisa. Em outras palavras: se está li sem propósito, é melhor nem colocar.
As "interações" sempre são bobas: selecione o que está na esquerda e depois o que está na direita, sem escolhas
A grande sacada da fórmula consagrada da desenvolvedora era dar um pequeno playground de exploração para encontrar os elementos-chaves para progredir a narrativa e também acrescentar algo à experiência. Em contrapartida, Batman parece seguir o caminho oposto, optando pelas escolhas mais enjoativas e batidas da indústria.
Basicamente, temos que selecionar uma das opções de diálogo, colocar a mira em elementos óbvios para investigar e apertar os botões das QTEs na hora certa. Isso se parece muito mais com o que Beyond: Two Souls, mas sem a profundidade e densidade narrativa do título da Quantic Dream. Em outras palavras: o game é muito mais semelhante a uma animação da DC Comics, mas com eventuais interações.
As sequências de ação são boas, mas não são suficientes para compensar os outros aspectos do jogo
Eu sou o Batman?
Por mais chato que seja comparar de forma maçante com o primeiro capítulo, é algo necessário para demonstrar a regressão da qualidade. O episódio um trouxe várias faces do mesmo herói: Bruce Wayne, o Batman Detetive e o Batman da Ação, que parte para porradaria. Não houve um grande aprofundamento em cada um deles por conta da duração do capítulo, mas certamente tivemos um bom tira-gosto do que esperar das habilidades, personalidade e problemas de cada um deles, mesmo que se trate da mesma pessoa.
Essa é a parte mais cativante do Batman: por ser um herói muito mais humano, os problemas pessoais do personagem são, frequentemente, os piores inimigos dele. Porém, Filhos de Arkham falha em explorar todos simultaneamente de maneira satisfatória e também em se aprofundar na persona de cada um deles.
Poucas faces do Batman são exploradas aqui
Há pouquíssimas partes de investigação e, quando tem, são mal elaboradas e bem óbvias, longe de serem tratadas como puzzle; o combate é muito bem coreografado e lindo de se ver, mas em vários momentos depende de decisões bem óbvias nas quais as soluções estão, literalmente, do lado do problema. Isso é aceitável em um tutorial, mas não no segundo capítulo.
Por fim, Bruce Wayne é a face que recebe mais atenção por conta do cliffhanger do episódio anterior, mas, infelizmente, tem poucas vertentes de roteiro exploradas. No geral, há dois ramos da narrativa que são mais focados – não mencionarei para evitar spoilers –, mas ambos sofrem do mesmo problema: patinam demais e não apresentam a evolução que queremos ver. Por conta disso, teremos um capítulo três começando de forma bem menos empolgante, porque não há nada impactante que sirva para criar um capítulo três (que já é a metade da história) que nos cause ansiedade.
As escolhas não são muito impactantes
Desempenho continua sofrível
Um dos pontos negativos realçados no primeiro episódio foi o desempenho técnico da experiência, que apresenta resolução abaixo do esperado e frames por segundo sofrendo quedas frequentes. É muito certo afirmar que o problema persiste e ainda atrapalha bastante, principalmente em algumas seções.
Felizmente, as situações mais críticas acontecem com uma frequência bem menor e as eventuais diminuição dos quadros por segundo não são tão impactantes quanto antes. Contudo, mesmo assim o problema persiste e demonstra que a Telltale não deu atenção devida à parte gráfica.
O desempenho sofre em alguns momentos
Vale a pena?
Por se tratar de um jogo episódio, a pergunta acima é difícil de responder de uma maneira simples. Certamente, o nível de qualidade de narrativa ainda é acima de muitos jogos do mercado e é um prato cheio de referências e elementos do universo DC, ideal para quem gosta de quadrinhos.
Todavia, é inegável que, se você é fã dos títulos da Telltale, certamente notará a falta de capricho, variedade e características marcantes que a fórmula sempre teve em altíssima qualidade. Batman: Filhos de Arkham não empolga no segundo capítulo, mesmo com vilões icônicos como o Pinguim e alguns plot twists interessantes.
O grande problema aqui não é a qualidade final do capítulo dois, que ainda é aceitável, apesar de ser morno. A grande decepção para mim, que sou muito fã da desenvolvedora e sempre espero algo que me afete da mesma forma que Walking Dead fez em 2012, é não ter mais a ansiedade de esperar pelo próximo episódio, assim com as melhores séries e filmes do mercado me deixam roendo as unhas para ver os próximos acontecimentos. Se você espera uma experiência semelhante, cheia de reviravoltas e uma história memorável e comparável aos melhores momentos das HQs, infelizmente vai se decepcionar.
Categorias
- A trama traz novos vilões à mesa
- Diversas referências do universo DC
- Alguns pontos da narrativa são interessantes
- Bom ritmo de jogo
- Game ainda sofre com problemas técnicos
- A história patina no mesmo tema e não se aprofunda em nada
- As partes de exploração estão ainda mais escassas
- Na maioria das vezes, as interações não acrescentam nada à jogatina
Nota do Voxel