Volta e meia, vemos notícias sobre lançamentos bombásticos de jogos, informações de que a indústria de games está forte, lançamentos de novos consoles e tecnologias. Só que, ao mesmo tempo, vemos estúdios fechando, estilos de comercialização sendo colocados à prova e profissionais perdendo os seus empregos.
Por que não existe uma maior segurança para quem trabalha na indústria de games se ela está gerando tanto dinheiro? Sinceramente, é tudo uma questão de gerenciamento e conhecimento de mercado.
Para entender melhor o que estamos falando, vamos lembrar um pouco do passado da indústria, além de mostrar semelhanças com outro setor do mundo do entretenimento, no caso, o cinema.
Uma pequena aula de história
Nas décadas de 70 e 80, surgiu o primeiro “boom” da indústria de games, com o lançamento do Atari 2600 e diversos outros video games. Outros consoles e arcades já faziam sucesso, mas o Atari realmente revolucionou a maneira como as pessoas jogavam.
Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Tudo era lindo e nada importava. Jogos eram lançados e logo se tornavam best sellers. Isso fez com que produtoras não se importassem tanto com a qualidade dos títulos que chegavam às lojas. Isso acabou criando uma bolha, que eventualmente estouraria e traria desconfiança do mercado financeiro em relação aos games.
O estouro da bolha veio com o lançamento da adaptação do filme “ET – O Extraterrestre”. O jogo era ruim, seus gráficos eram medonhos e seus controles ridículos. Mesmo assim, por se tratar de uma versão de um longa de sucesso, a Atari achou que ele venderia como água no deserto.
Milhares de cartuchos foram criados, esperando vendas dignas de contos e canções. A Atari, empresa por trás do lançamento, se viu com 5 milhões de fitas encalhadas, transformando o fato no estopim do que ficou conhecido como “crash dos video games”. De 1983 a 1985, diversas empresas de video game faliram, consoles morreram e jogadores optaram em apostar em títulos de PC, deixando os consoles de lado.
Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
As coisas só foram mudar quando a Nintendo lançou o NES no mercado americano. Os games tiveram um crescimento de popularidade, graças aos bons títulos que surgiram nessa época, à competição entre a "Big N" e a SEGA e a evolução da tecnologia usada.
Mesmo assim, video games ainda eram considerados produtos voltados a um pequeno nicho do mercado geral. Apesar de conhecidos por muitos, jogos tinham um público “fechado”. Isso seguiu até, mais ou menos, o final da década de 90 e começo dos anos 2000.
Graças a uma combinação de fatores, como a evolução tecnológica, a internet e o sucesso de adaptações cinematográficas de obras como “O Senhor dos Anéis” e de personagens dos quadrinhos como X-Men e Homem-Aranha, criou-se a ideia de que “ser nerd é legal”. Pessoas que não consideravam esse tipo de conteúdo e mídia agora consumiam tudo o que era lançado. Logicamente, os jogos eletrônicos entraram na dança, e a indústria dos games começou a deixar de focar apenas em um tipo de público, tentando abraçar todo mundo.
Em vez de ser o irmão menor do cinema, jogos de videogame começaram a andar no mesmo ritmo. E o que isso tem a ver com os possíveis problemas com estúdios? Respondemos que há uma grande ligação entre os dois acontecimentos.
Os tropeços da indústria do cinema repetidos por estúdios de games
É de conhecimento geral que a indústria de cinema, seja em Hollywood ou em outros polos de produção ao redor do mundo, movimenta bilhões de dólares todos os anos. Vemos filmes que alcançam cifras absurdas em um final de semana. São adaptações, sequências e longas impressionantes que levam milhões de pessoas aos cinemas.
Mesmo assim, existem diversos casos de estúdios e produtoras que quebraram em meio a outros que fizeram sucesso. Por que isso aconteceu? São diversos os fatores que levaram eles a essa situação.
Veja, por exemplo, a Carolco Pictures, produtora que lançou filmes como “Exterminador do Futuro 2” e os três primeiros “Rambo” e que quase produziu uma adaptação de Homem-Aranha nos anos 80. São longas conhecidos, que geraram muito dinheiro e marcaram gerações. Os lançamentos seguidos de fracassos que não batiam com o sentimento do público na época fizeram com que a produtora fechasse na metade dos anos 90.
Até os grandes ficam mal das pernas
Recentemente, a MGM, um dos estúdios mais tradicionais de Hollywood, esteve prestes a fechar as portas, tendo uma de suas franquias mais famosas (a de James Bond) caindo no colo de outra empresa. Mesmo assim, você não vê ninguém colocando em xeque a indústria do cinema. Ela segue firme e forte.
Em contraparte, se um estúdio ou produtora de games encontra problemas e tem que fechar, todos acreditam que é o começo do fim. Isso pode ser um reflexo do receio que todos têm de que o passado se repita e um novo crash nos games aconteça. Só que a chance disso acontecer é bem menor do que na década de 80.
O sucesso mainstream é uma dádiva e uma maldição
Com games fazendo parte do dia a dia de pessoas que antes nunca pegaram em um joystick, era de se esperar que as empresas faturassem mais e, em reflexo, investissem um valor mais alto na produção de novos títulos. Só que tudo depende de um estudo de mercado e sorte na hora de saber o que vai ou não dar certo.
Isso é uma máxima no mundo dos negócios. Aqueles que tentam algo diferente e têm sucesso lucram bem mais do que aqueles que apostam apenas na opção mais segura ou falham de maneira sensível ao tentar inovar. Peguem como exemplo a Activision.
A empresa tinha em mãos uma franquia Call of Duty. O FPS surgiu em 2003 em meio à enxurrada de jogos com cenários baseados na Segunda Guerra Mundial, que tinha como grande título Medal of Honor. Alguns anos se passaram e a ideia de matar nazistas começou a ficar batida nos games.
A Activision resolveu tentar a sorte e trazer a série Call of Duty, até então com boas críticas e vendagem, para os tempos atuais, com um clima de blockbuster de Hollywood. A mudança valeu a pena e a franquia se tornou uma das mais rentáveis hoje em dia. Tanto é que o lançamento de Call of Duty: Black Ops 2 tem o recorde de arrecadação de 1 bilhão de dólares em 15 dias desde o seu lançamento. Claro que temos que levar em consideração o valor de um jogo em comparação a um ingresso de cinema ou disco de música, mas ainda é tudo muito impressionante.
E aí você se pergunta “Mas por que estúdios estão falindo?”. A resposta seria que é tudo uma mistura de mau gerenciamento e lançamento de títulos fracos ou que não condizem com o momento em que o mercado se encontra.
Com a tecnologia permitindo histórias mais grandiosas, os estúdios gastam cada vez mais na produção de jogos. Como os jogadores contam com diversas opções de lançamentos todos os meses, o custo de marketing de um game aumenta bastante o seu orçamento. Agora, leve em consideração que milhões de dólares são gastos nesse processo e, por algum motivo qualquer, o título não tenha sucesso, já que o grande público não ligou para ele.
Rest in peace, THQ
Por mais que para muitas pessoas games sejam apenas uma diversão descompromissada, eles ainda são um grande negócio como outro qualquer. Se uma loja começa a apenas ter prejuízo ao vender seus produtos, uma hora ela tem que fechar as portas. Isso não significa que o ramo em que operava esteja em perigo, mas sim que ela teve problemas em emplacar nas vendas.
O aumento significativo no número de pessoas que jogam, em comparação à época em que games atendiam a um nicho de público, faz com que os estúdios criassem títulos que tentam agradar a todos. Assim como acontecem com filmes, músicas, quadrinhos ou livros, uns dão certo e outros não. Se os responsáveis por eles não têm como arcar com as consequências, paciência. Infelizmente, o mundo gira dessa maneira.
O sol ainda pode brilhar para todos
O possível motivo pelo qual a indústria dos games é vista como em risco quando empresas começam a falir é o fato de já ter sofrido um crash na década de 80. Esse fantasma parece assombrar muita gente, mesmo não existindo uma chance de isso acontecer, pelo menos não tão breve.
Isso acontece porque jogos eletrônicos já ultrapassaram a barreira do mainstream, estando disponíveis em redes sociais e aparelhos celulares ao redor do globo. A maneira como os jogos são produzidos pode mudar no futuro, mas, assim como acontece com o cinema ou quadrinhos, ela não deve sumir.
Imagem de Infinity Blade 2, para iOS (Fonte da imagem: Divulgação/Epic Games)
Portanto, não tenha receio em relação à indústria de games porque alguns estúdios fecharam. Isso acontece em qualquer tipo de mercado. São apenas negócios. Agora, se Sony, Nintendo e Microsoft fecharem (não vai acontecer), é interessante começar a pensar em outras alternativas de lazer.
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