Assassin’s Creed Odyssey é uma bela saga em busca de seu papel no mundo
Quando Assassin’s Creed Odyssey foi anunciado, muita gente ficou com o pé atrás. Afinal, após Origins ter surpreendido com sua qualidade depois de a série ter tirado um “ano sabático”, parecia que a Ubisoft estava voltando aos velhos hábitos que condenaram a franquia a uma série de lançamentos muito iguais entre si e sem muitas inovações.
Felizmente, o game que chegou às lojas mostra que os fãs não tinham tanto motivo assim para ficar preocupados. Embora claramente use como base a aventura de Bayek de Siuá, o novo título traz uma história épica que nos transporta pela Grécia antiga com uma dose reforçada de mecânicas de RPG e muitos mistérios e ação que ligam os pontos de sua história.
Escolha seu protagonista
Enquanto outros jogos da série permitiram jogar tanto como homem quanto como uma mulher, Assassin’s Creed Odyssey é o primeiro a manter o gênero escolhido durante toda a aventura. Logo no começo o jogador decide se quer encarar essa missão com Alexious ou Kassandra, que são relacionados entre si por traços de sangue.
Na prática, isso não muda em nada a maneira como os outros personagens vão encará-lo ou os conteúdos disponíveis, já que o protagonista serve mais como um avatar do jogador. Isso não significa que ele (ou ela) não tem personalidade, mas sim que é você que deve definir a maneira como ele se relaciona com o mundo: é possível ser um mercenário que só liga para o dinheiro ou alguém que coloca o bem dos outros acima de suas ambições pessoais.
A história principal demora um pouco para engrenar e dá para gastar fácil entre 8 a 10 horas explorando o mundo sem entender muito bem qual é seu objetivo ou a forma como ele se relaciona à série principal. Felizmente, essa sensação de “estar perdido” termina assim que você tem seu primeiro contato com o Culto do Kosmos, o grupo que serve como principal antagonista do game.
"dá para gastar fácil entre 8 a 10 horas explorando o mundo sem entender muito bem qual é seu objetivo"
Também há alguns trechos que se passam no futuro, que aparecem de forma ainda mais discreta do que em Origins — que também não passava muito tempo nesse ambiente. São poucas as coisas realmente relevantes que acontecem nesses momentos, e as partes mais legais (assim como as principais revelações) estão reservados para quem decidir explorar algumas das missões secundárias do game.
O resultado final agrada, misturando boas doses de drama familiar, a guerra entre Esparta e Atenas e várias teorias da conspiração. No entanto, a própria característica do jogo como uma experiência aberta e repleta de coisas a fazer prejudica o ritmo da história: é possível passar dezenas de horas sem nenhum desenvolvimento relevante, o que faz com que qualquer senso de urgência seja perdido com facilidade.
Algo que ajuda muito Assassin’s Creed Odyssey a ser um game divertido de jogar é o fato de seu roteiro ter partes bem escritas e que sabem usar o bom humor quando isso faz sentido. O game também traz uma boa dose de relacionamentos, mas eles estão mais ali para você ter uma desculpa para “se dar bem” do que como algo que cria uma conexão afetiva com outros personagens.
Também devo dedicar um parágrafo para elogiar a dublagem nacional, que está muito melhor do que o trabalho feito em Origins. Ouso até mesmo dizer que prefiro a interpretação nacional de Kassandra e Alexious àquelas feitas para o mercado americano, e dá para ver que os atores escolhidos estão se divertindo com os papéis que lhes foram atribuídos.
Incentivo à exploração
Assassin’s Creed Odyssey quer ser diferente e, para isso, oferece aos jogadores uma nova forma de interagir com o mundo com a opção “Modo Exploração”. Ela elimina os poderes de clarividência do personagem, que passa a não saber mais sempre o local exato que ele tem que ir para cumprir seus objetivos.
Isso exige que o jogador fique mais atento aos diálogos e a outras indicações que surgem na tela, que dão dicas de como prosseguir. No entanto, não espere encontrar aqui algo tão imersivo quanto The Legend of Zelda: Breath of the Wild — muitas das dicas são bastante óbvias e o game costuma “segurar na sua mão” para você não ficar perdido e frustrado com a falta de indicações.
A adição é interessante e mostra um possível futuro para o design de Assassin’s Creed, mas Odyssey ainda está preso demais a filosofias do passado para que a ideia atinja todo o seu potencial. A novidade não é obrigatória e quem deseja indicadores mais claros também pode optar pelo Modo Guiado a qualquer momento.
Foco na ação
Um ponto que distância Assassin’s Creed Odyssey de Origins e teve atenção especial da Ubisoft foi o sistema de combates, que se mostra bem mais elaborado. Enquanto o jogo anterior era uma espécie de “introdução à série Souls”, aqui as coisas surgem de forma mais agilizada e Kassandra e Alexious contam com muito mais recursos — de certa forma, eles podem ser considerados até mesmo como “semideuses” da batalha, algo que faz sentido dentro da história.
O game abandona qualquer espécie de escudos, apostando em um sistema no qual você deve ser mais agressivo ao mesmo tempo em que desvia de ataques fortes e usa o timing certo para quebrar a guarda dos inimigos que usam ataques mais leves. Também há uma seleção generosa de poderes especiais, que vão do chute espartano que lembra 300 de Esparta até a capacidade de encantar armas com fogo ou veneno e jogar para longe qualquer espécie de escudo usado pelos adversários.
"há mais opções para quem gosta de ser furtivo, como ataques especiais que reforçam o poder de suas flechas e recursos como assassinatos críticos"
Também há mais opções para quem gosta de ser furtivo, como ataques especiais que reforçam o poder de suas flechas e recursos como assassinatos críticos. Entre os que eu mais gostei e usei está uma espécie de “teleporte”, em que você joga a lança de Leônidas para matar até 3 inimigos em sequência e, somente depois disso, partir para o combate de forma mais direta.
Elementos de RPG e navegação
Além de novas habilidades, Assassin’s Creed Odyssey também traz um foco redobrado nos equipamentos que você está usando. Há uma seleção generosa de armaduras, capacetes, proteções de braços e pernas, arcos, espadas, lanças, martelos e outros itens, que estão separados por diferentes níveis de raridade que definem os bônus de status concedidos aos jogadores.
Ao final da aventura, você provavelmente vai ter acumulado uma coleção generosa de itens, sendo que aqueles de níveis mais baixos podem ser atualizados com a ajuda de um ferreiro. Eles também podem comprar os itens que não fazem mais sentido manter e oferecem alguns dos recursos necessários para realizar as melhorias desejadas.
Além dos combates em terra firme, o game também oferece diversos confrontos navais no melhor estilo de Assassin’s Creed IV: Black Flag. Não é preciso investir tanto tempo assim nessa parte do game, mas vale a pena se dedicar um pouco a ela graças à diversão proporcionada — enquanto os momentos de viagem trazem um ar contemplativo, é ainda mais legal ver os navios inimigos queimando depois de saquear os tesouros que eles traziam.
Outra novidade é o sistema de Batalhas de Conquistas, que são destravadas em momentos-chave da trama ou quando você enfraquece o suficiente a liderança de uma região. Elas permitem que você escolha lutar por Atenas ou Esparta em um campo de batalha repleto de inimigos, sendo que a condição de vitória envolve matar o mais rápido possível os soldados e generais do lado adversário.
A escala dos combates é maior do que qualquer outra coisa já vista anteriormente na série, e é bom tomar cuidado para não morrer acidentalmente. Infelizmente, a Ubisoft perdeu a chance de fazer algo que tem impacto real na história: independentemente de quem ganhar, o comportamento da região não muda e o rumo da guerra permanece sempre o mesmo — ou seja, na prática, as Batalhas estão ali mais como uma desculpa para ganhar experiência e descolar alguns itens mais raros.
Mercenários
Para completar, Assassin’s Creed Odyssey tem um sistema de mercenários que traz influências claras do sistema Nêmesis de Terra-Média: Sombras de Mordor e sua sequência. Esses inimigos surgem para punir os jogadores que cometem ações consideradas ilegais e representam um dos maiores desafios do jogo — enfrentar dois ou três deles juntos é uma grande dor de cabeça.
Há algumas formas de se livrar desses adversários: matando eles (o que não acaba com a recompensa por sua cabeça), pagando a recompensa por conta própria ou eliminado a pessoa que colocou sua cabeça a prêmio. O responsável sempre fica identificado no mapa com um ícone em forma de coração e costuma ficar próximo ao local em que um crime foi cometido, embora isso possa variar um pouco dependendo da situação.
E aí, vale o investimento?
Assassin’s Creed Odyssey mantém a tradição da série de ser uma “colcha de retalhos” de elementos próprios com outros “emprestados” de outros títulos triplo A. Isso não impede que ele seja um dos melhores títulos a levar a marca, oferecendo aquele que provavelmente é o maior mundo aberto já criado pela Ubisoft.
Há tanta coisa para fazer, locais para descobrir e personagens para conhecer que você pode chegar ao final da aventura sem explorar boa parte do mapa criado pela empresa. O foco aqui é em oferecer uma visita de luxo à Grécia Antiga, focando muito mais em uma história com começo, meio e fim bem definidos do que em evoluir a trama central e futurista da franquia — algo que podem desagradar um pouco alguns fãs de longa data.
A trama demora um pouco para engrenar, mas se mostra bastante interessante mesmo quando se desvia para um caminho mais fantasioso e prova que não deixou de lado as teorias da conspiração que ajudaram a definir a série. No final, Alexious e Kassandra se mostram bons protagonistas, mesmo que eles não sejam figuras tão bem desenvolvidas quanto Ezio Auditore ou Bayek de Siuá.
Galeria 1
Abraçando ainda mais seu lado RPG, Assassin’s Creed Odyssey usa a base que funcionou em Origins e cria uma aventura ainda mais ampla e divertida de jogar. O game tem sim alguns problemas de ritmo e bugs, mas em geral apresenta uma experiência bastante sólida e que traz conteúdos de sobra para os fãs — isso sem deixar de lado os novatos, que podem começar a franquia por aqui sem ter muito problema em entender o que está acontecendo.
Categorias
- Mecânicas de RPG ainda mais profundas e que traz grande ênfase nos tipos de equipamentos disponíveis;
- Uma história interessante que mistura teorias da conspiração, dramas familiares e certa dose de fantasia;
- Sistema de combate aprofundado e que exige mais agressividade, permitindo que o jogador use diferente estilos de aproximação;
- Kassandra e Alexious são bons protagonistas e o sistema de diálogos ajuda a dar mais personalidade a eles;
- O Modo Exploração incentiva descobrir o mundo de forma própria e a explorar mais caminhos e atividades secundárias;
- Alguns bugs podem quebrar a imersão no mundo: no meu caso, foi comum ver personagens “presos” no cenário;
- Muitas das revelações mais importantes sobre a série em geral foram relegadas a missões secundárias;
- A história demora a tomar ritmo: você provavelmente vai passar as primeiras 10 horas sem saber muito bem qual é o propósito do game;
- Muito do conteúdo secundário segue o estilo “copiar e colar”, oferecendo dezenas de fortalezas, cavernas e confrontos com dinâmicas repetitivas
Nota do Voxel