Se você acompanha o TecMundo Games há algum tempo, então provavelmente deve conhecer bem o gênero survival horror. Você já conferiu vários especiais sobre o assunto aqui no site, como a história de Resident Evil e diversos outros artigos relacionados. Este gênero, sem dúvidas, foi e ainda é responsável por muita diversão, graças ao seu clima que, normalmente, cativa os jogadores com facilidade.
Quem nunca ficou literalmente preso à cidade de Silent Hill? Ou qual jogador nunca pensou duas vezes antes de fazer alguma coisa em Dead Space? Certamente, a atmosfera sempre foi um ponto crítico nos jogos que operam com o uso da lendária fórmula do survival horror.
Os três primeiros Resident Evil foram grandes exemplos do que é a base do survival horror. Sem dúvidas, estas obras primas ditaram o que seria a estrutura padrão para o gênero, a qual seria utilizada exaustivamente em diversos outros títulos. Basicamente, os personagens não eram exímios combatentes, possuíam poucos recursos e o único objetivo era realmente sobreviver em meio ao caos. Isso, combinado ao clima cinematográfico, criava uma fórmula simplesmente excelente.
Mas, com o passar do tempo, as coisas foram mudando. Resident Evil foi uma das maiores provas de que o gênero survival horror estava sofrendo grandes mutações. Quando Resident Evil 4 chegava às lojas, houve uma recepção controversa do público, principalmente dos fãs da franquia. Mesmo sendo um dos melhores jogos de todos os tempos, a quarta edição causou polêmica por suas mudanças, que distanciavam o game das três edições anteriores que, até então, caracterizavam a franquia.
Muitos jogadores reclamavam que Resident Evil já não era mais um survival horror, e sim um game de ação. De fato, o clima de mistério e os ambientes escuros combinados com as câmeras posicionadas estrategicamente, estavam extintos. Em seu lugar, entrava outro atributo: o desespero. Você já não tinha mais medo de prosseguir, mas sentia-se desesperado por estar sendo perseguido por dezenas de criaturas bizarras. Em suma, Resident Evil se tornou mais Ocidental.
Como assim, mais Ocidental? Pode-se dizer que o gênero, que conquistou o mundo todo, acabou passando por Hollywood e adotando alguns de seus estereótipos. Personagens fortões, cheios de habilidades marciais e prontos para derrotar o mundo. Ou ainda a troca do terror psicológico pela brutalidade gratuita e o excesso de sangue. Tudo isso acabou se tornando dominante no gênero, para o terror de muitos.
É aí que surgem os famosos descendentes do survival horror. O TecMundo Games resolveu comentar um pouco mais sobre estas mutações do gênero. Atualmente, como você deve ter percebido, existem poucos jogos que realmente reflitam a essência do gênero. Mas, em compensação, contamos com diversos títulos que só existem graças aos conceitos do survival horror.
O início das transformações
Aprimorando os vírus
Durante a própria época em que Resident Evil reinava quando o assunto era survival horror, algumas desenvolvedoras já traziam propostas diferentes para o gênero. O próprio Silent Hill é um dos belos exemplos que se difere da base original concebida por Resident Evil. Mesmo trazendo algumas semelhanças, esta obra prima da Konami enfatizava uma atmosfera totalmente perturbadora, distanciando-se dos elementos de filme B do game da Capcom.
Em 2001, o segundo game da série, Silent Hill 2, chegava às lojas. Um dos elementos mais marcantes da segunda iteração é, sem dúvidas, a narrativa poderosa. Diversas torções no roteiro e uma combinação de acontecimentos completamente marcantes são apenas algumas das características da trama de Silent Hill 2. Pouco a pouco, o survival horror ia evoluindo. E evoluindo muito bem.
No mesmo ano, um título completamente ousado chegava às lojas. Fatal Frame era um jogo definitivamente japonês, pois adotava diversos mitos e histórias da cultura. Mesmo assim, Fatal Frame se tornou sinônimo de horror, colocando o jogador na pele de personagens ainda mais indefesos e envoltos por universos ainda mais aterrorizantes. É disso que nós gostamos, não é mesmo?
O objetivo do game era simples: tirar fotografias. Ok, nós já fazíamos isto em Pokémon Snap, não é mesmo? Não. Aqui, o terror era revelado no momento em que o diafragma da misteriosa câmera Obscura se abria. Os modelos eram fantasmas, e a única maneira de derrotá-los era disparando sua máquina fotográfica. Reparem na escassez de recursos e na excelente concepção da atmosfera, fatores que caracterizam o gênero.
Fatal Frame também se tornou sinônimo de excelência, e ainda ficou bastante famoso por trazer uma proposta diferente ao survival horror, a qual foi, e ainda é, muito bem-vinda. Fora isso, muitos julgam o primeiro Fatal Frame como um dos agmes mais bem escritos do gênero. É mole?
A chegada ao Ocidente
Vírus substituídos por anabolizantes
É óbvio que este gênero tinha potencial. Não demorou muito para que companhias do Ocidente, especialmente dos Estados Unidos e Europa, começassem a desenvolver seus próprios jogos aterrorizantes. The Thing, baseado no lendário filme homônimo — aqui conhecido como Enigma de Outro Mundo — de John Carpenter, foi uma das primeiras apostas, chegando às lojas em 2002 no PC, PlayStation 2 e no saudoso Xbox.
Logo de cara, o game foi classificado como um survival horror. Entretanto, quem jogava The Thing logo perceberia que este era, na realidade, o embrião de um descendente do gênero: o action survival. Basicamente, o jogo possui diversos elementos oriundos do gênero em questão, mas também traz bastante ênfase na ação e no desafio de manter uma equipe reunida.
Depois de dois anos, Doom 3 chegava às lojas. Primeiramente, a perspectiva do título da id Software já o diferenciava da grande parte dos survival horror. Tínhamos em nossas mãos um jogo em primeira pessoa, no qual, teoricamente, enfrentaríamos hordas de alienígenas e outras criaturas bizarras.
Contudo, quando o título chegou às lojas, a surpresa foi grande. Mesmo trazendo grande enfoque nos combates com armamentos pesados, Doom 3 também oferecia aos jogadores uma boa dose de survival horror. A atmosfera do jogo é simplesmente sensacional, e os sustos e a insegurança acabam fazendo parte da vida do jogador.
Sem dúvidas, nesta época começava-se a perceber que os desenvolvedores Ocidentais passaram a introduzir elementos de horror em jogos de ação, criando uma espécie de subgênero para o survival horror que hoje é conhecida como action survival.
Mesmo assim, ainda houve muita resistência do público, principalmente dos jogadores mais conservadores. Com isso, muitas desenvolvedoras passaram adotar a estética concebida pelos japoneses. Um exemplo disto é Clock Tower 3, lançado em 2003. O jogo absteve-se da aventura gráfica vista na fórmula original e passou a ser um título totalmente 3D e com uma jogabilidade pregada nos moldes do survival horror.
No mesmo ano em que Doom 3 chegava às lojas, a Sony decidia continuar o legado de Silent Hill em outro game: Siren. Para isso, a companhia contratou Keiichiro Toyama, o diretor de Silent Hill, para a criação deste novo jogo. Siren trazia um desafio sem precedentes, pois combinava personagens completamente indefesos com a uma jogabilidade furtiva. Assim, ficava realmente difícil sobreviver, o que obrigava o jogador a planejar seus movimentos e evitar qualquer conflito — bem diferente dos games ocidentais, não é mesmo?
Mesmo com a resistência, logo críticos e boa parte dos jogadores começaram a achar que a fórmula clássica do survival horror estava estagnada. Isso se tornou evidente quando muitos reclamaram dos recursos e dos controles limitados de games japoneses do gênero, como Resident Evil Code: Veronica e Silent Hill 4: The Room.
Com isso, surge a “obrigação” de inovar. E a inovação não é um novo tipo de vírus capaz de produzir criaturas abomináveis, mas sim a introdução de anabolizantes e outros elementos característicos dos jogos de ação.
O fim?
Ou um novo começo?
Nesta geração, ficou difícil dizer o que é survival horror. Diversos jogos decidiram incrementar na famosa fórmula estabelecida pelo clássico Resident Evil, e as rotulações se tornaram quase impossíveis. É claro que, ao contrário do que muitos pensam, isto também gerou diversos frutos bons.
A combinação de elementos tradicionais do survival horror com elementos cooperativos, e boas doses de ação, sem dúvidas, foi responsável pela geração do excelente Left 4 Dead, em 2008. Os zumbis deixavam de ser criaturas que se arrastavam e passaram a correr feito loucos, deixando o jogador completamente desesperado. Esta evolução também foi vista no cinema, o que pode ser um dos motivos de também estar presente nos games.
Quando Dead Rising, da própria Capcom, chegava ao Xbox 360, os jogadores foram simplesmente encharcados com sangue. A companhia criou um game totalmente sarcástico, tirando sarro de seus próprios sucessos e trocando o terror por excelentes doses de humor. Um título totalmente diferente de qualquer survival horror, mas que compartilhavam diversos elementos e inovava sem medo.
O próprio Resident Evil 4, de 2005, também foi responsável por alterações bruscas na até então intacta fórmula — conforme mencionamos anteriormente. Leon passou de novato para experiente, e o jogador ganhou um vasto arsenal de armas e um sistema de jogabilidade que trazia miras precisas. Totalmente diferente de qualquer survival horror, mas mesmo assim excelente.
E agora? A própria criadora do gênero survival horror “abandonou” a fórmula, optando pela injeção de elementos de outros tipos de jogo. Até mesmo Silent Hill mudou, também trazendo mais ação em Homecoming. O lendário Alone in the Dark, lançado antes do próprio Resident Evil, ressurgiu nesta geração como um game inundado por ação — e tremendamente mal feito.
Além disso, o desenvolvimento do sistema de combates nos jogos do gênero certamente denegriu a atmosfera concebida pelos títulos clássicos, obrigando o jogador a combater e não a se esconder ou simplesmente fugir — algo comum no final da década de 1990. Muitos consideram que o survival horror se tornou um gênero “vendido”, trazendo mais ação e violência gratuita para agradar os gostos do público Ocidental. Seria este o fim?
É claro que não. Mesmo com diversas novidades e mudanças, os jogos assustadores ainda persistiram. Um dos maiores exemplos é Dead Space, lançado em 2008 para PlayStation 3, PC e Xbox 360. Nesta aventura, o jogador encarna o engenheiro Isaac Clarke, que é surpreendido por mutações que invadem e eliminam boa parte de sua nave que também é seu local de trabalho. A partir daí, Isaac tem de fazer de tudo para se livrar do perigo e salvar o que sobrou da humanidade. E, como você pode imaginar, as habilidades de combate e os recursos são extremamente limitados.
Mesmo assim, Dead Space traz um combate bem desenvolvido, sendo uma das maiores provas de que é possível criar um game aterrorizante com bons conflitos. Esta pode ser considerada como a fórmula evoluída do survival horror, já que muitos dos elementos originais foram mantidos. Entretanto, se você procura algo mais intenso, basta pegar Resident Evil 5, que manteve a estrutura de seu predecessor.
Sem dúvidas, estamos falando de um gênero que sofreu diversas mudanças, seja para o bem ou não. De fato, temos diversos jogos com mais ação do que horror, mas o enfoque na narrativa e o terror psicológico ainda não foram esquecidos. Uma prova disto é Alan Wake, que deve trazer uma trama totalmente perturbadora para o Xbox 360.
Ou seja, agora temos ainda mais gêneros aterrorizantes, mais opções para se divertir e mais sustos. Então, do que você está reclamando? Escolha seu favorito e cuidado para não molhar as calças ou ter um ataque do coração pelo excesso de adrenalina.
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