Todo produto cultural, por melhor que seja, acaba encontrando vez ou outra sua derrocada. É claro que a queda pode ser temporária, como um “Virtual XI” para o Iron Maiden ou qualquer uma das “obras” de Joel Schumacher para a filmografia do Batman. Mas também existe a famosa “primeira pá de terra”, como “Matrix Reloaded” e “Spaghetti Incident” (Guns ‘n’ Roses).
Naturalmente, o mesmo princípio vale para os video games, embora com algumas variantes. Algumas franquias sofrem com trocas pouco interessantes de produtoras, outras tentam abraçar algo dramaticamente diferente da sua experiência típica de jogo e, finalmente, há também aquelas que simplesmente se desgastam com os anos — nomeadamente, séries como Sonic e Bomberman, embora essa constatação provavelmente corte o coração de muita gente.
De qualquer forma, não são incomuns aqueles momentos em que você para de fronte para um novo título da sua série preferida e fala: “O que foi que aconteceu com a minha série?!”. É uma mecânica a mais — ou a menos. Novo personagem principal que não deveria estar ali, um estilo absolutamente discrepante da marca registrada da franquia e, finalmente, o mais puro descaso de uma publicadora mais interessada em acumular “vil metal” do que em manter o bom nome de uma marca.
Reformulações “geniais”Às vezes o melhor é deixar as coisas como estão
A situação deve ser bastante típica durante a produção de um jogo. Em dado momento, um sujeito particularmente inspirado chega para o responsável pela produção e diz algo mais ou menos assim: “E se nós mudássemos completamente o conceito para trazer novos ares para a franquia?”.
Devil May Cry
Um bom exemplo recente desse padrão é o absolutamente controverso DMC: Devil May Cry. Ok, a versão ocidentalizada do Dante nem sequer deu as caras, e provavelmente alguém pode acabar indignado ao encontrar este artigo em um futuro não muito distante. Mas, francamente, a nova estética do herói ainda deve demorar um pouco para descer pela goela dos fãs mais tradicionais.
O diretor criativo da Ninja Theory, Tameem Antoniades, afirmou ao site 1UP.com que “A ideia é tornar Dante legal e fazer com que você ache legal enquanto joga, tanto o combate como o estilo e tudo o mais”.
Então DMC não era legal? Sim, ERA, mas, aparentemente, não é mais. “Você sabe, o que era legal 12 anos atrás — acredito que foi quando o primeiro jogo foi lançado [foi há 9 anos, conforme correção do site VG247.com] — já não é mais legal”. Antoniades acrescenta ainda: “Se Dante, vestido daquela forma [dos jogos antigos], entrasse em qualquer bar fora de Tóquio, as pessoas ririam dele”. Supostamente, porque isso não seria “legal”, certo?
Golden Axe
Golden Axe é um bom exemplo de uma série que começou bem, mas acabou largando pedaços pelo caminho. É claro, mesmo na época dos principais lançamentos para o saudoso Mega Drive (Genesis), já havia quem comparasse o título com um Streets of Rage medieval. Mas não há como negar: jogar Golden Axe 2 ou 3 com um amigo era sempre uma experiência revigorante.
Mas aí alguém resolveu que o eterno herói de cueca azul e seus dragões deveriam abraçar a nova realidade 3D. O que dizer? A epítome da incursão tridimensional da franquia se deu em Golden Axe: Beast Rider. Enfim, se você ainda não teve o desprazer de jogar, confira a análise completa do TecMundo Games.
Tony Hawk
Outra franquia que com certeza já teve dias melhores. Ao encarar a prancha plástica e a falta de precisão de Tony Hawk: Ride fica até difícil lembrar que já existiu um Tony Hawk original e, principalmente, que a comunidade gamer já teve à sua disposição algo com a qualidade espantosa de Tony Hawk 2. Ok, as inovações são necessárias para impedir que uma série afunde — a não ser que o título seja da Nintendo, é claro. Mas é de se perguntar: um skate de plástico era realmente necessário? Enfim...
Turok
Turok tem um passado respeitável. Foi um bom título para o Nintendo 64, embora a maior parte dos seres humanos normais não conseguisse avançar muito na história, dada a extrema dificuldade do título. De lá para cá, alguns títulos menos expressivos deram as caras — como uma adaptação para Game Boy Color que talvez seja melhor nem lembrar. A história medíocre e as falhas de texturas do título lançado para a atual geração (Turok) apenas coroou algo que já vinha ocorrendo há algum tempo.
Final Fantasy
Final Fantasy não é propriamente uma franquia original — a parte do “Final” também acabou perdendo o sentido lá pelo terceiro título. Mesmo assim, é difícil ignorar que a série de Hironobu Sakaguchi lançou a maior parte dos padrões RPGísticos atuais.
Só que em Final Fantasy XIII alguém parece ter sugerido: “E se FF fosse mais linear?”. Em seguida alguém deve ter acatado, e pronto. Eis um dos RPGs menos RPGs de que se tem conhecimento. Basicamente, a maior parte do título segue por mapas em linha reta, com pouca ou nenhuma variação e missões paralelas raras e simplórias. O resultado final é interessante? Pode ser. Mas sem dúvida acabou se afastando do conceito original.
Castlevania
Castlevania teve seus melhores dias enquanto, bem, enquanto ainda era Castlevania. Boa parte da comunidade gamer enxergou no recente esforço da desenvolvedora Mercury Steam algo bastante aproveitável. Só que é impossível não constatar uma boa dose de “mais do mesmo” em Castlevania: Lords of Shadow. Se não, faça o seguinte: jogue qualquer título da série God of War, jogue LoS, e volte aqui para compartilhar as suas impressões. Sem contar que a mecânica que rege o jogo se repete à exaustão.
Mais do mesmoA arte de produzir o mesmo jogo durante vários anos
Alguns franquias acabam descambando por se valer de um modus operandi semelhante ao do ex-vocalista do Black Sabbath Ozzy Osbourne: lançam o mesmo produto ano após ano. Sim, a marca pode ser boa. Mas depois de um tempo acaba cansando.
Dynasty Warriors
Dificilmente alguém conseguiria imaginar algo mais repetitivo que Dynasty Warriors, série de pancadaria comunitária da produtora Koei. De fato, após tantos títulos praticamente idênticos, não é difícil encontrar alguém que se pergunte: “Isso algum dia foi bom?”.
Guitar Hero
A eterna briga entre Guitar Hero e Rock Band tem pendido mais para o lado do segundo por um motivo bastante óbvio: GH praticamente não tem trazido inovações. É verdade que World Tour acrescentou uma ou outra mecânica nova. Entretanto, os títulos recentes da série têm se limitado a simplesmente acrescentar uma capa e algumas músicas novas — o que não resiste a uma comparação com a adição de instrumentos reais de Rock Band 3, por exemplo.
Tenchu
Tenchu provavelmente teve seus melhores dias no PS2. Nomeadamente, com Tenchu 3. Desde então, a série acumulou uma série de títulos praticamente iguais em uma mesmice que culminou no péssimo Tenchu Z — do qual até mesmo o eterno Rikimaru foi sumariamente limado. Enfim, a melhor dica provavelmente seja: revisite Tenchu: Wrath of Heaven (PS2).
Pro Evolution Soccer
PES é outro exemplo de uma franquia que não exatamente conseguiu suportar a transição para a atual geração de consoles. O legado aqui é dos mais admiráveis. São verdadeiras pedradas, como International Superstar Soccer Deluxe (Super NES) e Winning Eleven 9.
Entretanto, a Konami tem mostrado certas dificuldades para introduzir novidades nas edições mais recentes, que acabam saindo todas muito... Parecidas, por assim dizer — desconsiderando-se, talvez, a jogabilidade de PES 2011 que, entretanto, acabou não agradando muita gente.
Sinal dos temposCondenado pela própria mecânica revolucionária
Mario tem uma prerrogativa das mais invejáveis: ela não é realmente bom em absolutamente nada! Ok, desentupir encanamento exige uma boa dose de habilidades, e nós jamais desmereceríamos isso. Mas, em termos de video game, não há sequer um ponto em que o ícone maior da Nintendo seja particularmente extraordinário. E isso é ótimo.
Prova disso é a carreira um tanto pedregosa do concorrente direto do encanador, o ouriço Sonic. O emblemático personagem da SEGA era rápido. Absurdamente rápido. Em uma era abarrotada de jogos em plataforma lentos e pouco expressivos, Sonic apareceu em um jogo vertiginosamente dinâmico; um carrinho de montanha-russa sobre um par de tênis vermelhos. Sim, isso foi bom... Mas parece existir um ponto fraco.
Aparentemente, sempre que um personagem é lembrado apenas por um estilo de jogabilidade, o formato pode acabar cansando rapidamente, ou simplesmente sucumbindo diante das necessidades das plataformas emergentes. Outro bom exemplo disso é Bomberman — cujo “tiro no pé” mais certeiro foi o terrível Bomberman: Act Zero. Explodir coisas talvez tenha funcionado bem até a terceira e, quiçá, até a quarta edição.
Em outras palavras, enquanto personagens multifacetados como Zelda ou o já mencionado Mario podem se sair bem em lutas, corridas de kart ou jogos de ação, pouca gente imaginaria um Sonic em um jogo de RPG — não que isso não tenha sido tentado, é claro.
Outro clássico que acabou penando com o passar dos anos foi Contra. Sim, a dupla de irmãos gêmeos armada até os dentes deveria ter sido deixada em paz em algum momento dos anos 90. Não que a franquia não tenha produzido um ou outro título razoavelmente decente ao longo dos anos. Mas, francamente, o NES parece ter ficado com a melhor parte de Contra — se não, dê uma conferida em Neo Contra (PS2).
No fim das contas, um jogo de video game é também um produto cultural que deve zelar pelo bom nome. Só que entre trocas de desenvolvedoras, transições de plataformas ou o bom e velho tempo, algo sempre pode se perder, invariavelmente deixando um gosto amargo na boca dos fãs mais dedicados, de forma que, em algum momento, todos nós chegamos a nos perguntar: “Mas, afinal, o que houve com a minha série?!”.
E você, anda meio desgostoso com as escorregadas da sua produtora favorita? Acha que o novo personagem não tinha nada que se colocado dentro da sua franquia do coração? Comente. Reclame. O TecMundo Games quer saber a sua opinião.