Ontem, em uma conversa aqui na redação do BJ com o Ricardo “Xubiruba” Fadel, tocamos no assunto Call of Duty. Ele, que é viciado em jogos de tiro em primeira pessoa, disse que até hoje não comprou Modern Warfare 3 e não acredita que vá adquiri-lo tão cedo. O motivo: o mais recente game é igual à sua versão anterior, apenas com novas armas e mapas.
O tema também foi uma das críticas que fiz em minha análise e é assunto de diversos textos analíticos imprensa afora. O coro daqueles que exigem uma mudança ganhou força nesta semana quando analistas de mercado afirmaram que as vendas estão desacelerando. Segundo dados da indústria, Modern Warfare 3 tem um ritmo menor que seu antecessor, Call of Duty: Black Ops. Vale frisar, porém, que a queda é de apenas 4%, um número que está longe de ser realmente expressivo e preocupante para a Activision.
A verdade é que o sucesso de Modern Warfare 3 – e de Call of Duty como um todo – é indiscutível. A série é o produto de entretenimento mais vendido da história, acumula cada vez mais fãs e dita tendências no mercado de games. Os lançamentos anuais são aguardados com ansiedade por jogadores de todo o mundo, e outros grandes títulos marcam suas datas de lançamento levando em conta quando o FPS da Activision vai chegar ao mercado.
Saturação em alta velocidade
Uma das principais críticas à série Call of Duty tem a ver com a saturação de sua fórmula. O game, dizem os críticos, recicla conteúdos a cada novo lançamento e tem muito pouco a acrescentar, limitando-se a se repetir seguidamente. Essa afirmação é verdadeira, mas também possui uma razão de ser.
Antes de mais nada, estamos falando da saturação de uma fórmula que existe há menos de cinco anos. Call of Duty: Modern Warfare, lançado em 2007, firmou as bases de um sistema que existe até hoje com pequenas alterações. Mesmo com lançamentos anuais, é pouco tempo para dizer que a mecânica já está batida a ponto de necessitar desesperadamente de reformulação.
Séries como God of War, por exemplo, chegaram ao mercado antes mesmo que o primeiro Modern Warfare e, assim como o FPS, também mantevesuas bases mais ou menos parecidas ao longo dos anos. E você não vê tanta gente por aí dizendo que a saga de Kratos precisa urgentemente de uma reformulação inovadora.
O dilema
Mudanças radicais em franquias não permitem meio termo. Ou dão incrivelmente certo ou falham miseravelmente, renegando a franquia ao limbo e fazendo com que os fãs se lembrem com saudades dos tempos áureos de seus jogos favoritos.
No campo dos games de terror, temos dois exemplos que devem estar frescos na sua memória. Para atender aos apelos de fãs que reclamavam da mesmice dos jogos, a Konami resolveu remodelar a franquia Silent Hill. O quarto game da série acabou não agradando aos fãs e tirou a série permanentemente dos trilhos, um caminho que a desenvolvedora até hoje tenta retomar.
Por outro lado, temos o exemplo incrivelmente bem-sucedido da saga Resident Evil. Também no quarto game, a franquia fincou suas raízes na ação e substituiu praticamente todos os elementos que a tornaram um sucesso. Apesar das críticas de uma boa parcela de fãs, RE4 é considerado um dos melhores títulos de todos os tempos.
Munição (e dinheiro) de sobra
A verdade é que, pelo menos por enquanto, a Activision não tem motivos para modificar sua principal marca. Na base do “em time que está ganhando não se mexe”, a empresa vê as notas de dólares se acumulando cada vez mais e seu game permanecendo por meses e meses entre os dez mais vendidos do mercado. Quando praticamente todo mundo já comprou sua cópia, a companhia lança uma nova edição, reiniciando o ciclo.
Isso sem falar da grande quantidade de conteúdo criado em volta da série após Modern Warfare 3. O serviço Call of Duty Elite não apenas deu um caráter ainda mais social a todo o tiroteio como adicionou novas opções de entretenimento, como programas periódicos em vídeo. Isso sem falar na grande quantidade de mapas liberados, que adicionam novidades ao game todos os meses.
É cedo demais para toda essa discussão em torno de uma fórmula que tem apenas cinco anos de idade e, ainda hoje, é não apenas campeã de vendas como serve de padrão a ser seguido para uma série de outros jogos. Se tem uma coisa que está saturada, não é a franquia Call of Duty, e sim o mercado de jogos, que vê uma inundação de games de tiro em primeira pessoa. Todo mundo quer uma fatia desse bolo de notas e pólvora.
Em um ou dois anos, caso as coisas continuem como estão, não apenas na série Call of Duty como na indústria em geral, aí sim poderemos começar a falar sobre a perda de força da franquia. Por enquanto, a Activision continua com a arma bem carregada. É melhor que o Xubiruba, os críticos e a imprensa se conformem com isso.
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