Chega de ser bonzinho!

7 min de leitura
Imagem de: Chega de ser bonzinho!

Assim como em todo e qualquer veículo cultural, o entretenimento eletrônico também acaba sendo, em maior ou menor medida, uma espécie de “agente moralista”. Senão, basta considerar alguns dos heróis que construíram essa poderosa indústria até os dias de hoje — machos-alfa musculosos, capazes tanto de desmantelar organizações terroristas quanto de salvar um animal indefeso de um prédio em chamas.

Basta que você nomeie o seu favorito: Mario, Bill "Mad Dog" Rizer e Lance "Scorpion" Bean (Contra) — covers de Chuck Norris, para todos os efeitos —, Link (The Legend of Zelda), Fox McLoud, Sonic ou mesmo qualquer super-herói com cuecas por cima das calças. Basicamente, sujeitos que andam com uma cartilha da moral e dos bons costumes no bolso de uma jaqueta ostentando a bandeira de algum país “liberal” — pelo menos no Ocidente, um emblema da antiga União Soviética, por exemplo, normalmente não servia.

Img_normal

Mas isso parece ter mudado ao longo dos anos. Conforme a indústria de jogos foi se tornando mais e mais “parruda”, tornou-se cada vez mais comum encontrar “heróis” de games não exatamente preocupados em salvar o mundo de alguma calamidade iminente. Embora esse tipo mais, digamos, “clássico” ainda sobreviva praticamente inalterado até os dias de hoje — no que poderia ser chamado de SCA (Síndrome de Capitão América) —, o horizonte gamer parece ter se tornado cada vez mais permissivo.

Embora os personagens estilo bad guy sejam quase tão velhos quanto o próprio video game, é impossível não notar que, com o passar dos anos, há cada vez mais espaço para protagonistas de naturezas diversas. De fato, entre advogados da moral, anti-heróis e sujeitos mesquinhos e/ou abertamente desprezíveis, é possível hoje encontrar praticamente qualquer tipo de “herói” à frente de um título. É até possível imaginar algumas categorias.

O Anti-herói“Meu passado negro me justifica”

O anti-herói já é uma figura clássica tanto nos filmes quanto nos games. Você já deve ter entrado em contato com vários deles. É o “diamante bruto”, o “rebelde sem causa” ou um “emo” com sede de vingança e granadas. Normalmente, há também uma história triste ou de sacanagem aberta para justificar uma postura nem sempre ortodoxa.

Img_normal

Basicamente, trata-se aqui daquele herói que não exatamente se encaixa nos padrões clássicos... Mas que também não pode ser considerado imoral. Na verdade, em boa parte das vezes, eles acabam até mesmo salvando o mundo — embora isso seja difícil de perceber, já que, quando acabam, normalmente o “mundo” se resume a um amontoado de escombros e cadáveres.

Poderia alguém ser mais violento, sádico e truculento do que o próprio deus da guerra? É claro: e ele se chama Kratos. Tudo bem, sempre será possível argumentar que o herói de God of War foi uma vítima dos joguetes de Ares. Mas isso não muda o fato de que Kratos mata (quase) tudo o que passa pela frente — incluindo o triste equívoco que faz com que ele acabe com a própria família (o “passado negro”, no caso).

Embora não seja dos primeiros anti-heróis, Kratos se tornou hoje um verdadeiro emblema do herói “não sei dizer se é bom ou mau!”. Sim, ele tem um motivo razoavelmente justo. Sim, em grande parte das vezes, ele é forçado a dilacerar, esmagar e trucidar. Mas ninguém negaria o rastro de estrago que é deixado para trás.


Mas Payne talvez não seja exatamente um anti-herói. Na verdade, o protagonista da série homônima se parece mais com um “herói decadente” — do tipo que simplesmente reage de acordo com os acontecimentos da vida.

Sim, ele é um policial — um símbolo da lei e da ordem, possivelmente. Mas um policial que é caçado tanto por criminosos quanto por outros policiais. Ele se torna o principal suspeito da morte do seu chefe e melhor amigo — o qual, lamentavelmente, seria o único capaz de livrar a sua cara. Aumentando ainda mais o dramalhão do anti-herói, Max ainda teve a sua família brutalmente assassinada (o “passado negro”, de novo). Enfim, a receita perfeita para que alguém se torne um genuíno herói facínora, não?

Ethan Thomas (Condemned) traz praticamente todas as características que definem um típico anti-herói. Trata-se de um sujeito rude, antissocial, extremamente truculento e que quase sempre joga pelas próprias regras. Quer dizer, “a humanidade pode ser beneficiada pelo resultado dos meus atos?” Talvez, mas ele realmente não se importa muito com isso. E, para tornar as coisas ainda mais politicamente incorretas, o protagonista tem um problema incorrigível com o álcool — chegando mesmo a cair na sarjeta, literalmente.

Img_normal

O egoísta“Salvar o mundo? Não, obrigado”

O personagem “egoísta” pode facilmente ser confundido com o anti-herói. Entretanto, basta uma análise mais cuidadosa para perceber que o buraco ali é mais embaixo. Isso porque, bem ou mal, o anti-herói clássico (confira acima) ainda é capaz de alimentar algum desejo de ajeitar as coisas à sua volta — embora nem sempre faça isso “do jeito certo”.

O herói egoísta é diferente. Trata-se de um sujeito interessado unicamente em ajeitar o próprio lado ou em salvar o próprio couro, normalmente às custas de alguma mesquinharia. Em outras palavras: quase um ser humano típico!

Jack é maluco. Jack é sanguinário. Jack tem uma moto serra no lugar do braço direito, e não tem qualquer receio de usá-la, sempre que necessário. Ele participa de um show de TV que certamente daria inveja a qualquer programa sensacionalista da atualidade: a ideia é matar em rede nacional o maior número de oponentes em um jogo no melhor estilo “O sobrevivente” (The Running Man).

Há alguns diferenciais, é verdade. Toda a ação aqui deve ocorrer da forma mais violenta, nojenta e degradante possível. Isso faria de Jack um vilão típico... Não fosse a mais antiga lei da natureza: é matar ou morrer. Jack fica com a primeira opção, e o faz com bastante estilo. Simples assim.

Wario já foi até mesmo um dos chefes finais encarados pelo ícone da Nintendo. Criado para ser uma espécie de oposto de Mario nos video games (assim como Waluigi é o oposto de Luigi), Wario acabou posteriormente ganhando vários títulos solo, e hoje pode mesmo ser considerado como uma fórmula bastante particular de anti-herói.

Img_normal

Enfim, uma risada espalhafatosa, certa predileção por alho e um incorrigível problema gastrointestinal. Certamente um ótimo contraponto para a figura correta e familiar de Mario. Salvar a princesa no castelo? Que nada, melhor mesmo é juntar um monte de dinheiro — diferente, portanto, de grande parte dos anti-heróis.

  • GTA, Saint’s Row, Red Dead Redemption...

Os games da Rockstar (e similares) costumam apresentar o típico herói egoísta. Trata-se do espertinho que simplesmente quer se dar bem, seja no mundo do crime ou assumindo uma carreira policial bastante controversa. O “mundo”, naturalmente, tem que cuidar de si mesmo aqui.

Img_normal

O indeciso“Na hora eu vejo o que faço”

O herói “indeciso” revela, na verdade, um belo potencial da moderna indústria de jogos: as decisões morais. Embora optar por ser o bad guy em um jogo normalmente traga consequências não muito agradáveis, não se pode negar: há uma liberdade considerável em relação ao caminho que será seguido.

Img_normal

Qual deve ser o destino de Albion? Você vai encarnar o herói mítico sobre o qual as lendas falam há muitos anos? Ou será que o melhor é espalhar um caos igualmente mítico — só para ver onde a coisa toda vai terminar. Para completar, é até mesmo possível escolher se o seu herói aqui será um pudico... Ou se sairá formando várias famílias e se metendo em orgias diversas!

Img_normal

The Sims sempre trouxe o exemplo máximo do tipo “indeciso”. A diferença? Aqui é você mesmo, como deus soberano, que deve assumir uma ou outra postura. Quer dizer: é possível formar uma bela e saudável família. Mas nada impede que você simplesmente afogue todos os moradores de uma casa na piscina.

A cria do Tinhoso“Sou mau sim, e daí?”

A “cria do Tinhoso” é um tipo mais raro de protagonista. Normalmente, é também mais caricato. Basicamente, trata-se do tipo de sujeito que não tem qualquer motivo razoável para agir como age. Ele é simplesmente desprezível e está sempre pronto para distribuir caos e horror por todo o lado. Fim da história.

Lucius é o personagem diabólico inveterado em sua forma mais pura — a despeito da qualidade duvidosa do jogo homônimo. O pequeno protagonista não parte em nenhuma vendeta. Ninguém assassinou os seus pais de forma brutal para que ele, cegado pela raiva, passasse a matar de formas horrendas boa parte das pessoas que dividem com ele o mesmo teto. Na verdade, o pai e a mãe do menino não poderiam ser mais carinhosos e atenciosos. Ele é simplesmente mau.

Outro exemplo absolutamente típico de “cria do tinhoso”. O piloto ensandecido do extremamente controverso Carmageddon simplesmente resolveu que deveria tentar atropelar o máximo possível de pedestres. Sim, isso é possível em games como GTA e similares. Mas aqui você ganha pontos por fazer isso!

Img_normal

Overlord é um típico lorde das trevas que parte para tentar dominar o mundo. Aos poucos, ele reúne seu pequeno e barulhento exército de minions, em seu tenebroso castelo, e então passa a arquitetar um plano diabólico para levar o caos e a discórdia para todos os cantos. Sim, isso é bastante comum... Não fosse você mesmo o Overlord. Uma bela inversão de papéis, vale dizer.

Cupons de desconto TecMundo:
* Esta seleção de cupons é feita em parceria com a Savings United
Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.