Há muitas ilusões no mundo de quem joga video games. Existe a que nos faz acreditar que é possível jogar apenas por mais meia hora antes de dormir, como há também aquela que faz pessoas comprarem Red Dead Redemption em uma promoção achando que só irão jogá-lo após terminar primeiro aquele save de Grand Theft Auto IV.
Porém, sem dúvida nenhuma, a mais frustrante de todas é a ilusão criada por uma data oficial de lançamento que, sem dó nem piedade, é alterada na última hora pelos desenvolvedores. É triste. As economias estão reservadas para aquele lançamento — muitas vezes a pré-compra já foi realizada — e o anúncio é feito. Seu console irá demorar um pouco mais para receber aquele disco.
Mas qual é a razão que leva as companhias a adiarem os lançamentos de seus produtos? Elas não sabem que no peito de cada gamer bate um coração e que o atraso de seus jogos só o enfraquece? Não é sempre assim. Afinal, basta olhar para o rosto de Shigeru Miyamoto para voltar a ter fé na bondade dos produtores.
Fonte: Unreality Mag
A verdade é que há muitos e variados motivos que fazem com que diversos títulos programados para chegar ao mercado em um determinado dia acabem sendo lançados depois. Eles podem estar ligados ao seu processo de criação ou, às vezes, ocorrem por fatores externos e imprevistos.
Sabendo disso, o TecMundo Games listou vários exemplos que podem ajudar na compreensão de como esse fenômeno devastador que atinge o calendário da indústria de games todos os anos se forma.
A indústria dos games é um negócio sérioAs estratégias de mercado no ramo do entretenimento
Que a indústria dos video games movimenta bilhões de dólares todo ano não é novidade para ninguém. Portanto, não é surpreendente o fato de que as companhias precisam planejar muito bem cada uma das etapas do desenvolvimento dos seus produtos. Isso inclui, naturalmente, a decisão da data de lançamento dos jogos.
Para pegar um exemplo recente, basta analisar o anúncio do adiamento de Tom Clancy's Ghost Recon: Future Soldier, da Ubisoft, cujo lançamento foi transferido do trimestre do Natal — época com mais lançamentos do que o comum — para o começo de 2012.
Segundo o diretor da companhia, Yves Guillemot, o adiamento seria bom para que o título fosse lançado em uma época menos competitiva. Guillemot não citou os nomes, mas é claro que a presença de Call of Duty: Modern Warfare 3 e Battlefield 3 no final de 2011 deve ter influenciado a escolha.
Essa não foi a primeira vez que algo do tipo aconteceu. DC Universe Online foi lançado em janeiro de 2010 para fugir dos blockbusters do final do ano anterior. Ao mesmo tempo, é possível afirmar que Ghost Recon: Future Soldier não será o último game a ser adiado pelos mesmos motivos.
É claro que ainda não é possível afirmar com certeza quais serão os títulos prometidos para 2011, mas que só jogaremos na prática no próximo ano (ou no seguinte...) Contudo já é possível arriscar alguns nomes.
Star Wars: The Old Republic, o MMORPG baseado no universo criado por George Lucas e que está sendo desenvolvido pela BioWare é uma aposta. Afinal, embora a companhia não costume atrasar seus títulos e o lançamento estar previsto para o mês de setembro, o gênero do game é um dos mais complicados de se produzir e isso pode acabar complicando os planos da empresa.
Dessa forma, é provável que a BioWare siga o exemplo de DC Universe Online e transfira a chegada do jogo às lojas por mais alguns meses. Assim, será possível trabalhar melhor na correção dos constantes bugs característicos do gênero ao mesmo tempo em que se evita a concorrência direta com lançamentos de peso.
A esperança, entretanto, é a última que morre e, assim como os fãs de Star Wars que não veem a hora de colocar as mãos em The Old Republic, o TecMundo Games também deseja que esta especulação esteja errada.
Cartas na manga
Da mesma forma que as companhias decidem prorrogar o tempo de desenvolvimento de certos games para que eles evitem confrontos diretos em datas recheadas de lançamentos, elas podem também decidir escolher alguns jogos para “ficarem guardados” até uma época menos favorável.
O adiamento já citado de Tom Clancy’s Ghost Recon: Future Soldier, por exemplo, pode demonstrar essa prática. A Ubisoft pode se dar ao luxo de realizar essa manobra comercial por planejar lançar Assassin's Creed: Revelations, a continuação de uma das maiores franquias atuais, no final de 2011.
Assim, a companhia consegue aproveitar o trimestre dos feriados de fim de ano com as novas aventuras de Ezio ao mesmo que prepara um melhor terreno para que as tropas de Future Soldier desembarquem no mercado.
A Square Enix também realizou algo semelhante com os jogos da sua Fabula Nova Crystallis anunciados em 2006. Dos três títulos anunciados originalmente, apenas Final Fantasy XIII foi lançado, no começo do ano passado. Já dos outros dois games (previstos inicialmente para o final de 2011), enquanto Type-0 aparenta estar se encaminhando a um estágio final, quase nada se vê a respeito de Versus XIII.
Isso pode até aparentar irresponsabilidade por parte da produtora, mas não se pode abandonar a hipótese de que o lançamento de um jogo da série a cada ano (como tudo leva a crer que acontecerá) possa ter sido uma estratégia planejada desde o início pela companhia.
Perfeccionismo?
Existem muitos games brilhantes que geram muita expectativa quando são anunciados. São aqueles que desde o princípio já aparecem na lista de candidatos a jogo do ano. É claro que grandes expectativas podem gerar frustração. Por conta disso, as desenvolvedoras desses jogos buscam atendê-las nem que isso signifique alguns atrasos.
Foi o caso de L.A. Noire, cuja tecnologia de captura de movimentos faciais cativou a comunidade gamer assim que o conceito do título publicado pela Rockstar foi anunciado. Assim, quando a primeira notícia de extensão do seu prazo de desenvolvimento saiu, ninguém ficou muito impressionado.
O mesmo ocorreu com Mass Effect 3, que no início de maio teve a sua data de lançamento alterada do final de 2011 para o início do ano seguinte. De acordo com o produtor executivo da franquia, Casey Hudson, a companhia deseja criar “o mais ousado game da série”, por isso o atraso.
A desculpa de que o atraso de um determinado título ocorreu para que os produtores possam “lapidá-lo” um pouco mais, entretanto, deve ser vista com ressalvas. Ela até pode colar no caso de um eventual atraso de The Legend of Zelda: Skyward Sword — cuja mecânica de jogo apresentou problemas na conferência da Nintendo na última E3 —, mas isso nem sempre é o caso.
Qualquer um que realizar uma pesquisa sobre notícias de games atrasados pode reparar. A maioria das mudanças na data de lançamento é acompanhada de, ou de nenhum comentário por parte da empresa, ou de alguém ligado à produção afirmando que o adiamento foi feito para que os seus criadores pudessem melhorá-lo.
Quando esses títulos são finalmente lançados e é difícil perceber as melhorias que o tempo extra de desenvolvimento deveria ter proporcionado, provavelmente a desculpa foi furada. Sinal de que a verdadeira razão pode ter sido um erro no cronograma da empresa ou então uma simples jogada de marketing.
Os fatores externos Ninguém escapa da natureza
Nem tudo, entretanto, é determinado pelos setores comerciais das desenvolvedoras e publicadoras de jogos. O intenso terremoto sofrido pelo Japão em março deste ano é um exemplo de como um fator externo pode influenciar a indústria dos video games.
MotorStorm Apocalypse, por exemplo, possui como premissa a apresentação de condições climáticas extremas, muito semelhantes às enfrentadas pelo povo japonês. Por conta disso, a Sony achou razoável esperar mais alguns meses para lançar o título (previsto inicialmente para a época em que o desastre ocorreu).
A Irem, por outro lado, foi ainda mais extrema e decidiu cancelar definitivamente a sua franquia Disaster Report — na qual os jogadores também deviam sobreviver a terremotos e outros tipos de ocorrências — em respeito às vítimas.
As decisões são exemplo de como é de vital importância para as companhias compreender o seu público para saber não só o melhor momento para vender o seu produto, mas também como não ferir a sua opinião e os seus sentimentos.
Dinheiro é solução... E problema também
É claro que muitas das outras razões apresentadas pelas companhias para justificar os seus atrasos envolvem dinheiro. As datas de lançamento são planejadas justamente para que um jogo chegue às lojas no momento considerado mais propício para que venda bem.
Por isso, não é de se espantar que a queda da PlayStation Network (e, por consequência, o atraso no lançamento de muitos games) tenha irritado tanto as desenvolvedoras que possuem títulos na loja online da Sony. Contudo, outra relação óbvia com as unidades monetárias também é um fator importante a ser considerado. É difícil lançar um jogo na data prevista quando não se pode pagar o salário dos responsáveis pela sua criação.
Além de ter virado sinônimo para vaporware (termo que designa produtos anunciados muito antes de começar a ser desenvolvido), Duke Nukem Forever quase foi cancelado de vez quando a 3D Realms teve de demitir o time responsável pelo desenvolvimento do game por motivos financeiros em 2009.
A história só não acabou mal porque o título foi parar nas mãos da Gearbox Software, que no dia 24 de maio deste ano anunciou que Duke Nukem Forever finalmente alcançou o status gold. (Mas mesmo nas mãos da empresa gerida por Randy Pitchford, contudo, o jogo recebeu o clássico “atraso do polimento”).
Companhias japonesas que sofreram com o terremoto de março de 2011 também têm com o que se preocupar. A Square Enix, por exemplo, teve estruturas devastadas pelo desastre natural e anunciou o cancelamento de alguns de seus títulos para se adequar a previsões mais prudentes do fluxo de caixa futuro.
Quando medidas desse gênero são tomadas, os fãs temem pelo pior. No caso da companhia, é provável que pelo menos Final Fantasy Type-0 mantenha a sua data. Afinal, a Square Enix cancelou outros games para priorizar os projetos mais importantes. Além disso, o título pertence à série de maior destaque da empresa e pode ser a chave para a sua recuperação.
A verdade, no fim das contas, é que, independentemente de sua razão, as alterações na data de lançamento dos jogos ocorrem pelo mesmo motivo que leva as companhias a os desenvolverem: ganhar dinheiro.
Isso não significa que as companhias são formadas por gênios do mal que confabulam como extrairão o último centavo de cada um de seus consumidores (embora, às vezes, esse pareça ser o caso). O lucro é necessário para que todos os funcionários sejam pagos e que novos projetos possam chegar às lojas para conquistar os jogadores pela sua qualidade.
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