Ah, a E3. A famosa Electronic Entertainment Expo (E3) finalmente está chegando. E o que isso significa? Bem, tratando-se do maior evento de video games do mundo todo, podemos esperar por, pelo menos, alguns anúncios bombásticos. Além do tão comentado Project Café, é bem provável que o público seja contemplado com vídeos e imagens de jogos que só chegarão aos consoles daqui a alguns anos.
E, normalmente, os trailers exibidos durante a feira são de cair o queixo. Às vezes, a própria proposta do jogo nem chega a ser muito empolgante, mas, mesmo assim, os vídeos arrancam suspiros. Parece haver alguma mágica, algo que deixa tudo mais bonito, mais intenso e bem parecido com aqueles jogos de nossos sonhos.
Para a surpresa de muitos, vários títulos realmente apelam para recursos extras para conseguir surpreender os espectadores. Você provavelmente já deve ter visto alguma imagem de algum game bacana e, quando chegou na hora da jogatina, percebeu que nem tudo era tão maravilhoso assim. Felizmente, sua visão não está se deteriorando. Você acaba de presenciar um bullshot.
O termo, cunhado pelo pessoal da Penny Arcade, surgiu para definir as imagens extraordinárias de jogos que ainda não foram lançados e, quando chegarem às lojas, certamente não serão como o anunciado. Os bullshots, basicamente, são aquelas famosas fotos que mostram muito mais do que o produto final realmente tem a oferecer.
Obviamente, isso não deixa ninguém feliz — principalmente os jogadores. É realmente frustrante ver seu jogo favorito chegando ao mercado bem diferente do que foi prometido, acabando com boa parte da empolgação do jogador, que normalmente se sente enganado.
Mas qual é o motivo de toda essa “enganação”? O TecMundo Games resolveu se aprofundar um pouco mais nesse assunto tão polêmico que assombra a vida de muitos jogadores — principalmente os fanboys. E, de quebra, você confere alguns dos maiores exemplos de bullshots. Limpe seus óculos e vamos lá.
A origem Surgiu como solução, acabou como problema
Ao contrário do que muitos imaginam, essas imagens mais belas do que a vida real não surgiram com o propósito de enganar os jogadores. Na realidade, tudo começou na época do saudoso Nintendo 8-bits, quando muitos jogos traziam imagens da versão para fliperamas em suas caixas. Tudo para deixar claro que o game realmente era semelhante ao que você jogava nos arcades.
Entretanto, é na era do PlayStation que as coisas começaram a ficar complicadas. Mesmo com as melhores intenções possíveis, a imprensa se viu obrigada a alterar as imagens dos jogos que eram lançados na época, graças a um conflito de resoluções.
Basicamente, quando as capturas dos jogos eram feitas através de frame grabbers ou retiradas diretamente do console anfitrião, o resultado não era adequado. O motivo? Naquela época, os monitores eram todos CRT (o famoso “tubo”) e, nesse display, há uma suavização natural das bordas. Sendo assim, se as imagens dos games fossem capturadas pelo PC e impressas, as fotos seriam bem diferentes do que o jogador veria em casa ao jogar.
A solução? Muitos editores passaram a simplesmente fotografar televisores CRT que rodavam os jogos, já que o resultado final era uma imagem que se assemelhava bastante com o que era visto pelo jogador em sua casa. Mesmo assim, essa definitivamente não era a melhor solução.
Como resultado, tínhamos desenvolvedores lutando para encontrar um jeito de divulgar seus jogos sem ter de distorcê-los demasiadamente. Uma tarefa complicada, já que a resolução dos televisores da época raramente passava de 72dpi (dots per inch, ou pontos por polegada, em português), enquanto as revistas traziam até 300dpi.
Eis que finalmente surge um processo de captura que tinha tudo para ser um sucesso, acabando de vez com o problema das screenshots. Essencialmente, os desenvolvedores capturavam uma cena do jogo e então a renderizavam novamente para uma resolução normal. Depois disso, bastava diminuir sua escala e pronto, temos uma imagem real do motor gráfico do game, mas muito mais natural e menos quadriculada.
Isso não só permitiu que os jogos da época fossem retratados da maneira como deveriam, mas também deu a oportunidade de criar imagens enormes e ideais para uso ilustrativo em campanhas publicitárias. Tudo parecia resolvido e todos estariam felizes, não é mesmo?
E então, onde está o problema, TecMundo Games? Bem, o grande infortúnio é que essa técnica, que consiste em realizar uma renderização numa resolução maior e então diminuir a escala da imagem, continua sendo aplicada. E como você deve saber, vivemos na era dos monitores e televisores de alta-definição.
Em suma, temos consoles poderosos o suficiente para gerar gráficos de alta qualidade e a resoluções de até 1080p — algo mais que ideal para qualquer meio de comunicação. Mesmo assim, algumas desenvolvedoras insistem em repetir o processo de renderização que só precisava ser utilizado nos consoles das gerações passadas. Eis o típico bullshot.
Só uma rápida explicação: bullshot é um trocadilho com uma palavra de baixo calão utilizada na língua inglesa, a qual, originalmente, significa algo como “sacanagem”, mas em um tom mais agressivo. Nada melhor para ilustrar a indignação causada pelas imagens manipuladas, não é mesmo?
Isso é mentira! Jogos e imagens que não batem
Para ilustrar como a indústria dos jogos pode ser cruel, resolvemos reunir alguns dos maiores bullshots de todos os tempos. Boa parte das imagens é de jogos da atual geração, já que é essa a época em que a manipulação mais se mostra presente — o que é realmente uma pena. Sendo assim, confira o que as desenvolvedoras prometeram e o que foi entregue.
Operation Flashpoint: Dragon Rising
Eis um dos melhores exemplos para começar este artigo. Operation Flashpoint contava com a proposta de criar um FPS de guerra que fosse fiel aos combates reais. Para isso, a Bohemia Interactive, equipe responsável pelo desenvolvimento, decidiu criar uma jogabilidade complexa e, obviamente, gráficos à beira da perfeição, como você confere na imagem abaixo.
Promessa:
Ficou boquiaberto, não é mesmo? Realmente, as imagens divulgadas pela companhia faziam qualquer fã de Crysis pensar duas vezes antes de brigar pelo game mais belo. Entretanto, quando Dragon Rising chegou às lojas, a batalha estava perdida. E, infelizmente, os perdedores foram os jogadores.
O visual de Dragon Rising não é dos piores, mas definitivamente não se compara às imagens divulgadas pela companhia — incluindo algumas que a empresa alegava ter retirado diretamente do game. Decepcionante.
Entrega:
Star Ocean é um dos bons RPGs desta geração que não decolou por alguns pequenos erros. E, definitivamente, um de seus problemas está nos visuais das batalhas. As lutas do game da Tri-Ace são simplesmente horríveis, visualizadas em uma resolução deplorável e inferior a 560p.
A companhia prometia um modo de batalha com visuais tão belos quanto os que encontrávamos no game durante os momentos de exploração. A imagem abaixo deixa bem claro a promessa da empresa.
Promessa:
Mas, infelizmente, algo bizarro aconteceu com o título, que foi extremamente capado para poder rodar nas plataformas da atual geração. Compare a promessa acima com a batalha real que vemos no game e note a diferença nas texturas e, principalmente, na resolução. Triste.
Entrega:
Inspirado no filme homônimo, The Getaway era o tipo de jogo que todos gostavam na era do PlayStation 2. Um mundo aberto e muitas possibilidades, regadas por um visual estonteante, certo? Quase isso.
Quando anunciado, The Getaway ficou extremamente conhecido pelos seus visuais. Além da modelagem com um alto número de polígonos, o título também trazia texturas fotorrealistas, algo bem raro para a época. Veja a imagem abaixo e confira você mesmo.
Promessa:
Mas, a realidade é outra. The Getaway apareceu apenas como um jogo de visuais medíocres, trazendo gráficos que não chegavam aos pés do que foi prometido. É realmente melhor escapar dessa.
Entrega:
Um dos primeiros jogos do Xbox original possui uma das imagens mais marcantes quando o assunto é bullshot. Durante a divulgação do game, a Microsoft decidiu liberar uma screenshot “in-game” na qual vemos o modelo de um praticante de snowboarding em frente à tela.
O grande problema é que a imagem foi nitidamente manipulada. Qualquer usuário que saiba lidar com programas de edição (incluindo o famoso Photoshop), notará o efeito das lentes refletidas pelo sol, algo facilmente aplicado.
Na época, em resposta, a Microsoft comentou que era normal “manipular as imagens para divulgação”.
Promessa:
Haze pode ser tranquilamente considerado um dos maiores fracassos do PlayStation 3. O exclusivo da Sony começou com muita especulação, ganhando até mesmo clipes musicais com a trilha sonora da banda de Nu-Metal Korn.
Todos estavam extremamente empolgados com o FPS, que, segundo vários jogadores e alguns veículos de mídia, tinha potencial para desbancar Halo, game que reina o gênero no Xbox 360. Imagens alucinantes e vídeos inacreditáveis surgiam por toda a parte, como você confere abaixo.
Promessa:
Ao colocar as mãos em Haze, a decepção foi grande. Quem esperava um título com gráficos semelhantes à Crysis ficou em crise. Além de ser sub-HD, o jogo também trazia texturas bem diferentes das que foram exibidas na maioria das imagens.
Entrega:
A série Gears of War
Sem dúvidas, a série Gears of War revolucionou a sétima geração, inclusive nos gráficos. Tanto o primeiro quanto o segundo jogo trouxeram visuais excelentes e que servem como padrão de qualidade até os dias de hoje. Mas mesmo assim, a Epic Games, responsável pelo desenvolvimento, às vezes exagera, como você confere nas imagens abaixo:
Gears of War
Outra imagem extremamente famosa quando falamos de bullshot vem de um jogo de basquete da Electronic Arts. Nela, tudo está aparentemente normal. Mas, basta olhar para a parte esquerda da imagem. Viu? Há um jogador cortado ao meio! Outra imagem da série “Desastres do Photoshop”.
A Sony pegou pesado na divulgação de Motorstorm, um dos primeiros títulos lançados para o PlayStation 3. Os jogadores conferiram vídeos, imagens e muita jogatina de um dos jogos que parecia ser um dos mais belos da época, como você confere na imagem abaixo:
Promessa:
Mas o fato é que Motorstorm ficou bem atrás do primeiro colocado na corrida dos gráficos. Além de trazer loadings infinitos, o título também pecava nas texturas, na modelagem e nas animações — ao contrário do que a Sony dizia.
Entrega:
A série da Konami já teve seus dias de glória. E, definitivamente, Pro Evolution Soccer 2006 ainda reinava quando o assunto era futebol nos games. Sendo assim, nada melhor que algumas imagens alteradas para atiçar mais ainda os fãs, não é mesmo?
Promessa:
O resultado final prova que a Konami pisou na bola.
Entrega:
Os vídeos também mentem! Apelando para clipes
Infelizmente, não são só as imagens que são manipuladas durante a divulgação de um game. Muitos vídeos também trazem um jogo bem diferente do produto final, algo que pode ser ainda mais revoltante do que uma simples screenshot estática. Vamos a alguns exemplos clássicos:
Sem dúvidas, a maior mentira da lista de vídeos. A Ubisoft exagerou demais ao divulgar uma propaganda com um rapaz que, supostamente, estaria jogando Red Steel em seu Wii, exibindo gráficos e até mesmo uma jogabilidade que jamais foi vista no game. O pior de tudo é que o clipe insinua que o jogo realmente está sendo jogado, ao contrário de outros vídeos que apenas exibem supostos trechos da jogatina.
Quando UFC foi anunciado, todos os fãs das artes marciais mistas foram à loucura. Afinal, não poderia ser diferente, já que o vídeo de divulgação exibia simplesmente um dos melhores gráficos desta geração, com animações quase perfeitas e um suor que parece sair da tela. UFC Undisputed 2009 foi um excelente game, mas não chega aos pés do que o trailer abaixo promete.
O exclusivo do PlayStation 3 prometeu revoluções e a desenvolvedora, Level 5, realmente tinha bagagem para argumentar. Mas várias falhas impediram que o game decolasse, se tornando apenas um RPG mediano. Mesmo assim, é difícil esquecer um dos vídeos que supostamente mostra a jogabilidade do game — que na realidade é bem diferente do exibido, infelizmente.
Killzone 2 causou alvoroço quando foi demonstrado na Electronic Entertainment Expo (E3) de 2005. Talvez um dos trailers mais memoráveis do PlayStation 3 tenha realmente exibido os gráficos do título em tempo real, mas muitos ainda permanecem em dúvida. De fato, Killzone 2 chegou às lojas e impressionou pelos seus visuais, mesmo não sendo exatamente igual ao vídeo exibido na feira.