Aqui no TecMundo Games, é comum vermos dois nomes relacionados na maioria das páginas dedicadas a cada um dos jogos cadastrados. Vamos tomar como exemplo o game de ação Homefront, lançado recentemente para Xbox 360, PlayStation 3 e PC. De um lado, temos a Kaos Studios, e de outro, a THQ.
Levando isso em consideração, pode parecer estranho para alguns o anúncio de que a THQ teria seu escritório de Montreal participando de forma mais ativa da produção do segundo game da série de FPS. A sucursal canadense passaria então a atuar como coprodutora, ao lado da Kaos. Como assim? Ela já não fazia parte do desenvolvimento do game desde o primeiro?
Na verdade não, e é aqui que entra o assunto principal de nosso artigo. No primeiro Homefront, a THQ atuou apenas como publicadora, enquanto todo o desenvolvimento do título foi realizado pela pequena Kaos Studios. Mas afinal de contas, o que exatamente isso significa?
Uma associação simples
A forma mais simples de se explicar exatamente o que é uma publicadora é usar um exemplo do mercado editorial. Pegue qualquer livro na sua estante. Ele possui um autor, que é responsável por escrever, e uma editora, que lança a publicação no mercado. Na indústria de games, a situação é exatamente a mesma. Apenas substitua o autor pela empresa que cria o game, e a editora pela companhia responsável pela distribuição do título.
O autor C. S. Lewis teve, no Brasil, seu livro “As Crônicas de Nárnia” publicado pela editora Martins Fontes. A relação é a mesma com a BioWare, por exemplo, que contou com a Electronic Arts para distribuir o RPG Mass Effect.
Espalhar para conquistar
Principalmente para as produtoras menores, contar com um parceiro de peso na publicação de seus jogos é essencial e, muitas vezes, pode representar a diferença entre um sucesso comercial e um título fadado ao esquecimento.
O processo de desenvolvimento e produção de um jogo foi elucidado, com detalhes, em um artigo publicado recentemente no TecMundo Games. Quando a última linha de código é inserida, e o título se torna “gold” (nomenclatura utilizada para designar os games que chegaram ao fim de sua produção), o trabalho não termina. Pelo contrário, ainda falta muito para que o produto finalmente chegue às mãos dos jogadores e possa ser utilizado em consoles de todo o mundo.
Saem os programadores, seus computadores e códigos mirabolantes para criar a magia, entra um trabalho muito mais industrial, que tem replicadoras e caminhões como principais participantes. Ao fim do desenvolvimento, o jogo precisa ser gravado em disco, ter suas capas e manuais impressos e, finalmente, embarcar em veículos até chegar às prateleiras das lojas.
Todo este processo é muito caro e, provavelmente, a maioria das desenvolvedoras menores não teriam condições de arcar com custos desta magnitude. Segundo dados da NPD, consultoria especializada em pesquisas do mercado de games, cerca de 42% do valor total de um game é oriundo de custos de publicação e distribuição. Isso significa que, em um jogo de US$ 30 (aproximadamente R$ 50), cerca de US$ 12,95 (pouco mais de R$ 21) são gastos apenas para se colocar o título nas prateleiras.
Há também um segundo fator muito importante: a marca da empresa responsável pela publicação. Um título pequeno, que não teria destaque na mídia por si só, pode ganhar contornos de blockbuster apenas por ter um nome de peso atrelado a ele, mesmo que seja apenas como distribuidora.
É o caso de L.A. Noire, título que está sendo desenvolvido pela Team Bondi, pequena produtora independente localizada na Austrália. Com o auxílio da Rockstar, o game ganhou ares de blockbuster, e tem recebido muita atenção da imprensa especializada, bem como do público. Provavelmente, nada disso seria obtido sem a ajuda da dona de GTA, e o game de investigação talvez nunca nem tivesse saído do papel.
Uma luz no fim do túnel
Altos custos, logística complicada e dificuldade de se divulgar um game. Todos estes desafios são assustadores para qualquer desenvolvedora novata que queira disponibilizar seus projetos para o público. Um advento recente, porém, veio para resolver esta questão e abrir espaço para as produções independentes: a distribuição digital.
Por meio das redes online Steam, PlayStation Network ou Xbox LIVE, por exemplo, é possível disponibilizar e distribuir títulos para todo o público pulando todas as etapas de publicação. Basta um upload para que o game esteja disponível para quem quiser comprá-lo, normalmente por preços menores que os encontrados nas prateleiras das lojas físicas.
Foi o crescimento desta modalidade de compra e venda de games que permitiu o sucesso destruidor de jogos como Angry Birds, Super Meat Boy ou Limbo, apenas para citar três exemplos mais avassaladores. A distribuição digital, com seus games mais simples, também permitiu que uma única pessoa produza e venda seus jogos, sem precisar da benção, interferência ou ajuda das gigantes do setor.
Você sabia?
Consegue imaginar a franquia God of War como um game da Capcom? Ou quem sabe Call of Duty: Black Ops levando o nome da Square Enix nos créditos? Não estamos falando de compra de franquias ou transferência de empregados de uma empresa para outra: estas situações existem de verdade, e são possíveis graças aos milagres da distribuição.
A criadora de Resident Evil é a responsável pela distribuição dos jogos da saga de Kratos no Japão. A empresa não apenas coloca os jogos nas prateleiras para os fãs da Terra do Sol Nascente, como também realiza todo o trabalho de localização do título, traduzindo menus para o japonês e contratando dubladores para dar ao deus da guerra fluência na língua nipônica.
Já a franquia Call of Duty, da Activision, é publicada no Japão pela Square Enix. A mestra dos RPGs, após a aquisição da Eidos, também se tornou a responsável por possíveis relançamentos dos primeiros games da série Resident Evil na Europa. A desenvolvedora de Tomb Raider foi a responsável pela distribuição dos jogos para PSOne e PC na época em que foram lançados.
Ainda, o processo de publicação permite que títulos nunca antes lançados no Ocidente possam chegar até nós. Neste campo, A Xseed Games vem executando um trabalho digno de nota, dando nova luz a velhos RPGs clássicos restritos apenas ao Japão, como Ys: The Oath in Felghana e The Legend of Heroes: Trails in the Sky.
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