Uma criança não deveria passar por isso, mas você sim
Você é um bebê que acaba de completar dois anos e, em decorrência disso, ganha um ursinho Teddy de sua mãe. É esse o fato inicial em Among the Sleep, um suspense em primeira pessoa desenvolvido pela Krillbite, e é a partir dele que tudo se desenvolve dentro do título.
Os criadores do game exploram aqui todo o fator imaginativo do sonho de uma criança, levando você por mundos oníricos presentes nos confins da memória de um bebê que mal se equilibra sobre suas pernas. Pensando no pano de fundo, fica claro que os ambientes e os acontecimentos aqui têm tudo para apresentar estranhezas e bizarrices sem limites.
E, de fato, é isso o que acontece. Quando a criança — que não tem seu nome revelado — acorda no meio da noite e assiste a seu ursinho sendo levado por uma força invisível, o jogo começa de verdade e você se vê diante de ambientes cada vez mais bizarros. Sustos serão frequentes, mas nada horripilante.
Engatinhando pelo suspense
Na pele de um bebê, você pode engatinhar ou andar sobre os pés, sendo que a opção fica a critério do jogador. A melhor escolha depende do momento, pois andar agachado permite fazer isso com mais rapidez, algo positivo especialmente porque percorrer distâncias é a ação básica em Among the Sleep.
Entretanto, usar seus dois pés garante a chance de alcançar lugares mais altos, arrastar objetos maiores e também escalar cômodas, cadeiras, pedras e basicamente tudo mais que for alcançado pelo bebê. Enfim, destaque ao game por criar alternativas que podem ser exploradas de formas distintas, sendo ambas essenciais.
No início, a história do jogo é bem pouco explorada e novidades surgem com o tempo — a princípio, tudo fica um tanto quanto desconexo nesse sentido. Nesse mundo dos sonhos, repleto de bizarrices sem sentido para o jogador, aos poucos você vai entendendo que tudo se passa em locais na memória do pequeno protagonista.
Depois de acordar sozinho no meio da noite, você parte por sua própria casa em busca de sua mãe. Ela não se encontra e é aí que a aventura começa: sem um inimigo declarado, sem até mesmo um motivo para tudo estar acontecendo, o pequeno protagonista vai andando e se arrastando por cômodos que levam a mundos estranhos dentro de suas próprias memórias.
Seu objetivo é coletar alguns itens especiais que estão associados a alguma lembrança da mãe do bebê. Quem guia seus passos dentro do jogo, conversando com você em alguns momentos e ajudando a dar um ar bem mais macabro à jogatina, é o ursinho Teddy. Junto com o simples fato de você comandar uma criança tão jovem, essa é a característica mais marcante de Among the Sleep.
Suspense sonoro
A princípio, aqui não há um inimigo declarado, uma entidade sobrenatural conhecida pela qual você deva passar ou da qual você deva escapar. Nesse sentido, boa parte do jogo é imersa em um clima mais de suspense, de “filme estranho”, do que de horror.
Esse mergulho no mundo dos sonhos é incrementado por uma trilha sonora pesadamente direcionada a causar espanto no jogador — o que não é nenhum problema e, muito pelo contrário, funciona perfeitamente por aqui. Aliás, arrisco a dizer que a parte musical muita vezes faz você criar a expectativa de que algo terrível está prestes a acontecer, mas... Nada acontece. Essa é uma característica marcante de Among the Sleep, essencial para deixar tudo mais tenebroso.
Contudo, novos elementos vão surgindo aos poucos, justificando o motivo de Among the Sleep ser classificado como um jogo de terror. Além disso, o final da história faz você descobrir de onde vêm todos os temores, reunindo todas as pontas soltas em um grande nó e revelando que muitas perturbações reais estão por trás de um terrível pesadelo.
Um sonho convincente
Among the Sleep leva você a lugares pouquíssimos convencionais, que muitas vezes misturam coisas sem nenhuma relação direta — como uma casa de brinquedos em cima de uma montanha, árvores com raízes enormes dentro de um grande salão e uma série de tubos largos pelo qual você desliza de um cenário a outro.
Essa variedade de cenários é um ponto bem interessante oferecido pelo game, até do ponto de vista gráfico. Se há uma série de falhas visuais, como objetos passando através de outros ou ainda pouca definição em alguns detalhes do cenário, notadamente o solo e outros elementos fixos, a qualidade e a diversidade dos ambientes deste título compensam tudo.
Nesse sentido de interação entre jogador e ambiente, algo que às vezes prejudica é a câmera. A angulação da imagem não é ruim e talvez você não vá enfrentar grandes problemas na maior parte do tempo, entretanto em alguns instantes a posição do personagem prejudica a visualização do cenário, obrigando você a se movimentar para superar isso.
O controle da câmera também apresenta alguns problemas, especialmente quando o bebê está de pé. Nessa situação, um simples movimento lateral (usando um joystick para jogar, que foi o que eu fiz) para olhar ao redor se torna complicado, mais pesado. Algo inexplicável, mesmo para um personagem que é uma criança com apenas um par de anos de vida.
Mais paciência, menos puzzle
De certa maneira, pode-se dizer que Among the Sleep tem elementos de três outros jogos indie bastante conhecidos e até certo ponto semelhantes entre si: Gone Home, Contrast e Slender: The Arrival. O primeiro pela visão em primeira pessoa e um dilema familiar; o segundo pelos jogos de luzes e por se passar na imaginação de uma criança; e o terceiro, por fim, pelos elementos assustadores e pela perseguição.
Contudo, Among the Sleep não é o que nós podemos chamar de um jogo desafiador. Ele é assustador? Sim. Tem uma história interessante? Sem dúvida. Entretanto, ele não coloca o jogador diante de desafios que farão você quebrar a cabeça, bastando um pouco de paciência para vasculhar o cenário em busca do caminho correto.
Aqui, também cabe uma crítica: você pode interagir com basicamente qualquer porta de armário e gaveta deste título, entretanto a massiva maioria de todas as interações é completamente inútil. Talvez você até perca tempo no início vasculhando em tudo, mas, como os itens encontráveis aparecem claramente, não vale a pena investir nessas buscas que não resultam em nada.
Vale a pena?
Fazendo um balanço entre o bom e o ruim em Among the Sleep, o saldo final é bastante positivo, então eu acho que você deveria jogar. Se você curtiu algum dos três títulos citados neste texto, a sugestão para gastar algumas horas do seu dia com este jogo é feita de forma ainda mais incisiva.
O clima de suspense criado por aqui é incrível e provavelmente vai dar conta da sua vontade de sentir um pouco de medo. A sensação de tudo estar prestes a dar errado, de o pior se aproximando e também de que nada faz sentido está presente na jogatina, tornando a experiência de jogo ainda mais envolvente. Você começa a jogar e quer descobrir logo como tudo será explicado.
Os elementos gráficos com alguma falha ou a possibilidade de gastar muito tempo interagindo com itens que não fazem qualquer diferença acabam sendo superados por todos os pontos “agradáveis” de Among the Sleep. Enfim, eis aqui um jogo que, apesar de emprestar elementos de outros games quanto à estrutura, traz novos aspectos de jogabilidade e um roteiro original.
Categorias
- Excelente ambientação dá um bom clima de suspense
- Roteiro original
- Trilha sonora colabora para incrementar o ar de terror
- Alguns problemas gráficos, mas nada comprometedor
- Diversos objetos podem sofrer algum tipo de interação, mas poucos deles influenciam na jogatina
Nota do Voxel