Mais pirata, menos assassino
Videoanálise
O vasto mar do Caribe se abre à sua frente. O sol queima a pele de seu rosto, evidenciando as cicatrizes que você colecionou a cada batalha vencida. O navio desliza rapidamente sobre as ondas, impulsionado pelos ventos que vêm do Atlântico. A tripulação a bordo comemora, ri, bebe e pragueja, fazendo com que as vozes exaltadas se confundam com o ranger das vigas que sustentam a embarcação. Estamos no século 18 e isso significa que essas águas não são seguras para ninguém — exceto, é claro, se você for um maldito pirata.
Portanto, esqueça os sonhos renascentistas de Ezio ou o idealismo de Connor: em Assassin’s Creed IV, as coisas são um pouco mais diretas e menos romantizadas. Estamos falando de lobos do mar, de bandidos que velejam sob uma bandeira negra em busca de uma única coisa: ouro. Tesouros que se escondem em grandes embarcações, esperando para serem saqueados. E é aí que Edward Kenway entra na história.
Só que a entrada do corsário ao rol de protagonistas vai muito além do rosto que estampa a caixa. Além das melhorias óbvias na jogabilidade, Black Flag ajuda a expandir a mitologia criada pela Ubisoft ao mostrar quem nem só de bons moços vive o Credo dos Assassinos. Enquanto os heróis anteriores lutavam por uma ideia ou um sonho, o novo personagem prefere valorizar muito mais os prazeres da vida pirata do que defender uma causa — por mais que isso seja deixar de lado o cerne da franquia.
Assassin’s Creed IV: Black Flag é um daqueles complicados casos em que o game consegue ser muito bom tecnicamente, melhorando muitos aspectos de seus antecessores, mas que não traz o mesmo charme. É como se, apesar de cumprir todos os requisitos básicos para se fazer um bom jogo, ele esquecesse de sua alma.
E boa parte dessa falta de “carisma” da sequência está no próprio enredo. AC4 se distancia demais daquilo que seus antecessores trouxeram à mitologia da série, colocando a história dos assassinos quase em segundo plano para valorizar a temática pirata. Ele ainda é divertido e vai consumir horas e mais horas de sua vida, mas não com o mesmo engajamento de outrora.
Contrariando todas as expectativas, a Ubisoft conseguiu trazer um jogo que é muito superior aos anteriores, mas na parte técnica. As melhorias no sistema de navegação e exploração são ótimas, mas não o suficiente para superar os jogos anteriores. Enquanto a história de AC3 era quase uma épica, Assassin’s Creed IV: Black Flag se apresenta praticamente como um clássico da Sessão da Tarde: divertido mas simples, descompromissado e fácil de esquecer.
Este jogo foi adquirido pelo BJ para a realização desta análise.
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Nota do Voxel