Imagem de Batman: The Telltale Series - Episode 1: Realm of Shadows
Imagem de Batman: The Telltale Series - Episode 1: Realm of Shadows

Batman: The Telltale Series - Episode 1: Realm of Shadows

Nota do Voxel
78

Batman Telltale escorrega e tem falhas, mas parece ser promissor

A Telltale já está no mercado há um bom tempo e traz narrativas interativas de altíssima qualidade desde The Walking Dead, icônico jogo que teve a honra de receber o título de Game of the Year em 2012, deixando muitos concorrentes de peso comendo poeira. Com um padrão de enredo tão alto, sempre que uma nova série é carinhosamente adotada pela desenvolvedora, os fãs ficam extasiados. Juntando Telltale e Batman, o resultado certamente parece promissor. Ou será que não?

Quem é fã do universo DC de quadrinhos certamente sabe o quão explorado e comercializado o herói morcego é. Portanto, sempre fica a dúvida: mais uma história boba que aproveita o sucesso do mascarado ou um roteiro genial que deixará um marco na história? Sem sombra de dúvidas, a editora conta com muitos personagens que estariam aptos a protagonizar um game, como o Arqueiro Verde, o (ou a) Questão, a Canário Negro, o Átomo, a Zatana, o próprio Hellblazer e até mesmo o elenco de Watchmen, que agora faz parte do domínio da DC Comics.

Entretanto, mesmo com a altíssima quantidade de super-heróis que poderiam ser aproveitados e até mesmo mais divulgados em outras mídias, o Batman foi o escolhido, mesmo com outros ícones da Batfamília elegíveis, como a Batwoman ou o Asa Noturna, que seriam boas opções. Optando pela escolha mais segura, será que a nova narrativa da produtora aproveita todo o universo rico do morcegão? Confira a análise completa.

A história é mediana e lenta, mas é original e muito promissora

Com quase 80 anos de história em quadrinhos, séries de TV, filmes e até mesmo outros jogos, o Batman conta com uma bagagem extremamente rica em referências que rendeu contos icônicos no universo DC (canônicos ou não), como “O Cavaleiros das Trevas”, “Piada Mortal”, “Xamã”, “Ano Um”, “Morte em Família” e muitos outros.

Diferente do episódio de Game of Thrones da Telltale, o novo game da desenvolvedora é uma história original que usa apenas os personagens e a origem do homem morcego. Por conta disso, subentende-se que a trama se passa pouco tempo após Bruce Wayne se tornar o Batman, visto que Harvey Dent ainda não é o Duas Caras e a Mulher Gato é uma figura nova em Gotham.

Isso é muito positivo, pois a Telltale ficou livre para explorar o universo do super-herói da maneira que achou melhor, sem amarras de um arco ou outro da DC. Portanto, a desenvolvedora poderia usar todo o potencial criativo por trás das mentes de The Walking Dead e Wolf Among Us para criar um excelente primeiro capítulo. Algo que, infelizmente, não aconteceu.

Por se situar no início da jornada de Bruce Wayne, há muito pouco conteúdo para empolgar. Não há um vilão forte – há apenas uma introdução ao futuro bandido –, pouquíssimas referências das HQs (talvez de leve uma ou outra de “Ano Um”) e muita narrativa para preparar terreno para os vindouros episódios, que totalizam cinco.

Em suma, o roteiro não prende a atenção do jogador da mesma forma que os demais títulos da Telltale sempre conseguiram com uma maestria sem precedente na indústria. O cliffhanger é bobo e os diálogos são muito interessantes apenas em alguns momentos, mas isso não necessariamente enquadra o primeiro capítulo como ruim. Entretanto, há pontos positivos aqui: sem dar spoilers, é certo dizer que a narrativa assumirá um ponto de vista pouco abordado nas HQs: o histórico da família Wayne e o confronto emocional e Bruce em desvendar o passado, fugindo dos pontos clichês já batidos em mais de 70 anos de carreira. O melhor de tudo: a jogatina inteira está em português.

A fórmula mais refinada da Telltale até hoje, mas com ressalvas

Desde 2012, a desenvolvedora já lançou um leque grande de jogos que utilizam a mesma fórmula. Portanto, a receita de bolo já está saturada e sem um adoçante marcante, mas a qualidade sempre se manteve por conta da excelente narrativa. Tirando um game ou outro, como Telltale Minecraft, não vimos nenhum avanço significativo.

Para a alegria dos jogadores, Batman: The Telltale Series conseguiu juntar o que o herói tem de melhor: história na dose certa, porradaria e investigação. Para desdobrar tantos elementos em uma jogabilidade já datada, a Telltale conseguiu criar boas situações que exercem muito bem qualquer um dos papeis acima.

As QTEs foram reformuladas e se tornaram muito mais dinâmicas, o super-herói conta com diversos gadgets que o auxiliam durante a história e muito mais. Porém, nem tudo são flores. Por algum motivo desconhecido, as seções de explorações se tornaram mais escassas e mais simples, ou seja: nada de perambular por aí ou ter acesso a arquivos e documentos extras. Quase tudo são cutscenes com diálogos e decisões morais. Além disso, o primeiro capítulo é um pouco mais curto que o convencional, demorando no máximo duas horas para ser concluído.

Sai, preparo! O Batman que vale: o detetive da noite

Atualmente, há duas HQs principais do Batman: a revista em quadrinho homônima e a Detective Comics. Há mais uma planejada para este ano e o morcegão já teve outras variantes, mas é apenas para exemplificar. Em suma, o game segue a linha editorial do lado detetive do super-herói, deixando de escanteio o chamado Batman “preparo”, que é a versão popularizada por Frank Miller e é elegível para enfrentar qualquer desafio, seja o Superman ou alienígenas, apenas com inteligência e observação.

Deixando esses aspectos para a Rocksteady (Batman Arkham), durante a aventura passamos muito tempo investigando casos de chacinas, ligando evidências com os gadgets de Bruce Wayne, criando suposições e tendo diálogos interessantes e provocativos. A nova mecânica de análise de crimes é muito bacana e incentiva a breve exploração da jogatina, que nos coloca na pele do próprio Batman.

Essas seções são essenciais para dar o tom correto que a narrativa do herói merece, dando o toque Telltale no universo da DC Comics. Por conta disso, a desenvolvedora não poupou esforços em criar ambientes sombrios e até mesmo utilizar elementos bem violentos, que cria uma atmosfera muito bacana e com a qualidade que Gotham representa.

O pior desempenho da nova geração

Infelizmente, é difícil recomendar Batman: The Telltale Series para os mais ávidos por gráficos ou desempenho perfeito. Sem sombra de dúvidas, o game tem a pior performance da nova geração até o momento (considerando que Lichdom teve uma correção recentemente). Por se tratar de uma engine datada, que usa um estilo cartunesco e conta com elementos extremamente simples, isso é imperdoável e inaceitável.

No PlayStation 4, o título roda em 900p, enquanto no Xbox One a resolução é 720p, mas com anti-aliasing. O que já seria ruim por natureza fica ainda pior, pois o jogo conta com faixas pretas em cima e em baixo da tela (letterbox), diminuindo ainda mais a contagem de pixels. No PC, a situação também é ruim: problemas sérios de otimização e travamentos constantes que podem levar a taxa de quadros de 60 fps a 8 fps em uma simples troca de cenas. Em suma: praticamente injogável, rendendo um reembolso da Steam por minha parte. Mesmo com o novo patch de atualização, a situação continua crítica para muitos jogadores.

Para completar o desastre técnico, há diversos takes que perdem os efeitos sonoros, ou seja, as falas e música continuam, mas os sons de pancadas, tiros e demais elementos desaparecem, quebrando a imersão. Com base no passado da Telltale, provavelmente esses problemas não serão corrigidos.

Crowdplay: uma ideia que o game precisava

Todos os jogos da Telltale focam muito em decisões, e com Batman: The Telltale Series o sistema continua. É possível streamar em qualquer um dos consoles, mas do jeito tradicional. Entretanto, a Telltale implementou uma nova maneira de transmitir a sua jogatina: o Crowdplay. As pessoas podem se conectar ao site da plataforma e acessar a sua sessão com um código que é gerado pelo seu jogo.

Dessa forma, é possível opinar nas escolhas do jogador e enviar ícones de “gostei” e “não gostei” para mostrar a sua opinião sobre uma das atividades do jogo. O limite máximo é de até 12 pessoas na mesma sala, que podem oferecer um feedback e interatividade muito maior com o próprio jogador do que o Twitch, por exemplo.

Vale a pena?

Batman: The Telltale Series certamente não é o melhor jogo da produtora até hoje em termos de história, pois há pouca utilização do rico universo de Bruce Wayne e uma narrativa que prepara terreno para o futuro, deixando de lado a empolgação inicial que tivemos em The Walking Dead e Wolf Among Us.

Contudo, com as evoluções da fórmula e as QTEs, que tiveram as suas mecânicas aprimoradas e estão muito mais rápidas, caprichadas e complexas do que as anteriores, o game traz as cenas de ação que uma história de Batman precisa, mas sem deixar de lado a aventura point and click do herói-detetive. Com a promessa de evolução no enredo, podemos esperar uma das jornadas mais empolgante da desenvolvedora.

Entretanto, se você ainda está incerto sobre o game e não quer lidar com os problemas técnicos agora, há poucos elementos que justificam a aquisição imediata do título. Se você quer esperar para ver, é melhor dar um tempo por enquanto, pois a experiência é, por ora, mais recomendável aos fãs da Telltale e do próprio Batman.

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Pontos Positivos
  • Fórmula da Telltale foi levemente reformulada
  • QTEs mais interativas e divertidas
  • Seções investigativas são muito interessantes
  • O sistema de decisões continua excelente
  • A história não é surpreendente ou marcante, mas prepara terreno para um enredo promissor
Pontos Negativos
  • História lenta e com pouco impacto
  • Poucas referências da HQ
  • Bugs de som
  • Mal otimizado (quase injogável no PC)