Banishers: Ghosts of New Eden é o jogo que merece sua atenção em 2024 - Review
Antes de começar a review, eu tenho uma pergunta importante: o que você seria capaz de fazer para não perder uma pessoa amada? Você desistiria de suas crenças? Cometeria crimes? Daria fim na existência de pessoas inocentes para ter quem você ama ao seu lado por mais um tempo?
Questões como essas pairam toda a experiência de Banishers: Ghosts of New Eden, o novo jogo single-player da Dontnod, estúdio por trás da franquia Life is Strange. O RPG de ação focado em escolhas e narrativa acompanha o casal Red e Antea, que trabalham caçando fantasmas numa colônia americana, no final do século 17.
Trazendo inspiração em jogos como The Witcher 3 e God of War de 2018, o jogo promete entregar uma história repleta de escolhas pesadas, embalado por um gameplay de ação e gráficos de ponta feitos na Unreal Engine. Tudo isso, no entanto, com uma produção de médio orçamento, ao estilo de jogos como Hellblade e A Plague Tale: Requiem.
Banishers: Ghosts of New Eden é o novo game da Dontnod, estúdio por trás de Life is Strange.
Neste cenário, a produção entrega uma experiência satisfatória? Essa nova aventura tem potencial para conquistar novos fãs em um mercado competitivo ou será banida ao esquecimento? Já vou adiantar o papo e dizer que sim, o jogo é muito interessante e merece um pouco da sua atenção. Eu explico melhor na review completa de Banishers: Ghosts of New Eden, realizada no PS5.
E só pra constar: a nossa review está completamente sem spoilers da história, mas vamos abordar alguns detalhes que já foram divulgados pela produtora do game. Ou seja, se você quer uma experiência 100% cristalina com Banishers, a recomendação é pular para a parte em que falamos do gameplay ou lá para o finalzinho da análise.
História: Vida aos vivos, morte aos mortos
O estúdio Dontnod é conhecido pelo seu trabalho narrativo, principalmente por causa da franquia Life is Strange, um marco no gênero de “jogos com escolha”. Depois de aproximadamente 10 anos investindo no storytelling dos games, a expertise da empresa alcança o seu ápice em Banishers: Ghosts of New Eden.
O jogador é levado para New Eden, uma colônia da Inglaterra nos primórdios dos Estados Unidos, lá em 1695. A história se passa durante o período de colonização do local e acompanha um casal de banidores, Antea e Red, que são contratados para lutar contra fantasmas e maldições no local.
Neste ponto, já temos algo bem interessante e original no jogo. A profissão de “banidor” é criada praticamente do zero e conta com toda uma mitologia, que vamos conhecendo aos poucos durante a história do game. A dupla utiliza armas especiais, incluindo um bastão de fogo bem original, e consegue realizar rituais para entrar em contato com o mundo dos mortos.
O objetivo dos banidores é simples: garantir que as pessoas vivas tenham paz. Para isso, eles banem os mortos para o submundo, ou garantem que suas almas sejam alçadas para o céu com serenidade. A vibe de “freelancer em um mundo fantástico” lembra muito a profissão de Geralt de Rivia no universo de The Witcher, mas traz foco nos fantasmas.
A sombria cidade de New Eden é o ponto central de Banishers
Além de conhecermos melhor o ofício dos banidores, a jornada também se aprofunda na história do casal de protagonistas. Antea é uma caçadora de assombrações bastante experiente, mas também rígida. Após anos nessa vida, ela não deixa espaços para falhas e esclarece logo de cara: fantasma bom é fantasma banido. Red, por outro lado, traz uma personalidade mais serena. O personagem é carismático e possui uma mente aberta com o sobrenatural, mas ainda não tem tanto conhecimento como banidor, sendo aprendiz de sua esposa.
Essa falta de conhecimento de Red fica bem clara logo no começo do jogo, durante um dos momentos-chave dessa história. Ao enfrentarem uma tenebrosa assombração que está dominando New Eden, um erro de Red acaba culminando na morte de Antea.
E com isso, a aventura começa de verdade: durante a batalha, o jogador acaba indo parar em um local isolado e assume o controle do barbudo escocês em busca de vingança contra o espírito maligno. Além disso, ele procura uma forma de trazer sua amada de volta, que vira um fantasma, simplesmente a coisa que ela mais detestava em vida.
Assim, o jogador é apresentado ao seu maior dilema. Para trazer Antea de volta ao mundo dos vivos, a dupla terá que abrir mão de seu juramento e literalmente matar pessoas para realizar um ritual. Por outro lado, os dois podem seguir sua profissão e aproveitar seus últimos momentos juntos para salvar a região, garantindo que o espírito de Antea encontre a paz eterna.
No entanto, retornar para a cidade de New Eden e definir o destino de Antea não é uma tarefa simples. Além de explorar toda a região assombrada por fantasmas, o jogador precisa lidar constantemente com o dilema do casal. Com isso, durante toda a jornada principal, você fica com uma dúvida na cabeça: devo sacrificar pessoas inocentes para salvar o meu amor ou seguir o juramento que fiz ao lado dela?
Gameplay com ação e escolhas
O grande dilema de Red e Antea se desenrola com um gameplay que lembra muitos jogos de sucesso dos últimos anos. A Dontnod claramente pegou inspirações em títulos como God of War de 2018, The Witcher 3 e Vampyr, uma de suas mais recentes produções. A parte boa é que essa mistura dá muito certo e vem acompanhada de uma inovação: a jogabilidade dupla.
Durante a jornada principal, o jogador controla Red, mas pode trocar para o fantasma de Antea a qualquer momento. O escocês barbudo serve como os músculos do casal, utilizando sua espada, o bastão de fogo e o anel de banimento. Já Antea conta com seus recém-adquiridos poderes fantasmagóricos, que são úteis em combate e também nas investigações que o casal realiza. A personagem basicamente funciona como uma central de ataques especiais, fazendo explosões, saltos mágicos e ataques que incapacitam inimigos.
Enquanto o combate não é muito inovador, a experiência é bastante satisfatória. Eu confesso que estava com medo dessa parte de Banishers, já que Vampyr, o último grande RPG da Dontnod, pecou bastante neste quesito. O título com temática de vampiro trouxe uma história bem legal, mas que era embalada por lutas repetitivas e cansativas, cortesia de uma barra de stamina bastante limitadora.
Ao que tudo indica, a Dontnod ouviu as críticas do público. O gameplay de ação de Banishers é mais solto, permitindo que o jogador tenha mais liberdade durante as batalhas, seja contra chefões ou inimigos comuns.
CSI de fantasmas?
Além de descerem espectros na porrada, a dupla de protagonistas também funciona como um “CSI do sobrenatural”. Em sua jornada pelo interior de New Eden, o casal precisa desvendar casos que envolvem fantasmas para definir o destino de Antea.
As principais escolhas feitas pelo jogador e, que impactam a narrativa, envolvem os chamados Casos de Assombração. Enquanto segue a história principal, o jogador encontra diversas pessoas assombradas em New Eden, com cada uma das narrativas trazendo uma investigação própria e um enredo rebuscado.
Aqui, a experiência pode lembrar algumas missões de The Witcher 3: enquanto Red troca ideia com os personagens e explora o mundo dos vivos, Antea pode revelar segredos espectrais com seus poderes sobrenaturais, numa pegada similar ao “sentido de bruxo” de Geralt de Rivia. Combinando as habilidades humanas de Red com os poderes de fantasma de Antea, o jogador precisa conhecer todos os lados de cada história dos colonos envolvidos. Depois de fazer toda a investigação, chega a hora do encerramento, quando é preciso escolher o destino dos envolvidos.
Enuquanto o combate possui vibe de God of War, a investigação lembra The Witcher 3.
É nesta parte que o clima fica pesado: este é o momento em que você escolhe se vai banir ou ascender o fantasma, ou sacrificar a pessoa envolvida para garantir a salvação de Antea. A decisão pode até parecer fácil falando assim, mas a Dontnod mostra seu poder com jogos narrativos nessa parte.
O game brilha nos Casos de Assombração, com diversas escolhas difíceis e histórias pesadas.
O jogo conta com mais de 20 casos para serem desvendados, cada um com uma história original e seus pormenores durante a investigação. E a conclusão raramente envolve apenas um fantasma malvado ou um vilão da Disney para ser assassinado sem piedade. Banishers explora muito bem as nuances da época em que o jogo se passa, apresentando narrativas que vão deixar o jogador em dúvida do que fazer.
A variedade dessas missões secundárias também merece destaque. Prepare-se para conhecer fofocas de comunidades do interior, histórias de amor não resolvidas e casos extremamente bizarros e perturbadores. Sério, galera: tem histórias que são TENSAS. No começo, eu até achei alguns casos pesados a ponto de não fazerem sentido no contexto do jogo. No entanto, depois de pesquisar sobre a época, deu pra ver que o jogo retrata muito bem uma comunidade desolada no final do século 17.
O destino do casal
Além de definir o destino dos personagens não jogáveis de New Eden, o jogador também acompanha o desenrolar do relacionamento peculiar de Antea e Red. Os personagens ficam em constante comunicação, evitando monotonia durante a jornada.
A cada novo caso resolvido, fogueira acesa no acampamento ou ameaça banida, recebemos alguma troca de diálogos entre os dois protagonistas. As doses de narrativa permitem descobrir aos poucos como era a relação dos personagens antes dos acontecimentos do game, o que pode influenciar em suas decisões sobre o futuro do casal.
As ações durante a jornada definem o destino do casal.
Ao lidar com um tema pesado como o luto, Banishers te faz ponderar em vários momentos o impacto de suas escolhas, mesmo que você tenha um objetivo claro para o final. O jogo inclusive te obriga, logo no começo, a fazer uma promessa de qual caminho pretende seguir, a ressurreição ou ascensão de Antea. Manter esse juramento, no entanto, pode não ser tão fácil com tantas escolhas pesadas que rolam pelo caminho.
Independente do final, que pode ter até cinco desfechos, Banishers me conquistou pela sua caminhada narrativa. Além de oferecer muito mais conteúdo que eu esperava nos casos de assombração, o jogo possui dois protagonistas bem interessantes. Para quem gosta de personagens complexos e bem desenvolvidos, mas que trazem lacunas para serem preenchidas pela imaginação do jogador, conhecer o título é uma boa pedida.
Toda a história acompanhando um casal lidando com luto e perdas também pode gerar uma identificação para quem é mais sentimental. Se você faz parte de um casal ou já esteve em um relacionamento, certamente vai se sentir tocado com algumas das escolhas que será obrigado a fazer durante a jornada.
Combate satisfatório, mas que não vai longe
E quando você não está investigando fantasmas e fazendo escolhas, o que acontece? O gameplay de ação, basicamente, envolve descer a pancada em espectros. Nesta parte, o jogo adota mecânicas de Action RPG que lembram muito God of War de 2018, mas com uma pegada fantasmagórica.
Ao controlar Red, você usa o kit de espada e bastão de fogo para bater nos espíritos com ataques leves e pesados, podendo se defender e desviar de ataques dos inimigos. Depois de alguns golpes, é possível usar o anel de banimento, que se usado na hora certa, pode dizimar o espectro instantaneamente. Posteriormente, também recebemos um rifle, o que permite atacar a distância e garante mais possibilidades durante as brigas.
O grande pulo do gato na parte do combate é a presença de Antea. A fantasma pode ser invocada a qualquer momento para a pancadaria, utilizando suas habilidades espectrais para bater nos inimigos com explosões e saltos poderosos, por exemplo.
Banishers tem claras inspirações em God of War de 2018.
A troca de personagens garante momentos bem interessantes durante os encontros com inimigos. O jogador precisa ficar de olho e identificar qual é o melhor protagonista para ser utilizado em cada momento dos embates, que possuem intensificadores de dificuldade.
Quando uma assombração mais forte aparece na briga, por exemplo, alguns espectros inferiores podem ganhar proteção extra. Os fantasmas também podem realizar possessões durante o combate, ganhando uma casca física e ficando mais fortes. Esse tipo de fator obriga o jogador a prestar atenção no que está acontecendo ao seu redor, garantindo dinamismo ao gameplay.
Quando o assunto é progressão, Banishers utiliza uma árvore de habilidades com a evolução de Antea, que vai ganhando novas habilidades após alguns eventos importantes da história. Tirando a adição de um rifle, Red é praticamente o mesmo do início ao fim, o que deixa as coisas meio monótonas no começo.
A árvore de habilidade evolui bem durante o gameplay, mas deixa o jogo meio monótono durante o começo.
No entanto, quando a árvore de habilidades cresce, as coisas vão ficando mais interessantes. Apesar de limitada, a skill tree obriga o jogador a tomar decisões na escolha de benefícios que vem acompanhados de algum ônus. Aqui vai um exemplo: você pode equipar um perk que recarrega o rifle automaticamente após um golpe de Antea, mas para isso terá que abrir mão de ganhar um bônus de vida quando mata um inimigo.
O jogo possui diferentes níveis de dificuldade, incluindo um "modo história".
A parte boa é que o jogo permite alterar esses atributos a qualquer momento. Assim, quando novas habilidades são liberadas, você pode movimentar seus pontos e fazer uma nova build para tentar outras estratégias.
A maleabilidade do jogo também está presente nas opções de dificuldade, que podem ser alteradas a qualquer momento. O título conta com diversas opções neste setor, indo desde uma experiência mais desafiadora até o “modo história”, focado na parte narrativa. Com isso, o jogador pode escolher o ritmo que quer para a sua aventura, podendo deixar tudo mais fácil para focar no desenrolar da trama ou enfrentar inimigos mais poderosos.
Espaço para melhorias
Enquanto o combate é bastante competente, é importante ressaltar que o jogo ainda deixa um gosto de que poderia ser mais ousado nesse quesito. Meu principal problema acabou sendo com o encaixe de alguns golpes e a falta de variedade nas ações de Red, que vai do começo ao fim com praticamente as mesmas armas.
Falando nisso, o jogo também possui um esquema de upgrade de itens. A interface é muito bonita e traz até mesmo uma historinha para cada uma das armas dos banidores. No entanto, durante minhas 30 horas seguindo a campanha principal, encontrei poucos itens para serem equipados além do arsenal principal.
O sistema de itens é interessante, mas pode ser deixado de lado na dificuldade Normal.
Essas limitações, no entanto, não deixam o combate menos divertido. Por aqui, eu completei o jogo na dificuldade Normal e a experiência foi bem satisfatória e equilibrada, com algumas áreas de combate opcionais garantindo uma dose extra de desafio.
As batalhas contra os chefes principais também foram memoráveis, carregadas pela emoção trazida pela história principal. No entanto, pessoalmente falando, acho que a briga final poderia ter sido mais grandiosa, para acompanhar o encerramento emocionante da narrativa.
Outro ponto que Banishers poderia ser melhor é o terror. O jogo lida com fantasmas e espectros, mas não faz muito esforço para torná-los assustadores. Enquanto alguns chefes até possuem um apelo visual mais chamativo, grande parte dos inimigos, e também dos NPCs, não possuem um aspecto tão ameaçador.
Apesar de lidar com fantasmas, Banishers não é um jogo assustador.
No fim das contas, Banishers não revoluciona quanto o assunto é combate ou RPG, mas aposta em uma fórmula simples e que diverte. O jogo acaba sendo mais uma prova de que você não precisa reinventar a roda para entregar uma experiência decente de gameplay.
Por mais que o jogo tenha abertura para ser algo maior, eu honestamente não senti falta de mais recursos durante o gameplay. A experiência entregue é sólida, direta e suficiente para garantir um bom andamento para a história e uma exploração interessante.
Mapa vasto, mas que não é cansativo
Falando em exploração, Banishers: Ghosts of New Eden traz um mapa vasto, mas que não é cansativo. A introdução do game pode dar a entender que o jogo se passa apenas em uma cidade, seguindo os passos de Vampyr, o título anterior da Dontnod. No entanto, a coisa é bem maior.
O jogador é arremessado para o outro lado da região de New Eden logo no começo da aventura e deve encontrar seu caminho de volta para a cidade. E olha, a estrada é bem longa. Em um mapa semiaberto, com design linear e áreas para serem exploradas, o jogador passa por diferentes povoados, florestas, minas subterrâneas e montanhas com neve.
Você pode aproveitar somente a história principal, mas Banishers tem muita coisa extra em seu mapa.
Mesmo com a vastidão de New Eden, a exploração não é cansativa. Além de trazer uma bússola para navegação, o mapa conta com um design bastante linear e com marcadores, o que facilita a movimentação. E para quem tem pressa, ainda é possível usar um sistema de viagem rápida por meio de fogueiras.
De modo geral, a experiência é bem parecida com o que temos em God of War de 2018, mas com muito conteúdo extra para ser explorado. A parte boa é que o design de Banishers facilita a exploração: enquanto anda para a missão principal, ocasionalmente você encontra uma alma penada no caminho, um ninho de espectros ou tesouros escondidos.
Você pode completar a história em cerca de 30 horas, mas existe muito conteúdo extra para explorar.
O gameplay também exige que você colete certos itens para fazer o upgrade de seu equipamento e realizar os rituais de invocação. No entanto, essa parte é tão integrada na exploração convencional que você nem vai precisar sair de sua rota para buscar os itens de missões principais.
Se você busca por equipamentos mais fortes ou itens especiais, no entanto, será necessário dar uma atenção maior para o mapa. Seguindo a vibe de The Witcher, os pontos desconhecidos são marcados com pontos de interrogação, enquanto outros locais de interesse possuem seus marcadores dedicados.
A grande vantagem de Banishers é que grande parte deste conteúdo é opcional. Se você quiser, é possível correr para a história principal e terminar tudo em cerca de 25 horas. No entanto, para quem pegar gosto pelo gameplay e o mundo de New Eden, o jogo conta com uma bela carga de conteúdo, tanto em narrativa quanto em combate.
Por aqui, demos uma certa "rushada" e conseguimos completar a história em 30 horas, mas completando somente 20% de todo o conteúdo oferecido pelo game. Felizmente o jogo deixa um checkpoint antes dos eventos finais, o que permite retornar ao mapa e aproveitar tudo que o mundo de New Eden tem a oferecer.
Visual deslumbrante e cheio de contexto
O visual de Banishers está caprichado.
Por fim, Banishers: Ghosts of New Eden também merece destaque pelos seus cenários. Os gráficos feitos na Unreal Engine garantem um vislumbre para os olhos durante o gameplay, que ocorre em terceira pessoa. Desde áreas abertas até locais mais fechados, o jogo impressiona com um visual detalhado e cheio de profundidade.
É importante ressaltar, também, que o jogo cativa além da beleza em seus cenários. A Dontnod caprichou na ambientação de Banishers, dando vida para uma versão alternativa das colônias inglesas recheada de referências e toques realistas.
Banishers traz uma grande variedade de locais em seu mapa.
O jogo se passa em uma época dominada pela religião, o que pode ser visto tanto na história das missões quanto no próprio ambiente, em que você pode encontrar bíblias perdidas. Essa contextualização ajuda bastante a dar credibilidade aos pontos da história, como acusações de bruxaria e o temor de fantasmas.
Os vilarejos e vastas florestas também estão recheados de vida selvagem e morte humana, um equilíbrio interessante para um jogo que se passa no final do século 17. Depois de ler um pouco sobre a história real da colonização estadunidense, fiquei impressionado com o cuidado que a Dontnod teve em caracterizar esse período, mesmo em um ambiente repleto de fantasia.
Esse equilíbrio, inclusive, é um dos pontos que acaba diferenciando o título de outros RPGs com pegada medieval. O lado mágico de Banishers é bastante latente e visual, mas o jogo não esquece de ser pé no chão e também ressaltar a sua humanidade.
Desempenho
Quando o assunto são gráficos, não existe muito do que reclamar de Banishers. Considerando que o jogo possui médio orçamento, o resultado entregue é deslumbrante. No entanto, em algumas cenas, um problema conhecido da Dontnod acaba aparecendo: o fantasma da sincronia labial dá as caras novamente.
O jogo possui modelos 3D de personagens, principalmente dos protagonistas, extremamente bem feitos e realistas. Aliado a isso, ainda temos uma dublagem de peso em inglês, liderada pelos atores Amaka Okafor e Russ Bain. Porém, nem sempre esses dois fatores se encontram, causando estranhamento em algumas cenas. Não é nada gritante, mas eventualmente é notável.
Outro ponto que também merece melhorias são alguns artefatos visuais. O jogo roda em até 60 quadros por segundo no PS5 e também vem com um modo de qualidade, focado em resoluções mais altas. No entanto, acompanhei algumas cenas com glitches aleatórios aparecendo na tela. Além disso, o efeito de fundo borrado também não funcionou como deveria em certos momentos, deixando o game com cara de “mal-acabado”. A culpa desse problema possivelmente é da solução de upscaling adotada no PS5.
Enquanto a versão de PC está redondinha, o jogo ocasionalmente sofre com alguns artefatos visuais no PS5.
Nós também tivemos a oportunidade de testar o jogo na versão de PC e não enfrentamos esses problemas. A edição para computador, que é mais barata que dos consoles, funcionou perfeitamente ao rodar numa GPU RTX 4070 com o DLSS e a função de geração de quadros.
Outra diferença que notamos foi no carregamento. O jogo possui algumas telas de loading no PS5, enquanto o mapa dá uma leve travada na hora de ser aberto — algo que não aconteceu na versão de computador. Considerando o poder do SSD do console da Sony, certamente daria para contornar esses probleminhas, que são bem pontuais e fáceis de serem otimizados.
Falando em otimização, o controle DualSense recebeu uma atenção especial da Dontnod na versão de PS5 de Banishers. Além de suportar os gatilhos adaptáveis e trazer efeitos de som direto no controle, o jogo faz um ótimo uso das luzes LED do dispositivo. As cores mudam de acordo com o personagem e a iluminação ajuda na hora de explorar o mapa, brilhando quando algum ponto de interesse está por perto.
Apesar das eventuais falhas, é inegável que Banishers faz um bom uso da Unreal Engine 5, entregando uma experiência belíssima no PS5, mas com alguns deslizes. A versão do PC também não apresenta dores de cabeça e está bem escalável, mostrando que o motor gráfico evoluiu bastante desde o ano passado. Nós conseguimos até rodar o Steam Deck e obter uma experiência satisfatória de gameplay, acima dos 30 quadros por segundo. Ou seja, até mesmo quem tem um PC modesto deve conseguir aproveitar bem essa jornada.
Vale a pena?
Banishers: Ghosts of New Eden definitivamente não quer ser um jogo revolucionário. Ao invés disso, o título joga seguro para entregar uma experiência sólida e divertida, com uma história original e gameplay que deve agradar fãs de produções como The Witcher 3 e God of War de 2018.
Em um mercado com RPGs cada vez mais gigantes e de franquias consolidadas, Banishers aparece como uma faísca de originalidade e leveza. O jogo definitivamente podia ser mais grandioso, mas entrega uma experiência marcante, cheia de ação e emoção, trazendo potencial para se tornar uma franquia. Tudo isso empacotado em uma experiência que pode ser finalizada em até 30 horas, mas que também possui abertura para render muito mais.
Banishers equilibra ação e história em uma experiência divertida e surpreendente.
Se você gosta de jogos recheados de história, mas não abre mão de um pouco de ação, vale a pena deixar Banishers no seu radar. Como a dificuldade do jogo pode ser alterada a qualquer momento, o título é definitivamente uma boa pedida tanto para quem gosta só de história quanto para quem busca algo mais desafiador, com um mapa recheado de segredos para explorar.
Enquanto a versão de PS5 e Xbox Series S e X chega por R$ 300, o jogo está disponível no PC por R$ 180, um preço bastante atraente para todo o conteúdo entregue pela Dontnod. Se o orçamento estiver apertado, a minha dica é deixar o jogo na lista de desejos ou, quem sabe, até esperar por um futuro lançamento em um Game Pass ou PS Plus da vida. No entanto, não tire Banishers do seu radar. Afinal, mesmo com um orçamento limitado e alguns probleminhas, o título tem pontos que podem fazê-lo conquistar seu coração.
Nota do Voxel: 90
Pontos positivos (prós)
- História engajante e com escolhas significativas;
- Casos de assombração com histórias pesadas;
- Ambientação imersiva;
- Combate divertido e que mostra evolução em relação aos jogos anteriores do estúdio;
- Conteúdo extra além da história principal, mas que é opcional.
Pontos negativos (contras):
- Glitches de imagem no PS5;
- Eventuais problemas de sincronia labial;
- Progressão e combate podiam ser mais elaborados, principalmente com Red.
Trazendo legendas em português brasileiro, Banishers: Ghosts of New Eden foi analisado no PS5 com uma chave fornecida pela Focus Entertainment. O jogo da Dontnod também conta com versões para PC e Xbox Series S e X.
Nota do Voxel