Contrariando a crença de muitos, a Nintendo não surgiu como uma empresa de jogos. Desde a sua fundação, em 1889, foram tentados inúmeros modelos de negócio, passando pela produção de cartas de baralho, operação como emissora de televisão ou ainda pela produção de alimentos, até que finalmente, em vista da concorrência forte, eles passassem a desenvolver jogos eletrônicos.
Entretanto, o sucesso não bateu à porta tão cedo: o primeiro gabinete de jogos (Arcade) vendeu bem no Japão, mas não atingiu o mesmo desempenho em territórios ocidentais. Com um excedente de máquinas enorme (encostado, devido à falta de compradores), eles se viram forçados a apelar para a criatividade.
Foi então que apareceu Shigeru Miyamoto, um “mero” designer, nascido em 1952. O rapaz, que até então era um encarregado pelas pinturas externas dos equipamentos, teve sua primeira oportunidade de criar um jogo, reprogramando as máquinas obsoletas de Radar Scope.
O resultado em 1981 foi nada menos do que Donkey Kong. Não o título para SNES, mas sim o clássico no qual o jogador tinha que salvar a princesa das mãos de um enorme e agressivo gorila, que arremessava barris ladeira abaixo de forma incessante.
O título, além de ser extremamente cativante, ainda colocava no mercado novas mecânicas de jogo, tais como o pulo, nunca antes visto no reino eletrônico. E assim, surgia o gênero de plataforma, aproveitado por companhias como a Namco, SEGA e muitas outras.
Contando com o sucesso mundial, a Nintendo passou a produzir seu primeiro console caseiro, o NES. A partir deste ponto, pudemos observar o surgimento de inúmeros outros jogos e personagens, sendo que a maioria deles contou com uma pincelada do gênio, Miyamoto, que ficava cada vez mais conhecido.
Quase tudo na Nintendo leva a mão do produtor
Depois do sucesso de Donkey Kong (e com a Nintendo revitalizada), não demorou muito para que o homem saltador ganhasse personalidade, um bigode e um novo nome. Surgiu então Mario, o herói do Reino dos Cogumelos, adorado em todos os cantos do mundo e mascote oficial da companhia.
Foi neste momento também que as diferenças entre os consoles caseiros e os Arcades foram definidas. Com The Legend of Zelda, a Nintendo proporcionava aos jogadores uma experiência épica, contínua e longa, que só poderia ser aproveitada com tempo. Nada de curtas sessões nas ruas!
E a lista não parou por aí. Depois tivemos muitos outros jogos de peso, tais como F-Zero, Pilotwings, Pikmin, Donkey Kong Country, Punch-Out, Kirby... Ou seja, muito do que a companhia produziu na década passada!
A inspiração que saiu dos campos de arroz
A qualidade e a inovação vistas nos títulos de Shigeru são imensas, o que nos leva à pergunta “de onde é que vem tanta inspiração”? A resposta para esta indagação está na infância do designer. Cercado por montanhas, plantas, rios e sem uma televisão por perto, ele gastava boa parte do tempo se aventurando sozinho.
Nestes passeios pelo desconhecido, ele também se deparou com o que seria a abertura de uma caverna. O jovem rapaz demorou para entrar, mas quando o fez, foi munido de apenas sua lanterna.
É a partir de todas estas experiências que a imaginação de Miyamoto trabalha, recriando as sensações que teve na infância, traduzindo-as em reinos misteriosos e repletos de desafios. Outro exemplo de inspiração retirada da vida real está em seu cachorro, Pikku, que culminou na criação da franquia Nintendogs, uma das mais populares no Nintendo DS.
E o mais curioso de tudo, é que ele, apesar de trabalhar com a criação de jogos, não se prende muito a eles, tendo como principais distrações seu violão e seu banjo.
Foco em cada título para ter os melhores resultados
Muitos podem imaginar que, pela quantidade de títulos que carregam o nome de Shigeru, ele se envolve em inúmeros projetos de uma só vez. A realidade é outra: apesar de ter que lidar com centenas de pessoas diariamente, o designer prefere se dedicar a um título de cada vez, seguindo uma ordem fixa.
Deste modo, ele pode concentrar todos os seus esforços sem desvios de foco, garantindo ao título qualidade digna do “Selo Nintendo”. Outro ponto crucial do estilo de Miyamoto é a famosa reviravolta no desenvolvimento dos jogos, também chamada de Chabudai Gaeshi.
Se em determinado ponto ele não está satisfeito com os resultados ou ainda com a proposta, tudo é jogado fora, sendo recomeçados os projetos desde o início. O principal caso recente desta prática ocorreu com The Legend of Zelda: Twilight Princess, lançado para GameCube e Wii.
Já com o jogo em desenvolvimento há algum tempo, ele entrou no time no papel de produtor — substituindo Eiji Aonuma — e fez com que a equipe revisse todos os detalhes. De acordo com a dupla, o tempo perdido estimado foi de um ano. Ao menos, o resultado final foi excelente.
Reconhecimento pelos jogos e pela personalidade
Os prêmios internacionais para o criador são muitos, incluindo honras da Academia de Artes Interativas e até mesmo o título de Cavaleiro, concedido pela Ordem de Artes e Letras, da França.
A partir de 2006, ele passou a figurar também na revista TIME. Na primeira de suas aparições, dentre a lista dos sessenta maiores Heróis Asiáticos, ele teve seu nome exibido junto aos de pessoas como Bruce Lee, Mahatma Gandhi, Madre Teresa e Dalai Lama.
Nos anos seguintes, Shigeru foi parar na lista mundial de 100 Pessoas Mais Influentes de Todos os tempos.
Gostando ou não da Nintendo, você já jogou algo de Miyamoto
Como “pai” de algumas das maiores franquias conhecidas na história dos jogos, Shigeru exerceu uma influência monstruosa na indústria mundial, o que se reflete na reprodução de gêneros, estilos ou até mesmo de propostas. Alguns vão além da simples semelhança, homenageando de fato Miyamoto em seus próprios jogos, caso de Daikatana, jogo de PC no qual o herói se chama Hiro Miyamoto.
A verdade é que praticamente todos os jogos que vemos hoje, independentemente de consoles, têm uma pequena pincelada de Shigeru Miyamoto, um gênio dos jogos com ar sereno, espírito aventureiro e sorriso aberto a todos os que o procuram.
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