Algumas famigeradas franquias que perduram nos atuais consoles chegaram a esse ponto graças aos níveis elevados de realismo. Cenários convincentes, tramas elaboradas, roteiros extensos e personagens humanos são características que garantiram popularidade e fama a Metal Gear Solid, a Max Payne e a outras séries.
Entre esses aspectos, vale destaque especial para os protagonistas que conquistaram gerações com suas falas marcantes, expressões cativantes e trejeitos únicos. Crescemos lado a lado com alguns personagens e, de certa forma, nos identificamos com o amadurecimento deles. Não por acaso, pois os desenvolvedores sempre têm essas ideias em mente.
Hoje, vamos relembrar alguns clássicos e ver como se deu o amadurecimento de alguns ícones dos video games. Além disso, abordaremos como essa ideia de envelhecimento pode fazer toda a diferença para os diferentes públicos que experimentam os jogos.
Personagens com profundidade de detalhes
Games que ganham diversas sequências nem sempre são planejados do início para tal sucesso. Alguns roteiristas até têm ideias de possíveis continuações para as tramas principais, mas essas histórias nem sempre saem do papel. Da mesma forma, existem games que não têm qualquer compromisso com a realidade, por isso não necessitam de enredos complexos.
Falamos aqui de títulos grandiosos, mas que em muitos aspectos ignoram alguns pontos para não ter que complicar o personagem. O mascote da Nintendo é um bom exemplo, afinal, em todas as aventuras, Mario tem a mesma idade, passa por situações muito semelhantes e não apresenta grandes mudanças físicas.
Claro, dentro da proposta do universo da série, Mario tem uma vida quase completa. Ele tem amigos, realiza suas atividades (que é sempre salvar a princesa) e tem seu jeito característico. No entanto, há grandes diferenças entre uma série projetada para agradar a todos os públicos e outra, como Max Payne, projetada para oferecer profundidade.
Não estamos dizendo que jogos com personagens amadurecidos são melhores ou piores. Entretanto, esses títulos têm grandes chances de criar laços coerentes e de convencer os fãs de que o game é muito mais do que um mundo virtual com uma historinha qualquer. A ideia mesmo é envolver o jogador e fazê-lo acompanhar o desenvolver do protagonista.
Viajando no tempo
Metal Gear Solid é, provavelmente, o melhor exemplo de uma série consistente que abusa da exploração do personagem e consegue grande sucesso nessa tarefa. Ao longo dos diversos títulos, Kojima explorou Solid Snake em diferentes fases da vida. É notável a mudança no vigor, nas expressões e até mesmo nas frases do agente.
Não é como simplesmente ligar o video game e aguardar por um clássico “It’s me, Mario”. Em cada game, o jogador acaba conhecendo um pouco mais do personagem. Para os fãs, é uma experiência gratificante poder conhecer os primórdios da trama, mas também ter o prazer de acompanhar Solid Snake em sua fase mais afadigada.
Da mesma forma, há preciosidade em voltar ao enredo de Max Payne e vivenciar capítulos da história que se passaram entre um jogo e outro. Não só isso: a crítica e os jogadores amaram o fato de ver Max em uma fase decadente, mudando sua personalidade e se adaptando a um cenário completamente diferente. Isso é como vida real, mas em um video game.
Apesar de não ser uma continuação direta, Max Payne 3 consegue puxar as características do protagonista e fazer novos gamers pegarem gosto pelo jeito ébrio e violento do personagem. O mais interessante é que mesmo os fãs da série gostaram da ideia de atuar em uma fase mais adulta, experiente e até decadente.
Outra grande série que tenta seguir esse padrão de amadurecimento é Splinter Cell. O agente Sam Fisher já teve altos e baixos em sua carreira. E para retratar com detalhes sua jornada, a Ubisoft chegou a representá-lo como um cinquentão em Splinter Cell: Conviction. Além disso, a desenvolvedora alterou as premissas básicas para retratar a mudança de vida do protagonista.
Amadurecendo de forma modesta
Existem jogos que fazem questão de enfatizar as mudanças nas atitudes dos personagens. A linha principal de Resident Evil é um exemplo de série que aproveita os mesmos protagonistas em diferentes momentos da carreira. Ao longo dos 15 anos da trama, podemos ver Leon, Chris e os demais ficando mais experientes e alterando o comportamento durante o enredo.
Em Resident Evil 6, por exemplo, Chris Redfield está abalado com o caos mundial e apresenta diversos sinais de transtornos psicológicos. É interessante notar que a idade avançada não é tão visível na aparência dele, mas que os recursos usados servem perfeitamente para mostrar o avanço de tempo na história do game.
Para manter um pouco das características básicas, a Capcom procurou aproveitar as mesmas armas, cores de roupas e algumas atuações que identifiquem claramente que o personagem não está tão diferente de episódios passados. É um amadurecimento mais suave, mas muito válido para manter os jogadores interessados e convencidos de que a história está mudando aos poucos.
Tentativas de explorar os personagens
Séries que primam por esse envelhecimento dão muito certo, mas é preciso empenho da desenvolvedora para transportar o personagem para outra época e manter a familiaridade. Alguns jogos, como os que são protagonizados por Lara Croft, nunca fizeram questão de retratar mudanças drásticas, mas a parceria entre Crystal Dynamics e Square Enix pode mudar a mesmice de Tomb Raider.
No novo título, teremos uma Lara Croft bem jovem, ainda em suas primeiras aventuras. Apelar para a jovialidade e desenvolver uma protagonista com emoções, fraquezas e pouca experiência pode ser justamente o que faltava para dar um novo impulso à série. Segundo Karl Stewart, gerente global da marca, esse reboot terá momento icônicos.
É bom notar que nem todas as séries têm formas de explorar o desenvolvimento de personagens. Final Fantasy é um desses games que, por conta da mudança de protagonistas em cada jogo, não pôde ir muito longe no amadurecimento. Isso, no entanto, não impediu que a Square Enix explorasse alguns capítulos de forma diferenciada.
Final Fantasy X e XIII são duas obras de arte que ganharam continuações e puderam ampliar um pouco os detalhes sobre cada personagem. Apesar de serem sequências com espaçamento de dois ou três anos (no contexto do game), esses jogos oferecem mais detalhes e imersão aos fãs da série que buscam aproveitar um enredo mais profundo.
Nem todo mundo pode envelhecer
Há algum tempo, publicamos um artigo mostrando ilustrações de personagens clássicos com idade avançada. Sonic usando andador, Mario tomando chá e Kratos pançudo necessitando de uma bengala podem até ser cenas muito engraçadas, mas não seriam conceitos aplicáveis em jogos, afinal perderia todo o sentido dos jogos.
Também é preciso considerar que alguns games visam abranger um público muito maior, o que impossibilita realizar uma exploração desse tipo. Assim, apesar de ser um ponto importante, o amadurecimento de personagens é apenas um entre tantos fatores que podem deixar um jogo mais divertido, mas não é um aspecto decisivo na qualidade.
Devemos pensar também que nossa geração gamer vai envelhecer e até abandonar os jogos. Já pensou como seria jogar um game com Kinect e uma bengala? Pois é, você pode jurar de pé junto que isso nunca acontecerá, mas uma hora vamos nos aposentar e deixar os games para os mais jovens. Um triste futuro...