Por que os video games são divertidos?

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Por que nós jogamos vídeo games? Por que gastamos incontáveis horas e recursos físicos construindo fantasias que, aparentemente, não tem qualquer relação com os objetivos mais concretos da vida? Afinal, enquanto finge ser um cavaleiro ou caçador de zumbis, você sem dúvida perde um tempo de vida precioso, o qual poderia ser utilizado para engordar o seu cofrinho ou aprender uma nova língua.

De fato, durante muito tempo, jogar vídeo games foi visto por uma grande parcela da sociedade como algo eminentemente nocivo ou, na melhor da hipóteses, como uma atividade lúdica “escapista”. Quer dizer, as pessoas incorporariam caçadores de dragões ou membros de uma milícia espacial para poderem ignorar o fato de serem leiteiros, motoristas de taxi ou corretores de imóveis.

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Mas classificar pejorativamente o tempo gasto com entretenimento eletrônico jamais deu resposta a uma questão tremendamente simples: por que nós jogamos vídeo games? Será que algo tão psicologicamente danoso — como quer boa parte dos puristas organizados em associações mundo afora — poderia envolver tantas pessoas, as quais, no médio ou curto prazo, apenas poderiam se transformar em eremitas violentos?

Realizando ideaisIdentifique-se com o seu herói

Há quem pense de outra forma, é claro — o que certament enão envolve bons gráficos. Segundo um estudo recente conduzido pela Universidade de Essex, nós não jogamos para afastar a realidade, mas sim para nos aproximarmos de ideais que não dispõem de muito espaço no mundo físico. Dessa forma, caso você não disponha de instinto suicida, recursos infinitos e não seja exemplarmente bom em artes marciais, talvez o melhor seja conduzir aquela sua vocação heroica para Batman: Arkham Asylum.

Em outras palavras, nós buscamos nos games personagens e situações que tragam similaridades com os nossos ideais particulares de vida — embora também sirvam para que nós experimentemos características que não temos, o que, provavelmente, concede alguns pontos ao argumento do escapismo.

A pesquisa supracitada foi conduzida pelo Dr. Andy Przybylski, e envolveu centenas de jogadores casuais e gamers dedicados, os quais jogaram de tudo, de The Sims a Call of Duty e World of Warcraft. Ao final da experiência de jogo, cada participante era perguntado sobre os atributos e características de um personagem que, idealmente, gostariam de ser. “Um jogo pode ser mais divertido quando você tem a chance de agir e ser como o seu ‘eu ideal’”, disse Przybylski.

Dessa forma, embora interpretar um pedaço de carne saltitante possa ser particularmente divertido, o principal atrativo por trás de alguns dos maiores blockbusters da atualidade parece ser aquele precioso momento em que você poderá calçar os sapatos que (aberta ou secretamente) sempre desejou. “A atração de jogar vídeo games, o que faz deles realmente algo divertido, é que eles dão às pessoas a chance de pensar sobre o papel que, idealmente, gostaram de ter e, em seguida, interpretar esse papel”, afirmou o pesquisador.

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De fato, as pesquisas revelaram que a satisfação dos jogadores foi tanto maior quanto maior era a identificação com os personagens encarnados no jogo. “Eu fiquei animado com os resultados que mostraram que as pessoas não estão fugindo de si mesmas [com os jogos], mas sim correndo em direção aos seus ideais”, continuou Przybylski. “Elas não estão escapando para ‘lugar nenhum’, mas sim para ‘algum lugar’.”

Os truques da indústriaSete pontos que seguram você nos games

Img_normalCaso alguém ainda se pergunte sobre o sucesso da atual indústria de games, há alguns números interessante. Por exemplo, os usuários do universo virtual Entropia gastam, anualmente, US$ 8 bilhões em itens igualmente virtuais. Por outro lado, a febre social do momento, o game Farm Ville, mantém 70 milhões de jogadores ao redor do mundo.

Isso conduz necessariamente a uma única conclusão: algo bastante concreto atrai todas essas pessoas. Foi exatamente disso que tratou o escritor e designer de jogos inglês Tom Chatfield em recente palestra para a organização TED (Technology, Entertainment and Design). Segundo Chatfield, a indústria de games lança mão de sete artifícios para recompensar o seu cérebro, que entenderá a experiência geral como proveitosa. Confira abaixo:

  • Barras de experiência para o registro do progresso

Convenhamos, o mundo “real” é difícil de controlar e medir. Basicamente há uma série de acontecimentos que escapam a nossa avaliação, e simplesmente parecem não fazer sentido. Bem, isso não ocorre nos games. Basicamente, um bom jogo mantém todo o seu universo precisamente registrado em barras e números, de forma que a evolução do seu personagem seja constante e lógica. Segundo Chatfield, isso torna a experiência mais envolvente e íntima.

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  • Objetivos múltiplos de curto e longo prazo

Outro recurso que mantém a ideia de progresso organizado dentro de um jogo. Basicamente, um bom universo virtual deve oferecer diversas tarefas paralelas, a serem realizadas dentro de prazos diferentes. Para Chatfield, isso faz com que as pessoas sintam-se donas do seu progresso, com um percurso constantemente marcado pelo sucesso baseado em habilidades particulares.

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  • Esforço recompensado

Segundo Chatfield, trata-se do dispositivo que não diz que você “falhou”, mas sim que “não obteve sucesso ainda”. Ao ter seu esforço premiado, você acabará com a sensação de que o mundo em volta é controlável, que “faz sentido” — algo consideravelmente distinto das contingências do dia-a-dia.

  • Feedback (retorno)

Nosso aprendizado se baseia na formulação de padrões; padrões que são criados com base em uma sucessão de ações e reações — você não chuta mais uma pedra porque, em algum momento, descobriu que isso dói. Segundo Chatfield, questões amplas, como o aquecimento global, tornam esse mecanismo demasiadamente vago. Nesse ponto os games ganham pontos: os resultados das suas ações são sempre percebidos de forma rápida e não ambígua — quer dizer, matou o alienígena errado em Mass Effect? Aguarde a devida retaliação.

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  • O elemento “incerteza”

Realizar tarefas certamente é algo prazeroso. Entretanto, o que realmente mantém o nosso cérebro ligado em algo é a impossibilidade de prever com certeza o desfecho de algo. De fato, uma quantia bem ponderada de incerteza pode mantê-lo muito mais ligado nas tarefas exigidas por um game.

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  • Janelas de atenção reforçada

Trata-se de uma questão levantada por um campo emergente das neurociências. Em suma, nossa atenção e memória encontra-se mais ativa em momentos bastante específicos. O segredo? Soltar a informação certa durante esses momentos.

  • Relações com outras pessoas

Eis uma questão ligada ao próprio progresso da raça humana. “Se há algo de crucial que os jogos podem nos lembrar sobre a nossa natureza evolucionária, é que recompensa não se resume a dinheiro e pontos de experiência; e não se trata apenas de indivíduos solitários em frente a suas telas”, afirmou Chatfield em seu site pessoal. “Trata-se do valor intenso de fazer algo em relação e em colaboração com outros”.

Enfim, parece não restar dúvidas de que a popularização dos games tem feito muita gente reavaliar questões cruciais. De fato, há quem questione se a violência nas telas realmente se reflete fora delas — embora a necessidade da violência também seja questionada —, até onde os games nos tornam mais inteligente e, o que não poderia faltar, por que nos divertimos tanto quando ingressamos nos universos virtuais. Enfim, com ou sem o aval científico... É hora de jogar um pouco.

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