Imagem de A Plague Tale: Innocence
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A Plague Tale: Innocence

Nota do Voxel
60

Plague Tale: Innocence se perde ao tentar ser várias coisas ao mesmo tempo

Primeira propriedade intelectual desenvolvida pelo Asobo Studio, A Plague Tale: Innocence nos leva para a França do final do século XIV. Enquanto as casas de Valois e Plantageneta brigam pelo trono em uma guerra sangrenta, a Inquisição ganha força com métodos brutais que envolvem o assassinato de todos que estão em seu caminho.

Para piorar a situação, a Peste Negra se espalha e vem acompanhada de hordas de ratos que matam rapidamente tudo o que podem. Nesse cenário, o jogador assume o papel de Amicia, uma jovem de uma família nobre que logo vê sua vida pacífica e protegida destruída e se descobre responsável pela sobrevivência de seu irmão Hugo, único membro de sua família que permanece vivo.

Perseguido pela Inquisição, cabe ao jogador tentar escapar de soldados e da infestação de ratos enquanto busca um lugar que seja seguro. No meio do caminho, você vai tentar fazer sentido do que está acontecendo e descobrirá elementos paranormais que se unem para explicar todos os desastres que estão devastando a França.

Todos esses elementos resultam em um game que, na tentativa de abraçar diversos elementos de jogabilidade e dar mais complexidade à sua história do que consegue sustentar, se perde no meio do caminho. Enquanto os momentos iniciais são promissores, o título logo toma caminhos que os contradizem e resultam em uma experiência que, na tentativa de fazer muito, acaba não cumprindo bem nenhum de seus objetivos.

Valores de produção e roteiro

A Plague Tale: Innocence é um game que deixa claro seus bons valores de produção nos cenários, modelos de personagens e na maneira como constrói seus ambientes. Ao mesmo tempo, fica evidente certa falta de cuidado nas animações e na inteligência artificial, deixando claro que o orçamento da Asobo era um tanto limitado e certos sacrifícios tiveram que ser feitos.

A Plague Tale

Isso fica especialmente evidente no quão linear a experiência é. Embora o jogo disfarce isso dando a impressão de ter grandes cenários, fato é que, do início ao fim, seguimos um corredor que delimita bem a progressão e possui set-pieces muito bem definidos — em outras palavras, não demora muito até você descobrir exatamente o que esperar de cada trecho.

do início ao fim, seguimos um corredor que delimita bem a progressão e possui set-pieces muito bem definidos

Na maior parte do caminho, basta observar a disposição dos elementos de um cenário para saber exatamente o que é preciso fazer para progredir. Ao mesmo tempo em que isso contribui para dar um bom ritmo à progressão, as decisões de design fazem com que o jogo não tenha muitas surpresas: depois da primeira perseguição por ratos, você sabe bem quando eles vão surgir de novo e qual é a melhor maneira de se proteger.

Da mesma forma, o roteiro também segue caminhos bem previsíveis, embora ganhe pontos por conseguir desenvolver bem a relação entre Amicia e Hugo. Em compensação, você consegue ver logo de cara quais personagens secundários existem para serem sacrificados pela trama em momentos que raramente têm o impacto desejado — em geral, você passa tão pouco tempo com eles que é difícil sentir tristeza por suas mortes.

A Plague Tale

O que complica mesmo A Plague Tale: Innocence é o ato final, que reforça seus elementos sobrenaturais a ponto de parecer que estamos acompanhando um filme de Terror B. A mudança acontece de forma tão rápida e mal explicada que é difícil não achar até um pouco engraçado o quanto o roteiro faz questão de levar a sério algumas cenas.

Jogabilidade indecisa

Outro ponto em que A Plague Tale: Innocence peca é em tentar oferecer ao jogador diferentes tipos de jogabilidade que não conversam muito bem entre si. Nos momentos iniciais, o game parece ser uma experiência mais contemplativa que reconhece as limitações físicas de Amicia e Hugo e nos convence de que, perto da Inquisição, eles são impotentes para lutar de forma direta.

Essa impressão bem construída é jogada fora em questão de pouco tempo conforme o game se transforma de uma experiência furtiva com conceitos básicos, mas bem implementados, em um jogo de ação. A partir de certo ponto — que acontece bem cedo —, o game decide jogar de lado qualquer tensão construída até então para dar aos jogadores exatamente as armas que precisam para eliminar qualquer inimigo.

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Quando parece que um novo desafio vai surgir para quebrar essa sensação de segurança, em questão de minutos você ganha  a ferramenta que precisa para vencer com facilidade. Somado ao fato de que os inimigos possuem uma inteligência artificial bastante básica e fácil de explorar, isso resulta em um game praticamente sem desafios no qual a furtividade, em última instância, é basicamente desnecessária.

A partir de certo ponto, o game decide jogar de lado qualquer tensão construída até então

Certa tensão só se mantém nos momentos em que é preciso lidar com as hordas de ratos, mas mesmo eles se revelam bastante fáceis. Trechos dominados pelas criaturas são os que mais envolvem quebra-cabeças, cujas regras são fáceis de desvendar e não impedem muito seu avanço.

Em geral, é mais fácil você morrer porque o jogo falhou em lidar com uma criatura que deveria ter sido afastada do caminho (e não foi) do que porque você não descobriu o que era para fazer. Caso isso aconteça, A Plague Tale é bastante generoso com checkpoints e nunca é preciso se preocupar em ter que refazer longos trechos.

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O principal problema da transição de um jogo furtivo para outro de ação é o fato de que, na tentativa de criar dois sistemas variados, a Asobo não conseguiu deixar nenhum deles muito polido. Isso fica bem evidente em uma das lutas finais, na qual a chave para a vitória não é saber observar os ambientes ou ter reflexos rápidos, mas sim conseguir explorar de forma adequada as limitações da inteligência artificial.

Quebra de expectativa negativa

Para falar mais sobre o motivo de sair tão decepcionado de A Plague Tale: Innocence, seria necessário entrar em spoilers que podem estragar surpresas do jogo. Assim, vou me ater a afirmar que o jogo é bem-sucedido em criar e quebrar expectativas, mas que isso não é necessariamente algo positivo.

Embora muito da história de A Plague Tale seja positivo (volto a mencionar o desenvolvimento do relacionamento entre Hugo e Amicia), a grande reviravolta no tom da trama não convence e, na tentativa de ser algo sério, se transforma em uma mistura de bizarrice com toques de humor — acredito que você vai concordar comigo quando descobrir quem é o inimigo final.

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A impressão que é que o roteirista que decidiu a ambientação e definiu a premissa básica do game é completamente diferente daquele que assumiu o desenvolvimento a partir da metade da história. O resultado disso é um título com duas metades que não se conversam muito bem, algo que afeta tanto sua trama como um todo quanto sua jogabilidade — em resumo, na tentativa de fazer duas coisas completamente diferentes, a Asobo não faz nenhuma delas completamente bem.

Isso não quer dizer que A Plague Tale: Innocence é um jogo ruim. Tecnicamente há mais acertos do que erros e a trama, por mais esquizofrênica que pareça, deixa traços interessantes o suficiente para você agarrá-los e decidir ficar até o final. No entanto, o resultado final acaba sendo um game que perde sua identidade e não consegue se elevar além de um nível mediano.

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Pontos Positivos
  • Bons valores de produção e uma ambientação bem construída
  • Sabe desenvolver bem o relacionamento entre a protagonista e seu irmão Hugo
  • Traz alguns desafios de puzzle interessantes, mesmo que não exatamente desafiadores
  • Traz alguns desafios de puzzle interessantes, mesmo que não exatamente desafiadores
Pontos Negativos
  • As duas metades do roteiro não se conversam muito bem, resultando em um final digno de um filme B
  • A jogabilidade é igualmente indecisa: começamos com um game furtivo que logo perde a tensão e apela somente para a ação
  • Alguns personagens são mal desenvolvidos e estão ali somente para serem sacrificados, em momentos sem impacto algum
  • Inimigos com inteligência artificial péssima e fácil de explorar
  • Faltou cuidado nas legendas em português — “sapatos” viram “tênis”, frases são traduzidas em sentido incorreto e não respeitam o tom da dublagem