Imagine a seguinte cena: uma empresa iniciou um projeto de desenvolvimento relacionado a um produto de grande porte e pretende realizar o anúncio disso em breve. O risco? Alguém de dentro da própria companhia fazer com que certas informações “vazem” para o público antes da grande revelação.
Isso ocorre em várias áreas do entretenimento. Nos video games, é extremamente comum acompanhar vazamentos inesperados de detalhes — certas vezes, até mesmo imagens e vídeos — ligados a jogos eletrônicos apenas indagados pela mídia e pelos fãs. Com a eficiência e a rapidez da tecnologia da informação, espalhar esses dados fica fácil.
Em alguns casos, vários indivíduos iniciam uma onda de rumores e boatos embasados em fatos não muito convincentes. Mas mesmo essas bases pouco sólidas abrem alas para o surgimento de especulações verdadeiras e, com isso, alguém resolve ir mais fundo no assunto, tentando conseguir algo diretamente da “fonte”. Sendo assim, a confirmação de um título surge antes mesmo do anúncio oficial (o famoso Press Release).
E a mídia não perdoa. Sites da web são veículos extremamente velozes de notícias... Bem como de levantamentos, pesquisas, rumores e relatos. O canal YouTube é um dos melhores exemplos dessa agilidade através da transmissão de vazamentos na forma de clipes. Não é raro conferir páginas de vídeos que foram excluídos do canal por exigência das companhias responsáveis pelos produtos apresentados.
Quer um exemplo nos games? A jogabilidade de Call of Duty: Modern Warfare 2 foi exibida antes do previsto em agosto de 2009. Um usuário do YouTube resolveu mostrar vídeos retirados de uma convenção fechada em Las Vegas e, desde então, milhares de pessoas ficaram sabendo que favelas e até mesmo o Cristo Redentor apareceriam no tão aguardado FPS — tiroteios em perspectiva de primeira pessoa — da Activision.
Aconteceu o mesmo com Sonic the Hedgehog 4: Episode 1. No último mês de maio, cenas da jogabilidade referentes à seção Mad Gear Zone: Act 2 foram divulgadas no canal, mas pouco depois desapareceram “devido à reivindicação dos direitos autorais da SEGA of America”.
Fóruns online são capazes de gerar um impacto ainda mais impressionante. O NeoGAF (na área Gaming Discussion) é uma excelente fonte de informações quentes, muitas vezes divulgadas antes da vontade das grandes distribuidoras. Achou, escreveu, espalhou.
Você já deve ter visto algumas notícias aqui no TecMundo Games feitas com base em relatos desse fórum, até porque há desenvolvedores e representantes de empresas de jogos no site. David Jaffe, Cliff Bleszinski, funcionários das companhias Guerrilla Games, Insomniac, Capcom, Turn10, Naughty Dog... Enquanto boa parte dessas pessoas posta mensagens por meio de contas “anônimas”, outras não fazem questão de esconder sua identidade.
Lenha na fogueira
Antes de grandes eventos, então, a situação fica crítica. Os dias que antecedem uma feira de grandes proporções — como a E3, a monstruosa Electronic Entertainment Expo — geralmente inundam a comunidade gamer com especulações e vazamentos.
Um vídeo de Mindjack, da Square Enix, foi gravado no Los Angeles Staples Center antes mesmo que a distribuidora realizasse o anúncio do game durante a E3 2010. Muitos pensaram que o título do jogo fosse Nerkas, mas esse é apenas o nome da corporação que aparece na trama.
É claro que os vazamentos podem ocorrer a qualquer momento e não envolvem apenas games. O periférico Wii Remote Plus foi comentado pela mídia no mês passado dias antes da revelação oficial da Nintendo. Foi a disponibilização da imagem da caixa do jogo FlingSmash que apontou o surgimento do novo controle do Wii com o acessório Wii MotionPlus embutido.
Mais? Que tal o caso de Final Fantasy XIII para Xbox 360? Uma semana antes do lançamento oficial do 13º título da franquia, milhares de jogadores tiveram a oportunidade de baixar e conferir a versão destinada ao console de última geração da Microsoft. Com isso, ficou ainda mais evidente a força da pirataria nos video games.
Killzone 2, FPS exclusivo para PlayStation 3, também “vazou”. Antes, apareceram apenas informações e imagens sobre o jogo (inclusive uma screenshot que mexeu com os nervos de muita gente). Depois (janeiro de 2009), surgiu uma cópia do título na loja eBay. Pelo visto, um usuário — usando diferentes nomes de vendedor — conseguiu colocar as mãos em um kit para a imprensa e resolveu vendê-lo.
Uma das “atrações” mais recentes foi a súbita aparição de Resistance 3 por meio de figuras em uma conta do Flickr. Um clipe foi apresentado previamente pela Insomniac Games, mas a empresa não havia liberado nenhuma imagem oficial. O BJ foi uma dos primeiros veículos a divulgar esse acontecimento... Originado do fórum NeoGAF, é claro. Clique aqui e confira a notícia completa sobre o assunto.
A franquia Halo, da Microsoft, merece um destaque especial no que diz respeito a vazamentos. É impressionante a forma como a tão conhecida série foi vítima de piratas e pessoas mal-intencionadas, capazes de espalhar pela web dados — e até mesmo cópias ilegais — sem pudor algum.
A seguir, conheça um pouco mais sobre a saga infeliz dessa franquia num mundo no qual a informação é obtida e disseminada a qualquer preço.
HaloSegredos da franquia... Que geralmente vão para o raloQuase todos os títulos da desenvolvedora Bungie despontaram na mídia dos games antes do esperado. Os canais YouTube e Justin.tv mostraram uma enxurrada de vídeos retratando experiências de diversos gamers que conseguiram jogar Reach antes do lançamento do game. Algo parecido ocorreu com Halo 2, Halo 3 e Halo 3: ODST no passado.
Por mais que as empresas tentem adotar medidas estratégicas (relacionadas, na maior parte das vezes, à aplicação de restrições via DRM — Digital Rights Management, gerenciamento digital de direitos), é muito difícil evitar que grandes nomes, como Halo, sofram problemas de vazamento. A pirataria continua intensa.
Saiba o que disse Randy Pitchford, presidente da Gearbox Software (criadora da versão para PC de Halo: Combat Evolved em 2003), ao site IGN sobre a dificuldade encontrada pelas desenvolvedoras:
“Quanto maior o game, maior o vazamento e maior o desgosto dos desenvolvedores. Nós fazemos entretenimento. Nosso propósito, na vida, é tentar entreter o mundo. Quando nós trabalhamos durante anos em algo grande e indivíduos de má fé estragam a surpresa de todos... Bem, isso é apenas chato. A Bungie é ótima e nos entregou ótimos produtos. Eu acredito que eles merecem o nível mais elevado de respeito.”
À mercê da ilegalidade
Aparentemente, Combat Evolved (lançado em 2001) foi o único Halo que escapou desse problema. Halo 2, entretanto, abriu alas para os vazamentos da franquia. Lançado em 9 de novembro de 2004 para Xbox, o jogo começou a ser testado ilegalmente a partir do dia 13 de outubro do mesmo ano.
As cópias piratas do segundo game eram versões PAL que incluíam textos em francês e despontaram em sites piratas. Como isso aconteceu? Ninguém sabe, mas os relatos sugerem que certos indivíduos conseguiram obter um “código de acesso” no território europeu.
O período de vazamento de Halo 3 não foi tão alarmante, mas causou impacto mesmo assim. O título estava previsto para ser lançado em 25 de setembro de 2007 para os usuários do Xbox 360, mas “vazou” no dia 21 daquele mês.
Sendo assim, versões ilegais do jogo começaram a ser distribuídas em páginas piratas e sites de hospedagem de arquivos quase uma semana antes do lançamento oficial. O arquivo de 6,14 GB de tamanho pôde ser executado em consoles modificados. Em algumas lojas do Reino Unido, o game já estava sendo vendido “antes da hora”.
A Microsoft tentou aliviar o choque do vazamento de ODST afirmando que a brecha foi “pequena”, mas... No dia 28 de agosto de 2009, várias pessoas tiveram a oportunidade de conferir o que estava previsto para aparecer somente no dia 22 de setembro do mesmo ano (Xbox 360).
E foi o pessoal da França que teve a chance de comprar o game antecipadamente quase um mês antes do lançamento. Curiosamente, a Microsoft falou que não tomaria medidas — banindo as contas na Xbox Live, por exemplo — contra esses consumidores.
O caso de Halo: Reach foi bastante comentado pela mídia. A última bomba da Bungie foi lançada no último dia 14 de setembro para os portadores do console da Microsoft, mas... A partir do dia 20 de agosto deste ano, hackers fizeram o download de cópias do game através da própria Xbox Live Marketplace.
Mas como? Segundo os relatos, o grupo de modders conseguiu invadir a rede da Microsoft e baixar versões destinadas a críticos de games. Inicialmente, os “autores” da quebra de segurança afirmaram que não espalhariam as cópias para o público, mas os dias seguintes mostraram o contrário: vídeos, imagens e edições piratas surgiram na web.
Se você se lembra de outro grande vazamento referente ao vasto mundo dos jogos eletrônicos, sinta-se à vontade para comentar abaixo.
