Em entrevista à revista britânica Edge, o presidente da Gearbox, Randy Pitchford, fez declarações que incitaram um grande debate entre a comunidade gamer. De acordo com ele, as desenvolvedoras deveriam parar de perder tempo e dinheiro desenvolvendo modos multiplayer desnecessários.
De fato, essa é uma afirmação audaciosa à primeira vista, afinal, o que tornaria as modalidades para mais de um jogador descartáveis? Será que Pitchford está interessado em criar um movimento de orgulho “forever alone”, assim como o personagem da internet que acaba sempre sozinho?
Para entendê-lo melhor, é interessante prestar bem atenção nos argumentos utilizados pelo chefão da Gearbox. De acordo com ele, o principal problema ocorre quando as empresas decidem criar opções para múltiplos jogadores genéricas e nada criativas, acreditando que, desse modo, a vida útil dos games produzidos aumentará, assim como as suas vendas.
Em vez disso, Pitchford acredita que seria uma estratégia mais interessante para as produtoras se estas focassem na proposta principal de seus produtos. Assim, se o principal atrativo de um título é a uma narrativa longa e intrincada, por que criar um modo “mata-mata” sem relação com a história?
Games para a galera x Games para se jogar só
Mas será que o público consumidor de jogos realmente teria a ganhar caso a indústria separasse seus produtos em single e multiplayer? Afinal, embora alguns títulos apresentem modalidades para mais de um jogador desconexas com a sua premissa principal, não dá para negar que esses mesmos modos podem ser divertidos. Do contrário, as salas online esvaziariam tão logo os gamers constatassem a sua precariedade.
Além disso, existem muitos exemplos de trabalhos que conseguiram bons resultados ao combinar as duas formas de jogo. O próprio Duke Nukem Forever, o próximo lançamento da Gearbox, irá permitir que as pessoas joguem sozinhas ou acompanhadas. Ou seja, até mesmo Pitchford acredita em títulos que apresentem uma variedade de opções para seus jogadores (pressupondo, é claro, que a Gearbox não cometa o mesmo erro que tanto criticou).
O principal apelo de Pitchford então não é simplesmente segregar os jogos em duas modalidades distintas, mas sim esperar que o bom senso dos desenvolvedores os leve a fazer a melhor opção para os títulos que estão desenvolvendo.
Para esquentar ainda mais o debate, o TecMundo Games separou alguns games focados tanto no single quanto no multiplayer para avaliar se eles deveriam manter-se dentro de seu gênero ou investir forte para tentar agradar a outros públicos. Acompanhe a seleção e deixe a sua opinião nos comentários.Pode até ter multiplayerMas o quente é acompanhar a história sozinhoDead Space 2
Esse jogo foi citado como Pitchford como um exemplo de jogo em que não havia a necessidade de se jogar com mais pessoas. É claro que isso não é uma crítica ao game, que não perde em qualidade em relação ao primeiro — cujo grande mérito foi ressuscitar o “survival horror”, um gênero cuja essência reside no single player.
Acontece que, se o seu sucessor conseguiu alcançar se sair bem mesmo sem oferecer uma modalidade para mais jogadores, era bem possível que Dead Space 2 conseguisse fazer o mesmo caso conseguisse recriar uma campanha tão interessante quanto à do primeiro game.
Talvez por conta das pressões do mercado e da alta expectativa dos fãs, a Visceral Games decidiu adicionar um modo multiplayer em que um time de engenheiros enfrenta uma equipe de necromorphs. Ainda que divertido, ele não apresenta variedade suficiente para torná-lo um dos grandes atrativos do título.
Sendo assim, trocá-lo por uma campanha mais extensa e deixar que os gamers que quisessem se digladiar online fizessem isso em Halo 3 ou em Call of Duty: Black Ops provavelmente teria sido algo mais interessante do ponto de vista dos fãs da franquia.
Assim como outros títulos da franquia da Rockstar, esse é um título que oferece muito material para seus jogadores. Afinal, há uma cidade ampla para ser explorada, uma trama instigante e cheia de reviravoltas estrelada por um personagem carismático e muitas missões e atividades secundárias.
No entanto, ao contrário de seus antecessores, GTA IV possui um modo em que é possível promover uma verdadeira calamidade pública enquanto se enfrentam outras pessoas pela internet. Basta acessar a opção multiplayer no celular e partir para a destruição com outros jogadores em diversos modos de jogo.
Contudo, a grande atração do jogo continua sendo a vida de Niko Bellic em Liberty City. Caso o multiplayer fosse abolido, esse aspecto do game poderia melhorar muito e, quem sabe, não teríamos uma cidade ainda mais rica e cheia de lugares — como clubes e lojas — para serem visitados? Que tal ainda mais personagens disponíveis para interagir e missões extras para serem realizadas? Afinal, por mais que existam DLCs que ofereçam conteúdo adicional, eles representam um custo extra não muito agradável.
Caso a companhia insistisse em manter o game online, que tal fazer isso de uma forma que colaborasse com os rumos da história do imigrante croata? Um modo em que outros jogadores interferissem na campanha principal, mais ou menos como é feito em Demon’s Souls, poderia tornar a experiência de percorrer as ruas de Liberty City ainda mais interessante, não é mesmo?
A campanha principal é ótimaMas eu ainda não a terminei porque não paro de jogar onlineRed Dead Redemption: Undead Nightmare
Tudo bem, antes de Undead Nightmare, já era possível jogar online em Red Dead Redemption. Mas da mesma forma que em Grand Theft Auto IV, o legal do game mesmo é acompanhar a história principal. Afinal, John Marston é um dos protagonistas mais cativantes dos últimos tempos e acompanhá-lo em sua jornada pelo Velho Oeste é extremamente viciante.
No caso do DLC lançado no final de 2010, a trama é igualmente envolvente, mas há um modo multiplayer em particular que desvia a atenção dos gamers que decidiram descobrir os elementos sobrenaturais da história.
Em Undead Overrun, até quatro jogadores devem, juntos, eliminar sem dó todos os zumbis que aparecem pela frente em um determinado limite de tempo. Uma vez que um grupo de mortos-vivos é aniquilado, mais zumbis aparecem e o tempo para mandá-los de volta para debaixo da terra é ainda menor. E como todo mundo que já jogou Dead Rising sabe, exterminar zumbis é muito divertido.
A franquia Assassin's Creed é mais um exemplo de jogo que aparentemente só poderia dar certo com um único jogador. Afinal, a história trata a respeito de Assassinos, guerreiros que sorrateiramente se disfarçam e invadem lugares sozinhos para eliminar seus alvos.
Pois na sequência de Assassin’s Creed II, a Ubisoft acertou em cheio ao trazer um multiplayer que utiliza uma das principais características do jogo (a necessidade de misturar-se à multidão e ao cenário) para reunir diversos jogadores tentando aniquilar uns aos outros.
Embora a definição pareça ser a de mais um Deathmatch, Brotherhood se destaca justamente por criar um modo desse tipo com os recursos utilizados pela campanha principal, únicos da franquia.
Quero jogar com você, e com você, e com você...Desconectar o cabo da internet é pior que a morte
Um dos maiores MMORPGs já lançados, World of Warcraft traz a possibilidade de seus jogadores de encarnar um dos milhões (sim, milhões) de habitantes do mundo de Azeroth. A partir daí, é necessário escolher uma das inúmeras raças disponíveis no jogo para então fazer parte da disputa entre a Horda, comandada pelos orcs, e a Aliança, comandada pelos humanos.
Pois bem, se neste jogo há mais pessoas jogando ao mesmo tempo do que algumas cidades possuem em sua população, pode-se afirmar que algo multiplayer que isto ainda não foi inventado, não é mesmo? Desnecessário dizer então que a interação entre os jogadores é mais do que incentivada pela desenvolvedora. Afinal, alguns chefes do game são impossíveis de serem vencidos por um só jogador ou até mesmo por grupos formados por menos do que seis pessoas.
Além disso, além das populares guildas — grupos de aventureiros que se reúnem para explorar juntos o mundo e enfrentar inimigos — World of Warcraft permite até que seus personagens se casem, com direito a alianças e um vestido para a noiva. Quem é que vai querer jogar sozinho desse jeito?
Com a proposta de reunir 256 jogadores ao mesmo tempo em tiroteios intensos, MAG — sigla em inglês para Jogo de Ação em Massa — decidiu simplesmente ignorar as missões tão comuns nas campanhas de games do gênero para aprimorar apenas a experiência multiplayer.
É claro, os gráficos não são os mais primorosos do mundo e há um ou outro pequeno bug, mas a experiência foi bem-sucedida. O título da Zipper Interactive incrementou o desafio ao permitir que os jogadores enfrentem pelotões formados por humanos, algo que as inteligências artificiais mais bem desenvolvidas ainda não conseguem recriar.
Games para levar para uma ilha desertaSó tome cuidado para não se distrair e perder o resgateBatman: Arkham City
Arkham Asylum foi lançado no final de 2009, trazendo uma história para nenhum fã do Homem-Morcego botar defeito. Afinal, no game, Batman precisa adentrar um sanatório tomado pelo Coringa e seus capangas. Enquanto os bandidos utilizam armas para acabar com a raça do Cavaleiro das Trevas, este precisa usar o ambiente ao seu favor para surpreender seus perseguidores.
Dessa forma, o game criou uma experiência única para seus jogadores, mantendo um clima de tensão constante nos corredores do asilo Arkham. Os fãs gostaram e fizeram o pedido para que a sequência, Arkham City, tivesse um modo multiplayer.
A resposta da Rocksteady, empresa responsável pelo título, foi direta. “Não. Isso atrapalharia o desenvolvimento e o resultado seriam dois jogos regulares. Nosso foco é entregar uma grande experiência, e isso é fundamentalmente single player”. Parece que não é apenas o presidente da Gearbox que possui essa opinião.
As aventuras de Kratos conseguiram chamar a atenção até mesmo de quem não é chegado em mitologia grega. Afinal, durante a série é possível acompanhar a saga que retrata a história do novo deus da guerra. Tudo isso em incríveis cenários da Grécia Antiga e com a participação de diversos seres mitológicos.
Mesmo sendo uma aventura para ser jogada por apenas uma pessoa, a franquia é fortemente cultuada por seu altíssimo nível de refinamento técnico. Além disso, ela não deixa de ser um grande argumento a favor de uma experiência única de jogo no lugar de diversas opções para os gamers.
E o futuro, como fica?Como jogaremos?Pode não ser uma regra absoluta, mas é possível perceber que os títulos mais interessantes do mercado geralmente o são porque puderam passar mais tempo melhorando aquilo que se propuseram a oferecer.
É claro que isso não significa que apenas games que possuem uma proposta única possuem qualidade. O problema é que, para que um título possa oferecer várias modalidades de jogo de peso, isso requer ainda mais tempo e dinheiro das empresas, algo que nem sempre elas possuem ou querem utilizar.
Contudo, o sucesso de jogos como God of War, assim como o apelo de pessoas dentro da indústria (como o realizado por Randy Pitchford), pode sinalizar o início de uma nova era em que a qualidade dos produtos será priorizada pelos produtores.
Para tanto, não é preciso necessariamente que haja cortes de algumas das funções dos games. Uma solução criativa, por exemplo, foi realizada pela Rockstar com Red Dead Redemption: Undead Nightmare. Utilizando a mesma engine do jogo original, a companhia desenvolveu um multiplayer interessante junto com o conteúdo adicional.
Quem sabe no futuro as companhias decidam lançar apenas aquilo que estiver finalizado e adicionem modalidades extras por meio de download somente quando estiverem totalmente terminadas. Claro, esse método ocasionaria em mais compras, mas também poderia permitir que os usuários comprassem apenas aquilo que fossem utilizar.
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