Uma nova perspectiva para os assassinos
Os fãs mais dedicados da franquia Assassin’s Creed provavelmente já sabem que a Ubisoft não se limitou à série principal de jogos e investiu em vários meios diferentes para expandir o universo no qual os assassinos e templários lutam pela paz mundial. Utilizando histórias em quadrinhos, filmes de curta metragem e livros, a empresa introduziu uma série de detalhes ao mundo que vemos nos games e apresentou alguns personagens novos bastante interessantes.
Um desses produtos adicionais criados pela companhia foi a animação Assassin’s Creed Embers, que conta a história dos últimos dias da vida do grande Ezio Auditore da Firenze e introduziu a assassina chinesa Shao Jun. Desde o surgimento do curta, os fãs da franquia vêm aguardando ansiosamente por um Assassin’s Creed situado na China e protagonizado pela personagem.
Ao mesmo tempo, muitos jogadores reclamam que a série da Ubisoft ganha jogos demais e que pouco muda entre um e outro, ficando desmotivados com os novos títulos anunciados. Resolvendo encarar essas duas questões de uma vez só, a Ubisoft lançou Assassin’s Creed Chronicles: China, que é o primeiro episódio de uma trilogia que também vai passar pela Índia e Rússia.
Com visual e jogabilidade diferentes dos outros jogos dos assassinos, ele vem para tentar mudar e ampliar o que conhecermos sobre a franquia. Mas será que a Ubisoft conseguiu realmente renovar a série sem jogar fora os elementos que tornaram Assassin’s Creed o que é hoje? Ou será que o fantasma dos bugs e repetitividade que assombra a franquia também afetou o episódio mais novo? É isso o que vamos ver agora.
Vingança com simplicidade
Assassin’s Creed Chronicles: China é uma continuação direta da animação Embers e, se você não assistiu, então se prepare para pequenos spoilers a seguir. No jogo, nós ficamos sabendo que Shao Jun costumava ser uma concubina do imperador chinês antes de ser resgatada pela Irmandade dos Assassinos e passar a lutar em defesa dos oprimidos.
Quando a divisão chinesa da irmandade foi destruída por um ataque dos Templários aliados da família real, Shao e seu mestre foram os únicos a escapar com vida e a assassina resolveu ir até a Itália buscar os conselhos e treinamento de Ezio. Depois dos eventos da animação Embers, ela está de volta à sua terra natal e cabe a você guiá-la enquanto luta para se vingar daqueles que mataram seus companheiros e tenta reerguer a irmandade na China.
Diferentemente dos jogos de grande orçamento da série, Assassin’s Creed Chronicles: China tem um enredo mais raso e sem conexões com a trama do tempo presente, ligando-se somente à história da animação Embers. O desenrolar da trama do jogo acontece rapidamente durante as cutscenes entre uma fase e outra, o que não abre muito espaço para o desenvolvimento de personagens.
Ainda assim, é interessante acompanhar as mudanças pelas quais Shao passa ao longo do game, aprendendo a lidar melhor com seu desejo de vingança e descobrindo as consequências de suas ações. Nesse sentido, o game não decepciona os fãs da personagem. Acompanhando o enredo, a estética inspirada no uso de nanquim é bem trabalhada e bonita e ajuda a situar a história na China antiga.
Mudando de perspectiva
Diferentemente de seus irmãos de mundo aberto, Assassin’s Creed Chronicles: China é um título de plataforma com visão na perspectiva 2.5D, permitindo que você explore a profundidade dos ambientes em certas partes dos cenários. A ideia aqui é complementar a jogabilidade linear que marca os platformers em duas dimensões, dando mais opções para pessoas com estilos de jogo diferentes.
Boa parte dos ambientes do jogo possui mais de um caminho possível para que você chegue ao seu objetivo, o que permite que cada jogador adote uma estratégia diferente para superar cada sala e eliminar seus inimigos. Dessa forma, é possível interagir com elementos do cenário, escalar e se pendurar para passar pelos adversários, matando um por um silenciosamente ou então correndo para cima e combatendo um por um de forma aberta.
Somado a isso está o arsenal considerável da assassina, que pode atordoar seus inimigos com bombas, usar assobios ou dardos sonoros para chamar a atenção deles, arremessar facas ou ainda assassinar alvos desavisados atacando de cima ou deslizando e atacando rapidamente. No entanto, o fato de Shao Jun ser mulher não significa que ela só consegue agir sorrateiramente, já que é uma lutadora habilidosa treinada por Ezio.
Ação, porrada e correria
Se você não for do tipo que gosta de procurar os cantos mais sombrios para passar calmamente sem ser notado, então sua companheira favorita será sua espada. Caso seja vista e não consiga escapar e se esconder, Shao pode usar habilidades clássicas das lutas de Assassin’s Creed, como os bloqueios e contra-ataques, para sair com vida. Esses elementos, aliás, foram bem adaptados para o estilo em plataforma e ajudam o jogo a manter o espírito da franquia.
Na versão dos PCs, o único problema na hora das lutas são os controles no teclado, que podem exigir um tempo até que você consiga fazer tudo sem se atrapalhar e acabam causando algumas mortes frustrantes. Usar um controle adaptado para o computador pode ser uma boa ideia se você quiser uma experiência mais intuitiva e não tiver um Xbox One ou um PlayStation 4.
Uma das partes mais divertidas de Assassin’s Creed Chronicles: China são fases em que você é forçado a correr freneticamente para escapar de ambientes que estão desmoronando ou pegando fogo. O ritmo acelerado desses momentos equilibra o caminhar mais lento de outros e proporciona uma adrenalina que evita que o jogo se torne repetitivo, chegando a lembrar o Prince of Persia clássico.
Curto porém redondo
Como seria de se esperar de um jogo que custa somente R$ 30, Assassin’s Creed Chronicles: China é curto e pode ser terminado em cerca de cinco horas. Mas, caso você queira aproveitar por mais tempo, é possível se dedicar para pegar todos os colecionáveis, fazer a maior pontuação em cada fase e completar os modos de Novo Jogo + e Novo Jogo + Difícil, que proporcionam desafios adicionais para os perfeccionistas.
A escala menor do jogo em comparação a seus irmãos de grande orçamento também serviu para que a Ubisoft polisse o trabalho em ACC: China, evitando muitos erros que afetaram outros títulos da série. Durante nossa análise, encontramos apenas um bug ao cair por uma plataforma baixa e acabar mergulhando pelo cenário, mas bastou recarregar o último ponto salvo automaticamente para resolver a situação.
Vale a pena?
Assassin’s Creed Chronicles: China consegue unir elementos que ajudaram a definir a série a uma versão mais dinâmica do gênero de plataforma, transportando com sucesso a franquia de ação em mundo aberto para um estilo de jogabilidade diferente. Ao mesmo tempo, o game consegue escapar da repetição e dos bugs que incomodaram nos jogos maiores da Ubisoft, então você pode ficar tranquilo sabendo que não vai ver rostos derretidos.
A história simples e curta deixa um gostinho de quero mais para os fãs da heroína, mas a jogabilidade diferente e o belo visual do jogo causam uma experiência agradável para quem está acostumado com o estilo habitual da série. Embora a falta de profundidade e rapidez com que o enredo se desenrola talvez não entreguem tudo o que os fãs de Shao Jun queriam, ainda assim é interessante acompanhar o destino da personagem e sua transformação.
Considerando a experiência que Assassin’s Creed Chronicles: China proporciona, fica claro que o título consegue cumprir sua tarefa de trazer novos ares para a franquia e contar mais sobre a vida de Shao, mas que serve mais como um passatempo descompromissado, sem grandes momentos memoráveis. Ainda que não possa ser considerado um divisor de águas, o jogo é divertido e certamente vai agradar aos fãs da série e a todos aqueles que gostam de bons títulos de plataforma.
Categorias
- Exploração em profundidade aumenta estratégias possíveis
- Belo estilo artístico em nanquim reforça a ambientação
- Jogabilidade stealth divertida e funcional
- Combates com elementos tradicionais da série
- Bom fator replay
- História superficial e curta
- Faltam momentos marcantes ou impactantes
- Jogabilidade pode incomodar quem usa teclado
Nota do Voxel