Dias atrás, comecei a jogar um joguinho aparentemente bastante singelo. O título foi sugerido por um amigo que insistia que eu deveria dar uma olhada no que seria uma verdadeira obra-prima ocultada por cenários pixelizados e perspectiva isométrica. O contexto: eu havia concluído há pouco a análise do excelente Gone Home, que abriu o espaço para o assunto “indie”.
E então eu joguei To The Moon, título que me garantiu uma das melhores experiências de todo o meu envolvimento de longa data com o entretenimento eletrônico. De fato, a bela história permeada de tecnologia, drama e “sacadas” geniais parecia até ser potencializada pelos gráficos ligeiramente toscos.
Em outras palavras, sim, o resultado me surpreendeu... Mas não tanto quanto poderia há algum tempo. E isso por um motivo bastante simples: os jogos independentes têm se transformado cada vez mais em sinônimos de propostas criativas. Trata-se do espaço em que cabeças particularmente inspiradas podem destilar uma visão bastante particular sem a coação típica dos grandes estúdios.
Indie = criatividade
Mas algo mais deve se ocultar por trás dessa associação pronta — “indie = criatividade”. A impressão que se tem é a de que uma entidade que antes vivia de saborear as bordas do prato passa a cada vez mais se insinuar para o centro do palco.
De fato, não é difícil acreditar que o cenário de guerra para a próxima geração se paute fortemente nos jogos ditos “independentes” e em seus criadores capazes de se autopublicarem.
Indie = criatividade = investimento em potencial
Poucas vezes na história do entretenimento eletrônico viu-se uma gigante dar tantos passos atrás após um anúncio quanto o que ocorreu com a Microsoft. Graças à demanda popular, a necessidade de uma autenticação diária não valerá mais, e as medidas coercitivas em relação ao que você faz ou deixa de fazer com o seu jogo usado seguiram pelo mesmo caminho.
Mas há uma decisão particularmente digna de interesse: a Microsoft decidiu também entrar no bonde em que Nintendo e Sony já haviam corrido para lugares na janela. Trata-se das ferramentas de autopublicação, as quais devem estar presentes também no Xbox One. Não, isso não aconteceu por acaso.
“Dê-me 30% e divirta-se”
Bem, mas por que o interesse repentino? Afinal, há algum tempo a briga dos grandes do mercado se limitava a títulos exclusivos — conquistados com desenvolvimentos próprios e flertes com third parties.
É bem verdade que os jogos intitulados indie andam às voltas há muito tempo — na verdade, se você considerar os inícios da indústria, todo o desenvolvimento era, em grande medida, independente. Entretanto, tornou-se praticamente impossível negar o enorme nicho desbastado por smartphones, sobretudo por propostas que seguem o modus operandi da Apple.
Jogos pequenos hoje são tão ou mais populares e tão ou mais rentáveis quanto os ditos blockbusters. A vantagem óbvia: se você lança uma plataforma economicamente interessante que atraia desenvolvedores competentes, de resto é só sentar e apreciar o show. A coisa toda se constrói sozinha — conforme fatias consideráveis de cada venda vão direto para os seus cofres.
A questão dos jogos de grande porte
Talvez seja impossível imaginar qual será, exatamente, o cenário da guerra a ser travada durante a oitava geração. De fato, não faltam desenvolvedores que questionam o aparente paraíso autopublicável atualmente em construção. Entre outras coisas, quem garante que as ferramentas oferecidas para desenvolvimento independente serão as mesmas disponibilizadas para as criadoras mais “parrudas”?
É difícil saber ao certo. Entretanto, o que se vê atualmente nos games é simplesmente mais uma das facetas de um movimento muito mais abrangente, o qual já ocupa há algum tempo a indústria fonográfica, por exemplo. Para quem está nessa mais pela diversão do que pela grana envolvida, é só reclinar e esperar enquanto os jogos “mais-do-mesmo” ultrarrealistas abrem espaço para saudosas visitas à Lua.
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