Coluna: aquilo é um avião, uma torre ou um canhão?

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Dwarf Fortress é um joguinho bastante singular. De fato, quem bater os olhos ali provavelmente enxergará apenas um amontoado de símbolos, toscamente ajuntados para dar a impressão de um mundo de jogo. Não há polígonos virtuais, assim como simplesmente não faz o menor sentido falar em texturas ou algo que o valha — como você diria isso diante de uma minúscula figurinha verde que pretende ser uma árvore?

De qualquer forma, Dwarf Fortress é também um dos títulos mais celebrados atualmente, com mecanismos intrincados capazes de soprar vida em um universo que, do ponto de vista dos gráficos, faria feio mesmo diante da geração 8 bits.

Mas não... Esse não é realmente o caso aqui. Na verdade, Dwarf Fortress simplesmente disparou um raciocínio: como é possível que algo assim faça sucesso em um mundo que conta com Heavy RainBattlefield 3 e Crysis 2? É realmente engraçado que a mesma indústria que se esforça por retratar os poros na face de um personagem... Também produza algo completamente abstrato, e que, visualmente, diz muito pouco. Ok, talvez esse seja o ponto.

Jogue Atari 2600 e exercite a sua imaginação

Nos tempos áureos do saudoso Atari 2600, lembro que uma discussão recorrente entre meus amigos dizia respeito às formas que desfilavam em alguns poucos pixels pela tela. Ok, em River Raid não havia problema: aquilo era um avião, certamente — embora ninguém se atrevesse a distinguir entre modelos.

Entretanto, quando apareciam jogos com estruturas que, milagrosamente, disparavam tiros, a coisa realmente esquentava. “Será um canhão?”. “Bem, aquilo ali rola, e portanto deve ser um barril, certo?”. “Ah, sim, aquilo ali deve ser um escorpião!”. E é claro, nós demoramos a perceber que aquele famoso jogo de boxe não trazia duas aranhas como protagonistas.

De fato, a única vez em que chegamos a um consenso fácil, foi quando o E.T. apareceu na tela... Mas isso não ajudou muito, já que o pobre extraterrestre simplesmente trocou a sua casa em uma galáxia distante por aquele famoso deserto no Novo México.

De qualquer forma, havia uma constante ali: ou você era capaz de um raciocínio abstrato, capaz de enxergar espaçonaves, submarinos e guardas florestais... Ou qualquer jogo lhe pareceria simplesmente um amontoado diferente de quadradinhos. E isso não seria divertido.

Nós realmente precisamos de gráficos melhores?

Img_normalQuando o sonho visionário de Nolan Bushnell finalmente naufragou diante da nova e lustrosa terceira geração de consoles (Master System e Nintendinho, entre outros), o salto se tornou óbvio. Pela primeira vez, os elementos traziam alguma semelhança com suas contrapartes do mundo real — excluindo-se, talvez, os heróis dos quadrinhos... Por motivos óbvios.

De lá para cá, o que se viu foi um crescendo absurdo e constante na qualidade audiovisual com que os conteúdos são retratados nos games. De fato, em pouco mais de duas décadas, passamos de raios laser em forma de travessão monocromático para gotas de suor que despencam por faces quase humanas.

E então... Eis que surge Dwarf Fortress, Minecraft. E surge também BraidechochromeLimbo e tantos outros. Jogos simples, embora alguns inegavelmente belos.

E então, novamente o raciocínio abstrato das primeiras gerações se fez necessário. Afinal, eu tenho certeza que você reconheceria perfeitamente um russo em Call of Duty: Modern Warfare 3... Mas a tarefa não é tão simples em grande parte dos blockbusters para XBLA ou para celulares.

Enfim, é impossível não considerar que gráficos melhores e mais avançados provavelmente não resumem tudo o que buscamos em novos jogos — que o diga a Nintendo. Afinal, pelo andar da carruagem, me parece que o tempo de identificar na tela bombardeiros, robôs e tanques de guerra não ficou assim tão para trás. E, sabe? Isso pode ser bem divertido.

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