Redenção à moda vitoriana
Assassin’s Creed Syndicate chega às lojas com uma missão um tanto difícil. Não somente o jogo tem a dura obrigação de dar sequência a uma franquia consagrada que há tempos é marcada pelos lançamentos anuais como tem que apagar a má impressão deixada por Unity — game que é mais lembrado por sua quantidade imensa de bugs do que por suas qualidades.
No novo capítulo, somos transportados para a Londres de 1868 e tomamos o controle dos gêmeos Jacob e Evie Frye. O objetivo é livrar a cidade de um domínio centenário dos Templários, que usam as gangues de rua locais para exercer sua influência e incentivar atividades reprováveis, como a exploração do trabalho infantil.
O game também aposta em momentos que têm como cenário o mundo real, através dos quais podemos acompanhar as aventuras dos assassinos que aparecem desde o início da série. Essas cenas não possuem muitas opções de interação e fica claro que elas só foram inseridas para agradar aos fãs mais antigos, mas é interessante ver que a Ubisoft não deixou de lado esse aspecto que já pode ser considerado tradicional.
Experiência histórica para um jogador
Em Syndicate, a desenvolvedora decidiu “puxar o freio” e apostar em uma experiência focada em somente um jogador, abandonando de vez os elementos multiplayer trazidos por Unity. Depois de uma introdução explosiva em que o jogador aprende as mecânicas básicas do título, ele está livre para explorar uma boa parte da Londres vitoriana.
A história divide muito bem a atenção entre Evie e Jacob, sendo que cada um deles possui uma personalidade bem definida, o que ajuda a torná-los bastante carismáticos. Apesar de determinados trechos serem centrados em personagens específicos, na maior parte do tempo você está livre para trocar os protagonistas sem qualquer restrição.
A diferença entre os heróis é pouca, mas o irmão tende a apostar muito mais nos confrontos diretos, enquanto Evie tende a preferir táticas mais sutis que envolvem se esgueirar pelas sombras e matar silenciosamente seus inimigos. Os dois compartilham as mesmas armas, mas é preciso gastar um tempo evoluindo as habilidades de cada um deles de forma individual.
Mantendo a tradição da franquia, o título está recheado de momentos em que figuras reais fazem aparições, contribuindo para dar uma nova interpretação a eventos históricos importantes. Entre um passeio e outro, você vai poder conversar e interagir com nomes consagrados como Alexander Graham Bell, Charles Dickens, Darwin e Karl Marx, entre outras celebridades vitorianas.
Além de completar missões ligadas diretamente à história principal, o jogador vai gastar um bom tempo livrando a cidade dos Blighters, a gangue de rua liderada pelos rivais. Para tornar isso mais fácil, você conta com a ajuda de um grupo aliado conhecido como Rooks, que ajuda durante combates e momentos de infiltração.
Táticas de combate avançadas
Após matar alguns templários, fechar fábricas que exploram a mão de obra infantil e sequestrar alvos de interesse, o jogo libera uma Guerra entre Gangues. Esses momentos se assemelham muito às tradicionais batalhas contra chefes comuns nos video games e costumam introduzir novas mecânicas que ajudam a trazer uma maior variedade aos combates.
As lutas de Syndicate têm um ritmo bastante rápido e algumas das execuções mais brutais de toda a franquia. Para vencer, você pode usar facas escondidas, pistolas, kukris, um soco inglês e bengalas com lâminas escondidas em seu interior, entre outros itens. A maior parte dos equipamentos disponíveis pode ser melhorada, exigindo o uso de dinheiro e de recursos encontrados em missões e em baús espalhados pelos mapas.
Quem já se aventurou em algum Assassin’s Creed anterior não vai demorar a se acostumar com as atividades secundárias disponíveis nessa interação. Entre uma ou outra escalada, você vai encontrar itens escondidos, correr atrás de ladrões, parar brigas de rua, matar mensageiros de maneira furtiva e conversar com vendedores de rua, entre outras opções.
Jacob e Evie compartilham os mesmos equipamentos, o que diminui a quantidade de dinheiro que é preciso gastar conforme você avança no título. No entanto, é preciso dedicar certo tempo à evolução individual de cada protagonista, o que resulta na chance de testar habilidades diferentes sem ter que recomeçar o jogo ou esperar pelo desbloqueio de mais pontos de experiência.
Experiência adaptável
Entre as novidades introduzidas pelo jogo está a obrigatoriedade de investir em melhorias para sua gangue de rua, que ganha poder de ataque, mais mobilidade e novas fontes de renda. A maior parte das missões disponíveis rende uma boa quantia de pontos de experiência e de dinheiro —que podem ser aumentados caso você siga à risca os objetivos secundários sugeridos.
Felizmente, o game se adapta a qualquer erro que você faça e dificilmente encerra a missão caso você decida agir de uma forma que fuja ao roteiro estipulado pelos desenvolvedores. Com raras exceções, o jogador pode optar entre ser totalmente furtivo ou simplesmente partir para a pancadaria sem ter que se preocupar com muito mais além da perda de um bônus opcional.
Outra mudança muito bem-vinda é a introdução de um gancho semelhante ao que o Homem-Morcego usa nas aventuras desenvolvidas pela Rocksteady. Essa ferramenta abre novas táticas de assassinato e é de grande ajuda para navegar pelos telhados da Londres vitoriana, especialmente na hora de revelar o mapa de novas áreas.
Para chegar a seu destino mais rapidamente, você também pode roubar carroças no melhor estilo Grand Theft Auto. Elas respondem muito bem aos controles do jogador e possuem uma física que faz crer que estamos lidando com um veículo real. No entanto, muitas vezes você vai preferir chegar a seu destino a pé ou escalando edifícios, já que mesmo naquela época o trânsito londrino possuía alguns congestionamentos notáveis.
Questões técnicas
Assassin’s Creed Syndicate não é o game de mundo aberto mais bonito do mercado, tampouco ganha no quesito “área explorável”. No entanto, o que ele perde nesses quesitos ganha na quantidade de personagens e elementos mostrados em tela. As ruas das cidades estão lotadas de NPCs envolvidos nos mais diversos tipos de atividade, o que ajuda a ter a sensação de que estamos lidando com um universo realmente vivo.
A Ubisoft aprendeu com os erros de Unity e entrega um game que tem um desempenho bastante estável, embora seja possível notar certas lentidões nas cenas em que está chovendo. A quantidade de bugs também está baixa, e durante nossos testes no Xbox One só nos vimos forçados a reiniciar o jogo uma única vez.
Isso aconteceu quando, ao tentar sair do trem que serve de quartel-general para os personagens, fomos teletransportados para um canto do veículo. Mesmo após diversos minutos tentando sair dessa situação, tivemos que voltar ao menu principal e carregar um checkpoint anterior para prosseguir com a aventura.
O problema mais constante do jogo é o fato de que ele nem sempre sabe direito quando deve trocar do modo furtivo para os momentos de combate, o que se torna muito evidente em áreas nas quais há muitos obstáculos no caminho do jogador. Além disso, a câmera nem sempre funciona direito, especialmente nos momentos em que há conflitos em ambientes fechados.
Dublagem com alguns escorregões
Apesar de a qualidade da dublagem brasileira de Assassin’s Creed Syndicate ser boa, fica evidente que os profissionais envolvidos tiveram que fazer seu trabalho em condições que não eram necessariamente as ideais. Entre os fatores que ajudam a dar essa impressão está o ritmo um tanto esquisito da fala de alguns personagens — indício de que não havia um material de referência muito completo à disposição dos envolvidos no processo.
O mais estranho é o fato de que a Ubisoft decidiu deixar muitas falas na língua original, principalmente as pertencentes a NPCs secundários. Isso resulta em muitos momentos estranhos, nos quais algumas pessoas estão falando em inglês enquanto outras usam o português como forma de comunicação.
Microtransações reduzidas
Algo que todos os jogadores devem saber é que, se um game possui qualquer espécie de microtransação, ela afeta diretamente o design da experiência principal, por mais que ela seja apresentada de forma opcional. Felizmente, em Syndicate a Ubisoft usa o recurso de forma mais discreta que no passado, embora ela ainda incomode um pouco.
Em vez de apostar em diversos tipos de moedas diferentes e em baús que só se abrem caso você esteja disposto a tirar dinheiro de sua carteira, a empresa oferece somente alguns facilitadores para seu progresso. Esses itens surgem na forma de ampliadores de experiência e na obtenção mais rápida de alguns recursos essenciais — para evitar o abuso dessas opções, a empresa restringe o uso de certos equipamentos e habilidades a pontos avançados da história.
Vale a pena?
Assassin’s Creed Syndicate marca um novo ponto alto para a franquia dos assassinos, oferecendo uma experiência que é divertida e apresenta um bom desempenho na geração atual de consoles. A Ubisoft acertou ao apostar em uma experiência para um jogador, o que permitiu a ela desenvolver dois protagonistas bastante interessantes e uma história prazerosa de acompanhar.
O título deve agradar principalmente a quem é um fã fiel da série, visto que ele traz melhorias em quesitos que pediam atenção há certo tempo. A aventura também se mostra um bom ponto de entrada para novatos, embora eles possam ficar um tanto deslocados em relação aos acontecimentos que se passam no tempo presente desse universo.
Apesar de não ser a revolução que alguns estavam esperando, Syndicate consegue redimir os erros cometidos em Unity e se prova um jogo de mundo aberto que compensa o investimento. Mesmo permanecendo a impressão de que a série iria se beneficiar muito de umas férias merecidas, o lançamento é a prova de que a desenvolvedora ainda consegue cativar, mesmo apostando em uma fórmula que não traz muitas novidades.
Categorias
- Bom desempenho nos consoles
- Protagonistas interessantes e carismáticos
- Novas mecânicas trazem frescor à franquia Assassin’s Creed
- Alguns bugs ainda atormentam os jogadores
- O trabalho de dublagem ficou aquém do esperado
- A presença de microtransações ainda incomoda
Nota do Voxel